Eu me deixei ficar nos braços de Rui, sem resistir, enquanto minha mente revisitava todos os acontecimentos dos últimos dois anos. Desde o momento em que Luz pediu a ele que viesse ao país me buscar, ele já estava correndo riscos. Naquela época, ele e Lara estavam enfrentando uma situação tensa. Quando Agatha foi para o exterior para estudar, alugou um apartamento minúsculo e mal equipado perto do laboratório. Foi só depois que comecei a morar com ela que Rui nos ajudou a encontrar um lugar maior e mais confortável. Embora o dinheiro tivesse saído do meu bolso, sem ele, jamais teríamos conseguido nos mudar com tanta facilidade. Ele também fez questão de me acompanhar em todas as consultas pré-natal, dizendo que não queria que eu me sentisse sozinha ou com medo. Até mesmo o médico só descobriu, na hora do parto, quando precisavam de uma assinatura, que Rui não era meu marido. A verdade era que sempre me apoiei na amizade de infância para aceitar a ajuda dele. Não deveria ter sid
Eu sempre me peguei pensando que a vida, às vezes, era feita dessas coincidências.Se eu não tivesse algo para falar com a assistente Isabela, se ela não tivesse me pedido para procurar o Bruno, eu realmente não teria presenciado uma cena tão espetacular.A assistente Isabela disse que não conseguia entrar na Mansão à beira-mar, que ninguém atendia quando batia na porta, e que a mansão ainda tinha minhas digitais. Ela queria que eu fosse até lá para tentar.Pensei que o Bruno já tivesse ido embora ou estivesse tão bêbado que nem percebia o que estava acontecendo.A assistente Isabela, com sua deficiência nos pés e a dificuldade de se mover, ficou responsável por pegar os documentos de que eu precisava. Eu mesmo fui até a farmácia, comprei remédios para ressaca e para queimaduras, e segui direto para a Mansão à beira-mar.Estava tudo planejado: abrir a porta e sair com os documentos que eu precisava.Porém, quando abri a grande porta da mansão e deixei a suave luz da lua entrar, o que e
Gisele observava, com o canto dos olhos, cada movimento de Ana até que ela saísse da mansão, e só então conseguiu se afastar um pouco de Bruno, erguendo-se de seu corpo.Ela estava consumida pela inveja, quase à beira da loucura, sua mente gritando em um turbilhão: "Eu vou matá-la! Eu vou matá-la!" Se não fosse o fato de Bruno ter bebido demais e dado a ela uma oportunidade, ela jamais teria imaginado que, mesmo com os olhos fechados pela embriaguez, ele ainda seria capaz de mostrar uma afeição tão profunda e inusitada. Por que isso?! Por que seu irmão, ao apenas imaginar que Ana poderia partir novamente, deixava aquele homem, que a havia sufocado e lhe dissera que era um castigo, tão vulnerável e quebrado?! Seu irmão parecia ter esquecido completamente o vínculo que compartilhavam desde a infância, e agora, tudo o que passava em sua mente era aquela mulher.Gisele estava à beira de enlouquecer, sua inveja a consumia por completo. Tudo o que ela tinha visto naquele dia quase a lev
Eu escolhi sair do quarto no exato momento em que vi Gisele rasgar a camisa de Bruno. Continuar a olhar seria desrespeitoso. A noite estava avançada, e tudo ao redor estava silencioso. Fechei a porta suavemente, sem fazer barulho para que não me ouvissem. Não sabia exatamente quando a assistente Isabela chegou, mas ao levantar os olhos, a vi caminhando em minha direção, mancando levemente. — Sra. Henriques, peço desculpas, cheguei tarde. Por que não entrou e esperou lá dentro? — A voz da assistente Isabela era suave, mas ao me ver, ela parecia um pouco agitada, engasgando com as palavras. — A senhora já falou com o Presidente Bruno? Se ele souber que a senhora chegou, ficará muito feliz. Sorri levemente e, com um olhar tranquilo, peguei da mão dela o que eu precisava. — Não me chame de Sra. Henriques. Basta me chamar de Presidente Ana, assim como o Bruno. Entreguei o remédio que comprei para Bruno em suas mãos. — Eu vou embora. — Isso... — A assistente Isabela levanto
Às quatro da tarde, eu e dona Rose estávamos no carro esperando Dayane sair da escola.Na manhã anterior, levei Dayane para uma visita à escola, e ela foi mais rápida do que eu. A professora queria deixá-la para observar o dia inteiro, e ela não chorou nem fez escândalo. Eu quase liguei para a professora a cada hora, e a resposta era sempre que Dayane estava se adaptando muito bem.Mesmo assim, eu ainda estava um pouco ansiosa.Nós duas olhávamos pela janela do carro em direção à escola, quando de repente, parecia que uma cortina opaca havia sido colocada sobre a janela, bloqueando a nossa vista completamente e até diminuindo a luminosidade dentro do carro.Dona Rose se assustou, começando a se acalmar enquanto se batia no peito, repetindo palavras de consolo para si mesma. Eu também não estava melhor, o susto fez meu coração pular uma batida.Bruno estava à frente do carro, estendendo a mão para dar três leves batidas no vidro da janela, e seus olhos estavam fixos em mim.Quem quer q
A borda da roupa do homem balançava sozinha, sem vento, e Bruno chegou com raiva.Ele foi se aproximando, passo a passo, e, com um movimento brusco, abriu a porta do carro e agarrou meu pulso, que ainda segurava o volante.— Você quer me matar?! Ele me arrastou para fora do carro, e no instante seguinte, levantou meu queixo com a mão, forçando-me a olhá-lo. Nos seus olhos, havia ódio suficiente para destruir o mundo, como se quisesse me devorar. Ele ficou me encarando, com os olhos ainda mais furiosos, e disse:— Quem te deu permissão para fugir?!Sair dele era o mais natural do mundo. Eu estava lutando, mas isso só parecia irritá-lo ainda mais.Sua mão estava firme em meu ombro, segurando-me com uma força que parecia durar uma eternidade, até que, finalmente, ele disse, em tom ameaçador:— Vai tentar correr de novo?!A dor se espalhava pela pele, até alcançar os ossos, e eu estava tão irritada que o empurrei com força.— Bruno, quem você pensa que é?! Eu preciso te dar satisfação pa
Bruno sempre deixou claro o que sentia por mim, mas, ainda assim, ele insistia em agir como se me amasse. Se alguém olhasse de fora, realmente acharia que ele se importava comigo.Nos seus olhos, havia uma obsessão que não se apagava, e eu não pude me conter, deixando escapar um sorriso extremamente sarcástico.— Bruno, você simplesmente não consegue ver-me bem. Há algo que eu nunca entendi antes, mas agora já sei o que é. Bruno, quer saber o que é?Talvez ele tivesse se esforçado tanto para fazer aquilo parecer real, mas no instante seguinte, parecia que eu podia até ouvir o som de algo se quebrando.Bruno retirou os braços do meu campo de visão, colocando-os atrás de si, tremendo. Ele respirou profundamente, e, com uma voz fria, disse:— Não tenho interesse nos seus sentimentos.Eu sorri levemente, ergui a mão e toquei os fios de cabelo nas têmporas dele, meus dedos deslizando pela face dele, onde ainda podia sentir a leve textura da barba por fazer.Ele agarrou minha mão de forma br
— Bruno, por favor, só venha falar comigo quando realmente precisar que eu cumpra o acordo. Eu tenho uma filha, e ela precisa muito de mim, então não faça mais brincadeiras como a de hoje. O foco da minha vida nunca poderá ser você! Entrei em um táxi qualquer na rua, e o homem atrás não me seguiu. Olhei pela janela e vi o homem, que logo desapareceu na escuridão conforme o carro se afastava.Minha mão vermelha tremia de dor.Então, bater em alguém também poderia machucar tanto as próprias mãos?Mas por que não consegui se controlar e acabei batendo nele?Antes de voltar ao país, já tinha decidido que assumiria uma postura indiferente, apareceria para todos, inclusive para ele, com um ar de altivez... Na escuridão, Bruno pressionava a língua contra a bochecha, com os olhos cheios de contradição.Ana, mais uma vez, virava as costas para ele e ia embora.Quando tentou falar, sua voz falhou, deixando-o ainda mais confuso.— Eu a pressionei demais?A assistente Isabela estava atrás de Bru