As palavras de Bruno, eu só poderia acreditar pela metade. Quando minha mãe foi para o exterior para tratar sua doença, aquelas pessoas faziam questão de ligar incontáveis vezes todos os dias. E quando finalmente assumi o Grupo Oliveira, eles sequer tentaram esconder suas ambições na minha frente. Naquela época, eu não tinha intenção de administrar o Grupo Oliveira a longo prazo, então não me importava muito. Mas foi por causa do homem à minha frente que comecei a me importar com poder. Foi ele quem me deu esse poder. Suspirei profundamente, lamentando ter confiado tanto nele, ao ponto de lhe dar a chance de me apunhalar pelas costas. Bruno pensou que eu estivesse com medo. Sua expressão sombria se suavizou, tornando-se quase gentil. Ele segurou minha mão, e enquanto caminhávamos, disse: — Você não precisa ter medo. Enquanto estiver ao meu lado, eu não permitirei que eles te machuquem. Então, é melhor você não me irritar. Até que tudo fosse esclarecido, eu realmente não podi
A voz de Bruno cessou de repente. Vi seu corpo endurecer bruscamente, como se fosse um personagem de um mundo virtual que, de repente, travasse, tornando-se estranhamente irreal. Ele permaneceu imóvel por alguns segundos, com os olhos avermelhados de raiva e uma dor indescritível estampada no olhar. Rangendo os dentes, ele cambaleou para fora, e logo em seguida ouvi um som estrondoso vindo da direção do bar, como algo se partindo em pedaços, reverberando pelo ambiente. Segui até lá e, como suspeitava, vi taças quebradas e vinho espalhados pelo chão. Não muito longe, o tapete também não havia sido poupado, manchado por respingos do líquido vermelho. O homem que, há poucos instantes, exibia sua arrogância diante de mim, agora parecia uma criança desamparada. Ele apertava os punhos com força, enquanto encarava o caos no chão, com os braços tremendo incontrolavelmente. Bruno, como se temesse ser visto naquela condição, cruzou os braços em frente ao peito num gesto de proteção.
O homem, que havia se acalmado por um momento, agora voltou a encarar com um olhar afiado. Eu permaneci imóvel, mas minhas mãos, escondidas atrás de mim, apertavam firmemente a alça da bolsa. Parecia que só assim eu poderia encontrar um pouco de segurança diante do olhar opressor dele. — Eu realmente não lembro mais. Além disso, meu celular nem funciona aqui. Vou precisar esperar o Zeca providenciar o chip para mim... Antes que eu pudesse terminar, Bruno me interrompeu: — Ou você liga, ou eu ligo por você. Ele franziu as sobrancelhas, seu rosto ficando cada vez pior, de forma evidente. Ele acreditava que Ana não poderia se esquecer de tudo sobre ele, mas, ao mesmo tempo, temia que isso fosse exatamente o que tinha acontecido. Se alguém decidisse, de coração, esquecer, como seria possível ainda lembrar? Bruno percebeu que, se Ana estava dizendo a verdade, então ela havia escolhido apagá-lo da memória, o que era muito mais doloroso do que o simples esquecimento natural.
— Dayane, vem dar um abraço! Ajoelhei-me na entrada, de braços abertos, esperando por ela. Embora soubesse que Dayane dificilmente correria para mim como outras crianças, não conseguia evitar a fantasia: e se, desta vez, ela viesse? Rui, ao me ver, se levantou do chão e ajeitou as roupas antes de pegar a pequena Dayane, que parecia absorta em seus próprios pensamentos. Com passos decididos, ele caminhou até mim. Ele tirou a bolsa das minhas mãos e colocou Dayane delicadamente em meu colo, brincando com as bochechas macias dela enquanto perguntava de forma casual: — Como foi o dia? Encontrou alguma creche adequada? Precisa que eu entre em contato com mais algumas? Assenti enquanto cobria as bochechas perfumadas e macias de Dayane com beijos. Em seguida, compartilhei com Rui algumas das opções de creches que havia visitado e finalizei: — Mas, no final das contas, preciso levar a Dayane para que ela veja pessoalmente. Os professores precisam avaliá-la, e também quero saber se
Eu, desconcertada, levantei o braço e o aproximei do rosto para cheirar minhas próprias roupas, lançando um olhar furtivo para Rui. — O que foi? Estou com algum cheiro estranho? Rui se inclinou ainda mais para me cheirar, aproximando-se tanto que eu não consegui recuar mais. Meu corpo quase tocou a janela, e a proximidade me fez sentir um misto de vergonha e irritação. — Rui Sampaio! Não chega tão perto assim de mim! Rui endireitou o corpo, colocou as mãos na cintura e me encarou com uma expressão carregada de seriedade. — Cheiro de cigarro, de bebida... E de um homem. Fiquei paralisada por um momento, surpresa por ele realmente ter notado. Tentei disfarçar, respondendo com uma voz evasiva: — Deve ser o motorista... Hoje saí de táxi. Achei que, por ter acabado de voltar, poderia estar desatualizada sobre o trânsito, então decidi não dirigir. Não é de se admirar que a Dayane estivesse tentando sair do meu colo o tempo todo. Quando você for embora, vou tomar banho. As pal
Eu me deixei ficar nos braços de Rui, sem resistir, enquanto minha mente revisitava todos os acontecimentos dos últimos dois anos. Desde o momento em que Luz pediu a ele que viesse ao país me buscar, ele já estava correndo riscos. Naquela época, ele e Lara estavam enfrentando uma situação tensa. Quando Agatha foi para o exterior para estudar, alugou um apartamento minúsculo e mal equipado perto do laboratório. Foi só depois que comecei a morar com ela que Rui nos ajudou a encontrar um lugar maior e mais confortável. Embora o dinheiro tivesse saído do meu bolso, sem ele, jamais teríamos conseguido nos mudar com tanta facilidade. Ele também fez questão de me acompanhar em todas as consultas pré-natal, dizendo que não queria que eu me sentisse sozinha ou com medo. Até mesmo o médico só descobriu, na hora do parto, quando precisavam de uma assinatura, que Rui não era meu marido. A verdade era que sempre me apoiei na amizade de infância para aceitar a ajuda dele. Não deveria ter sid
Eu sempre me peguei pensando que a vida, às vezes, era feita dessas coincidências.Se eu não tivesse algo para falar com a assistente Isabela, se ela não tivesse me pedido para procurar o Bruno, eu realmente não teria presenciado uma cena tão espetacular.A assistente Isabela disse que não conseguia entrar na Mansão à beira-mar, que ninguém atendia quando batia na porta, e que a mansão ainda tinha minhas digitais. Ela queria que eu fosse até lá para tentar.Pensei que o Bruno já tivesse ido embora ou estivesse tão bêbado que nem percebia o que estava acontecendo.A assistente Isabela, com sua deficiência nos pés e a dificuldade de se mover, ficou responsável por pegar os documentos de que eu precisava. Eu mesmo fui até a farmácia, comprei remédios para ressaca e para queimaduras, e segui direto para a Mansão à beira-mar.Estava tudo planejado: abrir a porta e sair com os documentos que eu precisava.Porém, quando abri a grande porta da mansão e deixei a suave luz da lua entrar, o que e
Gisele observava, com o canto dos olhos, cada movimento de Ana até que ela saísse da mansão, e só então conseguiu se afastar um pouco de Bruno, erguendo-se de seu corpo.Ela estava consumida pela inveja, quase à beira da loucura, sua mente gritando em um turbilhão: "Eu vou matá-la! Eu vou matá-la!" Se não fosse o fato de Bruno ter bebido demais e dado a ela uma oportunidade, ela jamais teria imaginado que, mesmo com os olhos fechados pela embriaguez, ele ainda seria capaz de mostrar uma afeição tão profunda e inusitada. Por que isso?! Por que seu irmão, ao apenas imaginar que Ana poderia partir novamente, deixava aquele homem, que a havia sufocado e lhe dissera que era um castigo, tão vulnerável e quebrado?! Seu irmão parecia ter esquecido completamente o vínculo que compartilhavam desde a infância, e agora, tudo o que passava em sua mente era aquela mulher.Gisele estava à beira de enlouquecer, sua inveja a consumia por completo. Tudo o que ela tinha visto naquele dia quase a lev