A rainha agora despachava junto ao rei. Na sociedade espartana, a mulher não era submissa, ela ajudava o marido tanto quanto podia e era a segunda em poder no reino. Se o rei morresse, ela governaria com plenos poderes até que o primogênito alcançasse a maioridade e fosse coroado. E a cada dia, ficava mais evidente a influência dela perante o rei. Ele tornara-se mais severo e eu arriscaria dizer que sua sede pela guerra aumentara, se é que era possível. Isso ficou evidente em um dia que me chamou para a sala do trono para conversarmos.
— Majestade — fiz uma mesura à nova rainha e repeti o gesto para o rei.
— Gwydion — cumprimentaram-me os dois.
— Algo te aflige, meu senhor? — perguntei a Douglas, pois percebia algo estranho h&a
Quando amanheceu, eu e ela aguardávamos nos portões do castelo. O movimento intenso de transeuntes, comerciantes e soldados tornava a cidade barulhenta enquanto o ar era impregnado pelo tradicional fedor. Não demorou para que um soldado se dirigisse a nós e ordenasse que o seguisse conduzindo-nos para o palácio por um acesso para serviçais em uma lateral pouco movimentada. Atravessamos o que me pareceu uma enorme cozinha rústica, porém moderna para os padrões locais; passamos por um corredor iluminado por algumas tochas até chegarmos a um recinto que parecia um dormitório coletivo, provavelmente para serviçais.Ao adentrarmos, avistamos uma dama de costas dentro de um vestido longo até o chão, armado e volumoso, mas que deixava as costas seminuas cobertas apenas pelo vasto cabelo ruivo que, agora eu percebia,
Fiquei enclausurado naquele quarto enquanto Wlyn levou a tigresa para um lugar seguro que possibilitaria a melhor alternativa de conduzi-la para fora da cidade em segurança. Posteriormente, teria com o rei para oficializar-me como escravo particular dela.Como não aguentava mais tanto marasmo, resolvi sair e sondar os arredores, deparando-me com um imenso corredor iluminado por tochas. Perto de uma esquina, ouvi gritos agudos que pensei serem de uma mulher e, ao me preparar para espiar, surgiu de lá um menino que virou em minha direção correndo e, sem me ver, trombou de frente comigo.O choque o fez cair sentado para trás e, de sua mãozinha infantil, voou um pequeno sabre de madeira ao chão. Depois de um gemido baixo me encarou bravo, levantou, pegou a espadinha e a apontou para mim.
— Trago boas e más notícias, majestades — declarei depois de todo o protocolo.Douglas e sua nova rainha, lady Ywlyn, aguardavam apreensivos pelo meu discurso depois de vários dias em que me reuni com meu povo debatendo acerca de nossa participação na vindoura contenda entre os humanos.— Nesse caso, lorde elfo, comece pelas boas notícias — pediu-me o rei.— As boas notícias são que meu povo decidiu participar de vossa peleja por entender que vossos argumentos têm fundamento: o que vos atinge, pode nos atingir. Nesse momento, nossos preparativos estão em curso e não demorarão a conclu&iacut
— O que se passa aqui? — retumbou a voz do soberano.— Nada, meu pai. Choquei-me contra esse serviçal, mas ele já se desculpou.— Então vai para teus aposentos que já passa da hora de te recolheres. Não esqueças tuas preces para que Deus te perdoe as travessuras — ordenou, com severidade, o rei.— Sim senhor — obedeceu o menino que, antes de sair ajoelhou-se e beijou a mão do pai.Depois dirigiu-se a Wlyn e repetiu o gesto:— A bênção, senhora — pediu ele.— Deus te abençoe, querido. Durma com os anjinhos — respondeu ela com carinho.<
Na manhã seguinte, fui acordado pelo ranger da porta combinado com um raio de sol entrando pela janela e batendo em meus olhos. Era Wlyn outra vez.— Bom dia, escravo — cumprimentou com sarcasmo.— Bom dia, bruxa — retruquei sorrindo.A reação foi como se não entendesse muito bem que tratava-se de brincadeira. Depois de um momento fitando-me com seriedade, continuou:— Levanta-te. O dia já começou e preciso te passar algumas instruções.Obedeci. Queria, ao menos, lavar o rosto e coisas do tipo que se faz ao acordar, mas já habituara-me com a falta de certas coisas.Wlyn me passou ins
O compromisso a que se referia era uma carnificina, uma execução pública de prisioneiros condenados pela inquisição. Sim, a santa inquisição, muito similar àquela ocorrida na idade média do Planeta Mãe. Da tribuna, choquei-me ao presenciar o que jamais pensei ver ao vivo antes de chegar a esse planeta. O coliseu lotado, em coro, urrava a cada vez que um carrasco acendia uma pira para queimar condenados.O rei e o papa, um senhor gorducho e grisalho, alinhavam seus tronos bem à frente e ao lado daquele, em pé, Urias era obrigado pelo pai a ver tudo. Wlyn, sentada em uma poltrona mais baixa, não se comovia com as atrocidades que presenciava, tampouco se preocupava com as caretas de repugnância de Urias. Eu, em pé atrás da ruiva, servia-lhe bebidas e frutas como ela pedia enquanto observava a guarda
Eu não conseguia ignorar tudo o que a ruiva me dissera, que Cassiene poderia ter ficado por perto se quisesse, que eu desconhecia “detalhes” e tudo isso me fez ter um sono inquieto. “Quem era essa mulher afinal”? — eu começava a me perguntar. A noite transcorreu pesada até que acordei com batidas na porta. “Wlyn de novo, vindo me acordar para as instruções do dia” — pensei sem lembrar que ela não batia, apenas entrava. E quando abri a porta, o que vi me fez esquecer todas as preocupações da noite mal dormida. Era Urias, sorridente, me entregando o sabre de madeira.— Bom dia, senhor Laius. Vamos treinar?Ainda meio zonzo e entre bocejos respondi:— Bom dia, garoto… Acordei com um chacoalho suave. Wlyn entrara sem ser notada, tão profundo era meu sono. Assustado, olhei em volta e vi que a penumbra cedia apenas para a luz da tocha dela.— Que horas são? — grogue, pensei ser dia ainda.— Madrugada avançada. Dormiste muitas horas.— E por que está aqui, outra vez, no meio da noite, Wlyn?— Queria te ver... — sussurrou.— Já que me acordou, temos progressos quanto à minha volta para casa? — inquiri.A pergunta a pegou desprevenida e notei pela reação que nem sequer pensara a respeito.— Imagin47 - LAIUS E O BOBO