Chegou o grande dia e eu não me sentia pronta, mas quem se sente né; levantei muito cedo, preparei tudo que tinha que levar, água não poderia faltar, já tinha comprado um tablete de chocolate para acalmar os ânimos, caneta, lápis, borracha, documento, tudo certo.
Para minha surpresa, mamãe estava na cozinha, cantarolando Gonzaguinha, seu ídolo, e preparando um café delicioso que o cheiro espalhava rapidamente pelos pequenos cômodos da casa.
"Acho que o afago também fez bem a ela". Penso abrindo um leve sorriso.
Que alegria ver mamãe assim, alegre, cantarolando e disposta, isso me motiva e inspira.
—Bom dia senhora "Gonzaga", sonhou com o ídolo hoje? —Dei—lhe um beijo no alto da testa, por um acaso minha mamãe estava mais baixa do que eu, eu tinha me tornado uma enorme "vara pau".
—Bom dia meu amor, estou atraindo pensamentos positivos, hoje você precisa de toda positividade possível, te desejo toda sorte do mundo, e sei que você vai se sair muito bem, é uma menina inteligente e especial, vai ganhar o mundo querida e, olha, nada de se bloquear por causa dos outros, sempre olhe para seus objetivos e foque no futuro. —Mamãe acordou poética também.
Olhei para ela com uma cara de interrogação, mas ela continuou com seus sábios conselhos, e eu, não sou boba, absorvendo cada palavra da minha progenitora, especialíssima conselheira, meu exemplo.
—Ah mamãe, quando crescer quero ser igual a senhora, se bem que poderíamos ficar para sempre juntas né?
—Não seja igual a mamãe querida, corra atrás do seu sucesso, seja independente e lute por suas conquistas, a mãe não estará para sempre do seu lado, mas tenho certeza que criei uma grande mulher; e se apresse, a hora está passando.
A caminho da prova do Enem, fiquei com as palavras da mamãe na cabeça, o que me inspirava cada vez que chegava mais próximo da escola, cheguei e já sentei logo na carteira marcada com meu nome, coloquei as mãos no queixo, com os cotovelos sobre a mesa, e repassava cada pergunta na minha cabeça, acho que o cheiro de neurônios pegando fogo já estava exalando.
A prova teve a presença de poucos alunos, talvez uns quinze no total.
Depois da prova, eu consegui respirar naturalmente, coisa que não fazia a uma semana, cheguei abracei papai e entrei para abraçar mamãe também, ela estava lá, linda e plena, em frente ao espelho, com seus cabelos grisalhos soltos sobre os ombros, passando um batom cor de café.
—Olha, como está uma diva, mamãeeeee. Parabéns, um arraso. —Falei aplaudindo levemente aquele ato tão diferente que nos surpreendeu.
—Olha filha, tem coisa aqui que eu nem me lembrava que tinha, estou experimentando, mas nada fica bonito como antes; como foi lá na prova?
—Foi bem mamãe, apesar de ter estudado três meses, algumas questões me pegaram de surpresa. Falei me sentando ao seu lado.
Começamos a folhear álbuns de fotos antigas, e cada uma tirava um suspiro diferente da mamãe, até que encontrei uma foto do meu irmão falecido, como ele era lindo, fiquei um tempo olhando, e mamãe ficou curiosa.
—O que achou filha?
—Nada mãe, vou na cozinha preparar um chá, a senhora quer? —Falei escondendo disfarçadamente a foto.
—Quero sim filha, obrigada, traz aqueles biscoitos de polvilho que dona Ana trouxe, estão deliciosos.
Fui para cozinha levando aquela foto, e depois de olhar por um tempo, joguei dentro da fornalha do fogão a lenha e me certifiquei que tivesse queimado por inteiro, eu estava feliz demais em ver mamãe bem, não queria que uma foto a fizesse voltar a chorar.
O dia do Enem, foi um dia marcante e feliz, aquele dia que a gente não quer que acabe.
Agora a ansiedade era outra, a nota, como será que foi, será que fui bem?
Começou novamente toda aquela agonia.
"A coragem não é a ausência do medo,
É a persistência apesar do medo"
Naquela altura do campeonato, com mamãe super bem e tudo se encaixando perfeitamente, finalmente minha mente estava clareando, já estava até decidindo escolher uma faculdade.Fui para escola e deixei mamãe muito feliz, levou a garrafa de café para o salão de trabalho do papai e sentou à sua volta, conversando sobre o meu futuro, e dizendo que mais tarde faria uma visita a dona Ana.—Mamãe, estou muito feliz em vê—la tão disposta, vai sim ver dona Ana, vai ser bom conversar com alguém. —Dei um beijo na mamãe e no papai, e segui para escola.Carmen não estava no portão, me esperando como sempre, estranhei."Será
Depois de tanto choro, tanta tristeza, já não sabia mais o que fazer da minha vida, eu estava mesmo acreditando que tudo iria melhorar algum dia, mas mamãe só estava se despedindo de todos, como se tudo já estivesse planejado sem que soubéssemos. Minha mãe não aparentava alguém que iria se suicidar a qualquer momento, sua aparência estava melhorando, me dando uma falsa esperança.Agora preciso decidir minha vida, ficar aqui em Forquilha não é uma opção, só vou lembrar todos os dias da minha mãe com dor e tristeza, não quero acabar como ela, por outro lado, sair para longe e deixar meu pai sozinho, será muito difícil para mim.Fiquei alguns dias em casa, sem sair nem mesmo para escola, Carmen tentou c
Finalmente chegou o grande dia, talvez bom para alguns e ruins para outros, mas acredito que daqui para frente minha vida iria mudar, meu coração ainda sangra pela minha mãezinha, mas meu destino não espera cicatrizar, preciso lutar e batalhar, talvez vencer, porém nunca desistir.Era dia de formatura na escola, meus ânimos não eram dos melhores em participar, queria minha mãe para me abraçar e apoiar, mas tenho certeza que de onde ela estiver, estará torcendo por mim, queria minha amiga Dulce para formarmos nosso trio de paquera, somente isso claro, porque namoro não rolava, era só piscadinha por todo lado.Enfim, minha mãe no além, e minha amiga sabe Deus onde, parou de nos ligar, não responde mais mensagens, nem sabemos como ela es
A viagem longa, me deixou exausta, queria muito só me agasalhar e ter um longo período de descanso, mas eu ainda não tinha onde ficar, com uma mala arrastando, e tentando me proteger da chuva, que eu não havia previsto, no Ceará raramente chove, agora eu estava no centro de São Paulo, sem saber para onde ir, sem um guarda—chuva, com medo de falar com qualquer pessoa para pedir informação.Fui direto na recepção da faculdade onde u iria estudar, já fiz a inscrição e minha matricula seria finalizada quando eu providenciasse todos os documentos, a jovem moça era tão simpática, que me indicou um hotel bem pertinho e barato, mas eu teria que dividir o quarto. Isso não era problema, já que a única coisa que eu precisava era de um lugar para descansar.<
Foi-se mais uma semana de correria por emprego, luta incessante a procura de trabalho, minha animação já estava no fim, meus medos aflorando porque logo o dinheiro acabaria e eu não teria de onde tirar mais.—Amiga, nossa faculdade começa amanhã e nada de emprego, estou realmente preocupada, já vamos para terceira semana e nada, você pelo menos fez algumas entrevias, e eu? —Olho para Bárbara focada no seu celular, absorta a situação, sem se preocupar com nada.—Calma Suzan, relaxa, logo você estará empregada, você vai ver. —Ela mal termina de falar e meu telefone toca.—Boa tarde, Srta. Suzana Santana Tavares? —Uma voz feminina fala meu nome completo.<
Eu não estava acreditando, mas tudo estava se encaminhando, matrícula na faculdade, uma das mais conceituadas, por sorte e por mérito, registro na carteira em um emprego que jamais imaginava que conseguiria, mesmo que de recepcionista, mas, em um dos gigantes escritórios da família Araújo, bom, só faltava o amor para completar, mas isso em minha vida era segundo plano, mesmo com compromisso com Cristian eu não queria me apegar, agora era hora de focar na carreira, não é fácil se tornar psicóloga sem estudar muito, eu espero que consiga dar conta de tudo.Agora sim, minha vida iria literalmente virar dos avessos, coisas que eu jamais poderia imaginar aconteceria, dores que eu jamais imaginava sentir, amores que jamais pensei em experimentar, amizades novas e muito diferentes das cúmplices que eu tin
Não sei como conciliar tudo agora, o trabalho de recepcionista era bom, mas tomava bastante do meu tempo, Bárbara começou a trabalhar em um restaurante bistrô como garçonete, até que pagavam bem.Eu queria mesmo era alugar um cômodo mais em conta e economizar algum dinheiro, queria mandar algo para o meu pai que, só me dava notícias de vez em quando.Cristian estava cada vez mais frio"preciso ligar para Carmen e saber detalhes do que está acontecendo".Pensei já pegando o celular.Já está um pouco tarde, mas conheço minha amiga, ela deve estar acordada, e espero que ela não tenha me abandonado.Peguei meu smartpho
Depois de algum tempo de estágio, faculdade e correria eu finalmente estava organizando minhas contas e iria alugar um AP, chamei Bah para rachar o aluguel comigo, claro que seria bom para mim porque dividiria a dívida, seria bom pra ela que teria privacidade, porém, no hotel pagava mais caro só que chegávamos e já estava tudo arrumado, café da manhã sempre pronto, ela preferiu ficar lá.Em um desses dias pedi para dona Nicole pra sair mais cedo, porque assim daria tempo de ver o AP antes da hora da faculdade, ela me liberou, era uma chefe excelente, e gostava muito do meu trabalho e da minha companhia também.A última vez que ela estava agoniada no telefone, era seu Rick brigando com ele, por ter deixado o escritório algumas vezes para fazer trabalho fi