Encontrei minha irmã no corredor da emergência. Ela andava de um lado para o outro, nervosa, os olhos arregalados e vermelhos de tanto chorar. Meu peito se apertou ao vê-la assim. Antes que eu pudesse dizer algo, Alexander passou por mim às pressas, indo direto até ela. Ele estava tão abalado que sequer me viu. — Morgana! — chamei, e os dois se viraram para me olhar. — Kai… que bom que chegou… — Sua voz tremia, carregada de pavor. Meu coração disparou. O sangue latejava em meus ouvidos. — O que aconteceu? Cadê minha mulher? — Minha voz saiu urgente, carregada de desespero. Senti Rubi se encolher contra mim, a cabeça pousada no meu ombro, como se percebesse toda a tensão ao redor. — Estávamos atravessando a rua… o sinal fechou… — Morgana falava rápido, as palavras atropeladas pelo nervosismo. — Cassidy estava comigo… o carro apareceu do nada… Ele passou exatamente onde ela estava. Meu corpo gelou. — Ela foi jogada a metros de distância… estava sangrando, Kai… sangrand
Durante a noite, tive todas aquelas horas para pensar e repensar. O silêncio era uma prisão, e minha mente, um campo de batalha. Enquanto Kai dormia apertado no sofá, Rubi, tão pequena e indefesa, dormia ao meu lado, recusando-se a ir com Olívia ou com meu pai. A cada vez que olhava para meu marido, sentia meu coração se partir mais um pouco. Eu o amo. Eu o amo desde que aprendi o que era amor. Mas eu também amo meus filhos. E essa situação está me destruindo. Quando o dia finalmente amanheceu, eu ainda não tinha sequer cochilado. O peso de todas as minhas incertezas me mantinha acordada, sufocando qualquer tentativa de descanso. Recebi alta, e Kai resolveu tudo na recepção. No carro, o silêncio era ensurdecedor. Ele mantinha os olhos fixos na estrada, enquanto eu olhava para os lados, tentando encontrar algo que me distraísse do nó que se apertava dentro de mim. — Quando chegarmos em casa, durma. Você passou a noite acordada. — Sua voz quebrou o silêncio como um sussurro cort
Eu nunca imaginei que um dia sentiria isso. Essa sensação de sufocamento que está me matando aos poucos. É como se algo estivesse me rasgando por dentro, pedaço por pedaço, sem pressa, prolongando a dor. Ver minha esposa arrumando suas malas está acabando comigo. Cada peça que ela guarda é como um golpe certeiro, me deixando sem ar. — Kai… — murmurou, a voz trêmula. — Se ficar aí, vai ser mais difícil. — De qualquer jeito vai ser difícil. — garanti, sentindo minha garganta apertar. — Isso não pode durar muito tempo, Cassidy, eu não vou aguentar viver sem você. — repeti pela milésima vez, mas não fazia diferença. Ela virou na minha direção, seus olhos vermelhos e inchados, cheios de lágrimas que já não conseguia segurar. — Estou confiando em você para resolver isso. Eu também não posso passar muito tempo sem você. E Rubi… o nosso bebê. — sussurrou, levando a mão até a barriga. Caminhei até ela e a abracei, de novo. Era a quinta vez desde que ela começou a arrumar as malas, mas par
Já se passou uma semana desde que Kai e eu decidimos viver separados para que ele consiga atrair Antonella. Uma semana que parece uma eternidade. A casa de Joshua é uma verdadeira fortaleza, cercada de seguranças e isolada da cidade, e, apesar de todo o conforto, me sinto presa. Pela janela do meu quarto, observo as crianças brincando no jardim. Rubi está dentro de um carrinho elétrico ao lado de Isaac, o filho mais novo da minha irmã. Os dois gargalham como se a vida se resumisse a isso, como se nada além daquele momento importasse. Para eles, tudo é simples. Para mim, tudo é dor. — Ela gostou bastante daqui, você não acha? — ouço a voz de Olívia atrás de mim. Desvio o olhar da cena lá fora e forço um sorriso. — Acho... Ela gosta de ter outras crianças por perto, e Isaac é quase da mesma idade. Os dois se dão muito bem. Fico feliz por isso. — garanto. — E por que não parece que está feliz? — pergunta, se aproximando. Suspiro, tentando conter o nó na minha garganta. — Não
Vinte e cinco dias. Há vinte e cinco dias, eu sou outra pessoa. Estressado, impaciente e tomado por uma raiva avassaladora de Antonella Rizzo. Alexander criou um plano para fazê-la aparecer, já que a polícia não parecia minimamente empenhada em ir atrás daquela desgraçada. — Você entra, passa um tempo no lugar onde costumava ficar e aguarda. Se ela não aparecer em trinta minutos, você sai e vamos embora. — Ele explicou novamente, com a calma de quem já tinha tudo planejado. — Tudo bem. — Estamos ouvindo tudo. — Um dos amigos do meu cunhado afirmou. O microfone preso à minha roupa captava cada som, e as câmeras de segurança estavam sendo monitoradas. — Preciso dar algum sinal? — indaguei. — Não. Só a faça confessar que era ela no carro. Com isso, conseguimos formalizar a denúncia e, a partir daí, o resto eu mesmo resolvo. — Alex garantiu, a firmeza em sua voz deixando claro que ele não voltaria atrás. Ele parecia uma pessoa completamente diferente quando estava vestid
O sono teimava em não vir. Fazia dias que eu não conseguia dormir direito, e parecia que nada estava dando certo. Trabalhos atrasados, a mente uma bagunça, o corpo exausto. Mas, desde que cheguei aqui, uma única certeza e esperança me mantinha de pé: Kai resolveria tudo. Naquela noite, porém, algo foi diferente. Um sonho maravilhoso me envolveu. Eu sentia os braços de Kai ao meu redor, quentes e firmes, seu perfume familiar inundando o quarto. Meu corpo inteiro se arrepiou ao reconhecê-lo. — Nunca mais você vai ficar longe de mim, nem por um dia. — A voz rouca dele soou próxima ao meu ouvido, tão real que meu peito se apertou. Queria tanto que fosse verdade. Sua pele estava fria, seu rosto carregava o cansaço de quem suportou mais do que deveria, exatamente como eu imaginava que ele estivesse… exatamente como eu também me sentia. Então, Kai se moveu sobre mim, seu corpo pesado, mas cuidadoso, como se temesse me machucar. Seus lábios deslizaram pelo meu pescoço, descendo le
Desde que chegamos em casa, Kai não soltou Rubi dos braços. A pequena se aninhava nele com um carinho que derretia qualquer coração, recusando-se a desgrudar, mesmo com a hora do jantar se aproximando. — Ela vai ter dificuldades em soltar — comentei com um sorriso. — Ela só precisa do colo do papai, não é, minha princesa? — respondeu ele, animado, apertando-a contra o peito. Então, levantou os olhos para mim, o sorriso agora carregado de segundas intenções. — Quis passar o dia com ela porque, à noite, tenho planos com você. Seu olhar intenso me fez morder o lábio. — Amor… — sorri, sentindo o arrepio na espinha. — Veste aquela lingerie que eu gosto — pediu, a voz grave, carregada de expectativa. — Quem sabe — provoquei, arqueando a sobrancelha. Kai riu, balançando a cabeça. Na hora do jantar, Rubi ainda não quis sair dos braços dele. Eles precisavam desse momento juntos, e eu me sentia a mãe mais sortuda do mundo por testemunhar esse amor. Depois que ele a alimentou
Um mês depois Estávamos aguardando na recepção da clínica. Hoje, finalmente, iríamos descobrir o sexo do nosso bebê. Eu estava um poço de ansiedade, mesmo que, no fundo, tivesse quase certeza de que era um menino. — Kai, fique calmo — Cass falou, sorrindo. — Como assim? Eu estou calmo, querida. — Sua perna está batendo desde que chegamos — afirmou. Desviei o olhar para minha perna, que tremia freneticamente. Assim que percebi, parei de balançá-la e firmei o pé no chão. Abri a boca para dizer algo, mas, antes que pudesse falar, a médica chamou minha esposa. Cass apertou minha mão, e entramos juntos na sala de ultrassom. Meu coração estava disparado. Assim que minha esposa se deitou e a médica começou o exame, prendi a respiração sem perceber. A tela exibia imagens em preto e branco, e o som do coraçãozinho ecoava na sala. — Aqui está o seu bebê — disse a médica, apontando para a tela. Eu segurei a mão de Cass com mais força. Cada detalhe daquela imagem me emocionava. E