Um fortíssimo zumbido retumbou em seus ouvidos após as últimas palavras do médico e ela se sentiu como que caindo num poço escuro e sem fim, ao mesmo tempo em que surdos gemidos de sua boca saíam como se tivesse levado um fortíssimo murro no ventre e este afundara de dor, tamanha fora a violência do golpe. Repentinamente, uma névoa espessa e escura toldou completamente seus olhos e ela se sentiu pairando no ar... Sim, parecia um sonho aquele pesadelo vivo que ela estava vivendo!
Neste terrível momento, sobreveio um grito de desespero vindo – não da garganta – mas lá das suas entranhas! Ele veio crescendo, crescendo e aumentou até explodir num tremendo urro de dor!
Passava das quatro horas da tarde. Na confortável e imensa sala do consultório do famoso oncologista, agora, porém, estranhamente fria e abafada, só estavam ela e o doutor. Não falara com seu esposo, nem com filhos, ou parentes. Preferira vir a sós, pois suspeitara há muito da gravidade de seu estado.
Absorvendo o duro golpe que a vida lhe reservara com aquele diagnóstico, Carolina respira fundo por várias vezes enquanto seus olhos, profundamente fixos no médico à sua frente, deste não se desviam por um segundo. Neste momento, como um perfeito detalhe de Deus, pousa na janela um formoso e lindo bem-te-vi, que ali no imenso e arborizado bosque que circundava a residência onde se localizava o fino e agradável consultório, costumava alegrar manhãs e tardes com seu maravilhoso trinado. Mesclando-se ao canto de alguns sabiás, de muitos sanhaços azuis, de mais bem-te-vis, além de outras espécies de pássaros, criavam cativantes e melodiosas sinfonias, quase sempre todos os dias, como uma dádiva da natureza. Puro encanto. Então, neste instante, o belíssimo pássaro solta seu mavioso canto!
Como uma mensagem transcendental para Carolina, eis que a avezinha repica mais uma vez seu doce gorjeio, daí por que a paciente se vira para a janela e, tocada por aquela cena mágica, sente aflorar um crédito sobrevivente da sua inabalável fé. Contrai os ombros, levanta toda a clavícula até então caída e, num gesto de coragem, de fortaleza e de resiliência íntima, levanta a cabeça, ergue seus lindos olhos azul celeste – cheios de lágrimas – reparando, sem cessar, na beleza e magia daquele pássaro tão pequeno – empina literalmente o nariz – um gesto raro em sua distinta existência até então – e, olhando direta e firmemente para o médico, diz, voz serena, suave, mas absolutamente segura e perfeitamente audível:
- Doutor, é a doença que está em fase terminal. Não eu! Eu estou viva e sedenta de viver! Neste instante sinto meus órgãos e células todos vivos e saudáveis, com certeza! Me responda o seguinte: tirando os remédios fortíssimos que já venho tomando, as dores que sinto há tempos, os terríveis mal-estares que me acometem com frequência, há algo que me impeça de sair, de passear, de viajar, de apreciar cenas como essa de tanta beleza, de curtir plenamente minha família, enfim – existe alguma coisa que me impeça de viver enquanto estou viva???
Dr. Antônio de Liz – esse era o seu nome – surpreso e abismado com a fortaleza de sua paciente e, por que não dizer, amiga de tantos anos, ao mesmo tempo em que tocado pelo canto daquela misteriosa visita – o charmoso bem-te-vi – vira-se para ela e responde gentilmente:
- Carolina, ah, minha amiga Carolina, você não me surpreende com essa reação tão firme e corajosa. Sim, claro, mesmo considerando tantos empecilhos, como seu médico afirmo que você pode levar uma vida normal, ainda assim; ademais se levarmos em conta a mulher guerreira e forte que você é! Certamente que sim! Mas é claro, tomando sempre cuidados, redobrados, viu!
Ao acrescentar essas palavras, o médico não deixou de mostrar em seus olhos um sentimento de grande respeito e de profunda admiração por aquela sessentona, a belíssima e especial mulher sentada à sua frente. Enquanto isso, lá na janela, o lindo pássaro tornava a trinar como se alguma mensagem aos dois quisesse falar...
Carpe diem...tocada, instigada e impulsionada pela beleza de tão pequena ave, aquela linda mulher, gravemente doente, nos mostra com muita delicadeza a “importância do tempo e da vida”! Neste ponto, recorro a Eckhart Tolle em seu, para mim, determinante livro – O Poder do Agora: era como se ela – Carolina – tivesse, a exemplo desse extraordinário escritor e ser humano, acabado de nascer de novo! Que lição de vida!
Mutatis mutandis, nos últimos tempos, impulsionado pela reclusão face à pandemia, eu e Telma temos assistido a muitos filmes. Séries também. Vimos, em especial, uma que aborda a temática título desta crônica.
A propósito, a frase foi retirada de uma série coreana extremamente tocante: Chocolate. Da boca de um de seus personagens: Mong Tae-Hyun, interpretado por Min Jin-Woong, por sinal, num controvertido papel, atinge sua redenção ao conviver os últimos dias de vida de sua amiga Hui Na, interpretada por Yoon Bora. Num momento intensamente doloroso e dramático, dando um toque de rara beleza e poesia, ele nos fala assim:
“Como se cada dia fosse o último e como se soubessem que um instante nunca volta, valorizem cada momento. O dia que você desperdiçou hoje, é o amanhã que alguém que morreu ontem tanto desejava.”
Essa tocante reflexão me enseja a enfatizar o quanto de mensagens inspiradoras e profundas Chocolate nos passa.
E é exatamente esse foco que nos instiga à reflexão sobre a importância de nossas vidas, seja tanto das que se vão como daquelas que ficam... e como é vital viver no aqui e no agora! Por essa razão, repito: Carpe diem!!!
Certamente, o que seria deste poeta e prosador não fossem os exemplos e os aprendizados que nos instigam, que desafiam nossa imaginação e que estimulam nosso autoconhecimento, hem? Com certeza é assim que essa magia acontece comigo... um eterno aprender.
Gratidão ao Universo e à Divindade por este dom. Gratidão maior ainda porque após um longo período de imenso vazio, a inspiração voltou. Gratidão ao meu amor, Telma, que, presente com seu carinho, sua competência e dedicação, revisa meus escritos. Sempre gratidão. E até a próxima em que só o vento sabe a resposta...
Em casa de Telma, às 08:34 horas desta quarta-feira, 18 de agosto de 2021, nesta agradável e linda Cuiabá, tão abandonada pelo poder público – uma gestão totalmente irresponsável, descompromissada e indiferente aos seus legítimos compromissos assumidos com o cidadão e com o município!
Aproveitando este momentum tão difícil que atravessamos: pandemia, corona vírus, isolamento, bizarrices cometidas pelo nosso Supremo e por políticos do Congresso e de todas as regiões do Brasil, e até mesmo por pessoas comuns como eu e você, tudo isso agravado por tantas incertezas e dúvidas quanto ao futuro, enfim por todos esses problemas que estamos vivendo desde março passado, inspiro-me em Tocando em Frente, de Almir Sater e Renato Teixeira, um dos mais belos e significativos poemas-canção da música brasileira de todos os tempos, para refletir com vocês, meus caros e persistentes leitores desta coluna, sobre algumas questões relevantes de nossas vidas, especialmente agora quando vislumbramos uma nova perspectiva de futuro. Com ce
Como cronista aprecio bastante o jogo de palavras, especialmente aqueles que contêm e instigam o bom humor. Aprendi até o momento – com pessoas mais sábias que eu – ao longo desta minha passagem neste Plano, que o humor é o tempero que dá vida à vida! Vida sem humor é como comida sem sal, é como sexo sem amor, é como a Primavera sem sabiá, como vida sem fé! É como um rio sem peixes, é como Inverno sem Ipê Roxo, é como um campo de girassóis sem um único girassol! Viver sem humor é como passar o tempo e pelo tempo, aqui no Planeta, vendo este tempo se acabar sem o encantamento do Amor... O humor nos apimenta e nos salga para que tenhamo
Olhando – aqui e agora – do alto da minha insignificância e pequenez de ser perante a magnitude deste Universo fascinante e a Onipotência de Deus, fico me perguntando se aprendemos o necessário nesta pandemia por que atravessamos há longos, amedrontadores e dolorosos 10 meses? Será que aprendemos? Essa é a pergunta que quero refletir com vocês, caros leitores, nesta altura do ano, em que, ao nos aproximarmos do natalício do Menino Jesus – um Natal totalmente diferente de todos os natais por nós vividos nos últimos 75 anos – após o término da 2ª Guerra, penso dia e noite, noite e dia nesta questão como fosse uma inacabada sinfonia... Por essa razão, olho à minha vol
Um jantar árabeNada como a palavra como uma fonte de mal-entendidos. Quantas e quantas vezes perguntamos ao nosso interlocutor:- Por acaso eu estou falando em grego? Ou...- Eu falo alhos você entende bugalhos! Ou ainda:- Você não entendeu nada do que eu falei! Frase recorrente nas discussões marido & mulher; pais & filhos; irmão & irmão; amigo & amigo.E assim vamos convivendo nossos relacionamentos, as mais das vezes, recheados muito mais de desencontros que de encontros.
Aeroporto de Cumbica, 08h35min de uma agradável manhã paulistana, do dia 27 de dezembro de 2015, sala de espera para o voo que nos levaria a Maceió, eu e minha, então, namorada, pois fazíamos uma viagem com conexão Curitiba – São Paulo – São Paulo – Maceió. Enquanto aguardávamos a chamada para o voo, sentamo-nos num banco e dali, ora apreciávamos os viajantes que passavam à nossa frente num vai e vem interminável e estonteante, ora conversávamos trocando algumas ideias sobre nossas férias na agradável e calorosa capital das Alagoas, ora mexíamos no celular. E o tempo e a vida iam vivendo... Eis que num determinado momento, passa a poucos metros do lugar em qu
Sua garganta estava seca, o coração disparara e havia em seu peito uma ansiedade enorme, por isso olhava a esposa a La Capitu... Sim, Pedro acabara de mentir para sua mulher sobre onde estivera nas últimas horas em que se encontrara no Rio de Janeiro a trabalho. E esta, ao mesmo tempo em que passava lenta e carinhosamente as mãos sobre a formosa barriga de 8 meses de gravidez, olhava-o hipnoticamente entristecida, em cujo olhar também se via meio que uma névoa de raiva incontida, mas tolhida pelo seu adiantado estado de gestação do primeiro filho. Ela aparentava uns 26 anos, loura, baixinha, corpo miúdo, mas atraente a despeito da gravidez. Muito charmosa, cabelos cacheados jogados com naturalidade por sua testa. Seus olhos eram inteligentes e celestemente azuis!&n
Ouvi essa expressão – tão usada – numa missa de domingo, em janeiro de 2018.Foi usada pelo padre Dirceu, na Igreja do Carmo, em sua homilia dominical, ao interpretar o Evangelho e as leituras daquele dia.Na verdade, o Evangelho (Jo 1, 35-42) fala sobre os discípulos que seguem Jesus em busca de algo que acabam encontrando no próprio Messias.Mas, queridos leitores, não estou aqui para lhes falar de religião muito menos para evangelizar, nem catequizar ninguém. Não! O que me interessa e despertou a minha atenção foi a mensagem que o padre nos deixou ao fazer sua interpretação dando ênfase ao fato de que, durante nossa caminhada terrena, nós temos que fazer escolhas pessoais o tempo todo, sempre sustentadas em nossa individualidade e personalidade, para nunca sermos “Maria vai com as outras”, pois isso enfraquece nossa Essência, por mais
Vivemos tempos jamais imaginados. Vivemos tempos inconstantes, incertos e, pior, incoerentes. Muitos não conseguem aprender nem apreender o que significa tudo isso. Vivem um caos interior jamais imaginado! Muitos de nós vivemos o caos da negação! Negação de tudo, até mesmo dos fatos. Então o que fazer diante disso tudo? Como agir? A quem e a que recorrer? São tantas as perguntas... são tantos porquês... são tantas interrogações que muitos de nós nos perdemos nesse emaranhado de questionamentos qual nau sem rumo em mar revolto pela terrível tempestade! Eu mesmo: sempre que estou perto de fechar os olhos para dormir, minha mente começa a bailar num imenso salão de pares de dúvidas: viver o aqui e o agora – o que já faço há anos por convicção pessoal