Na manhã seguinte, fui acordado pelo ranger da porta combinado com um raio de sol entrando pela janela e batendo em meus olhos. Era Wlyn outra vez.
— Bom dia, escravo — cumprimentou com sarcasmo.
— Bom dia, bruxa — retruquei sorrindo.
A reação foi como se não entendesse muito bem que tratava-se de brincadeira. Depois de um momento fitando-me com seriedade, continuou:
— Levanta-te. O dia já começou e preciso te passar algumas instruções.
Obedeci. Queria, ao menos, lavar o rosto e coisas do tipo que se faz ao acordar, mas já habituara-me com a falta de certas coisas.
Wlyn me passou ins
O compromisso a que se referia era uma carnificina, uma execução pública de prisioneiros condenados pela inquisição. Sim, a santa inquisição, muito similar àquela ocorrida na idade média do Planeta Mãe. Da tribuna, choquei-me ao presenciar o que jamais pensei ver ao vivo antes de chegar a esse planeta. O coliseu lotado, em coro, urrava a cada vez que um carrasco acendia uma pira para queimar condenados.O rei e o papa, um senhor gorducho e grisalho, alinhavam seus tronos bem à frente e ao lado daquele, em pé, Urias era obrigado pelo pai a ver tudo. Wlyn, sentada em uma poltrona mais baixa, não se comovia com as atrocidades que presenciava, tampouco se preocupava com as caretas de repugnância de Urias. Eu, em pé atrás da ruiva, servia-lhe bebidas e frutas como ela pedia enquanto observava a guarda
Eu não conseguia ignorar tudo o que a ruiva me dissera, que Cassiene poderia ter ficado por perto se quisesse, que eu desconhecia “detalhes” e tudo isso me fez ter um sono inquieto. “Quem era essa mulher afinal”? — eu começava a me perguntar. A noite transcorreu pesada até que acordei com batidas na porta. “Wlyn de novo, vindo me acordar para as instruções do dia” — pensei sem lembrar que ela não batia, apenas entrava. E quando abri a porta, o que vi me fez esquecer todas as preocupações da noite mal dormida. Era Urias, sorridente, me entregando o sabre de madeira.— Bom dia, senhor Laius. Vamos treinar?Ainda meio zonzo e entre bocejos respondi:— Bom dia, garoto… Acordei com um chacoalho suave. Wlyn entrara sem ser notada, tão profundo era meu sono. Assustado, olhei em volta e vi que a penumbra cedia apenas para a luz da tocha dela.— Que horas são? — grogue, pensei ser dia ainda.— Madrugada avançada. Dormiste muitas horas.— E por que está aqui, outra vez, no meio da noite, Wlyn?— Queria te ver... — sussurrou.— Já que me acordou, temos progressos quanto à minha volta para casa? — inquiri.A pergunta a pegou desprevenida e notei pela reação que nem sequer pensara a respeito.— Imagin47 - LAIUS E O BOBO
Urias me acordou cedo naquele dia, ávido por mais treinamento. Rumávamos para seu jardim particular quando me ocorreu que o menino conhecia cada brecha daquela fortaleza.— Urias, você já foi aos calabouços? — questionei.— Poucas vezes. Meu pai não gosta muito que eu vá até lá sozinho e os guardas de lá sabem disso — explicou desconfiado do meu súbito interesse. — O senhor gostaria de conhecer?— Será que acompanhado da minha pessoa valeria como não-sozinho?— Ora, ninguém nunca me disse nada a respeito — retorquiu expondo um sorriso peralta.Pouco depois, chegávamos ao fim d
Um dragão dourado atacou o acampamento; o mesmo dragão observava Nova Roma e tinha algum tipo de contato com Wlyn; as mesmas chamas do mesmo dragão presentes nas masmorras, entretanto não havia dragão nenhum lá quando desci. Como era possível, não sei, mas foi assim. Wlyn sabia algo a respeito e, tomado por esse pensamento, sai para procurá-la pelo castelo sem me dar conta do tempo que passei no quarto e que a última luz do dia minguava.Para minha surpresa, em vez de encontrá-la, deparei-me com outra ruiva, tão linda quanto a pretensa rainha, um pouco mais alta, de olhos castanho avermelhados, rosto e nariz com traços longilíneos, voz forte e melodiosa; usava um longo vestido negro cravejado de minúsculos diamantes e um espartilho que realçava a cintura e o busto. Parei e me curvei em rever&ecir
Minutos depois alguém bate à porta trancada após tentar entrar sem bater: “Wlyn — arrisquei. Abri a porta e vi que o palpite foi acertado. Sem esconder o abatimento, puxei-a pela mão para dentro e fechei a porta. Ela fez cara de desconfiada, mas não esboçou expressão que me pudesse fazer concluir que um incêndio daquelas proporções a atingia de qualquer forma.— Wlyn… — detive-me com muitos receios.— Sim? O que aconteceu? Parece que viste um monstro.— Não vi, mas estive na presença…— Sim, me contaste a história do ataque ao acampamento…— Não! Eu falo de hoje!
À noite, foi servido um suntuoso jantar no salão de banquetes do palácio para recepcionar, ninguém menos que, a misteriosa baronesa do comércio de Nova Roma, Taramar Di Milano. Além de tudo que eu já vira sobre ela em nosso prévio encontro, não pude deixar de notar sua desenvoltura no trato social. Todos pareciam encantados por ela, menos Wlyn, com postura indiferente. Nicollo e Victorio derretiam-se em sorrisos e elogios, concordando com tudo o que ela dizia entre mastigadas e bebericadas.Postado atrás de Wlyn, pude observar o diálogo transcorrido entre eles. Inicialmente, a baronesa demonstrou surpresa por encontrar o rei noivo de uma plebeia desconhecida, o que de fato não era comum. Tanto que burburinhos a respeito transcorriam por todas as classes sociais. Victorio sabia e não se importava, tamanha a paix&atild
Tive um sono inquieto, agitado. Sonhei com Cassiene em nossos bons dias, um sonho agradável até que a vi se transformar no monstro matador que era e depois me rechaçar por tê-la enganado. Senti culpa pelo grande desejo que senti por Taramar e pelo que começava a sentir por Wlyn. Por fim, como já se tornara uma incômoda rotina, fui desperto pela entrada de Wlyn nos meus aposentos. Não bateu dessa vez.— Como entrou… — perguntei, sussurrando, enquanto ela se aproximava rápido.— Silêncio! — ordenou, também aos sussurros. — Não posso aceitar teu olhar de desejo em retribuição aos anseios dela — retorquiu espalmando a mão direita em meu peito enquanto a esquerda me agarrava pela nuca.Último capítulo