Lorenzo Ricci Duas semanas depois... A luz do sol invadia meu quarto pelas frestas da cortina. Eu já estava de pé, vestido e pronto, como sempre. O hábito de começar o dia cedo foi algo que aprendi por minha avó, Dona Helena Ricci. Ela dizia: “O mundo pertence a quem se antecipa a ele." Mesmo agora, anos após sua morte, as palavras dela ainda ecoavam na minha mente. Desde que ela se foi, o peso do sobrenome Ricci repousava exclusivamente sobre mim, e eu tinha feito questão de carregá-lo. Não como um sobrenome que meu pai ou minha mãe carregavam, mas como um Ricci. Porque ser um Ricci significava força. Abri a porta do quarto e fui surpreendido por vozes vindas da sala de estar. Reconheci imediatamente a risada leve de Camila, e junto dela, as vozes dos meus pais. Meu coração acelerou por um instante. Era raro vê-los na Itália, e mais raro ainda eles aparecerem na minha casa sem aviso. Quando entrei na sala, a cena era quase surreal. Minha mãe, Anny, estava sentada no sofá,
Camila Duarte Observei Lorenzo atravessar a sala após o café da manhã. Ele parecia carregar o peso do mundo nos ombros, e algo me dizia que aquilo ia além de nós dois. Respirei fundo, reunindo coragem, e o chamei antes que ele desaparecesse para longe novamente. —Lorenzo, precisamos conversar. Ele parou, a tensão em seu corpo denunciando que sabia o que viria. Lentamente, ele se virou para me encarar. —Agora? — perguntou, com um tom quase resignado. —Sim. Isso não pode esperar. Caminhei até a sala adjacente, sinalizando para que ele me seguisse. Assim que ele entrou, fechei a porta atrás de nós, criando um espaço onde ninguém mais pudesse interferir. —Você precisa ser claro comigo, Lorenzo. — Minha voz saiu firme, mas meu coração batia acelerado. — Quando seus pais chegaram, você mudou. Até poucos dias atrás, parecia feliz em ser pai, mas agora... agora me sinto como um peso na sua vida. Ele abriu a boca para falar, mas eu ergui a mão, interrompendo-o. —Deixe-me termi
Camila Duarte Eu ainda sentia os braços de Lorenzo ao meu redor enquanto um silêncio confortável preenchia a sala. Pela primeira vez em muito tempo, parecia que estávamos nos aproximando. Meu coração ainda estava acelerado, mas não tive muito tempo para pensar nisso. A campainha tocou, interrompendo o momento entre nós. Lorenzo e eu trocamos olhares antes de caminharmos juntos até a porta. Eu sabia quem estava lá, e só de imaginar a reação de Lorenzo ao conhecer minha família, um sorriso escapou. Abri a porta e, como esperado, minha família entrou com uma energia que parecia ocupar cada canto da casa. —Camila! — Minha mãe, Marília, foi a primeira a me abraçar. — Olha só pra você! Parece que tá mais bonita desde que chegou na Itália! Logo depois, veio meu pai, Carlos, com aquele sorriso caloroso. Ele me abraçou forte e murmurou: —Minha filha, não importa onde você esteja, você sempre vai ser minha menina. Antes que eu pudesse responder, minhas três irmãs invadiram o espaç
Camila DuarteEu não sabia onde enfiar a cara depois que minha mãe soltou a bomba sobre a gravidez. Todos me olhavam como se eu fosse um filme que chegou no momento mais esperado e ninguém quisesse piscar para não perder nada. —Então é verdade mesmo, Camila? — Cristal perguntou, inclinando-se sobre a mesa como se fosse a juíza do caso. —Fala logo, mana! — Milena insistiu, batendo as mãos na mesa com tanta força que quase derrubou o copo de suco do Caio. —Tá grávida ou não tá? — Marcela completou, já pegando o celular como se fosse criar um grupo de WhatsApp para discutir sobre a notícia.Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Lorenzo, que até então estava tentando passar despercebido no meio da confusão, levantou-se de repente. —Sim, ela está grávida. O silêncio foi instantâneo. Até a respiração barulhenta do meu pai parou por um momento. Todos olharam para Lorenzo, que estava com a postura ereta e a expressão séria. Por um segundo, achei que minha família fosse explodir
Lorenzo RicciApós o almoço, que foi uma verdadeira ópera brasileira de vozes, risadas e provocações, finalmente chegou a hora das despedidas. Confesso que nunca tinha experimentado algo tão caótico e, ao mesmo tempo, caloroso. Cada membro da família de Camila tinha uma energia única, mas juntos eram como uma tempestade tropical: impossível de ignorar, impossível de não admirar. Enquanto todos se preparavam para sair, Marília, a mãe de Camila, segurou sua mão com um sorriso doce e disse: —Camila, querida, vamos nos despedir por agora. —Já vão? — Camila perguntou, claramente aliviada. Mas a resposta veio rápido demais para ela respirar. —Só por hoje. Vamos ficar na mansão que a Anny preparou para a gente. —Uma mansão? — Camila piscou, incrédula. —Claro, minha filha. Assim ficamos pertinho de vocês até o casamento. — Marília respondeu, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. —Até o casamento? — Camila repetiu, a voz subindo uma oitava. —Ou até um pouco mais, até o b
Camila Duarte A mansão estava mais silenciosa do que o habitual. Os pais de Lorenzo tinham saído para levar minha família até a mansão na vizinhança e, por algum motivo que só Deus poderia explicar, eu achei que essa era a oportunidade perfeita para mudar minhas coisas para o quarto dele. Não era como se eu quisesse compartilhar o mesmo espaço que ele, mas considerando que havia um bebê crescendo dentro de mim, achei que era um argumento válido, já que os pais dele estavam hospedados na mansão dele. — Mei Deus me ajude!— murmurei para mim mesma enquanto empurrava minha mala pela porta do quarto. Lorenzo, claro, não me deixou fazer nada sozinha. Ele prontamente chamou duas funcionárias para me ajudar. — Por favor, levem as coisas da senhorita Duarte para o meu quarto — ordenou ele, casualmente, como se essa fosse a coisa mais natural do mundo. — Obrigada, mas eu posso fazer isso sozinha! — protestei, irritada. Ele me ignorou completamente, como sempre. Poucos minutos depois, eu
Lorenzo RicciLevantei da cama e vesti a camisa que havia largado. Fui até o sofá e toquei levemente no ombro dela. — Camila. Ela resmungou algo ininteligível e virou-se para o outro lado. Ri baixo. — Preciso ir até a empresa. Fique em casa hoje. Não vou demorar muito. Ainda temos que sair mais tarde com meus pais. Ela abriu um olho, sonolenta, e murmurou: — Ótimo, mais um evento Ricci. Mal posso esperar. Ignorei a provocação e saí. Na empresa, tudo estava como sempre: movimentado e organizado. Passei pela recepção sem muita atenção, subindo direto para minha sala. Assim que abri a porta, vi Amber sentada na poltrona diante da minha mesa. Ela usava um vestido elegante e justo, sua postura impecável, mas havia algo nos olhos dela que me fez parar por um momento. Determinação misturada com dor. — Amber, o que você está fazendo aqui? Ela sorriu, mas não havia alegria em sua expressão. — Quero saber onde está sua "noiva". Ou devo chamá-la de "sua secretária"? — A C
Camila Duarte Acordei com a luz fraca da tarde entrando pela janela e me espreguicei, sentindo meu corpo relaxado. Lorenzo havia saído cedo, mas a ideia de passar o dia em casa parecia tranquila. Ao me levantar, notei um som baixo vindo da sala e, curiosa, fui até lá. Para minha surpresa, os pais de Lorenzo, Anny e Miguel, estavam sentados no sofá. — Camila! — Anny disse, com um sorriso caloroso ao me ver. — Dormiu bem? — Sim, senhora Anny, obrigada. — Já disse para me chamar só de Anny — ela respondeu, com o tom acolhedor de sempre. — Por que não se junta a nós? Vamos assistir a um filme. Concordei, sorrindo. — Claro, vou preparar pipoca. Não tem filme sem pipoca, certo? Eles riram, e fui até a cozinha. Comecei a estourar os grãos, o aroma enchendo o ar, enquanto ouvia a conversa baixa e animada na sala. O som das risadas deles me trouxe um calor no peito. Por mais que minha relação com Lorenzo fosse confusa em alguns aspectos, e nada real, a não ser o fato de esperar um