Ficar doente era fácil, mas se recuperar era difícil. Essa doença parecia ter se agarrado a mim de forma teimosa, sem querer me deixar. Eu estava emagrecendo muito nos últimos tempos. Não queria que Bruno pensasse que eu estava mal sem ele, então fiz questão de usar roupas bem grossas. Envolvi-me de forma bem cuidadosa, até encontrei os óculos de sol que raramente usava, apenas para esconder as profundas olheiras que afundavam meu rosto. O céu estava tão nublado que parecia ameaçador. Quando o celular tocou, uma fissura estranha de luz cortou o céu, e a voz de Bruno veio acompanhada pelo som do trovão. Eu nem conseguia distinguir qual dos dois tinha o tom mais grave. Ele me apressou: — Por que você ainda não chegou? Olhei para o vazio além da janela. O mundo estava tão distorcido que só restavam sombras. A cortina de chuva parecia criar uma barreira entre mim e o resto do universo, isolando tudo, tornando impossível ouvir ou enxergar direito. Mas por que, então, eu ai
Maia contraiu levemente os lábios e disse com indiferença: — Srta. Ana, suas palavras são cruéis demais, não acha? Por que tanta pressa? Eu sorri, olhando para Maia. — Estou com pressa por você. “Bichinho de estimação” soa tão barato. O rosto de Maia ficou alternadamente pálido e vermelho, e a mão que ela tinha entrelaçada no braço de Bruno se apertou de repente. Mas ela era mais sensata que Gisele. Não fez uma cena, apenas disse a Bruno: — Bruno, vamos logo, a tia e o tio ainda estão nos esperando. Isso foi, sem dúvida, uma maneira indireta de me informar que ela já havia sido aceita pelos pais de Bruno. Pois bem, eu esperaria. Queria ver se Bruno realmente conseguiria se casar com ela na família Henriques enquanto Pietro estivesse vivo. Bruno não se explicou nem se defendeu. Ele apenas virou ligeiramente a cabeça para me olhar, seus olhos frios e calmos. — Vamos. Entre nós, era como se fôssemos os estranhos mais íntimos. Aquele "vamos" provavelmente era dirigi
O peito de Bruno, que subia e descia de forma agitada, foi se acalmando aos poucos. Ele abraçou Maia com força, puxando-a para si com violência.— E daí que eu tenha um animal de estimação? Se eu tiver, só crio os que são dóceis e obedientes, não como você! O que são milhões de reais em fogos de artifício? Maia, esta noite vou fazer a cidade inteira brilhar para você, vou te mostrar o que é uma verdadeira celebração! Mesmo que eu a trate como um animal de estimação, eu a faria mais feliz do que você! Olhe para o seu estado miserável, com o Rui, você também não está vivendo nada bem! — Bruno, não faça isso. Aqui tem muita gente, não é lugar para conversar. — Maia aconselhou no momento certo, sua voz agora claramente mais firme do que antes.Eu senti como se algo me perfurasse o coração, arrancando pedaços. Cada memória trazia uma dor que parecia cortar os ossos. Por mais que Bruno estivesse irritado comigo, ele não deveria ter mencionado aquele espetáculo de fogos de artifício. Ele
O meu divórcio de Bruno acabou gerando bastante alvoroço. Não foi por qualquer outro motivo, mas porque, na noite do divórcio, ele cumpriu o que havia dito e encheu a cidade de fogos de artifício para Maia. Era como se quisesse me mostrar que toda a atenção e carinho dele agora seriam para ela. Foi um espetáculo ainda maior do que o da nossa viagem junta. Pelas ruas, multidões paravam para assistir, e todos exclamavam: — Que coisa mais linda! Os grandes meios de comunicação faziam questão de destacar o estilo extravagante dele, e alguns até criaram manchetes românticas: "A redenção da juventude se tornou a luz de ambos, e o herói de Maia finalmente veio para se casar com ela". Foi só então que a notícia do nosso divórcio veio à tona, causando um grande alvoroço na internet.Eu, sendo uma pessoa comum, deveria ter desaparecido aos poucos do radar das pessoas após o fim da polêmica entre Ursula e Kevin. Mas, por causa de Bruno, acabei me tornando tema das conversas alheias.
Rui não estava mais agindo de forma brincalhona como antes; ele me observava em silêncio, e seu olhar ardente gradualmente deu lugar a uma expressão tensa.A cada segundo, o pomo de Adão dele descia e subia, como se estivesse engolindo saliva incessantemente, esperando ansiosamente pela minha resposta. Minhas lembranças começaram a vagar enquanto suas palavras ecoavam, levando-me de volta ao passado.Naquela época, eu achava Rui realmente insuportável. Ele, com sua estrutura maior, tinha a cabeça pesada, e, quando a apoiava no meu ombro, me causava uma dor incômoda. Ele não sabia, como agora, dosar sua força ou manter uma distância adequada. Muito menos lançava sobre mim esses olhares intensos que, hoje, faziam meu coração arder desconfortavelmente.Eu tinha acabado de sair de um relacionamento. Como eu poderia, após escapar de um abismo, me jogar imediatamente em outro? Não acreditava ser capaz de agir como Bruno, que parecia não se importar com quem estava ao seu redor.E mesmo qu
A atmosfera ficou sufocante com a aparição de Bruno. Ao ver o carro de Bruno, meu corpo estremeceu. Ele não deveria estar com Maia? Ele não prometeu dar a ela o melhor de tudo? Como era possível que ele estivesse aqui? Como ele poderia estar embaixo do meu prédio? Meu coração começou a se agitar novamente, descontrolado. Por que ele podia, vez após vez, bagunçar a minha vida? Eu queria que uma doença grave me atingisse, algo que me fizesse perder a memória para sempre. Seria melhor se eu esquecesse esse homem de uma vez por todas! Por dez segundos completos, fiquei tonta com o brilho dos faróis de seu carro. Quando me dei conta, já estava segurando o rosto de Rui com as duas mãos, engolindo em seco... Rui sorriu. — Ana, você está com uma expressão cheia de desejo agora. Apertei seu rosto com força! Ele soltou um gemido suave, olhando-me com uma expressão de falsa tristeza, mas que tinha algo de sedutor. — Não faça isso. Eu estava começando a me descontrolar. N
Corri imediatamente para lá, segurando com as duas mãos o pulso de Bruno, que estava agarrando a gola da camisa de Rui, na tentativa de separá-los. Ele apertava com tanta força que as veias em sua mão se destacavam, estendendo-se até o interior da manga, onde meus olhos não podiam alcançar.Levantei os olhos para encará-lo. Seu rosto inteiro parecia envolto pela escuridão da noite, e até mesmo o olhar dele estava obscurecido por uma sombra densa. Apertei ainda mais minhas mãos.— Bruno, solte-o! — Ordenei.Ele abaixou o olhar levemente, seus olhos profundos cheios de questionamento, e sua voz saiu rouca:— Ana, você está defendendo ele? Você realmente está do lado dele?Rui abriu um sorriso sarcástico, sem sequer tentar se defender, exibindo um olhar desdenhoso, como se dissesse "você não consegue ver isso?".Bruno apertou os dentes com força, a linha de seu maxilar tão tensa que poderia refletir a luz dos faróis. Com as palavras saindo por entre os dentes cerrados, ele murmurou:— N
Sem surpresas, Bruno entrou no meu apartamento tão facilmente quanto se fosse a própria casa. Ele acendeu a luz e, a alguns metros de distância, nos encaramos. Ele até me perguntou: — Você não vai entrar?Entrar? Entrar para quê? Ficar sozinha com ele em um cômodo?Eu me sentia como se estivesse sonhando. Olhei para ele e murmurei: — Ex-marido...Meu ex-marido, na minha casa? Isso era surreal, não importava como se olhasse.— Como você me chamou? Ele aumentou o tom, e seus olhos profundos revelaram um frio cortante que me fez tremer sem que eu percebesse.— Ex-marido... — Falei suavemente. — Vou apagar sua digital. Da próxima vez, não venha mais aqui.Bruno mastigou mentalmente a palavra "ex-marido", em silêncio, sem me responder. A luz automática do corredor acendeu e apagou. Eu estava parada na porta, sem saber se entrava ou saía. Minha mão segurava a maçaneta com tanta força que as juntas dos dedos estavam brancas.— Já está na hora de você ir embora. Vamos seguir em