Acordei com um chacoalho suave. Wlyn entrara sem ser notada, tão profundo era meu sono. Assustado, olhei em volta e vi que a penumbra cedia apenas para a luz da tocha dela.
— Que horas são? — grogue, pensei ser dia ainda.
— Madrugada avançada. Dormiste muitas horas.
— E por que está aqui, outra vez, no meio da noite, Wlyn?
— Queria te ver... — sussurrou.
— Já que me acordou, temos progressos quanto à minha volta para casa? — inquiri.
A pergunta a pegou desprevenida e notei pela reação que nem sequer pensara a respeito.
— Imagin
Urias me acordou cedo naquele dia, ávido por mais treinamento. Rumávamos para seu jardim particular quando me ocorreu que o menino conhecia cada brecha daquela fortaleza.— Urias, você já foi aos calabouços? — questionei.— Poucas vezes. Meu pai não gosta muito que eu vá até lá sozinho e os guardas de lá sabem disso — explicou desconfiado do meu súbito interesse. — O senhor gostaria de conhecer?— Será que acompanhado da minha pessoa valeria como não-sozinho?— Ora, ninguém nunca me disse nada a respeito — retorquiu expondo um sorriso peralta.Pouco depois, chegávamos ao fim d
Um dragão dourado atacou o acampamento; o mesmo dragão observava Nova Roma e tinha algum tipo de contato com Wlyn; as mesmas chamas do mesmo dragão presentes nas masmorras, entretanto não havia dragão nenhum lá quando desci. Como era possível, não sei, mas foi assim. Wlyn sabia algo a respeito e, tomado por esse pensamento, sai para procurá-la pelo castelo sem me dar conta do tempo que passei no quarto e que a última luz do dia minguava.Para minha surpresa, em vez de encontrá-la, deparei-me com outra ruiva, tão linda quanto a pretensa rainha, um pouco mais alta, de olhos castanho avermelhados, rosto e nariz com traços longilíneos, voz forte e melodiosa; usava um longo vestido negro cravejado de minúsculos diamantes e um espartilho que realçava a cintura e o busto. Parei e me curvei em rever&ecir
Minutos depois alguém bate à porta trancada após tentar entrar sem bater: “Wlyn — arrisquei. Abri a porta e vi que o palpite foi acertado. Sem esconder o abatimento, puxei-a pela mão para dentro e fechei a porta. Ela fez cara de desconfiada, mas não esboçou expressão que me pudesse fazer concluir que um incêndio daquelas proporções a atingia de qualquer forma.— Wlyn… — detive-me com muitos receios.— Sim? O que aconteceu? Parece que viste um monstro.— Não vi, mas estive na presença…— Sim, me contaste a história do ataque ao acampamento…— Não! Eu falo de hoje!
À noite, foi servido um suntuoso jantar no salão de banquetes do palácio para recepcionar, ninguém menos que, a misteriosa baronesa do comércio de Nova Roma, Taramar Di Milano. Além de tudo que eu já vira sobre ela em nosso prévio encontro, não pude deixar de notar sua desenvoltura no trato social. Todos pareciam encantados por ela, menos Wlyn, com postura indiferente. Nicollo e Victorio derretiam-se em sorrisos e elogios, concordando com tudo o que ela dizia entre mastigadas e bebericadas.Postado atrás de Wlyn, pude observar o diálogo transcorrido entre eles. Inicialmente, a baronesa demonstrou surpresa por encontrar o rei noivo de uma plebeia desconhecida, o que de fato não era comum. Tanto que burburinhos a respeito transcorriam por todas as classes sociais. Victorio sabia e não se importava, tamanha a paix&atild
Tive um sono inquieto, agitado. Sonhei com Cassiene em nossos bons dias, um sonho agradável até que a vi se transformar no monstro matador que era e depois me rechaçar por tê-la enganado. Senti culpa pelo grande desejo que senti por Taramar e pelo que começava a sentir por Wlyn. Por fim, como já se tornara uma incômoda rotina, fui desperto pela entrada de Wlyn nos meus aposentos. Não bateu dessa vez.— Como entrou… — perguntei, sussurrando, enquanto ela se aproximava rápido.— Silêncio! — ordenou, também aos sussurros. — Não posso aceitar teu olhar de desejo em retribuição aos anseios dela — retorquiu espalmando a mão direita em meu peito enquanto a esquerda me agarrava pela nuca. Durante o treinamento do dia questionei Urias acerca de seu ídolo, Dom Martinus, e a conclusão foi rápida: aquele a quem Cassi encontrou era ele. O grande paladino, o protetor e amante da baronesa que chegara à corte desacompanhada dele. Por óbvio, ou ela mentiu ao rei ou o guerreiro falhou em seus desígnios.A não ser que ele tenha desertado ou brigado e se separado de Taramar como casal. É possível que, nesse caso, ela quisesse matá-lo ou castigá-lo. Ainda assim poderia recompensar quem o trouxesse, mas não sei se eu e os tigres nos disporíamos a sacrificar alguém para atingir nossos objetivos. Bem, eu deveria falar só por mim. Os tigres já mostraram do que são capazes.Considerei falar com a Baronesa Taramar a respeito de Dom Martinus, mas a53 - LAIUS E DRYFR
Eu os segui até um corredor onde o rei e o papa aguardavam perto de um arco de pedra fechado por cortinas vermelho-escuras com babados dourados e estampadas com cabeças de lobo heráldicas ou, pela lógica, lobas, o brasão de Nova Roma. Do outro lado das cortinas, ouvi o som da multidão que aguardava e percebi que perdera a hora da cerimônia. Tratei de ocupar logo meu lugar mais atrás na fila que se formava: o rei, Wlyn de um lado e o papa do outro; atrás deles, Taramar e os generais; O batedor Dryfr junto dos comandantes militares menores e, por último, os escravos, grupo ao qual eu me incluía, um para cada nobre ou militar.Em seguida, as cortinas se abriram e a fila movimentou-se para dentro do salão ao som da turba. Soaram trombetas e um orador anunciava a entrada do rei e do papa ao
Eu voltava para o salão para continuar desempenhando meu papel de escravo particular de Wlyn quando, ainda camuflado, deparei-me com Victorio e Urias no corredor. O rei, abaixado ao nível do filho, explicava a ele porque não o levaria à guerra. Pareceu-me que Wlyn tinha finalmente exercido alguma influência para fazer pai e filho entenderem-se melhor, pois o soberano, agora, explicava paciente para o menino que ele era o único herdeiro da coroa e por isso não poderia correr nenhum risco de sequer estar perto de uma guerra. Permaneceria em segurança em Nova Roma sob a tutela do Papa Nicollo.— Mas o senhor me obriga a assistir às carnificinas do Coliseu! Porque não posso ver as de uma guerra de verdade? Eu quero ver para aprender, meu pai! — interpelava o menino com lágrimas nos olhos. — Aprender a ser um grande gu