À noite, foi servido um suntuoso jantar no salão de banquetes do palácio para recepcionar, ninguém menos que, a misteriosa baronesa do comércio de Nova Roma, Taramar Di Milano. Além de tudo que eu já vira sobre ela em nosso prévio encontro, não pude deixar de notar sua desenvoltura no trato social. Todos pareciam encantados por ela, menos Wlyn, com postura indiferente. Nicollo e Victorio derretiam-se em sorrisos e elogios, concordando com tudo o que ela dizia entre mastigadas e bebericadas.
Postado atrás de Wlyn, pude observar o diálogo transcorrido entre eles. Inicialmente, a baronesa demonstrou surpresa por encontrar o rei noivo de uma plebeia desconhecida, o que de fato não era comum. Tanto que burburinhos a respeito transcorriam por todas as classes sociais. Victorio sabia e não se importava, tamanha a paix&atild
Tive um sono inquieto, agitado. Sonhei com Cassiene em nossos bons dias, um sonho agradável até que a vi se transformar no monstro matador que era e depois me rechaçar por tê-la enganado. Senti culpa pelo grande desejo que senti por Taramar e pelo que começava a sentir por Wlyn. Por fim, como já se tornara uma incômoda rotina, fui desperto pela entrada de Wlyn nos meus aposentos. Não bateu dessa vez.— Como entrou… — perguntei, sussurrando, enquanto ela se aproximava rápido.— Silêncio! — ordenou, também aos sussurros. — Não posso aceitar teu olhar de desejo em retribuição aos anseios dela — retorquiu espalmando a mão direita em meu peito enquanto a esquerda me agarrava pela nuca. Durante o treinamento do dia questionei Urias acerca de seu ídolo, Dom Martinus, e a conclusão foi rápida: aquele a quem Cassi encontrou era ele. O grande paladino, o protetor e amante da baronesa que chegara à corte desacompanhada dele. Por óbvio, ou ela mentiu ao rei ou o guerreiro falhou em seus desígnios.A não ser que ele tenha desertado ou brigado e se separado de Taramar como casal. É possível que, nesse caso, ela quisesse matá-lo ou castigá-lo. Ainda assim poderia recompensar quem o trouxesse, mas não sei se eu e os tigres nos disporíamos a sacrificar alguém para atingir nossos objetivos. Bem, eu deveria falar só por mim. Os tigres já mostraram do que são capazes.Considerei falar com a Baronesa Taramar a respeito de Dom Martinus, mas a53 - LAIUS E DRYFR
Eu os segui até um corredor onde o rei e o papa aguardavam perto de um arco de pedra fechado por cortinas vermelho-escuras com babados dourados e estampadas com cabeças de lobo heráldicas ou, pela lógica, lobas, o brasão de Nova Roma. Do outro lado das cortinas, ouvi o som da multidão que aguardava e percebi que perdera a hora da cerimônia. Tratei de ocupar logo meu lugar mais atrás na fila que se formava: o rei, Wlyn de um lado e o papa do outro; atrás deles, Taramar e os generais; O batedor Dryfr junto dos comandantes militares menores e, por último, os escravos, grupo ao qual eu me incluía, um para cada nobre ou militar.Em seguida, as cortinas se abriram e a fila movimentou-se para dentro do salão ao som da turba. Soaram trombetas e um orador anunciava a entrada do rei e do papa ao
Eu voltava para o salão para continuar desempenhando meu papel de escravo particular de Wlyn quando, ainda camuflado, deparei-me com Victorio e Urias no corredor. O rei, abaixado ao nível do filho, explicava a ele porque não o levaria à guerra. Pareceu-me que Wlyn tinha finalmente exercido alguma influência para fazer pai e filho entenderem-se melhor, pois o soberano, agora, explicava paciente para o menino que ele era o único herdeiro da coroa e por isso não poderia correr nenhum risco de sequer estar perto de uma guerra. Permaneceria em segurança em Nova Roma sob a tutela do Papa Nicollo.— Mas o senhor me obriga a assistir às carnificinas do Coliseu! Porque não posso ver as de uma guerra de verdade? Eu quero ver para aprender, meu pai! — interpelava o menino com lágrimas nos olhos. — Aprender a ser um grande gu
— Acorda, Laius.Ouvi a inconfundível voz de Wlyn, impaciente, seguida de um chacoalhar.— Nós vamos para Quatro Pontas e precisas dar conta de uma série de tarefas antes.— E eu poderia perguntar porque raios um rei leva sua princesa para a guerra? — questionei.— Ora, é comum as comitivas militares viajarem acompanhadas de grupos não-militares: curandeiros, artistas e até familiares. Todos precisam de apoio, de diversão e descontração nas horas vagas, inclusive e principalmente os soldados — relatou.E era verdade. Minhas pesquisas apontaram que na maioria das campanhas militares, sobretudo nas antigas, os exércitos era
Sicilianos era o extremo oposto de Nova Ponpéia: rústica e sóbria. A beleza era claramente dispensada para dar lugar ao pragmatismo. Localizava-se na encosta de uma montanha rochosa cercada de uma densa e sombria floresta; o céu, quase sempre nublado, emoldurava o visual macabro do velho castelo incrustado quase no topo da montanha.Não me surpreendi quando ouvi cochichos entre os integrantes da comitiva afirmando que o lugar todo era comandado pelos falecidos necromantes, Kaurus e Taurus. A essa altura, chegávamos ao castelo, eu e os integrantes da comitiva real. E quando o rei desembarcou da carruagem, já no pátio, olhou em volta pensativo e disse:— Depois da guerra preciso decidir o que fazer
A lua ia alta no céu naquela última noite de acampamento antes da guerra de Quatro Pontas. Todos faziam os últimos preparativos para a marcha final que começaria antes do sol nascer. Os combatentes revisavam suas armas e provisões uma vez mais sob o olhar atento do próprio Victorio que mostrava-se um comandante atento e focado. Cada amarra de armadura devia ser checada, cada ponta de seta, cada sela de cavalo e cada líder de centúria era questionado uma última vez sobre a formação de seus comandados.Wlyn permaneceu o tempo todo na tenda real e eu, do lado de fora, observava a todo o acampament
Afastei-me como ela pediu e a observei. Sua respiração tornou-se profunda e rápida e ela aumentava de tamanho tão rápido quanto mudava de forma. Suas roupas rasgaram-se; a pele adquiriu tom prateado; escamas e espinhos começaram a brotar por todo o corpo; um par de imensas asas surgia em suas costas e uma enorme cauda chicoteou o ar a partir da base da coluna. As mãos e pés deram lugar a garras com unhas que pareciam espadas e o rosto angelical se prolongou em um enorme focinho. A feiticeira transformara-se em um dragão do tamanho do dourado que atacou o acampamento. Um majestoso dragão prateado!Estu