Antes de abrir a porta do carro, soltei um longo suspiro, sentindo o peso da situação. Meus pensamentos estavam em Cassidy e Rubi, que ficaram em casa, alheias ao que eu estava prestes a fazer. Alexander, ao meu lado, observava atentamente. — É aqui — disse ele, firme. — Suzy trabalha nesta empresa de contabilidade. Foi contratada como secretária. Assenti, tentando controlar a ansiedade. — E você tem certeza de que isso é uma boa ideia? Alexander me lançou um olhar afiado, como se minha pergunta fosse absurda. — Eu marquei uma reunião com o dono. Ele já sabe do que se trata. Assim, fica mais fácil chegarmos até ela. — Isso é legal? Dessa vez, ele nem se deu ao trabalho de responder, apenas soltou um suspiro impaciente antes de dar o primeiro passo rumo ao prédio. Eu o segui. Ele parecia saber exatamente onde ir. Cruzamos corredores até finalmente a avistarmos. Suzy estava atrás do balcão, falando ao telefone. Nos aproximamos em silêncio. No instante em que seus olhos r
Kai estava preso no quarto há muitas horas. A noite começava a cair, depois de dar banho em Rubi e vesti-la com seu pijaminha macio, decidi que era hora de ver como ele estava. Peguei minha bebê e fomos juntas até a porta do quarto. Dei duas batidas suaves antes de girar a maçaneta. Ao abrir a porta, encontrei Kai sentado na cama, o rosto iluminado pela tela do tablet. Seu olhar estava perdido, concentrado em algo que não consegui identificar. Mas assim que percebeu nossa presença, colocou o aparelho de lado e abriu um sorriso discreto, um daqueles que sempre me fazia sentir um calor confortável no peito. — Oi, meu amor — murmurei, avançando um pouco. — Viemos ver se você está bem. Ele ergueu o olhar e estendeu a mão para nós, sua voz soando mais suave do que o habitual. — Venham aqui, minhas lindas garotas. Rubi se remexeu, ansiosa, estendendo os bracinhos para o pai. Kai não hesitou em pegá-la, puxando-a para seu colo com facilidade. Com carinho, deitou-a na cama e começou a f
Voltar à minha sala depois de tanto tempo foi como respirar ar fresco. Passei anos trabalhando aqui, e meu pai, ainda em vida, testemunhou o esforço meu e de meus irmãos para manter tudo funcionando. Agora, retornar a este espaço carregado de memórias trazia um misto de nostalgia e renovação. Olhei para frente e sorri ao ver Cassidy parada junto à janela. Ela conversava animadamente com nossa filha, o rosto iluminado pelo reflexo do sol no vidro. — A conversa parece estar boa — comentei, aproximando-me. Cassidy virou-se para mim com um sorriso radiante. — Estou mostrando para a Rubi essa vista incrível — respondeu, os olhos brilhando de entusiasmo. Ela se afastou da janela e veio ao meu encontro, demonstrando curiosidade. — Sabia que sempre tive vontade de conhecer sua sala de trabalho? — perguntou, observando os detalhes ao redor. — É mesmo? E o que achou? — Mais ou menos... acho que falta um toque de decoração. Soltei uma risada leve. — Já cuidei disso, querida
Encontrei minha irmã no corredor da emergência. Ela andava de um lado para o outro, nervosa, os olhos arregalados e vermelhos de tanto chorar. Meu peito se apertou ao vê-la assim. Antes que eu pudesse dizer algo, Alexander passou por mim às pressas, indo direto até ela. Ele estava tão abalado que sequer me viu. — Morgana! — chamei, e os dois se viraram para me olhar. — Kai… que bom que chegou… — Sua voz tremia, carregada de pavor. Meu coração disparou. O sangue latejava em meus ouvidos. — O que aconteceu? Cadê minha mulher? — Minha voz saiu urgente, carregada de desespero. Senti Rubi se encolher contra mim, a cabeça pousada no meu ombro, como se percebesse toda a tensão ao redor. — Estávamos atravessando a rua… o sinal fechou… — Morgana falava rápido, as palavras atropeladas pelo nervosismo. — Cassidy estava comigo… o carro apareceu do nada… Ele passou exatamente onde ela estava. Meu corpo gelou. — Ela foi jogada a metros de distância… estava sangrando, Kai… sangrand
Durante a noite, tive todas aquelas horas para pensar e repensar. O silêncio era uma prisão, e minha mente, um campo de batalha. Enquanto Kai dormia apertado no sofá, Rubi, tão pequena e indefesa, dormia ao meu lado, recusando-se a ir com Olívia ou com meu pai. A cada vez que olhava para meu marido, sentia meu coração se partir mais um pouco. Eu o amo. Eu o amo desde que aprendi o que era amor. Mas eu também amo meus filhos. E essa situação está me destruindo. Quando o dia finalmente amanheceu, eu ainda não tinha sequer cochilado. O peso de todas as minhas incertezas me mantinha acordada, sufocando qualquer tentativa de descanso. Recebi alta, e Kai resolveu tudo na recepção. No carro, o silêncio era ensurdecedor. Ele mantinha os olhos fixos na estrada, enquanto eu olhava para os lados, tentando encontrar algo que me distraísse do nó que se apertava dentro de mim. — Quando chegarmos em casa, durma. Você passou a noite acordada. — Sua voz quebrou o silêncio como um sussurro cort
Eu nunca imaginei que um dia sentiria isso. Essa sensação de sufocamento que está me matando aos poucos. É como se algo estivesse me rasgando por dentro, pedaço por pedaço, sem pressa, prolongando a dor. Ver minha esposa arrumando suas malas está acabando comigo. Cada peça que ela guarda é como um golpe certeiro, me deixando sem ar. — Kai… — murmurou, a voz trêmula. — Se ficar aí, vai ser mais difícil. — De qualquer jeito vai ser difícil. — garanti, sentindo minha garganta apertar. — Isso não pode durar muito tempo, Cassidy, eu não vou aguentar viver sem você. — repeti pela milésima vez, mas não fazia diferença. Ela virou na minha direção, seus olhos vermelhos e inchados, cheios de lágrimas que já não conseguia segurar. — Estou confiando em você para resolver isso. Eu também não posso passar muito tempo sem você. E Rubi… o nosso bebê. — sussurrou, levando a mão até a barriga. Caminhei até ela e a abracei, de novo. Era a quinta vez desde que ela começou a arrumar as malas, mas par
Já se passou uma semana desde que Kai e eu decidimos viver separados para que ele consiga atrair Antonella. Uma semana que parece uma eternidade. A casa de Joshua é uma verdadeira fortaleza, cercada de seguranças e isolada da cidade, e, apesar de todo o conforto, me sinto presa. Pela janela do meu quarto, observo as crianças brincando no jardim. Rubi está dentro de um carrinho elétrico ao lado de Isaac, o filho mais novo da minha irmã. Os dois gargalham como se a vida se resumisse a isso, como se nada além daquele momento importasse. Para eles, tudo é simples. Para mim, tudo é dor. — Ela gostou bastante daqui, você não acha? — ouço a voz de Olívia atrás de mim. Desvio o olhar da cena lá fora e forço um sorriso. — Acho... Ela gosta de ter outras crianças por perto, e Isaac é quase da mesma idade. Os dois se dão muito bem. Fico feliz por isso. — garanto. — E por que não parece que está feliz? — pergunta, se aproximando. Suspiro, tentando conter o nó na minha garganta. — Não
Vinte e cinco dias. Há vinte e cinco dias, eu sou outra pessoa. Estressado, impaciente e tomado por uma raiva avassaladora de Antonella Rizzo. Alexander criou um plano para fazê-la aparecer, já que a polícia não parecia minimamente empenhada em ir atrás daquela desgraçada. — Você entra, passa um tempo no lugar onde costumava ficar e aguarda. Se ela não aparecer em trinta minutos, você sai e vamos embora. — Ele explicou novamente, com a calma de quem já tinha tudo planejado. — Tudo bem. — Estamos ouvindo tudo. — Um dos amigos do meu cunhado afirmou. O microfone preso à minha roupa captava cada som, e as câmeras de segurança estavam sendo monitoradas. — Preciso dar algum sinal? — indaguei. — Não. Só a faça confessar que era ela no carro. Com isso, conseguimos formalizar a denúncia e, a partir daí, o resto eu mesmo resolvo. — Alex garantiu, a firmeza em sua voz deixando claro que ele não voltaria atrás. Ele parecia uma pessoa completamente diferente quando estava vestid