O fato de eu estar ferida não podia, de jeito nenhum, chegar ao conhecimento de Bruno. Eu não queria que ele soubesse da minha situação; caso contrário, ele certamente me olharia de forma arrogante e diria algo como "Eu já sabia que isso ia acontecer", com aquele tom prepotente.— Se não quiser falar, não fale. Acha que estou interessado em ouvir?Ele perdeu o interesse, e a mão que segurava meu tornozelo deixou de ser sensual, tornando-se apenas dolorosa. Mas a dor física era mais suportável do que a dor no coração. Ele sempre fazia isso, dizia coisas vagas, tentando me amolecer, e quando percebia que essa tática não funcionava, partia para a força bruta. Mas fosse de qualquer jeito, quanto de sinceridade havia em suas ações? Eu não tinha mais a capacidade de retribuir qualquer sentimento a ele, porque já havia dado tudo o que tinha. Dei tanto que, só de pensar, meu peito doía, então não havia a menor chance de que eu me deixasse manipular pelos truques dele novamente. Dei
O beijo de Bruno me deixou quase sem ar. Eu não duvidava nem por um segundo do poder de sedução dele, que parecia prestes a explodir dentro do pequeno espaço do carro. Seu braço estava posicionado atrás de mim, arqueando meu corpo de uma forma que me fazia sentir como se estivesse me oferecendo a ele, o que só aumentava a minha vergonha. Minhas unhas estavam cravadas no estofado de couro ao meu lado, arruinando o material fino com minha agonia.Bruno percebeu meu desconforto e deu um beijo suave na minha bochecha. — Consegue sentir tanto com um simples beijo. Quem mais poderia te fazer sentir assim?Eu me sentia como um peixe recém-chegado da água, incapaz de processar o que ele dizia, apenas tentando desesperadamente respirar. Minha vulnerabilidade o agradava, e ele segurou meu rosto entre as mãos, passando a língua pelos meus lábios e me advertindo: — Lembre-se, eu sou o seu homem. Mais ninguém. Em seguida, ele começou a desabotoar meu vestido. — Vamos tentar mais uma
No outono, o vento da noite em Cidade J já estava bem frio. Estremeci com o sopro do vento, e Bruno abriu o casaco, envolvendo-me em seus braços. Seu abraço era quente, e o cheiro era familiar para mim. Mas, naquele momento, meu coração não conseguia relaxar de jeito nenhum, e eu estava tomada por uma tensão insuportável. Quando certas emoções de um homem eram provocadas, era como uma chama que recebia combustível extra, e, por um tempo, a única solução era deixá-lo queimar até se esgotar. Mesmo que, naquele momento, estivéssemos bem em frente ao prédio onde morava sua noiva. Eu achava que ele estava completamente louco. Eu pensava que, quando Maia viesse abrir a porta, ainda teria tempo para prolongar essa situação, mas para ele, a porta era apenas um enfeite. Abraçado a mim, isso não o impediu de abrir a porta com a fechadura de reconhecimento facial. Quando viu minha surpresa, Bruno baixou os olhos e riu. — Essa casa já foi minha. — Eu não respondi, e ele acresce
O rosto de Bruno escureceu, e pela primeira vez, ele foi rude com Maia. Eu não conseguia acreditar. Ele só podia estar maluco afinal, essa era a noiva dele. E eu? O que eu significava nessa equação? — Quem deveria sair sou eu. Distraída por meus próprios pensamentos, acabei dizendo isso em voz alta. Os dois que estavam discutindo na porta pararam de repente, como se alguém tivesse apertado o botão de pausa. Foi Bruno quem, se recuperando primeiro, bateu a porta com força, encerrando aquele espetáculo ridículo. — Tem alguém aí? Tem uma mulher no meu quarto! Ana?! A voz de Maia, do lado de fora, aumentava de tom a cada palavra, e quando pronunciou meu nome, parecia finalmente aceitar o que estava acontecendo, e sua voz ficou subitamente mais grave. Bruno trancou a porta e ordenou, com autoridade: — Maia, esta noite vá dormir no hotel. Do lado de fora, Maia começou a bater na porta com os punhos, e a madeira tremeu sob o impacto. Ela, que sempre parecia tão doce, agora m
Sem a restrição de Bruno, o laço poderia ser facilmente desfeito com uma mordida minha. No entanto, ao vestir novamente minhas roupas rasgadas, ainda me sentia humilhada. Levantei a mão para enxugar as lágrimas, coloquei o casaco e saí rapidamente da casa de Maia. Enviei uma mensagem para Luz, avisando que não precisava mais procurar um assistente para mim. Eu não podia esperar, tinha que ir embora imediatamente. No caminho de volta para casa, liguei para Fábio. Era tarde da noite, e ele se assustou com a ligação. Fábio era ótimo em captar emoções, e eu não queria que ele percebesse algo errado. Deliberadamente acelerei o ritmo da minha fala, assumindo um tom prático: — Fábio, preciso falar de trabalho agora. Não sei se você está disponível. A voz de Fábio, pelo celular, revelava um leve entusiasmo. — Você raramente me procura, então é claro que estou disponível. Do que se trata? — Preciso de um assistente, homem, com três a cinco anos de experiência na área jurídica,
Como esperado, Zeca aceitou o cargo de assistente sem nem discutir sobre o salário. Ele simplesmente tirou todas as roupas de viagem da mala e as substituiu por itens básicos e roupas leves. No dia seguinte, nós dois embarcamos em um voo para Cidade W. O cliente que nos esperava era uma empresa local de grande influência, e assim que chegamos, fomos levados para um almoço. Discutir negócios à mesa sempre me deixava um pouco apreensiva, especialmente porque sabia que beber seria inevitável. Felizmente, Zeca estava comigo. Eu achava que, após o almoço e a bebida, poderíamos finalmente descansar no hotel, mas fomos arrastados para mais um compromisso. Zeca, no entanto, já estava acostumado com esses eventos. — Quando trabalhava com a Presidente Sofia, isso era rotina para ela. Casos comerciais são diferentes de processos comuns; talvez só você esteja com pressa de resolver tudo. Concordei com a cabeça. Claro que eu entendia o que ele queria dizer. Se eu queria ser alguém in
A fragrância suave enchia o ambiente, mas ao invés de tranquilizar, sufocava. Ele me apertava com tanta força que até respirar se tornava difícil. — Solte... — Murmurei baixinho, mas Bruno parecia não ter ouvido. — Não sei o que você sente por mim agora, mas entre nós dois não tem mais volta. O corpo de Bruno enrijeceu, mas ele continuou me abraçando, ignorando completamente minhas palavras. Era como se nada do que eu dissesse importasse, como se ele estivesse trancado em seu próprio mundo, alheio aos sentimentos dos outros. — Pare de me vigiar. Nada mais do que eu faça tem a ver com você. Se algo realmente acontecer comigo, o Zeca vai me ajudar a chamar a polícia... — Se chamar a polícia resolvesse, você acha que o Zeca teria me contatado? Acha que não tenho mais o que fazer? Fico o dia todo te vigiando? Você se acha tão bonita assim? — Bruno respirou fundo, seu tom agora carregado de impaciência. — Estou me metendo na sua vida? Talvez eu devesse deixar você se enfiar em p
Instintivamente, levantei a mão para cobrir o pescoço, mas já era tarde.Bruno, como se já soubesse que eu faria esse movimento, interceptou meu braço no meio do caminho. Meu pulso delicado ficou preso em sua mão, a pele ao redor dos dedos dele já havia perdido a cor, ficando pálida. Ele estava segurando com muita força.Seu olhar estava cheio de pavor, e eu tentei desviar, virando levemente o rosto e mordendo o lábio inferior com desconforto.Eu não sabia exatamente como meu pescoço estava, mas, pelo olhar de Bruno, dava para perceber que não parecia estar nada bem.— Quanto tempo eu dormi? — Só depois de perguntar, percebi o quão irrelevante era a minha pergunta.— O quê?Era tão fora de contexto que Bruno nem entendeu de imediato. Quando ele finalmente processou, cerrou os dentes e respondeu:— Ana, é isso que você chama de “não precisar de mim”?Eu só queria saber há quanto tempo meu ferimento no pescoço estava sem cuidados. Se uma ferida externa não fosse tratada, seria que come