II

- Acorda Bela adormecida!

- Desculpe Jaque! Precisa de alguma coisa?

- Claro Mina! Acha que eu te chamaria para nada?

- Certo. Claro que não. Diga. O que aconteceu?

- Lembra-se daquela documentação que solicitei ontem?

- Sim, eu enviei um e-mail para o responsável da criança.

- Diane.

- Isso, mas ele não respondeu, na verdade, o e-mail está voltando. Eu estava esperando até o meio-dia.

 - Para que?

- Acionar a polícia...

- Me passa tudo que tem. Vou enviar para o Henrique, acho que consigo um mandato mais rápido.

- Não tenho nada, Jaque!

- Nada Yamina? Não tirou nem a foto da criança?

- Ele não deixou...

Eu apenas suspirei. – Sabe bem como funciona o tráfico de menores, não sabe?

- Sim, eu sei.

- Nem uma foto ile...

- Gal? Tem nas câmeras, podemos pedir para os seguranças do aeroporto. Eu reconheço aquele rostinho, posso não lembrar do nome, mas do rostinho eu lembro.

- Certo, faça isso então. Depois tomamos as devidas providências.

Sentei na minha cadeira pensando o motivo de não ter entrevistado eles no dia, mesmo sem os documentos. Às vezes me questiono o quanto eu sou apta para trabalhar. Fiquei olhando o monitor sem pensar em nada, ou pensando em tudo. Um misto de raiva e tristeza me invadia no momento em que Yamina entrou correndo com uma foto.

- Conseguimos, tome.

Peguei a foto da mão dela imediatamente. Olhei para o rostinho dela, cheguei a pensar na coragem de um pai, ou, uma mãe sabe, sei lá, não quero imaginar! Uma repulsa tomou conta de mim. Logo pensei em enviar para o Henrique, afinal... Ele tem suas vantagens dentro dos departamentos de justiça, não que isso me impressione muito, mas ajuda no meu trabalho.

- Mina, venha aqui.

- Sim, Jaque!

- Enviei a foto para o Henrique, se eles retornarem, chame os seguranças.

- Com certeza.  Irá sair?

- Sim.

- Ficará perto daqui?

- Não, mas não irei demorar. Coisa de uma hora, no máximo.

- Certo, sigiloso pelo jeito.

- Na verdade, não! Só não quero que saiba.

- Oh! Desculpe, às vezes passo a linha.

- Não me importo com isso.

Disse eu colocando meu casaco e saindo da sala. Fui em direção ao estacionamento para pegar meu carro. “Cadê meu carro?” Voltei até a segurança do estacionamento para saber onde estava meu carro, aí vem a surpresa.

- A senhorita não veio de carro hoje.

Parei alguns segundos olhando para o nada.

- Não?

- Não! Olhe aqui, sua vaga está vazia.

- Mesmo, “Sherlock”? Acha que eu vim aqui por quê? Se tivesse lá eu teria entrado e saído.

- Senhorita Jaqueline, desculpe. Mas se soubesse realmente onde está seu carro não teria vindo aqui! - Ele terminou de dizer a frase, arregalou os olhos e baixou a cabeça. – Desculpe, doutora!

Apenas sacudi a cabeça. - Você tem razão! Chame um táxi para mim, por favor.

Subi pela escada correndo, o táxi já estava me esperando. Entreguei o endereço para o motorista. Chegamos ao local, antes de descer pedi para o motorista me esperar, caso não descesse em uma hora, chamasse a polícia. Entreguei meu cartão para ele e fui ao encontro, que para minha surpresa, não era nada ilegal, como pensava. Henrique e suas manias de querer me agradar com coisas impensáveis para uma pessoa que vive batalhando contra o tráfico de crianças.

- Oi amor!

- Oi... O que é isso?

- Nosso aniversário, sabia que iria esquecer. E antes que pergunte, já encaminhei a foto da menina, pode ficar tranquila. Todas as saídas de Miami estão em alerta, meu amor.

- Ai querido, desculpe. Vou lá pagar o taxista e pedir para ele ir embora.

- Deixou o taxista te esperando?

- Eu não sabia o que era!

Desci e contei para o taxista o que se passava e que ele poderia ir embora, aproveitei e liguei para Mina avisando que demoraria mais do que o esperado, ou que de repente nem voltaria. Mas depois de um tempo acabei voltando.

- Tudo bem, Jaque?

- Sim, depois te conto o que aconteceu.

- Com detalhes?

- Não!

- Certo...

- Mas já tem alerta para a menina, o nome dela na verdade é Lauren Meyer, tem quatro anos e foi retirada recentemente de um abrigo pelos seus padrinhos, deveria ter voltado na segunda-feira, mas não a devolveram. A polícia já estava procurando eles.

- Você irá ficar?

- Sim, ficarei mais um pouco, afinal, demorei mais que o previsto. Feche tudo e deixe apenas a luz da minha sala ligada, por favor.

- Jaque!

Levantei a cabeça e olhei para Yamina. – Sim!

- Tem falado com, sabe, aquele menino bonito?

- O Mark?

- Sim, este...

- Você quer saber, ou o Henrique quer saber?

- Sabe que eu não faria isso com você!

- Desculpe, eu vejo espiões até nas sombras. Falei uma ou duas vezes. Ele é americano, fiquei surpresa, com aqueles olhinhos...

- Por isso fala bem a nossa língua.

- Sim, agora vai. Não irei pagar hora extra!

Ela riu. – Até parece. Te conheço bem, não esqueça.

- Está bem! Tchau, durma bem!

- Cuidado ao ir embora, lembre que não veio de carro.

- Tinha que ter me lembrado quando eu saí hoje.

- Eu gritei, mas você não me ouviu...

- TELEFONE!

- Esqueci. Tchau, boa noite!

- Boa noite!

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