O homem, que havia se acalmado por um momento, agora voltou a encarar com um olhar afiado. Eu permaneci imóvel, mas minhas mãos, escondidas atrás de mim, apertavam firmemente a alça da bolsa. Parecia que só assim eu poderia encontrar um pouco de segurança diante do olhar opressor dele. — Eu realmente não lembro mais. Além disso, meu celular nem funciona aqui. Vou precisar esperar o Zeca providenciar o chip para mim... Antes que eu pudesse terminar, Bruno me interrompeu: — Ou você liga, ou eu ligo por você. Ele franziu as sobrancelhas, seu rosto ficando cada vez pior, de forma evidente. Ele acreditava que Ana não poderia se esquecer de tudo sobre ele, mas, ao mesmo tempo, temia que isso fosse exatamente o que tinha acontecido. Se alguém decidisse, de coração, esquecer, como seria possível ainda lembrar? Bruno percebeu que, se Ana estava dizendo a verdade, então ela havia escolhido apagá-lo da memória, o que era muito mais doloroso do que o simples esquecimento natural.
— Dayane, vem dar um abraço! Ajoelhei-me na entrada, de braços abertos, esperando por ela. Embora soubesse que Dayane dificilmente correria para mim como outras crianças, não conseguia evitar a fantasia: e se, desta vez, ela viesse? Rui, ao me ver, se levantou do chão e ajeitou as roupas antes de pegar a pequena Dayane, que parecia absorta em seus próprios pensamentos. Com passos decididos, ele caminhou até mim. Ele tirou a bolsa das minhas mãos e colocou Dayane delicadamente em meu colo, brincando com as bochechas macias dela enquanto perguntava de forma casual: — Como foi o dia? Encontrou alguma creche adequada? Precisa que eu entre em contato com mais algumas? Assenti enquanto cobria as bochechas perfumadas e macias de Dayane com beijos. Em seguida, compartilhei com Rui algumas das opções de creches que havia visitado e finalizei: — Mas, no final das contas, preciso levar a Dayane para que ela veja pessoalmente. Os professores precisam avaliá-la, e também quero saber se
Eu, desconcertada, levantei o braço e o aproximei do rosto para cheirar minhas próprias roupas, lançando um olhar furtivo para Rui. — O que foi? Estou com algum cheiro estranho? Rui se inclinou ainda mais para me cheirar, aproximando-se tanto que eu não consegui recuar mais. Meu corpo quase tocou a janela, e a proximidade me fez sentir um misto de vergonha e irritação. — Rui Sampaio! Não chega tão perto assim de mim! Rui endireitou o corpo, colocou as mãos na cintura e me encarou com uma expressão carregada de seriedade. — Cheiro de cigarro, de bebida... E de um homem. Fiquei paralisada por um momento, surpresa por ele realmente ter notado. Tentei disfarçar, respondendo com uma voz evasiva: — Deve ser o motorista... Hoje saí de táxi. Achei que, por ter acabado de voltar, poderia estar desatualizada sobre o trânsito, então decidi não dirigir. Não é de se admirar que a Dayane estivesse tentando sair do meu colo o tempo todo. Quando você for embora, vou tomar banho. As pal
Eu me deixei ficar nos braços de Rui, sem resistir, enquanto minha mente revisitava todos os acontecimentos dos últimos dois anos. Desde o momento em que Luz pediu a ele que viesse ao país me buscar, ele já estava correndo riscos. Naquela época, ele e Lara estavam enfrentando uma situação tensa. Quando Agatha foi para o exterior para estudar, alugou um apartamento minúsculo e mal equipado perto do laboratório. Foi só depois que comecei a morar com ela que Rui nos ajudou a encontrar um lugar maior e mais confortável. Embora o dinheiro tivesse saído do meu bolso, sem ele, jamais teríamos conseguido nos mudar com tanta facilidade. Ele também fez questão de me acompanhar em todas as consultas pré-natal, dizendo que não queria que eu me sentisse sozinha ou com medo. Até mesmo o médico só descobriu, na hora do parto, quando precisavam de uma assinatura, que Rui não era meu marido. A verdade era que sempre me apoiei na amizade de infância para aceitar a ajuda dele. Não deveria ter sid
Eu sempre me peguei pensando que a vida, às vezes, era feita dessas coincidências.Se eu não tivesse algo para falar com a assistente Isabela, se ela não tivesse me pedido para procurar o Bruno, eu realmente não teria presenciado uma cena tão espetacular.A assistente Isabela disse que não conseguia entrar na Mansão à beira-mar, que ninguém atendia quando batia na porta, e que a mansão ainda tinha minhas digitais. Ela queria que eu fosse até lá para tentar.Pensei que o Bruno já tivesse ido embora ou estivesse tão bêbado que nem percebia o que estava acontecendo.A assistente Isabela, com sua deficiência nos pés e a dificuldade de se mover, ficou responsável por pegar os documentos de que eu precisava. Eu mesmo fui até a farmácia, comprei remédios para ressaca e para queimaduras, e segui direto para a Mansão à beira-mar.Estava tudo planejado: abrir a porta e sair com os documentos que eu precisava.Porém, quando abri a grande porta da mansão e deixei a suave luz da lua entrar, o que e
Gisele observava, com o canto dos olhos, cada movimento de Ana até que ela saísse da mansão, e só então conseguiu se afastar um pouco de Bruno, erguendo-se de seu corpo.Ela estava consumida pela inveja, quase à beira da loucura, sua mente gritando em um turbilhão: "Eu vou matá-la! Eu vou matá-la!" Se não fosse o fato de Bruno ter bebido demais e dado a ela uma oportunidade, ela jamais teria imaginado que, mesmo com os olhos fechados pela embriaguez, ele ainda seria capaz de mostrar uma afeição tão profunda e inusitada. Por que isso?! Por que seu irmão, ao apenas imaginar que Ana poderia partir novamente, deixava aquele homem, que a havia sufocado e lhe dissera que era um castigo, tão vulnerável e quebrado?! Seu irmão parecia ter esquecido completamente o vínculo que compartilhavam desde a infância, e agora, tudo o que passava em sua mente era aquela mulher.Gisele estava à beira de enlouquecer, sua inveja a consumia por completo. Tudo o que ela tinha visto naquele dia quase a lev
Eu escolhi sair do quarto no exato momento em que vi Gisele rasgar a camisa de Bruno. Continuar a olhar seria desrespeitoso. A noite estava avançada, e tudo ao redor estava silencioso. Fechei a porta suavemente, sem fazer barulho para que não me ouvissem. Não sabia exatamente quando a assistente Isabela chegou, mas ao levantar os olhos, a vi caminhando em minha direção, mancando levemente. — Sra. Henriques, peço desculpas, cheguei tarde. Por que não entrou e esperou lá dentro? — A voz da assistente Isabela era suave, mas ao me ver, ela parecia um pouco agitada, engasgando com as palavras. — A senhora já falou com o Presidente Bruno? Se ele souber que a senhora chegou, ficará muito feliz. Sorri levemente e, com um olhar tranquilo, peguei da mão dela o que eu precisava. — Não me chame de Sra. Henriques. Basta me chamar de Presidente Ana, assim como o Bruno. Entreguei o remédio que comprei para Bruno em suas mãos. — Eu vou embora. — Isso... — A assistente Isabela levanto
Às quatro da tarde, eu e dona Rose estávamos no carro esperando Dayane sair da escola.Na manhã anterior, levei Dayane para uma visita à escola, e ela foi mais rápida do que eu. A professora queria deixá-la para observar o dia inteiro, e ela não chorou nem fez escândalo. Eu quase liguei para a professora a cada hora, e a resposta era sempre que Dayane estava se adaptando muito bem.Mesmo assim, eu ainda estava um pouco ansiosa.Nós duas olhávamos pela janela do carro em direção à escola, quando de repente, parecia que uma cortina opaca havia sido colocada sobre a janela, bloqueando a nossa vista completamente e até diminuindo a luminosidade dentro do carro.Dona Rose se assustou, começando a se acalmar enquanto se batia no peito, repetindo palavras de consolo para si mesma. Eu também não estava melhor, o susto fez meu coração pular uma batida.Bruno estava à frente do carro, estendendo a mão para dar três leves batidas no vidro da janela, e seus olhos estavam fixos em mim.Quem quer q