— Atrás daquele morro — informou um viajante para quem perguntamos por Nova Roma.
Viajamos por alguns dias acampando à noite, sempre fora das estradas, longe das cidades e povoados. Vislumbramos o “morro” a que se referia o homem e constatamos ser uma elevação maior que uma colina e menor do que uma montanha, baixa o suficiente para ser coberta de vegetação e com poucas paredes rochosas íngremes o suficiente para serem nuas.
A estrada que percorríamos passava pelo lado direito da elevação e continuava colina abaixo tornando impossível, do ponto em que estávamos, ver qualquer coisa além. Decidimos sair dela em busca de um ponto de observação em meio à vegetação da elevação em questão. Já
— Sabe Deus o que poderia ter acontecido! — exclamei exaltado.Ela me olhou interrogativamente séria, a sobrancelha direita erguida, levantou e caminhou.— Aonde você vai? — questionei.— Descobrir onde estamos. É quase noite e precisaremos de abrigo. Você vem?Sem responder, levantei e a segui. Andamos por alguns minutos e descobrimos que estávamos no topo de uma colina a leste da cidade e, como fizemos em Nova Esparta, escolhemos uma árvore alta como observatório, preparando-a para acomodar-nos, mantendo um acampamento a seus pés.— Daqui descobriremos a feiticeira e um meio de abordá-la sem chamar atenção —
Quando acordei ela preparava algo para comermos, assando um animal de tamanho médio que exalava formidável aroma à luz quase inexistente do dia que se esvaía.— Hmmmmm!! — Pelo cheiro teremos um banquete!— É, “belo adormecido”, mas não se acostume a ser sempre servido assim — descontraiu.Retirou o espeto improvisado do fogo, fincando-o no chão em meio a duas raízes expostas da árvore que nos abrigava. Era lá que sentávamos, um em cada raiz de frente um para o outro. Banqueteamo-nos com fartura e, em dado momento durante o jantar, ela parou de comer e me observou séria, com olhar distante.— No que está pensando? — inquietei-me.
Mal terminou de falar e com um rosnado tornou à forma guerreira quase dobrando de tamanho e me derrubando de suas costas assumindo, em seguida, posição de defesa com o joelho direito tocando o chão, a mão esquerda apoiada no joelho esquerdo e a mão direita em posição de guarda com as grandes garras retráteis expostas.Eu, caído entre as pernas enormes e musculosas, via as orelhas felinas movimentarem-se frenéticas cento e oitenta graus cada, cobrindo todo o perímetro como fazem os gatos domésticos. As narinas ejetavam um leve vapor de respiração, a cauda serpenteava sem parar e eu, sem nada ver, tive a tardia ideia de mudar o espectro das lentes para o termográfico.Tal foi minha surpresa ao avistar pelo menos trinta lobos encobertos pela penumbra fec
Rumamos em silêncio ao nosso observatório e, durante mais três dias, tudo o que vimos corroborava com nossa constatação anterior: a feiticeira participava de eventos acompanhando o rei, o papa e toda a nobreza de Nova Roma. Então no amanhecer do quarto dia eu perdi a paciência.— Já esperamos demais. Vamos nos aproximar, nos infiltrar e descobrir o que mais podemos fazer para ter uma audiência discreta com ela — declarei e fui descendo.Cassi, carrancuda e sem nada dizer, me acompanhou. Entramos na cidade por um grande arco de pedra sem sermos abordados por ninguém e nos misturamos aos transeuntes. Lá dentro, a cidade fedia mais ainda, é claro, e fomos abordados por todo tipo de ambulante oferecendo a mais variada gama de ervas, cereais, peças de carne de todo tip
Minutos depois, chegamos ao beco que eu vira da colina. Era uma rua movimentada durante o dia que à noite resumia-se a uma passagem escura de quatro metros de largura, no máximo. A iluminação de lampiões a óleo era esparsa, proporcionando-nos pontos escuros nos beirais das construções. Qualquer guarda, para nos ver, teria que chegar bem perto. Paramos em frente a um edifício desocupado de dois pavimentos.— Pronta? — perguntei voltando-me a ela.— Sempre — respondeu.Então ativei meus sistemas de segurança, inclusive o inibidor de ondas, e escalei o edifício parando deitado no telhado, de onde eu podia ver o topo do morro. Alternei para o espectro termográfico acompanhado do zoom necessário e o q
A batalha contra o dragão fora feroz e tudo indicava que Nova Esparta tornar-se-ia o imenso túmulo dos valorosos guerreiros que lutaram naquele dia. O inimigo era por demais poderoso. Mais do que eu supunha e mais do que poderíamos enfrentar. Uma besta ancestral muito antiga e que não sentia os efeitos de nada do que fazíamos. As milhares de flechas dos espartanos com pontas de aço finas como agulhas fabricadas com esmero para perfurarem armaduras de aço a duzentos metros não o pararam. As flechas élficas que, além das qualidades espartanas, contavam com encantamento de pujança para penetrarem mais fundo, ainda que disparadas de mais perto, entraram poucos centímetros na carne da criatura. Ou seja, o mesmo que nada. As grandes Balistas Compostas que projetei para rasgarem suas asas, derrubá-los dos céus e equilibrar a luta no chão, tampouco foram e
A rainha agora despachava junto ao rei. Na sociedade espartana, a mulher não era submissa, ela ajudava o marido tanto quanto podia e era a segunda em poder no reino. Se o rei morresse, ela governaria com plenos poderes até que o primogênito alcançasse a maioridade e fosse coroado. E a cada dia, ficava mais evidente a influência dela perante o rei. Ele tornara-se mais severo e eu arriscaria dizer que sua sede pela guerra aumentara, se é que era possível. Isso ficou evidente em um dia que me chamou para a sala do trono para conversarmos.— Majestade — fiz uma mesura à nova rainha e repeti o gesto para o rei.— Gwydion — cumprimentaram-me os dois.— Algo te aflige, meu senhor? — perguntei a Douglas, pois percebia algo estranho h&a
Quando amanheceu, eu e ela aguardávamos nos portões do castelo. O movimento intenso de transeuntes, comerciantes e soldados tornava a cidade barulhenta enquanto o ar era impregnado pelo tradicional fedor. Não demorou para que um soldado se dirigisse a nós e ordenasse que o seguisse conduzindo-nos para o palácio por um acesso para serviçais em uma lateral pouco movimentada. Atravessamos o que me pareceu uma enorme cozinha rústica, porém moderna para os padrões locais; passamos por um corredor iluminado por algumas tochas até chegarmos a um recinto que parecia um dormitório coletivo, provavelmente para serviçais.Ao adentrarmos, avistamos uma dama de costas dentro de um vestido longo até o chão, armado e volumoso, mas que deixava as costas seminuas cobertas apenas pelo vasto cabelo ruivo que, agora eu percebia,