CAPÍTULO 3

- Eu estou muito preocupada com essa história da sua mãe querer me juntar com seu irmão, Lana. - Kate anda de um lado para o outro no centro do quarto, enquanto tudo deitada de barriga para baixo, com a cabeça virada para o pé da cama, olhando de frente ela quase fazer um buraco no chão.

- Deveria se preocupar com uma coisa mais grave que isso. - Me levanto, indo até o armário buscar um esmalte preto.

- O que? - Fica em alerta, o que me faz sorrir.

- Ele querer te juntar com ele, e ele com certeza quer.

- Não me assusta, Lana! - Dou de ombros, me sentando na cama.

Volta a repetir os passos.

- Para de andar assim, vai fazer um buraco no chão e Naguine não gosta do barulho dos seus saltos. - aponto. - E eu não estou te assustando, estou falando a verdade.

- Se eu fugir? - Pergunta, mordendo o lábio. Balanço a cabeça em negativo, uma ideia burra demais.

- Iria pra onde, Kate? - Arqueio a sobrancelha, enquanto ponto as unhas dos pés sem tirar os olhos dos mesmos.

- Morar com Bruno?

- Isso vai fazer com que vocês dois acordem mortos, eu amo romances trágicos como Romeu e Julieta, Jack e Rose...- Fecho o vidro de esmalte para dar atenção a ela. - Mas você é minha amiga e não quero que seja morta pelo meu irmão. Não ia adiantar, não existe lugar no mundo que ele não iria te encontrar. Poderia até demorar, mas ele iria.

- A minha mãe tem uma tia que mora nos Estados Unidos, eu posso ir pra lá.

- Acordarem mortos? - Franzo o cenho pela bobagem que disse e faço uma careta. - Ele ia começar justamente pelos seus parentes, você não é tapada, não tente fugir.

- E o que sugere que eu faça? - se senta na cama.

- Mata ele, é único jeito.

- Quer que eu mate seu irmão? capô da máfia Salazar?

- São a mesma pessoa, não?- olho como se fosse óbvio. - Eu não ia ligar muito, pra ser sincera, ele é um imbecil

- E me mataria antes que eu tivesse a chance de fazer algo contra ele.

- Você pode ser mais rápido. Se trazer o cadáver dele aqui, a gente pode tentar fazer a Naguine comer.

Ou poderíamos enterrar ele em algum lugar onde nunca iriam achar. Me lembro de uma lição que meu avô Eric Salvatore me ensinou quando eu era criança, caso precise matar alguém e esconder o corpo tão bem que ninguém nunca irá achar, cave um buraco muito fundo, jogue o corpo, cubra com uma grossa camada de terra e em cima jogue o corpo de um animal, em cima mais uma camada de terra. Quando a polícia ou qualquer autoridade da Máfia tentar descobrir o paradeiro do corpo, o cão farejador só vai achar o corpo do animal e todos vão pensar que é o único cadáver no local. Ele era mesmo uma lenda.

- Deixa pra lá, Lana. Talvez seja só um desejo da sua mãe e não passe disso.

Dá até pena dela, esse pensamento esperançoso.

- Hanna Devan. - estalo os dedos. - Minha mãe não tem desejos, Kate. Ela tem planos.

- Não me atormenta mais....eu preciso comer, quando eu estou nervosa eu como ou bebo, e não posso beber agora. - se levanta.

- Legal, vamos comer. - Me levanto também e seguimos corredor afora, ambas descemos a passos largos a escadaria e quando nos aproximamos da cozinha, ouvimos duas vozes, da minha mãe e Kelly. Antes que ela entre para interromper a conversa, eu a seguro pelo braço, detendo seu avanço.

- Não pode dizer que não seria maravilhoso e também o ideal, que Kate estivesse com Stefan...

- Ideal para quem, Hanna? Você? - Kelly, questiona.

- Para todos, Kelly. O círculo se fecharia, nossas famílias continuariam sendo as principais, sem agregados por casamento, intrusos. - Esclarece. - E Lana com Alexander. Sem intrusos ou alguém tentando subir na máfia usando nossos filhos, ou possíveis traidores.

- Ah, ótimo. Já não bastava a Kate, agora você quer envolver a Lana nisso, a menina só tem dezessete anos, Hanna.

- Ela tem que pensar no futuro, estou fazendo isso por ela, quero proteger minha filha. Diferente de mim, ela nasceu nesta máfia, sem lugar para viver uma vida normal antes de se casar, existem limitações aqui, as mulheres só tem um destino. E quero que dentro das possibilidades, minha filha tenha o melhor deles.

- Espera ela fazer faculdade primeiro como fiz com a Kate, está certo que o Gregory já está procurando futuros maridos para ela, porém, ela teve uma vida.

Kate me olha com os olhos arregalados, não sei porque ela está surpresa. Eu não estou nada impressionada.

- Não vou impedir que ela faça faculdade, nunca faria algo assim - Minha mãe soa ofendida. - Mas não significa que ela não tenha que deixar seu futuro pronto por aqui, para que quando tenha que acontecer seja mais fácil e não tenha outra em seu lugar.

- Já te ocorreu que eles não queiram uns aos outros?

- Isso se muda, Kelly. Eu não amava Dimitri e você não amava o Gregory, a convivência faz com que nos apaixonemos.

- E você se lembra do que aconteceu antes disso? De como nós duas tivemos que sofrer até isso acontecer?

- Elas não tem que sofrer como nós, Kelly. É tudo diferente, eles se conhecem por toda uma vida. Com a gente não foi assim.

- E como vai juntar ele, hein? O Stefan pode até estar apaixonado pela Kate, mas ela não está por ele....e a Lana e o Alexander? Eles mal se olham.

- Lana é jovem, ela se apaixona fácil e é uma garota bonita, vai conseguir conseguir conquistar o Alexander.

Balanço a cabeça em negativo. É muita coincidência que eu queira ele neste momento, mas eu quero ele para me dar uma sensação que busco há muito tempo na minha imaginação, filmes, livros e que ele conseguiu me dar naquele dia das fotos. Um medo excitante, só isso. Não quero ele como marido.

- E Stefan vai saber conquistar a Kate. Ele já é adulto, vai saber fazer as próprias oportunidades.

- Hanna, o que conversamos sobre manipular a vida dos outros?

- Eu não estou manipulando, só tentando mostrar a eles o melhor caminho, tudo que eles tem que fazer é trilhar.

- Sinônimo para manipular.

Ouço o barulho do banco da ilha da cozinha arrastar no chão e dou um passo para trás, com Katherine. Umas delas levantou e não quero pego em flagrante ouvindo conversas escondida. Mesmo que seja a meu respeito também.

- A Kate já está aí e o Alexander chega mais tarde, eu tenho que ir porque vou viajar a noite.

Então eles vem para ficar hoje mesmo...

- Faça uma boa viagem, e garanto que tudo vai fluir como os conformes.

- Por favor, não case meus filhos enquanto eu estiver fora. - Kelly pedi.

- E muito cuidado com a Kate, ela confiança muito em você

- Não se preocupe.

- Eu te amo. - Diz kelly a minha mãe.

- Eu também. - Elas se abraçam e vejo isso de relance quando Kate me puxa pelo braço para longe. Subimos as escadas correndo para o quarto.

- Ah, meu Deus... isso é mal. É muito mal. - ande de um lado para outro novamente. Desisto de tentar impedir.

- Eu disse que minha mãe não tem desejos, tem planos. E ela estava montando eles bem de baixo de nossos narizes. - me jogo na cama.

- E agora? Estamos perdidas. - Faz o mesmo.

- Podemos só não fazer o que ela quer. - digo mesmo sabendo que é burrice, mas ela queria ser acalmada com positividade falsa mesmo...

- Como é que diz não para sua mãe?

- Não jogando o jogo dela, o problema é que eu não sou boa com tentações.

- Eu acho que vou chorar.

Balanço a cabeça, me jogando para o lado e a abraçando em consolo.

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Olho o relógio de cabeceira e vejo que já são 19:30. Ele ainda não chegou, e por mais idiota que pareça, passei o dia todo esperando pelo momento ele fosse entrar nessa casa.

Passo a mão na cabeça de Naguine, enrolada em minhas pernas. Na sua cor amarela totalmente destacada sobre minhas roupas pretas. Suspiro, ligando a televisão e colocando algum filme aleatório na televisão na tentativa inútil de, pelo menos por um minuto, esquecer que estou esperando por ele. Nem sei exatamente porque estou esperando por ele, não temos o que conversar e eu sequer sei o que fazer quando o ver, provavelmente vai ser como sempre foi, um cumprimento e silêncio até que cada um vá para um lado.

[...]

00:12AM, Moscou, Rússia.

Mais de meia noite e agora sei que ele não virá. Talvez pela manhã ou pela tarde venha, mas talvez também tenha desistido de ficar nessa casa.

Jogando as cobertas para o lado, sinto meus pés tocarem o tapete macio e em seguida o chão frio de porcelanato do corredor. Desço as escadas a passos rápidos, indo até a cozinha, enchendo um copo d'água. Encosto o quadril na ilha da cozinha, meu olhar não sai da grande janela que dá para o jardim, esperando ver algum sinal de vida, mas nada muda. Jogo o restante de água na pia, deixando o copo na mesa e ando para o hall de entrada, de encontro a escada. Meu pescoço vira na direção da porta de entrada quando a mesma é aberta. A luz está apagada e só as luzes de fora refletem minimamente no lado de dentro, iluminando o hall junto com a luz da lua que vem da vidraça de cima das escadarias.

Só consigo ver que é ele quando o mesmo se aproxima da beira da escada onde também estou, a princípio, afim de subir, agora vejo que preciso tentar ficar aqui por mais algum tempo.

- Chegou tarde, está achando que isso é um bordel? Estão todos dormindo já e não resta ninguém para dar as boas vindas.

Ele sorri de lado, sem mostrar os dentes.

- Eu não sou um homem que precisa de boas vindas.

Muito babaca da parte dele dizer isso, parece só uma frase jogada no ar mas sei que significa que ele é o tipo de homem que pode entrar e sair de qualquer lugar sem pedir permissão, até mesmo aqui. Ele sempre teve passe livro, assim como deve ter para fazer o que quiser com quem quiser e está fazendo questão de jogar isso na minha cara implicitamente. Poderia ser acusada de estar sendo paranóica se não fosse o seu semblante presunçoso a confirmar meu pensamento.

- Mas estavam esperando dar isso a você. - O olho de cima abaixo e arrumo a alça do meu pijama sem tirar o olhar dele e do mesmo jeito que o olho como se o quisesse em baixo de mim, meu gesto faz parecer que despertei o mesmo desejo já que seu olhar percorre meu corpo.

Avalia o pequeno pijama de seda preta, primeiro o decote generoso e profundo que marca meus seios e depois o short da mesma cor e tecido que vai até o início da minha coxa.

Alexander afrouxa a gravata, respirando e segue em linha reta para a sala de estar ligada ao hall. O sigo sem me importar em não ter recebido nenhum sinal para fazer isso. Estou em casa, o intruso aqui é ele e não acho que precise de permissão para fazer isso.

- Infelizmente seu irmão fez questão de vir antes com a Kate, deixando o trabalho todo para mim. - fala sem me olhar sabendo que o estou seguindo pelas costas. Para na sala, no mini bar no final da mesma, pegando um copo e jogando alguns cubos de gelo pegos no frigobar, em seguida despejando o líquido transparente e espesso no copo.

Continuamos com a iluminação externa da casa que ultrapassam as enormes janelas para iluminar o ambiente.

- Isso te surpreende? - cruzo os braços. - Um dia ele ainda vai te deixar no comando e sumir com ela.

- Não...Stefan gosta demais do comando para abdicar dele. - sai do bar se aproximando alguns metros de mim e estamos cerca de cinco passos de distância. Seu olhar volta para os meus seios depois de passar por minhas pernas expostas até às coxas.

Não me envergonho com seu olhar.

Ele parece estar pensando em algo quase pervertido pelo jeito suave que sua expressão muda sem que perceba, o que me faz sorrir de lado. Está me desejando neste exato momento.

- Só temos que saber por qual dos dois ele tem mais amor. - completa.

- Acho que nunca iremos saber. - Falo afastando uma mecha de cabelo da lateral do rosto que estava solta do rabo de cavalo baixo, de lado. - E você não se importa nada que meu irmão queira ela de um jeito tão doente, não é?

Não escondo minha reprovação por isso. Ele é um idiota por não se preocupar com a própria irmã que está nas mãos do cara mais doente que eu ja vi.

- Você sabe que a Kate é doce demais para o mundo da máfia, tem que ter alguém que a proteja e ninguém melhor para fazer isso do que o capô.

- Termina a bebida.

Nego.

- Nem parece que conhece meu irmão, ele representa mais perigo paga ela do que qualquer um. Pode proteger ela dos outros mas quem vai proteger ela dele? - dou um passo a frente, sentindo a mecha se soltar de trás da orelha com a movimentação um pouco brusca demais, como se eu estivesse em ataque. Ele vem até mim depois de deixar o copo em cima da mesinha de centro, cortando toda distância entre nós e agora não há nenhum passo que possa nos aproximar mais.

- Talvez a sua definição de proteção seja diferente da minha. - devolve a mecha de cabelo para trás da minha orelha enquanto sua outra mão está dentro do bolso da calça. Só percebo que fechei os olhos ao seu toque quando os abro.

Ergo o olhar para encontrar o dele, erguendo também o queixo em imponência. Acho que nada mais Hanna Devan do que este gesto.

M*****a genética...

- Só existe uma definição certa e universal, que é a que eu concordo. A sua com certeza é tão distorcida quando a dele. - Falo branda, sem desviar o olhar ou abaixar o pescoço.

Ele deve ter mais de 1.90 de altura, e eu pareço baixa demais perto dele mesmo com meus 1,68 de altura.

Fico totalmente em alerta quando ele abaixa seu pescoço e aproxima seu rosto do meu, rua respiração quente vinda das narinas b**e em meu rosto e sua boca vai para o meu ouvido, fazendo um arrepio subir quando ele pronúncia as palavras lentamente:

- Talvez você seja mais parecida com a Kate do que acha e eu seja mais parecido com o Stefan do que você acha. - seu dedo desliza por meu ombro, devolvendo a alça fina do pijama ao lugar, e se afasta. - Boa noite. - diz antes de sair da sala, em direção as escadas.

Fico parada, encarando a lareira desligada por alguns segundos.

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