Não estava acostumada a dirigir este carro. Era muito grande. Pelo menos, todo mundo na rua, conhecendo ou não o emblema, percebia que o carro da família Henriques era muito caro. Pisei fundo no acelerador, e os outros carros começaram a abrir caminho para mim enquanto eu dirigia, concentrada.— Gisele, você não pode continuar se machucando. Seu sangue é raro e precioso; precisa cuidar melhor do seu corpo. Não é a primeira vez que te digo isso. — O rosto sério de Bruno estava tenso.Embora ele parecesse ser alguém de poucas emoções, com Gisele, sempre demonstrava paciência e favoritismo.Gisele sorriu levemente.— Eu prometi que cuidaria da Ana por você. Se ela se machucar, também ficarei triste.— O sangue dos outros é fácil de encontrar. Na cidade inteira, só há três pessoas com o Grupo sanguíneo Rh. Se algo acontecer com você, onde vou encontrar alguém? — Bruno respondeu.— Irmão, você tem os contatos dessas três pessoas, não tem? E conhece seus endereços. Irmão, não precisa se preo
O hospital estava cheio de gente. Ele era alto, bonito e tinha uma presença marcante. Mesmo coberto de sangue, sua aparência chamava a atenção de todos ao redor; era impossível passar despercebido.Eu sempre achei que Bruno me tratava com respeito. Sua cortesia era irrepreensível, especialmente na frente dos outros. Agora, sendo empurrada por meu próprio marido, era evidente que ele estava muito irritado.Os olhares curiosos se voltaram para mim, e eu me sentia como se estivesse sendo despida na frente de todos, completamente desprotegida.Sempre fui exigente quanto ao que era certo e errado. O mundo nem sempre era tão preto no branco, mas o mal-entendido nos olhos de Bruno era dolorosamente evidente.Se o mundo inteiro me acusasse, o equívoco dele era o que mais me feriria.Eu o encarei nos olhos, agarrando a manga de sua camisa, e tentei explicar com sinceridade, esperando que ele sentisse a verdade em minhas palavras.— Bruno, não foi culpa minha. Tudo aconteceu de repente, eu não p
Ele balançou a cabeça, parecendo desapontado comigo, e foi embora. Levantei-me do chão e gritei para as suas costas: — Vou procurar a polícia para esclarecer a situação e provar que não conheço aquele homem. Quando isso acontecer, quero que você me peça desculpas! Ele parou e olhou para trás. — Você sabe muito bem o que é certo e errado. Vou acusar aquele homem de tentativa de homicídio, e quero que você veja com seus próprios olhos como sua manipulação vai arruinar a vida de alguém. Quero que alguém pague por você, que confesse a culpa por seus atos. Quero vingar Gisele. — Bruno parecia ter se acalmado, e até sua voz soou mais tranquila. — Ana, sua carreira está apenas começando, mas já está manchada por uma vida perdida. Você ainda consegue continuar como advogada em paz? — Bruno parecia um mago imponente, e suas palavras eram como um feitiço; todo o meu sangue pareceu congelar nesse instante. Ele disse calmamente: — Aguarde. Eu não podia aceitar ser acusada injustament
— Ele é dessa opinião, mas ainda precisa de mais investigações. De qualquer forma, vive de maneira miserável, mendigando todos os dias. Dá para ver que tem um certo ódio pelos ricos e é bem antissocial, seu estado mental é realmente instável. — Disse o Sr. Marco.Eu assenti.— Pode me enviar uma cópia do dossiê dele?O Sr. Marco sorriu, mas recusou educadamente.— Que tal perguntar ao Presidente Bruno? Ele tem toda a documentação completa.Sabia que seria difícil arrancar mais alguma coisa dele, então não insisti.Ao me despedir, o Sr. Marco me acompanhou até a porta. Antes de sair, perguntei:— Sabe para qual centro de detenção o suspeito será transferido?— Centro de Detenção nº 1 de Cidade N.— Você conhece o diretor de lá? Talvez precise que você me apresente a ele.— Claro, se precisar de algo, é só me ligar.Ele me entregou o cartão de visita com as mãos e ainda fechou a porta do carro para mim.Estava claro que ele queria se livrar de mim o mais rápido possível. Desde que eu não
Na época da faculdade, eu fiz estágio em um escritório de advocacia. Fui designada para fazer o trabalho duro por um tempo, tarefas pesadas e tediosas, como arquivar processos, a ponto de quase enlouquecer.Pude perceber que os documentos que Juan me entregou eram informações bastante importantes, o que me surpreendeu.Hesitei por um momento, mas decidi devolver os documentos para ele.Depois do que aconteceu ontem com o mendigo, senti que precisava ser sincera com ele. Durante o interrogatório, se Bruno quisesse me prejudicar, eu poderia acabar envolvida em um processo legal, e isso poderia ter consequências sérias.Eu sabia que Rui e Juan tinham a capacidade de proteger seu escritório, mas caso fossem envolvidos, eu temia que isso também prejudicasse Luz.A família dela era bastante comum, considerada razoável aos olhos das pessoas comuns, mas não seria capaz de resistir às manipulações do capital. Esse emprego era o que garantia a sua sobrevivência.Claro, eu também não queria dece
Sem escolha, então me levantei e pedi ao garçom que trouxesse mais cadeiras. Mas, quando me sentei, Bruno agarrou meu braço de repente e me puxou em sua direção. A força não foi leve, e ele me pressionou a sentar ao seu lado.Levantei a cabeça, e minha visão foi preenchida pela linha afiada de sua mandíbula. Ele não percebia nada de errado, e finalmente também se sentou ao meu lado.Assim, o almoço para duas pessoas se transformou em um encontro para quatro.Rui se sentou à minha frente, enquanto Juan ficou em frente a Bruno. Nós quatro estávamos ao redor de uma mesa de jantar pequena, e em perfeita harmonia, caímos em um silêncio coletivo.Bruno mantinha uma expressão tensa. Ao ver o leve sorriso sarcástico nos lábios de Rui, seu rosto gelado ficou ainda mais sem expressão.No final, foi o garçom que trouxe os cardápios, o que fez com que a atmosfera assustadora de Bruno se acalmasse um pouco.Ele não me olhou em momento algum, e com a mesma expressão inalterada, fez o pedido. Só ent
Ele mantinha um controle preciso, ajustando o tom de voz para um nível intencionalmente sereno, o que transmitia uma sensação de modéstia.Na visão dele, essa questão era amplamente manipulada, não completamente fora de controle. Os advogados tinham uma grande margem para escolher os casos que aceitariam; para aumentar a taxa de sucesso, basta aceitar os casos mais seguros. Juan não era nem de longe tão impressionante quanto os rumores faziam parecer.Juan ajeitou os óculos e, com tranquilidade, declarou:— Nunca prometo uma vitória de cem por cento, só prometo uma cobrança de cem por cento.— Não é à toa que tanta gente está desesperada para se tornar advogado hoje em dia. — Bruno soltou um sorriso frio, seus olhos pousando sobre mim. — Basta falar algumas palavras e já estão ganhando dinheiro.— Algumas pessoas nasceram para esse trabalho, têm talento, ninguém pode impedir. — Juan já havia percebido o que estava acontecendo. Ele pegou uma colher e me serviu uma tigela de sopa, tenta
Bruno parecia me enxergar completamente como sua inimiga. Para quem não soubesse a verdade, poderia até parecer que quem foi esfaqueado não foi Gisele, mas ele.— Bruno, essa história não tem nada a ver com Rui, nem Juan, então não envolva pessoas inocentes.Bruno já havia mencionado antes que queria me jogar na delegacia, e eu, na minha ingenuidade, ainda nutria a esperança de que, se conseguisse provar minha inocência, tudo ficaria bem. Mas, agora, estava óbvio que ele não estava brincando. Ele estava disposto a fazer qualquer coisa por Gisele, sem nenhum escrúpulo.Subestimei o quanto ele podia ser cruel comigo.Ele me pressionava por dois motivos: ou para descontar sua raiva por Gisele, ou para que eu fosse implorar a ele. Mas eu me recusava a fazer qualquer uma dessas coisas.— Inocentes? Um mestre da advocacia apontando uma metralhadora para mim, você deve estar bem satisfeita, não é?O olhar dele ficava cada vez mais sombrio enquanto eu erguia o rosto, sorrindo para ele.— Esto