O silêncio que se instalou no quarto depois que Giovanni saiu era pesado, quase doloroso. A porta do banheiro se fechou com um clique abafado, e tudo o que restou foi o som da própria respiração de Sophia, ainda descompassada, ainda ecoando o que ele havia feito com seu corpo.
Ela permanecia nua sobre os lençóis amassados, os cabelos espalhados como uma coroa de rendição. Cada parte sua ardia, não apenas do prazer, mas da ausência.
Ele não era dela. E isso doía mais do que deveria.
O som da água sendo ligada atrás da porta pareceu um lembrete cruel: Giovanni se lavava sozinho, em silêncio, sem convidá-la, sem sequer olhar para trás. Ele havia tirado tudo dela: a força, o cont
A luz da manhã filtrava-se timidamente pelas frestas da janela, acariciando o quarto de Sophia com uma doçura que ela não sentia por dentro. O despertador não havia tocado, mas ela já estava acordada. Na verdade, mal dormiu.A noite passada ainda estava viva em sua pele. Nos olhos, nos seus pensamentos.Ela passou as mãos pelo rosto, respirou fundo e tentou deixar tudo para trás. Precisava ser forte, pela irmã, pela mãe, por si mesma, mesmo que parte dela soubesse que já havia cruzado uma linha da qual seria difícil voltar.Levantou-se, caminhando até o guarda-roupa. Vestiu uma calça jeans escura, uma blusa branca de mangas compridas, e prendeu os cabelos em um coque frouxo. Se olhou no espelho com uma expressão neutra, quase convencida de que estava bem.Mas seus olhos… entregavam a verdade.Seguiu para a cozinha e, ao se aproximar, um sorriso genuíno, ainda que cansado, escapou de seus lábios ao ver a cena diante de si.Hanna estava sentada numa das cadeiras altas, balançando as per
Giovanni saiu da cafeteria com passos firmes, elegantes, como se cada movimento fosse uma declaração silenciosa de controle absoluto. As mãos estavam enterradas nos bolsos do paletó escuro, e seu rosto… inexpressivo. Um mármore esculpido com perfeição, sem fissuras, sem emoção aparente. Era a imagem exata do homem que o mundo conhecia: Giovanni Bianchi, calculista, intocável, imperturbável.Ao seu lado, Vítor caminhava em silêncio. O melhor amigo, advogado, confidente. Sabia que aquele silêncio não era paz, era tempestade.Porque ele conhecia Giovanni como poucos. Sabia o que se escondia por trás da fachada fria e dos gestos contidos. E naquele andar rígido, no maxilar cerrado, nos olhos que não se fixavam em nada, estava claro: algo estava fora do eixo.Sophia. A distração que Giovanni não conseguia tirar da mente. Entraram no carro preto que os aguardava na frente. Vítor tomou o banco do passageiro. Giovanni, como de costume, sentou-se no banco traseiro, em silêncio. O motorista de
O relógio parecia correr mais devagar naquela tarde. Sophia terminou de servir o último cliente, limpou as mãos no avental e olhou pela janela da cafeteria. A cidade fervilhava do lado de fora, mas dentro dela, havia apenas ansiedade. O encontro com a médica não saía de sua cabeça.Pegou sua bolsa, avisou discretamente à colega que sairia um pouco mais cedo e saiu pela porta dos fundos. Logo em seguida, chamou um táxi. O motorista, um senhor de aparência simpática, perguntou o destino, e ela apenas mostrou a tela do celular com o endereço que Giovanni havia enviado.O percurso foi silencioso. Sophia olhava as ruas passando rapidamente, tentando conter a inquietação que crescia a cada quilômetro. Quando o carro finalmente parou, ela olhou pela janela e engoliu em seco.O prédio era imponente. Alto, de fachada espelhada, com colunas elegantes e uma recepção toda em mármore branco. Pessoas bem vestidas entravam e saíam, todas em ternos alinhados, vestidos finos, saltos caros. Ela desceu
Do lado de fora, o céu começava a escurecer. A tarde morna se transformava em um início de noite frio e cinzento. Sophia não quis chamar um táxi logo de imediato. Precisava de ar, de espaço, de silêncio.Caminhou algumas quadras em direção à estação de metrô mais próxima, com os braços cruzados sobre o peito como se pudesse se proteger de tudo: da cidade, do peso do mundo… de Giovanni.Mas ela sabia que era inútil. Ele estava dentro dela agora. Presente em cada memória recente, em cada sensação, em cada marca ainda latejante sob sua pele. Ele havia invadido seu corpo, e agora ocupava sua mente.E o pior? Ela o deixará entrar. Ela quis. Quis sentir o que sentiu. Quis que ele a olhasse daquele jeito. Quis acreditar que, no fundo, havia algo mais.Mas hoje, com o olhar clínico da médica avaliando seu corpo como se fosse um dossiê, com perguntas sobre preservativos, anticoncepcionais, limites, relações… Sophia viu com clareza.Não era só prazer, era um contrato, obediência, controle.Ela
A porta pesada do The Black Room se fechou atrás deles, selando Sophia em um mundo que não lhe pertencia, mas que, de alguma forma, parecia ter sido feito para ela.Seu coração batia frenético contra o peito, não por medo, mas pela promessa do desconhecido. O ar era carregado, denso com uma eletricidade que parecia vibrar em sintonia com seu próprio corpo. O perfume amadeirado de Giovanni envolvia seus sentidos, um lembrete constante da presença dominante dele, enquanto sua mão firme a guiava com precisão, pressionando a base de suas costas nuas.Ela sentia o calor dele, a força silenciosa que exalava de cada movimento, de cada toque, de cada palavra não dita.— Confie em mim, Sophia. — A voz dele veio baixa, um sussurro grave que reverberou por sua espinha como uma promessa perigosa.Ela engoliu em seco, seus dedos tremendo levemente, mas não recuou. Porque, apesar do desconhecido, apesar da tensão quase insuportável entre eles, ela queria aquilo.O quarto era um santuário de control
— Sophia… — Amélia chamou baixinho, puxando a cadeira e sentando-se ao seu lado. Seus olhos escuros estavam carregados de preocupação. — Você não pode continuar assim. Se matar de trabalhar em dois empregos não será suficiente, você precisa de uma solução real.Sophia apertou os olhos, sentindo as lágrimas ameaçarem cair.Jogou sobre a mesa, a carta do hospital onde informava o prazo final da cirurgia da sua irmã. Hanna, tinha apenas cinco anos e sofria de uma condição cardíaca grave que necessitava de uma cirurgia de urgência, apenas essa cirurgia salvaria a vida de Hanna e o tempo estava se esgotando. — E qual é a solução, Amélia? Eu já tentei tudo! Bancos, empréstimos, associações de caridade… ninguém quer ajudar. O hospital exige o pagamento antes da cirurgia. Se eu não conseguir esse dinheiro em dois meses, Hanna…Ela não terminou a frase, a dor que sentiu apenas em pensar na possibilidade de perder sua irmã era demais para ela. Amélia respirou fundo, hesitando mas pensou em al
Giovanni Bianchi era um homem machucado, um homem que conheceu um tipo de amor doentio e sádico. Um amor que o transformou no que ele era hoje, frio e sem coração. Mas por trás de toda a frieza e controle, havia um lado de Giovanni que quase ninguém conhecia.Apenas duas pessoas no mundo conseguiam enxergar além da máscara do magnata implacável: sua mãe, Isabella, e sua irmã caçula, Antonella.Com elas, ele era diferente.Ainda que tivesse herdado a rigidez e a disciplina do pai, sua mãe sempre foi o seu equilíbrio. Isabella Bianchi era a única que ainda via nele o garoto que um dia acreditou em sentimentos, antes que as pessoas o tornassem tão cético. Sua relação com Antonella era ainda mais intensa. Dez anos mais nova, a irmã era sua fraqueza. Ele a protegia como um guardião implacável, certificando-se de que nada, nem ninguém, a machucasse.Mas para o resto do mundo, Giovanni Bianchi era apenas o bilionário intocável, o homem de negócios dominador e implacável.O aroma amadeirado
O restaurante luxuoso estava banhado por uma iluminação quente e elegante, refletida nas taças de cristal dispostas sobre as mesas de linho impecável. O som discreto de conversas e risadas se misturava ao tilintar dos talheres, criando uma sinfonia refinada de sofisticação e exclusividade.Giovanni estava sentado em um dos melhores lugares do salão, girando lentamente o uísque em seu copo de cristal, seu olhar afiado varrendo o ambiente com impaciência contida.Vitor havia entrado em contato pessoalmente com o dono da Elite Diamonds, garantindo que a garota escolhida se encaixava em todos os requisitos do empresário. Mas Giovanni, um homem acostumado a exigir o melhor e aceitar nada menos do que a perfeição, permanecia cético.Por isso, ele marcou aquele jantar.Não gostava de surpresas.Não gostava de perder tempo.E, acima de tudo, não gostava de se decepcionar.Mas quando ergueu o olhar e viu a mulher atravessando o salão em sua direção, algo dentro dele estremeceu.Seu corpo ficou