As roupas de Dayane estavam apertadas nas mãos de Bruno, parecendo menores do que a toalha que ele usava para limpar o rosto. Ele as tratava com tanto cuidado, como se o amor paternal transbordasse, e esse afeto se estendesse até àquelas peças de roupa.Olhei atentamente em seus olhos.— Você ainda tem tempo para ser um bom pai. Bruno sorriu, seu rosto ruborizado pela emoção.— Mas eu não preciso de nenhum tipo de compensação sua. Eu sou apenas seu ex-marido, nada mais.Bruno mexeu os lábios, mas sua expressão logo se desfez, e sua voz, carregada de autocrítica, transbordou de um toque de resignação.— Você sabe que eu te amo. Quero me reconciliar com você. E ainda assim, você insiste em dizer essas coisas.— Isso é o que eu realmente penso, não é para te provocar. Aproveito essa oportunidade para falar com você. E digo isso apenas uma vez. Bruno, embora, olhando para o resultado agora, você tenha finalmente enxergado o verdadeiro rosto de Gisele, a dor que eu senti no passado, você n
De volta à Mansão à beira-mar, Dayane também havia retornado.Eu a segurei nos braços enquanto subíamos as escadas, e, ao pegar suas coisas na mala, pude ver a felicidade no rosto de Dayane.Bruno se aproximou e se agachou ao lado dela.— Dayane, essas coisas foram preparadas por mim e pelo seu papai. Que tal dar um beijinho em nós dois?Dayane fixou os olhos em Bruno, sem dizer nada, e, depois de um tempo, timidamente se escondeu em seu abraço.Eu sabia que Dayane tinha entendido tudo. Ela sempre fora muito inteligente, só que tinha dificuldades para expressar o que sentia e, por isso, se afastava como um reflexo. Ela se sentia desconfortável com essas formas de expressão de afeto.Bruno, com sua experiência, parecia compreender melhor a psicologia de Dayane. Ele começou a conversar com ela, guiando suas palavras, e, antes que eu esperasse, ele a beijou carinhosamente na bochecha. Ele a incentivou com carinho, e, para minha surpresa, Dayane realmente beijou Bruno de volta.Eu fiquei a
Eu não queria ficar no mesmo espaço que o Bruno, então, decidi pegar o computador e ir para o jardim ficar sozinha.Não demorou muito para que Bruno me encontrasse. Quando se aproximou, trouxe consigo a brisa fresca que é característica das noites de verão e, com ela, se sentou ao meu lado.— A Dayane já comeu, está com a barriguinha bem redonda. — Ele parecia um pouco orgulhoso, com um brilho nos olhos, como se quisesse receber um reconhecimento, quase dizendo que conseguia cuidar dela muito bem.Fingi que não ouvi, focando meu olhar na tela do computador.— Obrigada por trazer a Dayane até mim. Sentir que há alguém neste mundo com quem eu compartilho laços de sangue é uma sensação realmente estranha. — A voz dele ganhou um tom mais melancólico. — Eu fiz tantas coisas erradas no passado e achava que nunca mereceria ter filhos nesta vida.Ele fez uma pausa, e vendo que eu não parecia querer responder, continuou:— Você sabe o quanto fiquei emocionado quando descobri que a Dayane é minh
— Ana! — Bruno correu atrás de mim, pegou minha mão com firmeza, quente ao toque. Não sabia se era nervosismo ou o calor, mas sua palma estava suada. — Ana, não volte para o quarto da Dayane. Vai para outro quarto, por favor.Por dentro, eu revirei os olhos. Ele ficou o tempo todo se controlando, mas o que estava pensando ainda eram aquelas coisas...Tirei a mão de sua e não lhe dei atenção, achando que ele queria que eu voltasse para o quarto principal, mas então ouvi o que ele disse.— Deixe a dona Rose ficar com a Dayane no quarto ao lado, devemos tratá-la como uma criança normal.— O quê? — Eu pensei ter ouvido errado, então perguntei, quase sem acreditar.— Como uma criança normal? — Eu parei, olhando para ele, incrédula. — Como você quer que eu a trate como uma criança normal?— Ela não é tão frágil como você pensa. Confia em mim, eu entendo!Eu dei um sorriso sem qualquer expressão, e a frieza na minha voz se tornou mais clara, como se toda minha paciência tivesse se esgotado.—
Tudo na mansão à beira-mar permanecia inalterado. Eu não tinha esquecido a ponto de não lembrar mais. Também me recordava daqueles dias ao lado de Bruno. Naquele momento, eu pensava: "E o que há de mais se eu passar o resto da vida assim com ele?" Naquela época, já havia alcançado uma certa estabilidade entre nós. Mesmo que ambos vivêssemos de forma livre e sem restrições, ainda assim conseguíamos estar juntos. A relação era delicada, mas não insustentável. Agora, ao refletir, percebo que, naquele tempo, quem de nós não tinha um pouco de egoísmo? Algumas coisas aconteceram naturalmente naquele então, mas agora seriam impossíveis. De repente, senti uma pressão forte na parte de trás da minha cabeça, e, no instante seguinte, um rosto lindo se aproximou rapidamente. Bruno se inclinou para baixo e me beijou. Quando os lábios dele tocaram os meus, um calor úmido me invadiu, mas eu ainda estava atordoada. Nem consegui reagir a tempo, tentando entender o motivo daquele beijo repenti
Desde aquele dia, Dayane se tornou cada vez mais silenciosa.Ela começou a passar longos períodos em que ficava absorta, às vezes olhando para mim ou para Bruno, outras vezes fixando o olhar em qualquer coisa ao redor. Cada vez que entrava nesse estado, ficava ali, perdida, por mais de dez minutos.Sempre que isso acontecia, nós não ousávamos interromper. A única coisa que podíamos fazer era nos mantermos próximos, tentando fazer algum som para chamar sua atenção, na esperança de tirá-la do transe.Ela começou a resistir a se expressar. Não pedia mais abraços e já não tomava a iniciativa de nos beijar. Mesmo quando estava com fome e queria comer, não dizia nada, apenas esperava em silêncio até a hora das refeições. Mas, quando a comida chegava, mal dava uma mordida antes de desistir.Como não sabíamos se ela queria realmente comer ou não, a família contratou um chef especializado em nutrição infantil, que preparava doces e lanches durante o dia, sempre com formas fofas e criativas. Day
Eu me sentia extremamente agitada. Desde a noite em que briguei com o Bruno, ele já estava em contato com a sua equipe médica.Devido a mudanças inesperadas, todas as questões que a equipe já havia preparado precisaram ser substituídas. Como envolvia a Dayane, nós não nos importávamos de dar mais tempo a eles. Finalmente, a espera havia chegado ao fim.Apesar da alegria, ainda havia uma certa preocupação.— Que tipo de questões? Devemos dar uma olhada antes? Não sabemos se a Dayane vai conseguir entender.— Eu já vi as questões. Basicamente são todas com imagens e os textos são bem simples. Já fizemos alguns testes com crianças da mesma idade e elas não tiveram problemas para entender. A Dayane é até mais esperta que elas, pode ficar tranquila.Eu acenei com a cabeça em silêncio.Quando estávamos no exterior, eu fui muitas vezes ao hospital, mas os resultados eram sempre os mesmos: disseram que a Dayane era muito nova e que ainda precisávamos cuidar dela em casa. Agora...Embora eu não
Depois que Dayane terminou de comer, e dona Rose a levou para a escola, finalmente tive um pouco de tempo para mim. Enviei os documentos que já tinha preparado para Zeca, pedindo que ele me ajudasse a providenciar o visto para Dayane para o País B. Quando a situação dela estivesse um pouco mais estável, eu a levaria embora, e o visto só exigia a autorização da mãe, caso contrário, quanto mais tarde, mais complicado seria. Zeca respondeu rapidamente. — Já verifiquei os outros documentos, não vejo problemas, você está com pressa? Se for necessário, posso pedir para alguém agilizar. — Não é urgente. A situação de Dayane tem sido instável, ela está piorando novamente. Quando ela melhorar um pouco, então partiremos. A voz no telefone soava um tanto melancólica. — Espero que a Presidente Sofia, onde quer que esteja, possa abençoar Dayane. Ela nasceu em uma família tão boa, deveria estar desfrutando de uma vida feliz. Eu também estava um pouco emocionada, mais uma vez agradece