CAPÍTULO 2

LIGO O SOM NO ÚLTIMO volume, mexendo o corpo e os cabelos na batida da música. Naguine rasteja pelo colchão, a sua cor amarela é o único tom vivo que se destaca nesse quarto preto, fosco e escuro. É legal, nunca é difícil saber onde ela está por aqui.

Também é o único comido nessa enorme casa, além do quarto do meu irmão, que não segue o design do resto da casa, completamente revestido em branco e tons de bege, só que faz mais sentido ser assim, já que essa casa é um hospicio mesmo. É tão grande e clássica que chega a ser ultrapassada, é muito luxuosa, como viver em um castelo, pelo tamanho, pela arquitetura, decoração e pelo tipo de gente que vive aqui. Minha mãe sem dúvida séria a rainha, é o que ela realmente é, como é tratada pelo meu pai e os de mais. Meu pai, Dimitri Devan. O rei todo poderoso que vive pelas vontades de sua rainha má, bela e irresistível. Meu irmão seria o príncipe das trevas, louco para tomar o trono e governos a todos com punhos de ferro e mãos manchadas de sangue. E eu, não me considero alguém aqui, me acho diferente deles, em caráter e demais coisas, só que sem dúvida aos olhos dos outros eu seria a princesa, uma princesa rebelde, talvez eu fosse vista como alguém realmente relevante aqui se eu não fosse uma mulher.

Não posso não incriminar a minha mãe por isso, antes que ela traísse meu pai, há muitos anos atrás, as leis dessa merda de máfia eram mais brandas. Não que justas e feministas, porém, bem menos piores. Hanna Devan, ela tinha que ser ela mesma e mudar tudo isso. Claro que ela conseguiu o perdão dele, a um preço alto, só que esse preço nós mulheres que viemos depois estamos pagando até hoje. Simples, você era mulher, apenas não tinha muito poder se você não fosse uma boa manipuladora de maridos, devia obediência e fidelidade ao marido e depois do casamento, fazer uma tatuagem ridícula dizendo que você o pertencia.

Agora a coisa é mais em baixo, renovando as leis antigas, você se casa virgem, se um homem tiver interesse em você ele pede seus direitos ao seu irmão ou pai que agota são considerados seus donos até que tenha um marido e este homem se tiver seus direitos cedidos, pode e vai controlar cada passo seu. Depois do casamento a constatação de se você era ou não virgem, se sim, passe para o próximo nível, se não, morte. Depois a tatuagem, filhos e uma vida inteira de submissão, bem pior do que era antes. Torcemos para que o marido seja bonzinho, quase nunca é, porém torcemos, assim nos livramos das surras e punições sem consequência alguma para os maridos. E isso tudo, é culpa da minha mãe, e da minha madrinha Kelly também que deu uma bela ajuda, ainda sim, minha mãe é a maior culpada.

Só que para ela, isso tudo não é nem de longe um problema, afinal, ela está perdoada. E na sua visão, qualquer mulher tão esperta quanto ela, consegue se livrar de todas essas leis.

Hanna Devan tem o poder de driblar qualquer lei, fazendo de qualquer um seu fantoche, sempre foi muito manipuladora, controladora e claro, mentirosa. Como ser tudo isso sem mentir, não é? Uma mulher difícil. E mesmo assim eu amo ela, e sei que ela também me ama, ama meu irmão, meu pai, Kelly e os filhos dela, Kate e Alexander. O problema da minha mãe não é falta de amor, só priorizar suas conveniências acima de tudo, principalmente dos escrúpulos. E o pior é que Stefan é do mesmo jeito.

Stefan tem vinte e seis anos. É o pior homem que eu já conheci, controlador, cruel, sanguinário, tirano e capaz de qualquer coisa para ter o que quer. Aprendeu isso com mais pais, e conseguiu pegar de cada um o pior lado. Não sei se ele me ama, se ele tem ao menos essa capacidade que minha mãe tem, as vezes, raramente... penso que sim, só que depois logo vejo que não.

Paro a música que eu escutava quando ouço batidas na porta, abafadas pelo som alto.

— LANA! - ela abre a porta e me olha.

— Oi, mãe.

— O almoço está servido, e feche a porta antes de sair porque não quero essa cobra solta pela casa.

Reviro os olhos com o tom de desprezo dela para Naguine.

[...]

Bebo um gole do suco de morango enquanto mexo com a ponta do garfo na comida, totalmente entediada com os assuntos na mesa. Tráfico, cargas, armas, festas, dinheiro, dinheiro, dinheiro...e mais dinheiro.

— O salão já está pronto. Amanhã a cerimônia de posse vai sair exatamente como o planejado.

— Obrigado, mãe. Não quero falhas. - Stefan diz.

— Não terá. Fico muito satisfeito em te passar meu cargo ainda em vida, não tive tanta sorte com meu pai. Com a morte dele não houve cerimônia, e tive que tomar o cargo as pressas.

— E mesmo assim foi grandioso, meu amor. - Minha mãe sobre a mão de meu pai com a sua, acariciando e sorrindo para ele em consolo. Está alimentando o ego dele, que é enorme, diga-se de passagem, só que não deixa de ser verdade, meu pai sempre foi muito respeitado.

— E você como primeira dama. A Kate será tanto quanto, quando se casar com Stefan...- E mais uma vez este assunto é tocado aqui. A obsessão doentia que meu irmão tem por Kate, filha da Kelly, melhor amiga da minha mãe. Eles tem a mesma idade, e quando eu era criança, Stefan já estava obcecado por ela. Meus pais só fizeram alimentar esse sentimento nele, essa obsessão, e quem sofrerá com isso é ela que está apaixonado por outro demais para notar que meu irmão é doentio por ela.

— Ela nem sabe sobre isso e pode não querer se casar com Stefan. - E dizendo isso, consigo ganhar um olhar mais do que mortal do meu irmão. Stefan não pode me bater aqui e agora, e nem me jogar no porão. Só que se meus pais saírem e ele guardar esse rancor, ninguém poderá me salvar.

— Não vejo porque não. - meu pai defende, tomando um gole de vinho. E claro que ele não vê porque não, ele também consegue tudo que quer, ele quis minha mãe e conseguiu, pegou para si mesmo que ela amasse outro. E a história se repete, uma maldição de família, talvez. E novamente, a vontade da mulher não conta em nada. — Kate é solteira. - continua meu pai.

— Nem sempre se trata de estar ou não disponível, pai. Às vezes ela só não quer mesmo, eles se conhecem desde o nascimento, ela pode ver ele como um irmão.

— Lana, seu irmão será o capô. - minha mãe diz com todo orgulho e vitória. — Poderá ter Katherine facilmente se usar os meios, ela é uma menina boa e doce, vai se apaixonar por ele com facilidade. E a única irmã dele, é você. - Da ênfase.

Não amando outro...

— Cale a boca, Lana! - Stefan ordena, não pode, não manda, a palavra é sempre ordenar.

Idiota, querendo ou não, minha opinião aqui é a mais certa, eles só não sabem disso. E que relevância eu tenho aqui mesmo? Não sou a primeira dama, nem o capô e nem o futuro capô mesmo.

— Não fale assim com sua irmã. - Meu pai manda, o repreendendo com tom severo.

— Filha, você também tem que começar a se preocupar com isso. Não tem nenhum homem que tenha interesse? Um que seja bonito e tenha um bom cargo? - Minha minha mãe me questiona.

— Não tenho, mãe. Só que você com certeza tem.

Ela sorri. É, realmente tem e eu não vou perguntar, não quero saber de nada disso.

Revirando os olhos me levanto da mesa, esvaziando a taça de suco de uma só vez.

— Vou para casa da Kate, talvez lá alguém me escute.

— Tudo bem, querida. - Minha mãe concorda não dando a mínima para a minha alfinetada.

— Chegue antes do jantar.

Eu assinto a fala do meu pai e não olho para cara de Stefan para ver sua reação, apenas saio do local.

[...]

Encaro o caminho que passa rápido pela velocidade do carro, encostando a cabeça no banco de trás, eu penso em como será a minha vida. Agora que terminei o colégio, não sei ainda o que quero fazer. A melhor opção é ir para fora do país, fazer uma faculdade longe daqui antes que meus pais tenham a brilhante ideia de me juntar com alguém. Me dando de bandeja para alguém que oferecer o casamento mais conveninete.

Já estão nesse caminho, vi isso quando minha mãe tentou me jogar para Yuri, meu melhor amigo e filho de Ivan, um dos melhores amigos do meu pai. Por coincidência, também primo de Kate e Alexander. Yuri terá seu poder na máfia, sendo da terceira família mais importante, e isso já faz a cabeça da minha mãe por eu ser tão próxima dele. Só acho que ele não deve ser a primeira opção, ele pensa muito alto. Talvez acabe querendo me dar até para alguém fora da Salazar, uma máfia aliada para firmar alianças sólidas.

[...]

Fecho o livro, o deixando de lado, qualquer coisa que eu leia me lembra dele. Meu gosto para literatura não me favorece muito, terror com resquícios de romance, às vezes mais do que resquícios. Gosto do medo, é excitante, o medo da morte e misturado com a paixão só deixa tudo mais interessante.

Me pergunto porque Alexander Petrov é tão fascinado pela morte, aquele nível é fora do comum até para um mafioso. Me condeno por gostar da Áurea sádica dele, porque isso pode refletir negativamente em mim futuramente, ainda sim, não vou desistir dele, não até conseguir o que eu quero. Quero pelo menos uma vez, ter seu corpo por completo sem que ele se afaste. Quero tê-lo dentro de mim, me castigando com prazer e dor até que eu chegue ao ápice. Depois disso, ele que siga a vida e faça o que quiser.

Esse é meu desejo desde que senti seu corpo em minhas costas com meu rosto prensado na porta. Adorei o arrepio, o frio na espinha, o calor no meio das pernas que logo se tornou umidade. Por outro lado, a morte vem como consequência na missão de tê-lo , porque uma vez que eu deixar de ser intocada, meu futuro marido, seja lá quem for, vai pedir minha cabeça em uma bandeja de prata e vai conseguir. Isso não importa agora, vou viver o momento e correr atrás de satisfazer o meu desejo, porque o amanhã talvez não chegue e não é bom morrer com pendências e desejos não realizados.

Sei que ele também quer isso, eu vi e senti, ele estava atraído, excitado porém hesitando. Preciso que ele ceda e aceite que está desejando uma adolescente. Sorrio lembrando de ontem, foi um provocação.

_______________________________________

Minha cara fechada não esconde o quão é incomodo o olhar prepotente de Stefan. Mesmo de longe, sentimos como nossas energias não são compatíveis, nossos pais também vêem, só que ignoram isso. É assim há anos.

Ele está no palco do salão principal da mansão junto a Alexandre, meu pai e Gregory. Hoje é o dia de glória dele, onde poderá finalmente ter tudo que sempre sonhou: O poder suprimo e katherine.

Meus pais também estão felizes e isso me deixa algo próximo a estar conformada, gosto que eles estejam felizes. Eles estão colocando um monstro no poder, e eles sabem disso, Stefan vai ser muito pior que meu avô, Igor Salazar. Pior em caráter só que com certeza tão bom quanto ele como chefe. E para a máfia, ou melhor, os homens da máfia, isso que importa.

Quem sofrerá mesmo com tudo isso serão os inimigos e nós mulheres, e se conseguirmos ver a diferença entre o tratamento de um e outro, é um milagre.

- Hoje é um dia de renovação e evolução. Depois de mais de duas décadas no poder, eu entrego isso ao meu primogênito, Stefan Devan. - Meu pai começa, e todos aplaudem. Uns com mais gosto que outros. Minha mãe, Katherine e Kelly sentadas na mesma mesa que eu, bem próximas ao palco para ver de camarote a ascenção da nova geração da família, aplaudem aos sorrisos. Não evito revirar os olhos enquanto aplaudo com pausas leves, fazendo com que o som das minhas sejam uma afronta misturada as do salão que são rápidas e rítmicas.

Eu ganho o olhar de Stefan, e nos nos encaramos com olhos de sangue até que as palmas cesssem.

Gregory vai até o microfone, tomando o lugar de fala.

- junto a Stefan, a máfia terá um novo subchefe que estará ao lado do capô para nos levar ainda mais ao topo. Meu filho, Alexander Petrov.

- Meu pai fez um excelente trabalho. Mais negócios, nenhuma guerra e mais negociações do que nunca, as regras se tornaram mais rígidas e algumas foram renovadas para retomar a verdadeira essência primordial desta máfia. E eu irei superar isso, vou comandar tudo a pulso firme. Nenhum traidor escapará da minhas mãos e nenhum negócio irá falhar sobre a minha supervisão. Agora não existe perdão ou lugar para falhas. A morte será a punição para qualquer ato ilícito às minhas regras. E assim vamos ser os maiores do mundo. - Stefan finaliza o discurso.

"Retomando a verdadeira essência primordial desta máfia". Rio internamente, a opressão feminina é a verdadeira essência dessa máfia? Grande motivo de orgulho. Meus pensamentos cobrem o som das palmas até que eu volte a realidade.

- Lealdade... cumprimento das regras. Se cumprirem estarão na glória junto conosco, se falharem estarão na ruína. Nossos pais nos levaram até o céu mas levaremos vocês ao paraíso. - Alexander diz.

Chega finalmente a hora do juramento, a parte em que todas as famílias principais tem que passar pelo capô e subchefe para prometer lealdade com uma frase batida e ensaiada.

Vou até a fila que se forma e quando chega minha vez, paro em frente a Alexander.

- Me dê sua proteção e terá minha lealdade por toda vida. - A frase sai cortando minha garganta, soa como um gesto de submissão minha.

Ele avança um passo, coisa que não havia feito com ninguém e olha diretamente em meus olhos. A tensão é palpável e posso sentir meu corpo reagir a sua minina proximidade.

- Cumpra sua promessa e terá minha proteção para o resto da vida.

Forço meu corpo para o lado para fazer o mesmo juramento a Stefan.

_______________________________________

A aproximação, o ênfase na palavra e a energia palpável foram a prova que eu precisava para continuar lutando pelo que eu quero.

[....]

Olho no espelho avaliativamente a a roupa que escolhi para jantar. A minha mãe com certeza não perderia e oportunidade de fazer um jantar em comemoração aos novos chefes, infelizmente Kelly não poderá vir com Gregory, o que significa que o plano da minha mãe é passar o jantar todo sugestivamente empurrando empurrando Katherine para Stefan, vai ser muito menos implícito sem Kelly para mediar a situação.

- O que achou, Naguine? - olho para ela com um sorriso no rosto, a mesma só faz um chiado, colocando a língua para fora. Deve ser um sim.

- Lana, já está pronta? - Minha mãe abre a porta e entra, segurando a maçaneta só com o rosto para dentro do quarto e sua expressão morre ao ver minha roupa, soltando um suspiro, ela entra de vez. - Não acha que deve vestir algo mais... apropriado?

- O que tem de errado? Acha que está muito curto?

- Não, o comprimento não é o problema, meu amor. Acho que deve usar algo mais sofisticado para a ocasião, você já tem quase dezoito anos. Está se tornando uma mulher adulta e deve adaptar seu estilo a isso, não tem que mudar a cartela de cores, só o corte das peças...os complementos. - Desce o olhar do meu rosto até mais pés com coturnos de salto. - Você se veste assim há anos, não acha que deve mudar?

- Não. - falo direta. Eu gosto do meu estilo, das botas, das correntes, tons escuros e das mechas no cabelo, da minha maquiagem e não vou mudar isso.

- Tudo bem, mas por hoje, tenho algo para você. - Ela ergue o dedo, fazendo sinal para que eu espere um momento e sai do quarto. Meu olhar vai para Naguine que rasteja para baixo da cama e não demora para que minha mãe volte com um cabide na mão, onde um vestido vermelho de seda está pendurado.

- Só hoje, vista isso.

- Mãe.....

- Por favor. - Pede carinhosamente, me fazendo suspirar. É um vestido bonito, só não é nada eu.

- Usei isso quando era meus nova, tinha vinte e sete ou vinte oito anos. Me lembro que seu pai adorou, mandei fazer uns ajustes nele pouco tempo atrás, esperando pata te dar na oportunidade perfeita, e com certeza é está.

Me entrega o cabide e eu sorrio sem graça. Um dia não fará mal, já que ela mandou arrumar justamente para mim. Dentro do closet, enquanto me visto, me pergunto porque ela acha que essa é a oportunidade perfeita.

Pode ser por ser o dia de vitória do meu irmão, então por que ela comentou que meu pai adorou e deu aquele sorriso no final? Não qualquer sorriso, o sorriso que ela usa ao final de persuadir alguém a seguir um desejo seu com segundas intenções.

- Pronto. - falo saindo do closet.

- Você está perfeita, filha. - Me guia até o espelho, me fazendo olhar o tecido que desenha perfeitamente minhas curvas. Não posso negar que de fato, ficou muito bonito em mim.

- Agora troque de maquiagem, vou descer para recepcionar Kate e Alexander. - deixa um beijo em minha cabeça antes de sair alegre.

[...]

- E aí, já começaram? - Pergunto no

Caminho para mesa de jantar, tirando a garrafa de whisky da mão da minha mãe que estavam em pé, servindo a todos, ao que se podia notar, e viro-a, tomando direto do gargalo.

- Vamos esperar Kate chegar. E já disse para não fazer isso. - repreende, tomando a garrafa da minha mão.

- Achei que ia tirar essa tinta do cabelo, Lana.

- Não vou. - me senti na cadeira de frente para Alexander.

- Deixa, Hanna. - Meu pai intercede por mim, como sempre, fazendo com que minha mãe suspire frustração enquanto nega com a cabeça.

Mesmo que neste momento minha atenção esteja na reprovação da minha mãe, sinto seu olhar em mim.

- E aí? - o cumprimento com um movimento do queixo, pouco depois de o olhar movendo apenas os olhos e não a cabeça.

- E aí? - Faz o mesmo movimento, não soa tão natural, ele é meio velho para agir assim.

- Vejo que estão se dando bem. - E minha mãe não contém seu comentário exagerado, tomando seu lugar na mesa.

Penso em sibilar um "não exagera" mas não o faço, e todos tiram a atenção de mim quando Kate chega.

- Aí, me perdoem...me perdoem. É que Alexander me avisou de última hora. - Ela pede desculpas. - Boa noite.

- Finalmente. - pego a bebida do meu pai e tomo antes que ele perceba.

- Está atrasada. - Stefan reclama em alto e bom som, como sempre, todos nós temos que estar cientes da sua insatisfação.

- Chega de beber, Lana. - meu pai toma o copo vazio de mim, eu fui mais rápida em deixa-lo sem nada. - Boa noite, Kate, sente-se. - a cumprimenta.

- Estávamos esperando por você. - Minha mãe sorriso, ela está cheia de expectativas para essa noite. Hanna Devan está disposta a ser o cupido.

- Me perdoem mais uma vez, eu não achava o vestido.

- Está muito bem, venha. - Alexander a faz se sentar.

- Você está sempre impecável, katherine. - Stefan elogia.

- É só um jantar aqui, não precisa se arrumar tanto. Você sempre fica bonita com qualquer coisa.

- Lana tem razão, pela primeira vez no século. .

- Cretino...- sussurro.

- Obrigada, mas...você está diferente, Lana. De um jeito bom, está linda.

- Ah...- olho com reprovação para o vestido no meu corpo, me lembrando que é por conta dele que pareço tão diferente.

- Está vestida finalmente como uma mulher normal. - Stefan não perde uma oportunidade.

- E o que é normal para você, Stefan? - Alexander o questiona e eu franzo o cenho discretamente. Devo interpretar isso como uma defesa á minha parte? Um elogio a minha aparência habitual? Ou apenas uma vontande de contrariar meu irmão? Implicância de amigos, talvez.

- Qualquer coisa diferente do que ela use habitualmente.

- Estamos trabalhando em deitar o estilo de Lana mais elegante, seja gentil com a sua irmã, Stefan. - minha mãe responde, deitando meu sorriso morrer no rosto. Ela não gosta do jeito que ele me trata, meu pai tampouco, mas eles não sabem nem da metade disso. - E você está belíssima também, Kate. Deveria levar a Lana para fazer compras, algo mais...como isso. - gira o pulso se referindo a roupa da Kate.

- Gosto das minhas roupas, mãe.

- Fica sempre linda, filha. - sorrio sem mostrar os dentes pela carícia do meu pai quando corre a mão por mais cabelos gentilmente.

- Eu concordo, ela está linda assim mas prefiro ela com seu estilo próprio...ela é linda sendo ela. - Kate me defende, me fazendo sorrir.

- Pelo menos do outro jeito não parece a bonequinha de luxo.

- Ela era demais, colocava os homens em seu devido lugar. - defendo, é um dos meus filmes clássicos favoritos.

- E ela também não dizia tanta besteira com a outra roupa...- resmunga.

- Hanna, para que organizou esse jantar? - Kate quer saber.

- Uma maneira de aproximar mais vocês. Agora meu filho é capô, Alexander subchefe, e você e Lana tem que garantir o lugar de importância de vocês.

- Entendi. - Suspiro, esfregando as costas da mão. Já sabia que era isso, de qualquer jeito, ouvir com clareza é mais revoltante.

Sei que minha mãe sempre foi acostumada a ter todo poder que se pode imaginar, na Itália era intocável, filha do dono da maior organização de assassinos do mundo sobrinha do don da cossa nostra e do subchefe da máfia bennacci, e ela por si só, já se bastava, implacável. Chegando aqui, ela já não podia contar com as armas que tinha se não quisesse estragar tudo, então ela só podia contar com sua beleza e habilidade de manipulação.

Kate e eu...nós nascemos aqui. Nascemos nessas condições, nunca conhecemos um poder que fosse direcionado a nós por conta própria, pelo nosso legado, mérito, só temos o poder do nosso nome, nossa família.

E sei que minha mãe odeia isso, ela garantir que continuemos assim, por cima. E a única forma é continuar no mesmo nível, sendo do capô e subchefe, e claro, tendo as mesmas habilidades que ela, de manipular e mentir, por aqui implicitamente, as chefes seremos nós. Ela sempre tenta nos ensinar isso, mas eu não consigo ser assim.

Não quero ter coisas porque meu marido pode me dar, manipulando e mentindo, não quero fingir que está tudo bem. Quero poder bater de frente, conseguir o que quero porque enfrentei o obstáculo. Não quero ganhar escondido...

- O lugar de importância de Lana já está garantido.

Arregalo os olhos e pego a taça de suco que a empregada servia junto ao jantar enquanto todos conversavam.

- Uau...

- Hum, não sabia que estava comprometida. - Ele ri desgostoso no final da frase. Isso o incomoda...

- Ser capô e subchefe também implica em saber escolher pessoas próximas e de confiança para estar ao seu lado em matrimônio. - Meu pai comenta.

- E ninguém mais confiável do que nosso círculo, Petrovs e Devan. - Minha mãe agrega. Ela não está mais tentando disfarçar, está quase dizendo "Casem entre si".

- O Yuri vai passar por aquela porta com uma aliança, já que o casamento da Kate está garantido? - Pergunto com irritação, destilando deboche.

- Pense mais alto, meu amor. - Responde minha mãe.

- estão sabendo que meus pais vão para segunda lua de mel? - Kate desvia bruscamente do assunto, mais uma vez. Sem dúvida, De todos aqui ela é a mais desconfortável.

- Eles nos falaram sobre a viagem, vocês ficam aqui durante uma semana. - Meu pai disse definitivo, é uma ordem.

- Vinte e seis anos e ainda com medo de ficar sozinho em casa, criança aqui não sou eu. - Provoco Alexander.

Sorrio provocativa quando sua expressão se torna furiosa, por tão pouco...e Kate o contém, tocando seu braço antes que ele me responda.

- Não se preocupe...somos grandinhos. Eu estou pensando em viajar também...- Ela conta meio sem graça e com medo na voz por tentar contrariar meu pai. Sei que a viagem é com Bruno.

- De jeito nenhum, fiquem aqui, vai ser ótimo. - Minha mãe insiste.

- Você fica aqui, Katherine. - Stefan decreta.

- Família Devan, conhecido por sua insistência...mas não, obrigada.

- Não é um convite, Katherine. É uma ordem. Eu sou o capô e você uma subordinada, me desobedecer tem punição de morte.

Sua resposta surpreende a ela, e Alexander, mas nós, os Devan, não estamos impressionados, era uma atitude previsível.

- Vamos ficar, Kate. Eu tenho muitos jantares para ir e não posso ir desacompanhado. - Alexander intervém.

- É claro, eu tinha me esquecido....- abaixo a cabeça.

- E eu vou dar o fora...- Jogo o guardanapo que estava no meu colo sobre a mesa, afastando a cadeira e me levantando.

- Está na hora de criança ir para cama.

- Tem razão. - concordo com Alexander. - Mãe, vou dormir na casa do Yuri hoje, vamos assistir filmes de terror.

- Sozinha com ele?

- O que tem, pai?

- Que desonra.

- Desta vez não, Lana. Não é educado deixar as visitas. - Minha mãe me olha seriamente, indo com o olhar de mim até a cadeira, como uma orientação.

- Não vai, Lana.

- Mas pai...

- Você está sempre com esse garoto, pode ficar uma semana sem vê-lo.

Bufo, me sentando. Por cima dos cílios e a cabeça baixa, vejo Alexander afrouxar a gravata, visivelmente incomodado. Ao menos um ponto positivo neste jantar, ele vai passar um tempo na minha casa e eu vou ter todas as chances de conseguir o que quero.

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