Finalmente o último ano do colégio chegou, muitas coisas aconteceram nessa escola, mas não vejo a hora de me livrar de Jack e sua "galera", é claro que vou sentir falta de todos os professores que sempre foram gentis comigo, da Carmen, que não sei qual será o nosso destino depois do colégio, e vivemos sempre coladinhas, nos vemos todos os dias, e alguém muito especial, o Cristian, que saudade eu terei de suas investidas e seu olhar encantador.
Mas o que eu tenho que pensar agora é no Enem, já que não vou poder pagar uma faculdade, meus pais também não, preciso fazer essa prova novamente, ano passado foi difícil fazer a prova preocupada com Dulce, mas esse ano é a oportunidade que tenho para conseguir uma bolsa, e pretendo conseguir cem por cento, não quero que meus pais se preocupem com gastos comigo, e nada e ninguém vai me desconcentrar agora.
Dulce nos fez uma ligação a alguns meses, não sabemos como ela está e o que aconteceu, ela não se abriu e disse que tudo ficaria bem, não precisava nos preocupar, então mantemos nossa vidinha de casa, escola, fim de semana na amiga, sentindo muita falta das ligações, mas foco no Enem.
Fizemos a inscrição juntas, eu e Carmen, no computador da escola, a professora de Português, Lucélia, liberou nossa sala durante sua aula na sexta—feira, para fazermos a inscrição e estudarmos em simulados online, isso ajudaria muito, para quem realmente tem foco.
Aproveitei e pesquisei algumas universidades e cursos dos sonhos. "Será que eu conseguiria uma graduação em medicina" bom, acho melhor eu colocar os pés no chão e sonhar mais baixo, vamos de administração mesmo, depois penso em outra coisa."
—Acabou o tempo classe, vamos voltar para sala. —A professora falou alto me despertando dos meus sonhos. "Que pena, a hora passou voando, mas consegui ver alguma coisa."
—E aí Carmen, decidiu o que vai fazer depois do colégio? —Eu e minha amiga saímos conversando, com os braços entrelaçados.
—Sei lá, se eu não me casar com o Cristian, acho que vou acabar trabalhando na mercearia do meu pai, como operadora de caixa. —Carmen, toda cheia de graça fala brincando, mas parece assustada com a possibilidade.
—Ah amiga, não seja tão negativa, estou dizendo de faculdade, o que pretende fazer se conseguir uma bolsa pelo Enem? Se bem que casar com o Cristian, seria vida ganha né. —Falei e corei, ele mexia muito comigo, até o nome dele me deixava sem graça.
—Prrr. —Carmen faz um barulho com a boca, espirrando cuspe em mim. —Até parece que o Cristian ao menos me olharia nos olhos, além de pobre e desajeitada, sou muito feia, não tenho expectativas melhores, infelizmente.
—Primeiro, você cuspiu em mim. —Falo limpando a baba dela no meu braço. — Segundo, porque diz isso, você além de ser uma menina doce, simpática, é superinteligente, a aparência a gente muda com dinheiro, quem se importa de ter um cabelo sapecado de sol e poeira? E te digo mais, se caso eu tiver que me mudar para estudar, prometo de dedinho, que venho buscar você, vai morar comigo, jamais vou deixar minha amiga sozinha aqui. —Terminei de falar e dei o dedinho mindinho como forma de jura, ela correspondeu e nos despedimos, cada uma para sua casa.
Esses três meses de estudos, foram, além de sufocante, muito corrido para nós, eu e Carmen nem pensávamos mais em Jack, Dulce, ou Cristian, o foco era o Enem, voltamos todos os dias da escola formulando perguntas uma para outra, eu amava ter uma amiga com o mesmo foco que eu, assim, uma ajudava a outra.
Finalmente chegou a semana do Enem, ansiedade e frio na barriga, vontade tremenda de conseguir uma bolsa, tudo o que passei na época do CNM veio a tona, pensamentos negativos querendo me tirar o foco, e minha mãe mais doente que antes, mais reclusa, sem motivação, mas sempre me apoiava e me dava carinho.
"E se eu tiver que ir embora daqui para estudar, quem vai cuidar da minha mãe? " "E se...." "E se....".
—Ahhhh. —Dei um grito bem alto, sentada no degrau de barro, da escada da cozinha, na saída para os fundos. Meu pai entrou depressa, e desesperado.
—O que houve filha? Sua mãe está bem? —Perguntou em tom desesperador.
—Calma pai, mamãe está bem, só deitada como sempre, eu estou preocupada com ela, preocupada com Dulce minha amiga, preocupada com o Enem, faculdade, e etc..... Tudo isso está me deixando meio louca, não sei no que focar, não sei o que fazer.
—Oh filha. —Ele senta do meu lado na escadinha. —Você me assustou, mas não fique assim, as coisas nem sempre acontece como esperamos, mas é a nossa luta que nos faz forte. Meu pai sempre tinha palavras sábias no momento certo.
—Obrigada pai, você é meu herói. —Ele me abraçou, secando minhas lágrimas que escorria, com aqueles dedos surrados e pretos de graxa.
Entrei no quarto, deitei ao lado de mamãe, e a abracei ficando um bom tempo em silêncio só observando seu rosto pálido, surrado e cansado, afagando seus poucos fios de cabelos que carregava uma vida inteira de luta e trabalho, aqueles fios de cabelos ralos e grisalhos traziam uma poesia, de uma mulher honrada, honesta, batalhadora, e que tinha arrancado muitos sorrisos dos nossos rostos, hoje carregando o embargo da tristeza e da dor.
E assim, adormecemos juntas, o sono mais tranquilo e consolador que tive.
"Porque Deus permite que as mães vão embora?
Mãe não tem limite,
É tempo sem hora,
Luz que não apaga
Quando sopra o vento,
E chuva desaba,
Veludo escondido
Na pele enrugada.... "
(Carlos Drummond de Andrade)
Chegou o grande dia e eu não me sentia pronta, mas quem se sente né; levantei muito cedo, preparei tudo que tinha que levar, água não poderia faltar, já tinha comprado um tablete de chocolate para acalmar os ânimos, caneta, lápis, borracha, documento, tudo certo.Para minha surpresa, mamãe estava na cozinha, cantarolando Gonzaguinha, seu ídolo, e preparando um café delicioso que o cheiro espalhava rapidamente pelos pequenos cômodos da casa."Acho que o afago também fez bem a ela". Penso abrindo um leve sorriso.Que alegria ver mamãe assim, alegre, cantarolando e disposta, isso me motiva e inspira.—Bom dia senhora "Gonzaga", sonhou
Naquela altura do campeonato, com mamãe super bem e tudo se encaixando perfeitamente, finalmente minha mente estava clareando, já estava até decidindo escolher uma faculdade.Fui para escola e deixei mamãe muito feliz, levou a garrafa de café para o salão de trabalho do papai e sentou à sua volta, conversando sobre o meu futuro, e dizendo que mais tarde faria uma visita a dona Ana.—Mamãe, estou muito feliz em vê—la tão disposta, vai sim ver dona Ana, vai ser bom conversar com alguém. —Dei um beijo na mamãe e no papai, e segui para escola.Carmen não estava no portão, me esperando como sempre, estranhei."Será
Depois de tanto choro, tanta tristeza, já não sabia mais o que fazer da minha vida, eu estava mesmo acreditando que tudo iria melhorar algum dia, mas mamãe só estava se despedindo de todos, como se tudo já estivesse planejado sem que soubéssemos. Minha mãe não aparentava alguém que iria se suicidar a qualquer momento, sua aparência estava melhorando, me dando uma falsa esperança.Agora preciso decidir minha vida, ficar aqui em Forquilha não é uma opção, só vou lembrar todos os dias da minha mãe com dor e tristeza, não quero acabar como ela, por outro lado, sair para longe e deixar meu pai sozinho, será muito difícil para mim.Fiquei alguns dias em casa, sem sair nem mesmo para escola, Carmen tentou c
Finalmente chegou o grande dia, talvez bom para alguns e ruins para outros, mas acredito que daqui para frente minha vida iria mudar, meu coração ainda sangra pela minha mãezinha, mas meu destino não espera cicatrizar, preciso lutar e batalhar, talvez vencer, porém nunca desistir.Era dia de formatura na escola, meus ânimos não eram dos melhores em participar, queria minha mãe para me abraçar e apoiar, mas tenho certeza que de onde ela estiver, estará torcendo por mim, queria minha amiga Dulce para formarmos nosso trio de paquera, somente isso claro, porque namoro não rolava, era só piscadinha por todo lado.Enfim, minha mãe no além, e minha amiga sabe Deus onde, parou de nos ligar, não responde mais mensagens, nem sabemos como ela es
A viagem longa, me deixou exausta, queria muito só me agasalhar e ter um longo período de descanso, mas eu ainda não tinha onde ficar, com uma mala arrastando, e tentando me proteger da chuva, que eu não havia previsto, no Ceará raramente chove, agora eu estava no centro de São Paulo, sem saber para onde ir, sem um guarda—chuva, com medo de falar com qualquer pessoa para pedir informação.Fui direto na recepção da faculdade onde u iria estudar, já fiz a inscrição e minha matricula seria finalizada quando eu providenciasse todos os documentos, a jovem moça era tão simpática, que me indicou um hotel bem pertinho e barato, mas eu teria que dividir o quarto. Isso não era problema, já que a única coisa que eu precisava era de um lugar para descansar.<
Foi-se mais uma semana de correria por emprego, luta incessante a procura de trabalho, minha animação já estava no fim, meus medos aflorando porque logo o dinheiro acabaria e eu não teria de onde tirar mais.—Amiga, nossa faculdade começa amanhã e nada de emprego, estou realmente preocupada, já vamos para terceira semana e nada, você pelo menos fez algumas entrevias, e eu? —Olho para Bárbara focada no seu celular, absorta a situação, sem se preocupar com nada.—Calma Suzan, relaxa, logo você estará empregada, você vai ver. —Ela mal termina de falar e meu telefone toca.—Boa tarde, Srta. Suzana Santana Tavares? —Uma voz feminina fala meu nome completo.<
Eu não estava acreditando, mas tudo estava se encaminhando, matrícula na faculdade, uma das mais conceituadas, por sorte e por mérito, registro na carteira em um emprego que jamais imaginava que conseguiria, mesmo que de recepcionista, mas, em um dos gigantes escritórios da família Araújo, bom, só faltava o amor para completar, mas isso em minha vida era segundo plano, mesmo com compromisso com Cristian eu não queria me apegar, agora era hora de focar na carreira, não é fácil se tornar psicóloga sem estudar muito, eu espero que consiga dar conta de tudo.Agora sim, minha vida iria literalmente virar dos avessos, coisas que eu jamais poderia imaginar aconteceria, dores que eu jamais imaginava sentir, amores que jamais pensei em experimentar, amizades novas e muito diferentes das cúmplices que eu tin
Não sei como conciliar tudo agora, o trabalho de recepcionista era bom, mas tomava bastante do meu tempo, Bárbara começou a trabalhar em um restaurante bistrô como garçonete, até que pagavam bem.Eu queria mesmo era alugar um cômodo mais em conta e economizar algum dinheiro, queria mandar algo para o meu pai que, só me dava notícias de vez em quando.Cristian estava cada vez mais frio"preciso ligar para Carmen e saber detalhes do que está acontecendo".Pensei já pegando o celular.Já está um pouco tarde, mas conheço minha amiga, ela deve estar acordada, e espero que ela não tenha me abandonado.Peguei meu smartpho