- Não, hoje eu quero um chá de pêssego gelado e doce, por favor!
- O que te deu, Jaque? Chá?
- Não tente me entender, hoje eu quero um chá, estou estressada, quanto menos cafeína melhor...
Olhei para o lado, tinha um rapaz bem bonito parado de pé, “uh”, pensei. Peguei meu chá, agradeci e saí. Tomei um susto...
- HAAA! Deus do céu! Me desculpe, por favor, eu não vi você. Ai, sua roupa.
Passei a mão em alguns guardanapos e comecei a secá-lo, ou melhor, tentando secar... Ele me segurou.
- Calma, não foi nada!
Eu estava encharcada, as mãos grudentas, e ele, nossa que vergonha eu esmaguei o copo contra seu peito.
- Olha, eu trabalho ao lado de uma loja de roupas masculinas, por favor, vamos comigo, eu faço questão de te dar uma roupa nova!
- Não, está só molhada, eu posso trocar depois, não se preocupe, é sério...
“Droga uma mensagem.” - Jaque volta logo, preciso da sua assinatura para liberar um embarque desacompanhado.
- Olha, pegue aqui, meu cartão. Eu trabalho no Juizado da Infância. Se quiser eu ressarço você, é só passar lá!
Estava quase na porta.
- Ei Jaque, fiz outro chá para você.
- Obrigada.
Voltei, larguei o dinheiro no balcão e saí correndo... “Nossa nem perguntei o nome dele! Azar”.
- Oi, desculpa minha demora, tive um incidente no K-FFee. Onde estão os documentos, Yamina?
- Aqui, Jaque.
- Chame-os na minha sala, por favor!
Eles entraram e eu fiz a entrevista para poder liberar o embarque. Era uma garota de oito anos que iria sozinha de Miami até Nova York, sem escalas. Como assistente social, isso é um grande compromisso, pois, é sempre muito delicado deixar uma criança viajar desacompanhada, principalmente no desembarque. É um processo burocrático de muita responsabilidade. Fiquei cerca de meia hora, eles saíram e eu continuei finalizando o processo. Yamina entrou na minha sala meio sem jeito para falar.
- Jaque, tem um rapaz querendo conversar com você.
- A documentação está pronta?
- Não, acho que não seja sobre viajar, acho que é particular.
- Particular? Está bem, peça para ele entrar, por favor!
Ele entrou e ficou parado na minha frente de pé. Pedi para sentar e esperar um pouquinho sem levantar a cabeça. Quando levantei minha cabeça ele ainda estava de pé, olhei seu rosto que estampava um sorriso lindo.
- Oh! Trocou de roupa... Que bom, fico um mais pouco aliviada.
- Você não trocou, Dra. Jaqueline Scheffer!
- Sim, essa sou eu, e você é?
- Prazer, me chamo Mark.
- Sente-se, Mark, acho que você não precisa de meus serviços, então, no que posso ajudar?
- Só queria conhecê-la mesmo... – Disse ele sentando-se.
- Certo, então, já conheceu.
- Não irá perguntar nada, onde trabalho, moro?
- Não!
- Ok.
- Ok.
Fiquei olhando para ele esperando que fosse falar alguma coisa, embora eu tenha dito que não queria, estava curiosa, de onde havia saído aquele ser que estava ali na minha frente? Ficamos alguns minutos parados, só nos olhando, sem trocar uma palavra.
- Certo está ficando constrangedor... Vou embora. Eu ligo para você quando tiver coragem.
- Tudo bem! Eu espero... Boa viagem!
“Coragem?” Pensei meio que sorrindo. Ele saiu e Yamina entrou correndo...
- Jaque, como você conheceu ele? Tem a ver com sua roupa molhada e suja, né?
- Tem! Lembrei que não troquei ainda. Vou ali comprar uma camisa e já venho! Como assim, conheci? Quem é ele, você conhece?
- Mais ou menos, acabaram de lançar um álbum, estão em várias matérias, dá uma olhada, vou te enviar. Ele é famoso...
- Sério? Ele é lindo, isso sim, mas famoso? Manda a matéria que eu darei uma olhada. Vou lá!
- Você é capaz de esbarrar no Elvis e não perceber...
Entrei novamente na sala. – Deus me livre, não quero conhecer o Elvis tão cedo, ainda sou muito nova...
Fui até a loja, comprei uma camisa e voltei para minha sala. Recebi uma mensagem.
- Jaque, o Henrique está aqui te esperando!
- Diz que já vou...
Terminei de arquivar os documentos e fui até a sala de espera.
- Oi amor, tudo bem?
- Sim, esqueci que íamos sair, desculpa. Tchau, Mina!
- Está linda assim, vamos em um lugar bem simples!
- Que bom... Hoje meu dia foi cheio, tive alguns imprevistos.
- Você com imprevistos? Novidade querida. Rasgou a roupa de novo? Essa não parece ser a mesma que saiu de manhã...
- Não, só sujei, já mandei para lavanderia.
- Que bom.
Chegamos ao tal lugar simples, quase enfartei, era totalmente fora do padrão que eu vestia, deveria ter ido com meu vestido da formatura. Cheguei a me sentir desconfortável no local, e para me deixar sem jeito, ou constrangida, somente situações que eu não consiga reverter. Terminamos o jantar.
- Vamos lá para casa?
- Não, quero ir para o meu apartamento. Estou cansada e ainda tenho algumas coisas para ver.
- Fico lá com você então!
- Irei trabalhar e estudar. Mas pode ficar assistindo TV. Hoje tem jogo, né?
- Sim, tem! Mas acho que irei atrapalhar se eu ficar. Não é mesmo?
- Atrapalhar? Não, nunca me atrapalhou, inclusive pode revisar um processo para mim.
- Deixo você na sua casa e assisto ao jogo na minha.
Cheguei em casa liguei a TV no jogo, deitei no sofá com meus documentos, fiquei, meio trabalhando, meio assistindo o jogo e meio conhecendo aquele lindo ser que havia esbarrado hoje. Gente, nunca imaginei que ele cantasse tudo aquilo. Olhar aquela criatura linda, com carinha de anjo e um sorriso doce, com aquela voz, surpresa total.
- Acorda Bela adormecida! - Desculpe Jaque! Precisa de alguma coisa? - Claro Mina! Acha que eu te chamaria para nada? - Certo. Claro que não. Diga. O que aconteceu? - Lembra-se daquela documentação que solicitei ontem? - Sim, eu enviei um e-mail para o responsável da criança. - Diane. - Isso, mas ele não respondeu, na verdade, o e-mail está voltando. Eu estava esperando até o meio-dia. - Para que? - Acionar a polícia... - Me passa tudo que tem. Vou enviar para o Henrique, acho que consigo um mandato mais rápido. - Não tenho nada, Jaque! - Nada Yamina? Não tirou nem a foto da criança? - Ele não deixou... Eu apenas suspirei. – Sabe bem como funciona o tráfico de menores, não sabe? - Sim, eu sei. - Nem uma foto ile... - Gal? Tem nas câmeras, podemos pedir para os seguranças do aeroporto. Eu reconheço aquele rostinho, posso não lembrar do nome, ma
- Bom dia Jaque! Como foi no passeio? - Nem brinca. Bom dia! Foi como sempre... Odeio esses tipos de viagens. Trabalhar com crianças é muito difícil. Vê o de sempre para mim, por favor. - Sim. Aquele moço teve aqui essa semana e perguntou por você. - E você? - Falei que estava na Índia. Só isso. - Paquistão! - Tudo parecido... Eu apenas ri. Parecido? Então tá! Peguei meu café e fui ao trabalho... Puxando minha mala devagar até chegar na frente da loja de roupas masculinas, olhei a vitrine e fiquei pensando no tal moço... Não consegui ficar quieta por muito tempo. Yamina saiu de dentro da sala ao meu encontro com a sutileza de um lutador de box. Sua doce e frágil aparência, esconde um gênio forte e atitudes marcantes, as quais não condizem com suas características físicas. - Aqui, olhe! - Calma, eu nem cheguei ainda. - Chegou sim e está fazendo hora aqui na frente. - Mina, sabe quantas horas eu vi
Droga achei que ficaria só dois dias, não trouxe roupas suficientes, vou em alguma loja comprar mais algumas peças. Estava descendo e meu telefone começou a tocar. - Oi Henri. - Desculpa amor, não sabia que os dois casos teriam essa reviravolta. - Culpa desse traste que você enviou, olha Henrique, estou de saco cheio das criaturas que você tem me enfiado goela abaixo, primeiro aquele estrupício da Bryana, depois aquele ser antipático, agora esse, não quero nem dizer o adjetivo que escolhi para ele, a culpa foi dele, quase tive que fazer o trabalho dele, ele não sabia nada do processo. - Ai meu amor, desculpa, desculpa. Quer que eu vá para aí? - Nem pensar, quero ficar sozinha. Beijo. - Te amo Líli. Beijo Fiquei parada na frente do elevador olhando meu celular. Respirei fundo e saí. Estava esperando o táxi parada na porta do hotel. - Onde eu tenho que parar para você esbarrar em mim? - Oi. Mark, certo? Acho
Estava bem feliz no meu banho performando “Man I Feel Like A Woman”, com todo meu empenho e vivacidade. Ouvi a porta bater, imaginei ser meu café. Estava terminando minha maquiagem, saí de lingerie, pois havia deixado minha roupa na cama. - Bom dia! Olhei para trás, puxei meu casaco e coloquei-o na frente. - Como entrou? - A porta estava aberta, desculpa. Vim convidá-la para tomarmos café. - Falou de costas para mim. - Espera um pouco, irei me vestir e já venho. - Você canta bem! Já pensou em tentar seguir a carreira de cantora? - Eu? Cantar? Há, não mesmo... Acho que meu trabalho é mais edificante para mim. - Você come só isso? - Aham! Vou ter que pedir para você sair, tenho que trabalhar. - Vou dizer uma coisa que realmente não costumo, principalmente sem conhecer direito alguém. Acho que estou apaixonado por você. Fiquei olhando para ele sem saber o que dizer ou agir. Mas ele soube agir... Me
- Ai Nay! Eu não sei mais o que eu faço... - Acho que você deveria pensar bem! Não pode estar apaixonada por uma criatura que viu duas vezes! - Esse é o problema. Eu nem o conheço! Mas não consigo esquecer, sabe, ele agiu comigo, sei lá. Foi tão diferente. O Henri nunca, não sei, mas nunca foi, nem eu sei te explicar. - É porque está apaixonada, bobinha! Tudo que ele fizer para você, será diferente. Vai por mim, não cai nessa. Sua vida está estabilizada aqui, tem um bom emprego, seu apartamento. Nem estou falando do seu relacionamento. - Racionalmente, eu sei de tudo isso. Mas quando ele me liga, ou manda mensagem, meu coração dispara. - Credo, não queria estar o seu lugar Jaque. Mudando de assunto. Quando iremos para o Canadá? Preciso muito fazer aquela matéria com a Kaká, ela irá fazer um programa de variedades, porém com conteúdos sérios e da atualidade. Quero que façamos juntas falando sobre o tráfico infantil e a venda de órgãos no mercad
- Nem pensar, eu preciso trabalhar! - Você está louca? Já é noite... - Quero ver o Cristiano. Onde estão as crianças? - Oi meu amor, que bom que tudo passou e eu irei voltar para meu cantinho. - Henrique, não! Sem espirito para brincadeiras. Onde estão as crianças? - Ele arrumou um lar temporário para eles. - Sério? – Por um instante cheguei a ficar feliz. Mas... Parei. Olhei para o Henrique. – Quero os documentos. Todos os documentos. - Duvida de mim? - De vocês todos. Onde está a Yamina? - Já está na casa dela. - Certo! – Sacudi a cabeça concordando. – Me leve até lá, e peça para o Cristiano nos encontrar lá com os documentos. - Credo Jaqueline, eu esperava mais de você. Pensei em um jantar. - Pega leve Henrique, fiquei mais de um mês confinada, vocês não deram nenhuma notícia deste caso, agora quer que eu saia para jantar? Quero saber como estão as crianças primeiro. Depois vamos janta
- Que cara é essa Líli? - Odeio essas confraternizações. Nem irão pagar hora extra... - Hora extra amor, é uma festa! - Para você, para mim é uma obrigação imposta pelo seu pai. - Ai amor para com isso. - Se sou obrigada a ir, é imposta, e quem obriga é seu pai. Detesto 70% daqueles puxa sacos que trabalham lá! Sou obrigada a fazer de conta que gosto da situação. Se ainda pudesse ser eu pelo menos! E para ajudar eu irei perder o show da Katy , que eu esperei tanto para ir. - Ei, onde foi parar a minha Jaqueline? - Segurando meu rosto. - Faz um tempinho que não estou te reconhecendo, voltou aérea e meio intolerante. Onde está aquela menina doce e agradável que eu conheci? Ainda está brava comigo por causa do Sebastian? Ou por causa do Cristiano? É isso amor? Não faço mais isso, eu deixo você escolher com quem quer trabalhar. - Ele me abraçou forte. - Me perdoa, não imaginei que ele fosse se atrever a encostar em você! Não posso deixar v
- Oi amor, chegamos. - Aaai, como estou cansada, vamos ter que ir direto ao tribunal. Não dá tempo de ir para o hotel. - Ontem você dormiu tarde? - Um pouco, fiquei terminando de montar... - Dra. Jaque! Olhei para o lado, com aquele sorrisão estampado no rosto. - Mark? - Não me disse que vinha! Me dá um abraço... Abracei-o, por alguns minutos me esqueci que estava quase atrasada e principalmente que estava acompanhada, Henrique ficou nos olhando. - Nem eu sabia, só fiquei sabendo depois que desligou. - Você está linda! Senti sua falta, já fazem mais de dois meses. Vai ficar até quando? - Nós iremos ficar só até amanhã, né amor? Prazer eu sou Henrique, o namorado da Jaque! - Ah! Eu sou Mark, amigo dela. - Vamos amor, se não iremos nos atrasar. - Tchau Mark, nos falamos. - Henrique pegou minha mão e fomos pegar um táxi. - Não sabia que tinha amigos íntimos aqui no Japão!