Acordei assustado em um pulo, ao minguar do sol. Os últimos raios sumiam no horizonte avermelhado. Minhas narinas ardiam com um odor que me perturbava há dias. O cheiro dela! A sentinela! Eu sonhara repetidas vezes com ela, e o odor agora me torturava cada vez que eu a sentia. Nos meus pesadelos, aquele cheiro queimava minhas narinas ao entrar e derretia meu cérebro ao lá chegar. Mas agora eu não sonhara. Como poderia farejá-la? Olhei para os lados instintivamente e cafunguei todos os cantos da pequena clareira. Não era possível! Eu estaria louco? Que insanidade era aquela que não me deixava em paz? Como eu poderia sentir o odor de alguém que provavelmente morrera? Sonhar é uma coisa, mas eu estava consciente. Tentei me acalmar e prestar atenção em meu faro: o c
Era dia quando cheguei em casa sob espessas nuvens que prometiam despejar uma tempestade em pouco tempo.Adentrei a minha caverna vertical percorrendo o sinuoso caminho o mais rápido que pude. Sempre que chovia demais, a água escorria em finas cascatas túnel adentro e, lá embaixo, se distribuía em pequenos lagos e riachos subterrâneos de leitos rochosos, alguns dos quais passam por dentro da minha morada fornecendo um suprimento inesgotável de água. Esses pequenos rios e lagos se conectam subterraneamente entre si e ao Rio da Floresta quilômetros adentro da Grande Floresta perto de minha montanha.
Cheguei à noite e, ao adentrar à clareira, percebi de imediato que um orbe de luz flutuava entre as árvores. Uma mensagem deixada porWlynquando ali estivera.Utilizamoso orbespara deixar recados uns para os outros dispensando a necessidade de uma língua escrita como os humanos, elfos, anões e outras raças subdesenvolvidas têm. O que temos de mais próximo disso são os padrões de luz. Basicamente, lemos a luz. Há muito tempo, criamos uma série de padrões, ou “palavras”, por assim dizer, que podem ser reproduzidos com a simples irradiaç&at
Na madrugada seguinteWlynveio, comoprometido.—Olá,Dryfr— cumprimentou já na forma original.Chegara em forma de águia.—
Tomadopela surpresa, não conseguia ver através das várias construções para saber o que acontecera lá. Com florestas por todos os lados, por que um animal quadrúpede estaria caçando na cidade, em plena madrugada? Não fazia sentido algum. E menos sentido fazia, aagilidade do animal conseguindo capturar uma águia em voo tão alto. Inexplicável. Eu precisava saber o que se passava.Por outro ladoWlynera poderosa demais e daria um jeito de abatê-lo assim que chegassem ao chão. Precisaria assumir a verdadeira formae
Ao acordar, procurei semsucesso, indícios de queWlynestivera ali. Ademais, ela teria me acordado.Passara do meio dia e na cidade, no grande auditório acontecia um evento: execução pública de hereges na fogueira, pelo que pude perceber. Pelo menos dez piras ardendo com corposhumanos queimando. Parecia que a chamada “inquisição” fazia novas vítimas.Procu
Uma névoa densa cobria a cidade de maneira inédita. O céu coberto de nuvens e a temperatura alta, tornava o cenário perfeito para que ninguém pudesse me ver voar, mesmo como águia. Assim, sem mais paciência paraesperarWlyn, voei.Mesmo com os olhos de águia, inferiores aos meus, podia ver muita coisa, mas não quis perder tempo e fui direto para a janela marcada.Adentrei ao aposento escuro, pousei e mudei
Era ela a autora dos sussurros. Deu de cara comigo e arregalou os olhos com uma expressão de ligeiro pavor, mas sem esboçar reação física. Perscrutou-me pelo tempo suficiente que levei para balbuciar:—Sou eu,Dryfr.Minha voz soou gutural, mas não muito alta. Os guardas me seguraram, um de cada lado, pelos pulsos. Um terceiro me ameaçava com a ponta da espada em minhas costas. Não reagi. Conduziram-me escada abaixo e ao passar pela porta por ondeWlynacabara de desaparecer com seu fantoche, vi o “espião” espreitando de longe.Eu não fazia ideia do queWlynfalara para aquele idiota, mas deu certo. Ela me deu aoportunidade para pensar em como eu ia escapar, ao mesmo tempo em que manteve a farsa diante do rei. Quando chegamos ao fim da espiral, os guardas me conduziram por um largo e alto corredor pouco iluminado no nível térreo. No fim do corr37 - CALABOUÇOS