Eu os segui até um corredor onde o rei e o papa aguardavam perto de um arco de pedra fechado por cortinas vermelho-escuras com babados dourados e estampadas com cabeças de lobo heráldicas ou, pela lógica, lobas, o brasão de Nova Roma. Do outro lado das cortinas, ouvi o som da multidão que aguardava e percebi que perdera a hora da cerimônia. Tratei de ocupar logo meu lugar mais atrás na fila que se formava: o rei, Wlyn de um lado e o papa do outro; atrás deles, Taramar e os generais; O batedor Dryfr junto dos comandantes militares menores e, por último, os escravos, grupo ao qual eu me incluía, um para cada nobre ou militar.
Em seguida, as cortinas se abriram e a fila movimentou-se para dentro do salão ao som da turba. Soaram trombetas e um orador anunciava a entrada do rei e do papa ao
Eu voltava para o salão para continuar desempenhando meu papel de escravo particular de Wlyn quando, ainda camuflado, deparei-me com Victorio e Urias no corredor. O rei, abaixado ao nível do filho, explicava a ele porque não o levaria à guerra. Pareceu-me que Wlyn tinha finalmente exercido alguma influência para fazer pai e filho entenderem-se melhor, pois o soberano, agora, explicava paciente para o menino que ele era o único herdeiro da coroa e por isso não poderia correr nenhum risco de sequer estar perto de uma guerra. Permaneceria em segurança em Nova Roma sob a tutela do Papa Nicollo.— Mas o senhor me obriga a assistir às carnificinas do Coliseu! Porque não posso ver as de uma guerra de verdade? Eu quero ver para aprender, meu pai! — interpelava o menino com lágrimas nos olhos. — Aprender a ser um grande gu
— Acorda, Laius.Ouvi a inconfundível voz de Wlyn, impaciente, seguida de um chacoalhar.— Nós vamos para Quatro Pontas e precisas dar conta de uma série de tarefas antes.— E eu poderia perguntar porque raios um rei leva sua princesa para a guerra? — questionei.— Ora, é comum as comitivas militares viajarem acompanhadas de grupos não-militares: curandeiros, artistas e até familiares. Todos precisam de apoio, de diversão e descontração nas horas vagas, inclusive e principalmente os soldados — relatou.E era verdade. Minhas pesquisas apontaram que na maioria das campanhas militares, sobretudo nas antigas, os exércitos era
Sicilianos era o extremo oposto de Nova Ponpéia: rústica e sóbria. A beleza era claramente dispensada para dar lugar ao pragmatismo. Localizava-se na encosta de uma montanha rochosa cercada de uma densa e sombria floresta; o céu, quase sempre nublado, emoldurava o visual macabro do velho castelo incrustado quase no topo da montanha.Não me surpreendi quando ouvi cochichos entre os integrantes da comitiva afirmando que o lugar todo era comandado pelos falecidos necromantes, Kaurus e Taurus. A essa altura, chegávamos ao castelo, eu e os integrantes da comitiva real. E quando o rei desembarcou da carruagem, já no pátio, olhou em volta pensativo e disse:— Depois da guerra preciso decidir o que fazer
A lua ia alta no céu naquela última noite de acampamento antes da guerra de Quatro Pontas. Todos faziam os últimos preparativos para a marcha final que começaria antes do sol nascer. Os combatentes revisavam suas armas e provisões uma vez mais sob o olhar atento do próprio Victorio que mostrava-se um comandante atento e focado. Cada amarra de armadura devia ser checada, cada ponta de seta, cada sela de cavalo e cada líder de centúria era questionado uma última vez sobre a formação de seus comandados.Wlyn permaneceu o tempo todo na tenda real e eu, do lado de fora, observava a todo o acampament
Afastei-me como ela pediu e a observei. Sua respiração tornou-se profunda e rápida e ela aumentava de tamanho tão rápido quanto mudava de forma. Suas roupas rasgaram-se; a pele adquiriu tom prateado; escamas e espinhos começaram a brotar por todo o corpo; um par de imensas asas surgia em suas costas e uma enorme cauda chicoteou o ar a partir da base da coluna. As mãos e pés deram lugar a garras com unhas que pareciam espadas e o rosto angelical se prolongou em um enorme focinho. A feiticeira transformara-se em um dragão do tamanho do dourado que atacou o acampamento. Um majestoso dragão prateado!Estu
Besteiros ûnos camuflados nas encostas das montanhas acima da passagem, se revelaram às centenas e começaram a disparar contra o contingente romano. Porém, até para isso Victorio estava preparado: as tropas pesadas, totalmente armaduradas, inclusive os cavalos, não sofreram tantas baixas, pois os quadrelos ûnos não eram feitos de um aço de qualidade tal que perfurasse as armaduras.No entanto, besteiros e arqueiros que costumam andar com roupas leves, sofreram duras baixas, ainda que equipados com escudos fornecidos para tal eventualidade. Imediatamente, um dos dragões, o dourado, alçou voo e torrou tod
Os combatentes não ouviram as trombetas, mas eu e Wlyn ouvimos e começamos a observá-los. Longe da batalha principal, podia-se ver um enorme contingente de soldados élficos e helênicos no lado deles do território. Separados da ponta romana por um rio e com apenas uma ponte de pedra ligando-os, demorariam bastante para atravessar e prestar auxílio aos seus aliados. Mas uma particularidade chamou a atenção na movimentação daquelas tropas: enormes trabucos sobre rodas ou trebuchets, se preferirem, eram rapidamente posicionados no ponto mais próximo possível da margem do lago e, em seguida, eram virados para mirarem a batalha no território romano.—
Atônito, fiquei sem chão. Mas não desistiria de tentar salvar Urias. Imediatamente iniciei a escalada de decida da montanha. Lá embaixo os últimos resquícios do exército ûno batiam em retirada. A montanha era alta e íngreme, eu demoraria horas para chegar à base e depois precisaria me esgueirar para não ser pego pelos ûnos.Alguns minutos de escalada depois, de costas para o céu, senti uma lufada de vento ricochetear forte. Olhei por sobre os ombros e vi Wlyn batendo as asas flutuando atrás de mim.—