Fiz uma pausa e percebi que as feições dos dois nobres se inquietaram esperando que eu prosseguisse.
— Meu povo tem um ditado: “catástrofes são tríades” — declarei. — Costumam acontecer de três em três muito semelhantes e, se o ditado estiver certo, teremos mais dois ataques pela frente. O que não temos como saber é onde e quando, mas, de qualquer modo, dragões são seres poderosos demais para serem desprezados…
— Sim, bestas descontroladas e sedentas por riquezas! — interrompeu-me Sir Geofrey.
— Não os subestime, conselheiro. Tenho evidências de que não
Acordamos com o raiar do sol e, depois de um rápido desjejum, fomos ao observatório para constatar que a cidade não mudara muito. Perto do meio dia resolvemos descer ao acampamento para almoçar com mais tranquilidade. Estávamos ficando preguiçosos, admito. Sentado em uma das grandes raízes expostas da árvore que nos abrigava, eu brincava com uma faca com a qual cortava nacos de uma fruta selvagem muito doce, parecida com abacaxi, que encontramos nas redondezas.Súbito, atraído pelo último pedaço, um inseto se aproximou voando e fazendo um belo zumbido. Com mais ou menos cinco centímetros, tinha feições delgadas e grandes asas, como um marimbondo, mas com o dorso anelado e aveludado como uma abelha, porém em branco e vermelho. Pousou na fruta e eu, em silêncio contemplei-o. Caminhou subindo
No dia seguinte, ao acordarmos, ficamos debaixo das cobertas por um tempo.— Sabe, eu estava pensando: — conversei — quando vocês assumem a forma guerreira ou a forma de tigres, suas roupas simplesmente somem. Como é possível? — questionei.— É um ritual que fazemos: todas as nossas roupas passam pelo “ritual da dedicação”. Cada peça de roupa é “dedicada” a seu dono e torna-se parte do corpo ao mudar de forma.— Vocês encantam as roupas para que elas sumam? Dá pra fazer isso com terceiros?— Acordamos sob o sol nascente e, depois do desjejum, fomos ao observatório. Os dezessete dias que se passaram desde o ataque do dragão dourado ao acampamento nos proporcionaram intimidade quase automática. Dezessete dias de convivência próxima em que dormíamos juntos todas as noites reservando o dia para vigiar a cidade e o envolvimento afetivo consumara-se: estávamos perdidamente apaixonados um pelo outro.Voltáramos à aldeia dos tigres uma única vez para reabastecer os suprimentos e, na cidade, as diferenças eram grandes: todo o exército fora realojado dentro das muralhas na faixa de terra reservada para tal fim e aqueles homens já davam sinais de tédio, esboçando pequenos ataques aos barracos mais pobres da cidade. Os capitães faziam de tudo para contê-los, mas um ou outro sempre escapava 28 - LAIUS E O TÉDIO
— Soldados, atenção!! — gritou o rei. — Carregar! — comandava e era obedecido à risca por todos os arqueiros — Preparar, apontar! Sustentar a mira! Ao meu comando!O dragão púrpura era tão grande quanto o dourado que vi e parecia determinado a tirar muitas vidas sem hesitar, mas por que? Que tipo de inteligência era aquela?Não houve tempo para respostas: ele escolheu uma ala de soldados e vertiginosamente, derramou sobre eles suas chamas púrpuro-esbranquiçadas.Muitos dispararam na esperança de abater o monstro, mas as flechas passaram no vazio dada a velocidade da criatura, além do que, o comando de disparo ainda não fora dado pelo rei que esperou a criatura levantar-se do rasante e esboça
Depois de revogar a deserção de Titus, Victorio mudou de postura, compadecendo-se de Zéphyra e dos filhos, passando a tratá-los como membros da corte e da família real. Entretanto, mandou que voltassem a Sicilianos e aguardassem em suas terras até segunda ordem, pois tinha assuntos mais sérios a tratar do que trazê-los de volta para a corte. É claro que ele poderia delegar a função para subalternos e, o fato de não fazê-lo, evidenciou que não queria a cunhada e os sobrinhos xeretando por perto nos próximos meses, o que corroborava o boato de que algo grande se aproximava.Depois do funeral de Titus, antes de partirmos em viagem de volta, o rei me chamou para uma conversa em particular.— Yole, primeiramente, agradeço-te por abrir mão de teu
No caminho de volta, com o chacoalhar da carroça onde eu ia deitado, pensava sobre os pequenos pergaminhos em minhas mãos, retirados dos compartimentos de prata daquela joia que Taurus me dera anos atrás.— “Só abre quando eu morrer…” — dissera-me.O que poderiam conter? Eu ruminava na iminência de lê-los e descobrir. Seria por causa do conteúdo deles que minha herança fora negada? Hoje sei que foi, mas, naquele momento, eu tinha medo de olhar e descobrir uma realidade que me deixasse mais desamparado ainda.No fundo, eu sonhava com o dia em que ele poderia reconhecer-me como filho publicamente, mas na impossibilidade de que isso acontecesse, queria, pelo menos, manter a imagem de bom pai secreto que eu tinha dele, de bom senhor par
— Atrás daquele morro — informou um viajante para quem perguntamos por Nova Roma.Viajamos por alguns dias acampando à noite, sempre fora das estradas, longe das cidades e povoados. Vislumbramos o “morro” a que se referia o homem e constatamos ser uma elevação maior que uma colina e menor do que uma montanha, baixa o suficiente para ser coberta de vegetação e com poucas paredes rochosas íngremes o suficiente para serem nuas.A estrada que percorríamos passava pelo lado direito da elevação e continuava colina abaixo tornando impossível, do ponto em que estávamos, ver qualquer coisa além. Decidimos sair dela em busca de um ponto de observação em meio à vegetação da elevação em questão. Já
— Sabe Deus o que poderia ter acontecido! — exclamei exaltado.Ela me olhou interrogativamente séria, a sobrancelha direita erguida, levantou e caminhou.— Aonde você vai? — questionei.— Descobrir onde estamos. É quase noite e precisaremos de abrigo. Você vem?Sem responder, levantei e a segui. Andamos por alguns minutos e descobrimos que estávamos no topo de uma colina a leste da cidade e, como fizemos em Nova Esparta, escolhemos uma árvore alta como observatório, preparando-a para acomodar-nos, mantendo um acampamento a seus pés.— Daqui descobriremos a feiticeira e um meio de abordá-la sem chamar atenção —