Rui não estava mais agindo de forma brincalhona como antes; ele me observava em silêncio, e seu olhar ardente gradualmente deu lugar a uma expressão tensa.A cada segundo, o pomo de Adão dele descia e subia, como se estivesse engolindo saliva incessantemente, esperando ansiosamente pela minha resposta. Minhas lembranças começaram a vagar enquanto suas palavras ecoavam, levando-me de volta ao passado.Naquela época, eu achava Rui realmente insuportável. Ele, com sua estrutura maior, tinha a cabeça pesada, e, quando a apoiava no meu ombro, me causava uma dor incômoda. Ele não sabia, como agora, dosar sua força ou manter uma distância adequada. Muito menos lançava sobre mim esses olhares intensos que, hoje, faziam meu coração arder desconfortavelmente.Eu tinha acabado de sair de um relacionamento. Como eu poderia, após escapar de um abismo, me jogar imediatamente em outro? Não acreditava ser capaz de agir como Bruno, que parecia não se importar com quem estava ao seu redor.E mesmo qu
A atmosfera ficou sufocante com a aparição de Bruno. Ao ver o carro de Bruno, meu corpo estremeceu. Ele não deveria estar com Maia? Ele não prometeu dar a ela o melhor de tudo? Como era possível que ele estivesse aqui? Como ele poderia estar embaixo do meu prédio? Meu coração começou a se agitar novamente, descontrolado. Por que ele podia, vez após vez, bagunçar a minha vida? Eu queria que uma doença grave me atingisse, algo que me fizesse perder a memória para sempre. Seria melhor se eu esquecesse esse homem de uma vez por todas! Por dez segundos completos, fiquei tonta com o brilho dos faróis de seu carro. Quando me dei conta, já estava segurando o rosto de Rui com as duas mãos, engolindo em seco... Rui sorriu. — Ana, você está com uma expressão cheia de desejo agora. Apertei seu rosto com força! Ele soltou um gemido suave, olhando-me com uma expressão de falsa tristeza, mas que tinha algo de sedutor. — Não faça isso. Eu estava começando a me descontrolar. N
Corri imediatamente para lá, segurando com as duas mãos o pulso de Bruno, que estava agarrando a gola da camisa de Rui, na tentativa de separá-los. Ele apertava com tanta força que as veias em sua mão se destacavam, estendendo-se até o interior da manga, onde meus olhos não podiam alcançar.Levantei os olhos para encará-lo. Seu rosto inteiro parecia envolto pela escuridão da noite, e até mesmo o olhar dele estava obscurecido por uma sombra densa. Apertei ainda mais minhas mãos.— Bruno, solte-o! — Ordenei.Ele abaixou o olhar levemente, seus olhos profundos cheios de questionamento, e sua voz saiu rouca:— Ana, você está defendendo ele? Você realmente está do lado dele?Rui abriu um sorriso sarcástico, sem sequer tentar se defender, exibindo um olhar desdenhoso, como se dissesse "você não consegue ver isso?".Bruno apertou os dentes com força, a linha de seu maxilar tão tensa que poderia refletir a luz dos faróis. Com as palavras saindo por entre os dentes cerrados, ele murmurou:— N
Sem surpresas, Bruno entrou no meu apartamento tão facilmente quanto se fosse a própria casa. Ele acendeu a luz e, a alguns metros de distância, nos encaramos. Ele até me perguntou: — Você não vai entrar?Entrar? Entrar para quê? Ficar sozinha com ele em um cômodo?Eu me sentia como se estivesse sonhando. Olhei para ele e murmurei: — Ex-marido...Meu ex-marido, na minha casa? Isso era surreal, não importava como se olhasse.— Como você me chamou? Ele aumentou o tom, e seus olhos profundos revelaram um frio cortante que me fez tremer sem que eu percebesse.— Ex-marido... — Falei suavemente. — Vou apagar sua digital. Da próxima vez, não venha mais aqui.Bruno mastigou mentalmente a palavra "ex-marido", em silêncio, sem me responder. A luz automática do corredor acendeu e apagou. Eu estava parada na porta, sem saber se entrava ou saía. Minha mão segurava a maçaneta com tanta força que as juntas dos dedos estavam brancas.— Já está na hora de você ir embora. Vamos seguir em
Diante de um homem fora de si, eu nem sequer tinha forças para chorar. Tudo o que sentia era uma profunda sensação de impotência. Meu coração estava mergulhado em uma tristeza sem fim. O toque dele não despertava nenhuma emoção em mim; era apenas uma forma de ele se aliviar. Sem esperança, inclinei a cabeça para trás, tentando evitar seus beijos, rezando para que ele parasse.— Já chega! Bruno, saia da minha casa! Eu nunca mais quero te ver!— Não quer me ver? Então quer ver quem? — Ele rasgou minha camisa com força, e suas mãos começaram a vagar sem pudor. — Ana, você diz que não quer me ver, mas seu corpo está me dizendo outra coisa. Ele não te satisfez? Implora pra mim, e eu te dou o que você precisa! Ele retirou a mão, dobrando e estendendo os dedos diante dos meus olhos, como se me provocasse. Naquele momento, senti um ódio como nunca antes. Ele havia transformado algo natural e belo no corpo de uma mulher em uma marca de vergonha, e agora a cravava em mim com crueldade.
A borda do pingente cortou o rosto de Bruno, deixando uma marca de sangue. Ele inclinou levemente a cabeça, olhando na direção em que o colar havia caído, com uma expressão de alguém profundamente abalado. — Não enlouqueça mais comigo, e pare de desperdiçar seus sentimentos! Não interfira mais na minha vida, não importa com quem eu esteja, mas uma coisa é certa: essa pessoa nunca será você! Bruno virou a cabeça devagar, seus olhos se estreitaram ligeiramente, e seu olhar atravessou o ar cheio de poeira, pousando sobre o meu rosto. Ele não sabia o que estava acontecendo com ele, mas algo em seu peito doía de maneira insuportável. — Admito que desperdicei sentimentos com você, mas não vou admitir que enlouqueci por sua causa! Ele se segurou no peito, cambaleando ao se levantar. Seus olhos vermelhos estavam cobertos de veias escuras, e ele abaixou o olhar para mim. — Eu só estou dizendo para você ficar longe de outros homens! Mordi os dentes com raiva, sentindo a fúria crescen
Eu estava exausta e com sono, mas, mesmo com os olhos marejados de tanto sono, ainda assim não conseguia dormir. De madrugada, peguei minha pequena mala e me mudei para a casa da Luz. Ela foi muito compreensiva comigo, dizendo que eu só estava doente e que, com o tempo, tudo ficaria bem. Na verdade, o que eu queria mesmo era evitar o Rui. O que aconteceu hoje foi muito embaraçoso, e eu não fazia ideia de como encará-lo depois. Com medo de que, após ser levado para casa, ele voltasse para me procurar, decidi sair de uma vez. De qualquer forma, a Luz não tinha namorado, então eu não atrapalharia sua vida... Ela ficou bastante contente com minha chegada. Apesar de ter dito que eu não podia continuar me afundando nesse turbilhão de sentimentos, no fundo, ela estava aproveitando para ganhar uma ajudante de graça. Ela começou a me levar para o trabalho. Os casos do Escritório de Advocacia X, que ela precisava buscar pessoalmente, eram o que sustentava toda a equipe. Luz começou a
Do lado de fora da janela do carro, o fluxo incessante de veículos refletia o ritmo apressado da cidade. Luz soltava suspiros cada vez mais pesados.— Eu não vou permitir que você se rebaixe a ponto de procurar aquele desgraçado. Se for necessário, podemos tentar entrar em contato com o Juan. Vocês, ao menos, foram colegas de classe, ele não recusaria ajudar você, certo?Minha atenção se desviou da paisagem além da janela e se voltou para o rosto de Luz.— Não vá atrás dele.A expressão de Luz ficou complicada, e ela permaneceu em silêncio por um longo tempo antes de falar:— Eu sei que o Juan te ajuda por consideração ao Rui, mas esse Rui... Também não dá para confiar! Já se passou mais de um mês, e ele sequer deu as caras!Eu a lembrei suavemente:— Eu e ele nunca tivemos nada.Ao mencionar Rui, uma preocupação silenciosa crescia dentro de mim. Já fazia mais de um mês que ele não aparecia, e eu temia que sua liberdade estivesse sendo controlada pela própria família. E quem estaria po