Na madrugada seguinte Wlyn veio, como prometido.
— Olá, Dryfr — cumprimentou já na forma original.
Chegara em forma de águia.
—
Tomadopela surpresa, não conseguia ver através das várias construções para saber o que acontecera lá. Com florestas por todos os lados, por que um animal quadrúpede estaria caçando na cidade, em plena madrugada? Não fazia sentido algum. E menos sentido fazia, aagilidade do animal conseguindo capturar uma águia em voo tão alto. Inexplicável. Eu precisava saber o que se passava.Por outro ladoWlynera poderosa demais e daria um jeito de abatê-lo assim que chegassem ao chão. Precisaria assumir a verdadeira formae
Ao acordar, procurei semsucesso, indícios de queWlynestivera ali. Ademais, ela teria me acordado.Passara do meio dia e na cidade, no grande auditório acontecia um evento: execução pública de hereges na fogueira, pelo que pude perceber. Pelo menos dez piras ardendo com corposhumanos queimando. Parecia que a chamada “inquisição” fazia novas vítimas.Procu
Uma névoa densa cobria a cidade de maneira inédita. O céu coberto de nuvens e a temperatura alta, tornava o cenário perfeito para que ninguém pudesse me ver voar, mesmo como águia. Assim, sem mais paciência paraesperarWlyn, voei.Mesmo com os olhos de águia, inferiores aos meus, podia ver muita coisa, mas não quis perder tempo e fui direto para a janela marcada.Adentrei ao aposento escuro, pousei e mudei
Era ela a autora dos sussurros. Deu de cara comigo e arregalou os olhos com uma expressão de ligeiro pavor, mas sem esboçar reação física. Perscrutou-me pelo tempo suficiente que levei para balbuciar:—Sou eu,Dryfr.Minha voz soou gutural, mas não muito alta. Os guardas me seguraram, um de cada lado, pelos pulsos. Um terceiro me ameaçava com a ponta da espada em minhas costas. Não reagi. Conduziram-me escada abaixo e ao passar pela porta por ondeWlynacabara de desaparecer com seu fantoche, vi o “espião” espreitando de longe.Eu não fazia ideia do queWlynfalara para aquele idiota, mas deu certo. Ela me deu aoportunidade para pensar em como eu ia escapar, ao mesmo tempo em que manteve a farsa diante do rei. Quando chegamos ao fim da espiral, os guardas me conduziram por um largo e alto corredor pouco iluminado no nível térreo. No fim do corr37 - CALABOUÇOS
No meu próximo momento de consciência, imperavam a escuridão e o silêncio. Eu nada sentia, a não ser dor. Uma dor dilacerante que eu já sentira antes e que entrava por minhas narinas, queimando-as sem cerimônia. Era o cheiro deleque me enlouquecia mais uma vez. Aquela sentinela maldita que escapara e agora me assombrava e me atormentava cada vez com mais frequência, a ponto de eu já saber se tratar de um pesadelo. A dor, porém era real, como se ele estivesse ali, ao meu lado.Então, a dor sumiu e restou o odor. Comecei a ouvir distantes passadas. Meu nariz sentiu outra vez o mesmo pú
Procurando mais evidências, notei que à volta do amontoado de palha existiam carcaças de animais. Em geral bois e búfalos provavelmente trazidos para alimentar o Draco que ali estivera. Os pequenos veios de água que escorriam doteto supriamestaa necessidade.Na parede oposta à porta de madeira, prolongava-se um imenso túnel escuro, além do salão rochoso, mas nada que atrapalhasse minha visão. Não conseguia ver o fim o que significava que era longo. O chão, misto de lama e pedra, me fez supor que haveria pegadas. Nem foi preciso procurar muito. Encontrei pegadas de um
Lenta e progressivamente penetrou em minhas narinas aquele odor tão peculiar. Um odor com o qual até já me acostumara. Sabia ser um sonho quando o sentia. O cheiro dele. Minha visão foi desembaçando e me vi dentro daquele castelo romano, noscalabouços queimados por mim mesmo. Nos odores misturados eu sentia o cheiro de queimado em toda parte. Cheiro de madeira carbonizada, de palha, de ossos, carne e cabelos queimados por toda parte.Mas o cheiro dele vinha de lugar específico: da minha retaguarda, próximo e desta vez minha visão funcionava, não estava incapacitado e minhas narinas não