Eu escolhi sair do quarto no exato momento em que vi Gisele rasgar a camisa de Bruno. Continuar a olhar seria desrespeitoso. A noite estava avançada, e tudo ao redor estava silencioso. Fechei a porta suavemente, sem fazer barulho para que não me ouvissem. Não sabia exatamente quando a assistente Isabela chegou, mas ao levantar os olhos, a vi caminhando em minha direção, mancando levemente. — Sra. Henriques, peço desculpas, cheguei tarde. Por que não entrou e esperou lá dentro? — A voz da assistente Isabela era suave, mas ao me ver, ela parecia um pouco agitada, engasgando com as palavras. — A senhora já falou com o Presidente Bruno? Se ele souber que a senhora chegou, ficará muito feliz. Sorri levemente e, com um olhar tranquilo, peguei da mão dela o que eu precisava. — Não me chame de Sra. Henriques. Basta me chamar de Presidente Ana, assim como o Bruno. Entreguei o remédio que comprei para Bruno em suas mãos. — Eu vou embora. — Isso... — A assistente Isabela levanto
Às quatro da tarde, eu e dona Rose estávamos no carro esperando Dayane sair da escola.Na manhã anterior, levei Dayane para uma visita à escola, e ela foi mais rápida do que eu. A professora queria deixá-la para observar o dia inteiro, e ela não chorou nem fez escândalo. Eu quase liguei para a professora a cada hora, e a resposta era sempre que Dayane estava se adaptando muito bem.Mesmo assim, eu ainda estava um pouco ansiosa.Nós duas olhávamos pela janela do carro em direção à escola, quando de repente, parecia que uma cortina opaca havia sido colocada sobre a janela, bloqueando a nossa vista completamente e até diminuindo a luminosidade dentro do carro.Dona Rose se assustou, começando a se acalmar enquanto se batia no peito, repetindo palavras de consolo para si mesma. Eu também não estava melhor, o susto fez meu coração pular uma batida.Bruno estava à frente do carro, estendendo a mão para dar três leves batidas no vidro da janela, e seus olhos estavam fixos em mim.Quem quer q
A borda da roupa do homem balançava sozinha, sem vento, e Bruno chegou com raiva.Ele foi se aproximando, passo a passo, e, com um movimento brusco, abriu a porta do carro e agarrou meu pulso, que ainda segurava o volante.— Você quer me matar?! Ele me arrastou para fora do carro, e no instante seguinte, levantou meu queixo com a mão, forçando-me a olhá-lo. Nos seus olhos, havia ódio suficiente para destruir o mundo, como se quisesse me devorar. Ele ficou me encarando, com os olhos ainda mais furiosos, e disse:— Quem te deu permissão para fugir?!Sair dele era o mais natural do mundo. Eu estava lutando, mas isso só parecia irritá-lo ainda mais.Sua mão estava firme em meu ombro, segurando-me com uma força que parecia durar uma eternidade, até que, finalmente, ele disse, em tom ameaçador:— Vai tentar correr de novo?!A dor se espalhava pela pele, até alcançar os ossos, e eu estava tão irritada que o empurrei com força.— Bruno, quem você pensa que é?! Eu preciso te dar satisfação pa
Bruno sempre deixou claro o que sentia por mim, mas, ainda assim, ele insistia em agir como se me amasse. Se alguém olhasse de fora, realmente acharia que ele se importava comigo.Nos seus olhos, havia uma obsessão que não se apagava, e eu não pude me conter, deixando escapar um sorriso extremamente sarcástico.— Bruno, você simplesmente não consegue ver-me bem. Há algo que eu nunca entendi antes, mas agora já sei o que é. Bruno, quer saber o que é?Talvez ele tivesse se esforçado tanto para fazer aquilo parecer real, mas no instante seguinte, parecia que eu podia até ouvir o som de algo se quebrando.Bruno retirou os braços do meu campo de visão, colocando-os atrás de si, tremendo. Ele respirou profundamente, e, com uma voz fria, disse:— Não tenho interesse nos seus sentimentos.Eu sorri levemente, ergui a mão e toquei os fios de cabelo nas têmporas dele, meus dedos deslizando pela face dele, onde ainda podia sentir a leve textura da barba por fazer.Ele agarrou minha mão de forma br
— Bruno, por favor, só venha falar comigo quando realmente precisar que eu cumpra o acordo. Eu tenho uma filha, e ela precisa muito de mim, então não faça mais brincadeiras como a de hoje. O foco da minha vida nunca poderá ser você! Entrei em um táxi qualquer na rua, e o homem atrás não me seguiu. Olhei pela janela e vi o homem, que logo desapareceu na escuridão conforme o carro se afastava.Minha mão vermelha tremia de dor.Então, bater em alguém também poderia machucar tanto as próprias mãos?Mas por que não consegui se controlar e acabei batendo nele?Antes de voltar ao país, já tinha decidido que assumiria uma postura indiferente, apareceria para todos, inclusive para ele, com um ar de altivez... Na escuridão, Bruno pressionava a língua contra a bochecha, com os olhos cheios de contradição.Ana, mais uma vez, virava as costas para ele e ia embora.Quando tentou falar, sua voz falhou, deixando-o ainda mais confuso.— Eu a pressionei demais?A assistente Isabela estava atrás de Bru
Na periferia da cidade J, em um prédio branco, uma mulher sorridente foi ao encontro de Bruno, sua alegria contrastando completamente com o clima pesado e opressor que dominava os arredores.Gisele correu até ele, chamando por "irmão", e sem hesitar, se jogou em seus braços. Ela se lembrou dos tempos antigos, quando ele sempre segurava sua cintura, a levantava no ar e a girava, sorrindo para ela.Porém, ao perceber que o abraço dele estava frio como gelo, ela apertou ainda mais a cintura de Bruno, mas o tecido suave do terno fez com que seu abraço escorregasse sem efeito.Ela não estava obcecada pelo abraço, afinal, se o irmão tivesse gostado da sensação que compartilharam na noite anterior, talvez, depois que ele ficasse sóbrio, coisas ainda mais intensas pudessem acontecer.Ela ergueu a cabeça, olhando para o homem à sua frente com desejo nos olhos.— Irmão, você trouxe tanta gente, está querendo me levar de volta para casa? Lágrimas escorriam de seus olhos, e sob o olhar triste, u
Os olhos negros de Bruno estavam fixos no vazio à sua frente. Seu sorriso permanecia, mas a frieza em seu rosto se tornava cada vez mais evidente. Uma mão feminina percorreu sua face, deslizando até seu pescoço e desabotoando um de seus botões, com um toque suave que logo se aprofundou na parte interna de sua camisa. A voz de Gisele continuava a soar. — Assim, desabotoou sua roupa, uma a uma, para que você se sinta ainda mais confortável. — Uma a uma? — Bruno perguntou em tom gelado. — Sim, irmão, vou te mostrar. Gisele falou, indo de trás do banco até a frente de Bruno. Ela estava vestindo roupas que não se ajustavam bem ao seu corpo, e, ao se curvar, sua frente revelou uma grande área de sua pele. Bruno virou o rosto, embora não houvesse nada de realmente interessante para olhar, ele a agarrou pela mão, não querendo que ela o tocasse mais. — Já basta, e depois? Gisele ficou surpresa. Ele se lembrava! Era isso que ele queria dela, perguntar de propósito. — Ontem,
A porta do hospital se abriu e se fechou novamente, a assistente Isabela isolando tudo atrás. Até seus passos pareciam mais leves. Aquela dor persistente, que lhe dava a sensação de que sua perna nunca sararia, finalmente parecia desaparecer. Hoje, ela podia dizer a si mesma que estava curada. Ela se aproximou do carro de Bruno, mas ao tentar abrir a porta, percebeu que não conseguia. Caminhou até o lado do motorista, bateu na janela, mas o motorista permaneceu em silêncio, sem abrir a boca. Assistente Isabela de repente teve uma ideia. Caminhou até a beira da estrada e ficou ali, parada, sem intenção de entrar no carro. Dentro do carro, o ambiente estava pesado. Bruno estava com uma mão apoiada na cabeça, claramente em péssimo humor. A janela do carro desceu lentamente, e Bruno levantou os olhos, encarando a mulher que estava ali, parada. Sua voz, sombria como sempre, ecoou do interior do veículo. — Quantos anos você está trabalhando comigo? — Desde que o senhor entrou n