Arthur
Aflição.
Essa é a sensação que estou há algum tempo, enquanto essa noite agoniante se estende. Perceber que Catarina efetivamente nunca quis ter uma vida em família, aguçou meus medos de que me deixar para trás seria absolutamente simples para ela.
Logo, então, fui surpreendido com a informação de que tem uma irmã da qual nunca me falou. O quanto ela realmente me considera, a ponto de omitir algo assim, que sequer tem gravidade?
Eu sequer posso lhe cobrar algo, quando sou o mais omisso de todos. E ao fim, a ouço dizer que se eu a quisesse por qualquer motivo que não fosse ela mesma, não estaria aqui. Comigo.
Uma linha tênue me separa de ser esse tipo de pessoa que ela despreza e o que eu realmente fiz. Temo perdê-la.
Não tinha qualquer medo, quando meus sonhos se tornavam coisas distantes na medida em que minha prioridade era manter meus irmãos unidos, em vez de constituir nova família.
Ma
Catarina Trabalho. Lembro quando esse era o auge de um dia perfeito. Bem, hoje trabalhar no que eu amo faz parte de uma infindável lista de coisas que compõem um dia perfeito. Há dois meses, quando eu tive a ousada e feliz ideia de não ter medo e confessei a Arthur tudo o que eu sentia, não imaginava que todo o fluxo de emoções que eu sentia poderia aumentar. Inundar, espalhar, encher e preencher cada pedacinho a ponto de me deixar com cara de uma pateta apaixonada e satisfeita. Nossa rotina desde então tem se ajustado e desajustado para que Rebeca não estranhe muito a mudança. Explicar para Rebeca que o Arthur agora era um amigo muito especial não foi difícil, pois, segundo ela, ele sempre foi especial. Claro que ela não entendeu absolutamente nada do que se passava entre nós, mas sorria cada vez que sabia que estaríamos os três juntos. Eu via o quanto esses momentos eram preciosos para ela e o medo de que esti
Arthur Estou há meia hora tentando falar com Raphael. Ele só tinha uma função: Manter o escritório funcionando enquanto eu precisasse. Ele cumpriu seu acordo durante um bom tempo, inclusive nos dois últimos meses. Aparentemente. Ela é como um braço da Ferraço, pois comprei a empresa, mas não a absorvi completamente, para que Catarina não desconfiasse. Quando tudo fosse resolvido, eu cuidaria para que os trabalhadores dela não fossem prejudicados. Ela tem me mandado relatórios mensais, inclusive nos últimos meses. Seus relatórios melhoraram bastante e ficaram mais autocríticos e, ao menos, eu sabia que a empresa em si tinha sido um bom investimento. Mas o imbecil descumpriu o acordo e sumiu. Eu deveria me focar nele agora, mas o mais importante é o que fazer com Catarina. Se ela for atrás disso tudo, vai descobrir que a Mendes não existe mais desde que começou a trabalhar para mim. Já foi muito di
Catarina A noite das meninas está sendo maravilhosa, apesar de a minha mente constantemente voltar a se questionar sobre Raphael e o acordo dele com Arthur. Eu confio nele quando diz que manteve sua parte, o problema todo é o Cretino Mendes. Tentei ligar para ele algumas vezes, mas logo minha filha me exigiu, pois tratar da sua festinha de aniversário com a maior antecipação do mundo era fundamental. O tema girassóis a encanta desde que meus primeiros brotaram no nosso jardim na cobertura de Arthur. Ela está encantada com a grandiosidade deles e o quão rápido eles se voltam para luz do sol. Ela faz questão de que seu mundo seja amarelo nesse dia. Lembro-me como foi o dia em que ela nasceu para mim. A carta de Roberta, a emoção e o medo. Meu sigilo ao entrar com um processo de adoção, para que ninguém além de seu Agnaldo, Camila e sua mãe, soubessem que ela não veio de mim. Rompi os laços que ela tinha antes daqu
Arthur O trabalho hoje ficou em segundo plano, enquanto eu espero que me avisem que Catarina chegou. Ando de um lado para o outro e todos já desistiram de mim e do meu humor insuportável. César está assumindo todos os meus compromissos do dia para me dar suporte. Helena segue como um cão de guarda observando se meu pai, Catarina ou qualquer pessoa que possa estragar minha vida, chega. Maria Emília já me entregou tanto café e água, que daqui a pouco me afogo. – Onde você está, meu amor? – Pergunto para o silêncio. Eu demorei. Eu arrastei o tempo da forma que pude, com medo de afastá-la e agora tenho pressa. Pressa para que ela não tenha ao menos a chance de ouvir tudo de mim mesmo. Pressa para que ela possa me ouvir, antes de tudo se perder. Eu queria poder voltar no tempo e refazer as linhas tortas da nossa história. Começaria não tendo saído daquele quarto há dois anos, sem saber seu nome.
Catarina Ouço vozes ao meu redor, mas meu coração acelerado me impede de compreender o que dizem. Alguém segura a minha mão e a textura da pele e o aroma que chega próximo a mim, me indicam que é ele. Arthur. Tento organizar meus pensamentos, pois encarar tudo o que me espera é cruel demais. Saí da casa de Otávio, determinada a confrontar Arthur. Cheguei como um furacão à empresa e exigi que Maria Emília me desse a cópia do contrato de compra e venda. Não adiantava mais nenhum deles esconder qualquer coisa. Senti-me tão frustrada por saber que nada do que eu tinha aqui, realmente conquistei, que não pensei, apenas fui querendo atropelar Arthur. Eu não esperava me deparar com o único fato que deveria estar enterrado na minha vida. A origem de Rebeca. Era a única condição do nosso pacto silencioso e ele sabia que esse tema me desagradava. Eu jamais tive ideia de quem era o pai da minha filha e a pe
Arthur O semblante de Catarina não combina com a feroz determinação que a faz sorrir todos os dias. Ela tenta disfarçar, mas seu semblante e a palidez que parece não querer abandoná-la a denunciam. Queria tê-la levado ao hospital e garantido que estava tudo bem, mas sua teimosia e raiva não permitiram. Acho que em meses eu nunca a vi doente. Às vezes pulava uma refeição em razão da correria, mas isso nunca teve um efeito relevante, principalmente porque ela compensava na seguinte. Mas agora não estamos em uma situação normal e o seu corpo não responde de uma forma normal. Insisto em adiarmos a conversa com meu pai, mas desisto, quando ameaça se levantar para abrir a porta. Prefiro que esteja segura em sua poltrona confortável. Meu pai entra, olhos observadores e um sorriso perspicaz em seu rosto, que me indica um mau sinal. A conversa que tivemos antes de Catarina chegar, sobre ela ter usado artimanhas, me deixa apreens
Catarina Destruída. Eu já havia ouvido falar sobre a capacidade do corpo de assumir as dores da alma, refletindo no nosso estado de saúde. Mas completamente distinto é sentir. Meu corpo dói de uma forma que não compreendo e meu abdômen parece querer me dilacerar. Eu não tinha mais energia para debater com qualquer deles, quando ameaçam tomar minha filha. Minha e nada do que digam muda isso. Tento pontuar o que eu preciso fazer em minha mente confusa, mas meu coração apenas deseja ver, beijar e abraçar Rebeca. Apenas isso, antes que eu sinta que vou explodir. César nada perguntou e lhe agradeci por isso. Quando voltar a empresa, saberá o que aconteceu. Peço que me deixe na casa da Camila, enquanto lhe envio uma mensagem. Ela me liga do celular da sua mãe. – Oi, Cami. – Onde você está? – César vai me deixar na casa da sua mãe. – Tudo bem. Te espero. – Antes que
CatarinaQuase dez dias depois, sigo na casa de Camila, recuperando minhas forças para enfrentar tudo o que está por vir. Passei muito mal e a dor em meu abdômen não cessou. Tive medo de ficar sozinha com Rebeca e precisar ir ao hospital, então aproveitei da solidariedade da minha amiga.Não permiti que ela se demitisse, pois diferente de mim, ela era contratada da Ferraço, foi escolhida por mim e não seria justo perder uma grande chance por conta dos meus problemas.Pelo que entendi, foi realocada e César a designou para si mesmo. Ela o tem auxiliado, apesar de eu suspeitar que fazem coisas a mais. Cami precisa da sua dose de felicidade e estou tranquila por não ter permitido sua demissão.O Arthur a procurou todos esses dias, mas ela se manteve irredutível, no máximo, o informando que eu estou fazendo meu melhor depois de tudo.