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CAPÍTULO 2: UM NOVO RECOMEÇO PARA UMA VELHA HISTÓRIA.

No dia seguinte, acordei cedo e fui dar uma corrida na praia, como fazia quando morava aqui. Tinha tido uma boa-noite de sono comparado ao que aconteceu ontem, eu apostava que iria ter algum pesadelo e com tudo o que vem com isso, a dor de cabeça e as marcas bizarras, nada disso aconteceu.

Não morávamos longe da praia, uns sete minutos de caminhada e já estávamos nela. Eu não corria quando estava na Itália, por conta disso resolvi começar uma caminhada e então aumentando o ritmo para uma corrida. Meia hora depois eu já estava correndo em uma velocidade razoável, conseguia sentir o vento bater no meu rosto, o cheiro do oceano e o barulho das gaivotas tentando pegar algum peixe. Havia esquecido de como era bom fazer isso, era algo libertador. Como se correndo, eu pudesse abandonar todas as minhas preocupações.

Não devia ser mais do que oito horas da manhã quando finalizei a corrida. Resolvi voltar para casa, tomar café da manhã e me manter ocupada até dar o horário de me encontrar com a Natasha.

No caminho de volta para casa, resolvo fazer um caminho diferente da qual eu havia feito para chegar na praia, queria relembrar dos lugares da cidade.

Andando em uma rua deserta a essa hora da manhã, escuto um grupo de garotos conversando alto e andando em minha direção, era um grupo de cinco ou seis rapazes com a faixa de dezesseis a dezessete anos. Resolvo mudar de calçada para não ter que enfrentar cantadas idiotas e brincadeiras infantis. E como previsto, o grupo caminhou em minha direção e falavam cada vez mais alto para tentar chamar a minha atenção. Continuei a caminhar, até que um dos garotos atravessou a rua e veio em minha direção. Apertei o passado e isso mal adiantou, o garoto logo me alcançou.

—Ei, qual é o problema, linda? Está com pressa, por quê? —disse o garoto com uma voz mole e pesada, provavelmente bêbado.

Simplesmente ignorei e continuei andando, já tinha muita coisa acontecendo comigo para ficar dando atenção para garotos adolescentes idiotas.

Mesmo ignorando o rapaz, ele não desistiu e continuou tentando passar cantadas bregas, até que ele percebeu que eu não ia responder nenhuma delas, ele entrou em minha frente, me fazendo parar bruscamente e trombar em cima dele sem querer.

—Nossa linda, calma. Não precisa se atirar para cima de mim —comentou rindo e me segurando pelos meus braços.

Tentei me desvencilhar de suas mãos e seguir meu caminho, porém seu aperto em meus braços ficou mais forte.

—Tem como sair da minha frente, idiota? Não estou com paciência ou sequer com tempo para ficar de graça com criança —disse rispidamente e empurrando ele da minha frente, finalmente me desvencilhando de suas mãos.

—Que isso linda, não precisa ser grossa. Vamos conversar, sabia que você é muito linda? —perguntou enquanto se colocava na minha frente novamente.

—Tem como você cair fora? Eu não quero saber se me acha linda ou feia, eu nem quero saber de você.

Ao dizer isso, dei a volta por ele e voltei a andar, até que sinto ele segurar meu braço.

—Olha aqui garota, estou tentando ser legal. Então não seja grossa, entendeu? —falou de forma ríspida enquanto apertava o meu braço com força.

Ótimo, agora vou ser espancada no primeiro dia de volta. Parabéns Mikaella, você realmente chegou ao ápice dos problemas.

—Largue meu braço, você está me machucando e eu vou ser o que eu quiser. Você é burro e não percebe que não quero nenhum pouco em saber se você está sendo legal ou não. Então larga o meu braço —pedi enquanto puxava meu braço para longe dele.

Percebendo que ele não iria desistir, senti minhas veias pulsarem dentro da minha pele. Meu corpo todo parecia com eletricidade, com fogo correndo pela minha pele. Senti meu braço ficar quente no local em que o garoto segurava.

O rosto do rapaz que antes era de malandragem, transformou em desespero e medo. Tudo ocorreu muito rápido que eu não consegui processar completamente. Antes que qualquer um de nós dois entendesse o que acontecia, escuto uma voz atrás de mim.

—Você é surdo, Nicholas? Ela disse para você largar o braço dela.

O garoto chamado Nicholas soltou meu braço como se segurasse uma panela fervente, a palma da sua mão estava vermelha, com queimadura de primeiro grau.

Nicholas se afastou de mim alguns passos.

—Relaxa, Gabe! —respondeu apreensivo. —Ela nem é tudo isso.

Gabe surgiu ao meu lado de braços cruzados.

—Não foi isso que eu notei pelas suas investidas. Caí fora, antes que você arrume problemas mais sérios do que um fora, Nicholas —ameaçou Gabe.

—Beleza, tanto faz. Ela é estranha —comentou, enquanto olhava para a própria mão e se afastar de nós dois.

Olhei para o Gabriel e fiquei impressionada como ele estava calmo e controlado nessa situação. Parecia que ele não havia notado a queimadura na mão de Nicholas. Virei meu braço para ver se havia alguma marca e estava sem nada, nem a marca do aperto de Nicholas estava lá, era como se nada tivesse acontecido.

—Uau, nossa! Obrigada, Gabriel, isso foi incrível, valeu —agradeci

—Não foi nada, eu e ele nunca nos demos bem depois que fiquei com a namorada dele —respondeu com se fosse algo normal que ele fazia.

—Ah —foi a única coisa que consegui dizer. —Obrigada mesmo assim, tchau.

Voltei a caminhar de voltar para casa e ele também, ao meu lado.

—Estava indo para a sua casa encontrar com o seu irmão, treinar antes do jogo. Posso te acompanhar se você não se importar —sugeriu.

—Hum... tudo bem, sem problemas. Jogo de futebol, né? —perguntei na dúvida.

—Vôlei na verdade, mas foi perto —respondeu rindo.

—Desculpa, vôlei... verdade. E vocês são bons?

Gabe fez uma careta e deu de ombros.

—Não somos os piores, sabe? —disse rindo ainda.

Eu ri com a sua resposta e continuamos a caminhada para a minha casa em uma conversa agradável.

Enquanto caminhava e conversava com Gabriel, descobri algumas coisas sobre ele e meu irmão que me fizeram pensar em quem tinha iniciado a amizade entre os dois. Pelo o que descobri, Gabriel estudava na mesma sala que meu irmão, tinham um time de vôlei, saiam para quase todos os estilos de festa e em fato, ele tinha acabado de sair de uma quando resolveu ir para minha casa chamar meu irmão. Devia ter a mesma idade que meu irmão e não parecia ligar muito em disciplina ou para a opinião dos outros, não fugir de uma briga quando via uma, independente do que fosse, se visse que a briga estava sendo injusta ele defendia o mais fraco. E ele dizia isso com um orgulho que me fez pensar que as garotas da idade dele deviam achar isso incrivelmente sexy, ter um badboy sexy e herói.

Porém, quando percebeu que isso não causava nenhum efeito positivo que ele estava acostumado a ter, parou de falar sobre o assunto e me fez perguntas sobre a Itália. E ele realmente parecia interessado e concentrado em cada palavra que eu falava, ele só me interrompia para fazer uma pergunta ou outra para tirar uma dúvida ou por curiosidade.

Quando chegamos na minha casa, minha família toda já estava acordada tomando café da manhã. Gabriel se juntou a eles enquanto eu subia para tomar um banho e trocar de roupa. Antes de entrar no chuveiro, mandei uma mensagem para o celular da Natasha avisando que seu irmão estava aqui e lhe perguntando se ela gostaria de passar mais cedo para nos vermos e tomar café da manhã conosco. Assim que enviei a mensagem e fui em direção ao meu guarda-roupa senti que tinha alguém atrás de mim, quando me viro para mostrar para mim mesma que não tem ninguém me observando, vejo sentado em minha cama... Troy.

Um grito escapa da minha boca e meu corpo todo vai para trás, fazendo minhas costas baterem na porta do guarda-roupa com força.

—AAAH! —gritou Troy de volta, rindo. —Você quase me matou do coração, Ella.

Fiquei em choque e me encostei no guarda-roupa encarando a alucinação do Troy, até que meu pai entrou no quarto preocupado.

—O que houve? Você gritou. Aconteceu alguma coisa? Se machucou? —perguntou Matt, com tom de preocupação enquanto olhava o quarto procurando o motivo da gritaria.

Entretanto, ele não conseguia ver o Troy sentado em minha cama, olhando para nós com um sorriso meigo em seus lábios e um olhar de divertimento; como se achasse graça na situação.

—Nada não, pai. Eu vi uma barata subindo pelo meu pé e me assustei, ela saiu correndo já —respondi nervosa, olhando para ele e o Troy ao mesmo tempo. —Está tudo bem, desculpa ter assustado vocês, pode voltar lá para baixo, eu irei tomar um banho e logo já desço, ok? —falei, empurrando-o gentilmente para fora do quarto.

Fechei a porta quando meu pai saiu e me encostei nela com a respiração ofegante, olhei para cama e Troy ainda estava lá.

Fechei os olhos fortemente e balancei a cabeça querendo apagar qualquer alucinação que eu estaria tendo. Nisso escuto Matt falando alto enquanto desce as escadas que eu apenas tinha me assustado com uma barata.

Ao abrir os olhos para ter certeza de que Troy já havia sumido, tomo mais um susto ao vê-lo próximo a mim, de pé na minha frente sorrindo.

—Ei, por que você demorou tanto? A gente tinha combinado de ir para o cinema, lembra? —disse Troy.

Dei a volta nele, me afastando e indo para o outro lado do quarto.

—Isso não é real. Não é real. Você não está aqui. É tudo fruto da minha imaginação. —Fiquei andando de um lado para o outro encarando Troy que me olhava com um olhar confuso. —Eu estou sonhando, é isso. É, é isso! Estou simplesmente sonhando! Igual os outros sonhos malucos que eu tenho tido nos últimos meses, eu vou acordar agora e você não estará mais aqui —disse enquanto fechava meus olhos mais uma vez e os abri de novo, Troy continuava parado em minha frente.

—Sabe, isso está ficando meio esquisito Mikaella. Podemos ir logo para o cinema? Senão vai ficar tarde para pegar uma sessão —respondeu Troy.

—Você não é real! Você não é real! —disse com firmeza. —Sai daqui, saia da minha cabeça —ordenei.

—Ella? O que houve? —perguntou enquanto andava em minha direção.  —Você está bem?

Quando Troy andava em minha direção e fazia as perguntas, ele começou a sumir aos poucos. Até que quando estava perto de me tocar, ele havia desaparecido completamente.

Respirei fundo e soltei o ar pela boca, sentindo a minha respiração ficar totalmente acelerada e ofegante. Apoiei minhas costas na parede e comecei a deslizar para o chão até acabar sentada.

Aproximei meus joelhos até meu peito e apoiei meus braços nele e tampei meu rosto com a minha mão.

—O que está acontecendo comigo? O que há de errado comigo, meu Deus? —fiquei me fazendo essas perguntas enquanto tentava não chorar.

Porém as lágrimas vieram involuntariamente.

Por que meu mundo parece ser de outra pessoa? Pensei.

Fiquei por quase meia hora chorando no chão do quarto. Até que Natasha bateu na porta perguntando se podia entrar enquanto já estava com a metade da porta aberta e entrando.

—Meu Deus Mika, o que houve? —perguntou assustada e preocupada.

Eu só balancei a cabeça e continuei chorando. Ela veio ao meu encontro, se ajoelhou ao meu lado e me abraçou.

—Está tudo bem, está tudo bem, pode chorar meu anjo. Estou aqui —sussurrou Natasha me confortando e fazendo carinho em meus cabelos.

—Eu não consigo mais, eu não aguento mais Nat, ainda dói muito —desabafei chorando em seu ombro.

—Eu sei, querida. Eu sei que é difícil, porém você irá superar.

—Não, eu não irei. Achei que iria, mas estou ficando louca, Natasha. Eu estou perdendo a cabeça! —disse desesperada.

—Eu vi o Troy aqui sentando e ontem eu vi um rapaz do outro lado da rua fazendo algo bizarro com serpentes e rosas, hoje eu tenho quase certeza de que causei queimaduras na mão de um garoto idiota só porque ele estava me machucando.

Natasha me encarou com a expressão de que esperasse que fosse algum tipo de brincadeira, mas quando percebeu que não era, que eu estava falando sério, ela invés de falar que eu estava sob efeitos de drogas ou realmente louca, ela simplesmente me abraçou mais forte.

—Tudo bem Mikalica, me conta direito essa história. Que tal? —pediu com um sorriso meigo nos lábios.

Quando Natasha me chamava pelo apelido Mikalica, sabia que ela estava colocando o código de melhores amigas na mesa, que não importa o que eu falasse ela não iria julgar a não ser que eu pedisse. Então respirei fundo e resolvi contar tudo desde o começo.

Contar tudo para Natasha foi algo que senti ter ajudado bastante, nunca havia contado para ninguém nada sobre o assunto e dividir isso com a minha melhor amiga foi como tirar um peso dos meus ombros. Ela escutou tudo sem interromper com comentários negativos ou maldosos. Ela e eu nos deitamos lado a lado na cama enquanto eu ia contando e ela ouvindo, acenando com a cabeça para mostrar que estava prestando atenção.

Quando terminei de contar tudo, fiquei em silencio esperando sua resposta. Não conseguia olhar ela nos olhos, porque não queria ver a expressão de indignação, preocupação ou medo pela minha vida, então fiquei olhando para minhas mãos enquanto esperava uma resposta. E o que ela respondeu foi algo que eu nunca poderia esquecer.

—Bem Mikaella, às vezes pessoas têm dons que nunca podemos explicar. Isso não as tornas menos normais ou menos insignificantes ou completamente loucas —disse Natasha e segurou minha mão. —Isso significa que elas são especiais, incríveis e extraordinárias.

Eu olhei para ela enquanto dizia isso, apertei sua mão junto a minha e sorri.

—Não me acha louca então? —perguntei indecisa.

—Ah, com certeza acho! Completamente maluca, pirada, insana. Afinal, quem em sã consciência iria para a Itália e não traz nenhum presente para a única e melhor amiga que tem? —respondeu rindo. —Isso é um absurdo, estou indignada com a sua falta de senso, viu?

Dei risada e lhe abracei. Contar com a Natasha era o milagre que eu necessitava. Afinal, quando você conta para sua melhor amiga que você vê pessoas mortas e ela não sai correndo para te internar, isso significa amor.

—Sua idiota, eu estou falando sério —reclamei rindo.

—Você é a minha melhor amiga. Contando que não saia por aí com uma faca na mão dizendo que está perseguindo gnomos no jardim, não há motivos para eu te achar louca —declarou sorrindo. —E você sabe que eu me amarro nessas histórias sobrenaturais e tudo mais, isso vai ser o máximo —continuou animada, se levantando da cama e me olhando com um olhar de quem tinha um plano insano.

—Como é que é? O que você está pensando, Natasha? Porque eu conheço esse olhar e é o olhar de “prepare-se para uma missão estúpida”.

Natasha revirou os olhos e abriu o meu guarda-roupa e ficou avaliando o que havia dentro.

—Nós vamos para a biblioteca da cidade, pesquisar sobre fantasma e espíritos —respondeu e foi tirando algumas peças de roupa e jogando na cama. —Então vai agora tomar banho, porque menina você está com uma cara horrível, com os olhos vermelhos e inchados, nariz vermelho também e ainda por cima com meleca que parece que você está com aquelas doenças contagiosas de mil séculos atrás.

Fiz uma careta, sai da cama e me olhei no espelho, percebendo que ela tinha razão. Meu cabelo estava todo bagunçado e com alguns dos fios grudados em minha bochecha, na qual meu rosto realmente estava parecendo que tinha pegado uma gripe.

—Mas para que ir à biblioteca? Poderíamos fazer essa missão insana pelo computador sabia? Ou você é tão loira burra que não sabe mexer em um computador? —falei brincando.

—Vai se ferrar e enquanto estiver indo, não esqueça de parar no banheiro e ir tomar um banho —respondeu, mostrando o dedo do meio. —Iremos a biblioteca porque, primeiro: você necessita sair de casa. Segundo: é muito mais divertido fazer isso fora de casa, igual nos filmes. Terceiro: cala a boca e não reclama.

Apenas ri e concordei com a cabeça indo em direção ao banheiro.

Após ter tomado o banho e ter discutido com a Natasha sobre qual roupa eu deveria vestir para uma “missão espiritual”, como ela resolveu chamar, nós duas descemos e fomos para cozinha tomar o café da manhã.

Meus pais já haviam saído para resolver seus assuntos. Meu irmão e Gabriel estavam na sala conversando, quando passamos por eles acenei para os dois e os dei bom dia, mesmo já tendo visto o Gabriel mais cedo. Eu percebi que enquanto passava por eles, os olhos do Gabriel me seguiam e quando fui olhá-lo, ele desviou rapidamente.

O período da manhã estava agradável com a presença da Natasha, não estava nervosa ou com medo de ver o Troy ou qualquer outra pessoa me assombrando e perceber esse sentimento de segurança me deixou feliz.

—Sabe, acho que depois de irmos na biblioteca poderíamos ir ao shopping, preciso comprar umas camisetas novas, as minhas estão todas quase virando pijamas de tão velhas que estão —sugeri.

—Perfeito, compras! Amo fazer compras, poderíamos ir naquela loja chique que acabou de inaugurar. Sabe? —respondeu, toda empolgada.

—Não, eu voltei ontem, esqueceu criatura? —respondi rindo.

Natasha gargalhou enquanto balançava a cabeça, querendo fingir que não havia esquecido de tal fato. Nesse momento, Gabe e Lucca entraram na cozinha.

—Então, vocês vão no nosso jogo? —perguntou meu irmão, se debruçando na mesa da cozinha.

—Claro, não perderia por nada a chance de aloprar vocês quando perderem o jogo —brinquei.

—Fique sabendo que somos muitos bons, ok? O Gabe aqui é o capitão do time —respondeu Lucca, apontando para o Gabriel.

—Ei! Não coloca a minha bunda na reta, como se caso a gente perca a culpa seria totalmente minha, cara —disse Gabriel rindo. —E eu só sou o capitão porque no primeiro dia do jogo eu tinha levado uma garrafa de bebida e os rapazes beberam.

Olhei para os dois com um olhar de reprovação, os dois não tinham idade para beber, principalmente Lucca. Percebendo o meu olhar, os dois rapidamente mudaram de assunto.

—O jogo vai ser as três horas, ok? Lá perto do píer —avisou Lucca, enquanto saía da cozinha com o Gabriel.

Natasha e eu fomos de carro até a biblioteca da cidade, ligamos o rádio e cantamos todas as músicas que sabíamos. Até que em um momento o rádio ficou com estática, tentei mudar de estação, só que todas pareciam estar fora do ar. Enquanto tentando achar uma nova estação o barulho foi substituído por uma voz melancólica de um homem.

Aquela que a estrela brilhar o Sol queimara e o mundo sucumbira. Mikaella há de sangrar para as quatro luas poder salvar, aquele que você um dia achara que havia perdido para sempre irá retornar —a voz melancólica cantarolou as palavras de forma singela e neutra, como se as palavras pudessem flutua para fora do rádio e pousar em nossos colos.

Um ar gelado havia invadido o carro, causando os meus pelos do meu corpo arrepiarem e um frio correr pela minha espinha. Logo após isso, o rádio voltou ao normal.

Olhei para Natasha assustada e percebi que ela também ouvira.

—Que porra foi essa, Mikaella? —perguntou assustada.

—Eu não sei. Isso nunca aconteceu antes —confessei amedrontada.

—Isso está ficando sério, Mika. Sem ofensas, mas uma coisa é você ver coisas sinistras, outra é eu presenciar uma coisa sinistra —respondeu.

Concordei com a cabeça e estacionei o carro na frente da biblioteca, porque não paravam de buzinar atrás de nós. Ficamos em silêncio tentando absorver o que acabara de acontecer.

Quando eu estava pronta para sair do carro Troy reaparece no banco de trás.

—Então já chegamos no cinema? Ah, a Shasha vai com a gente? Legal! —comentou Troy animado.

—Ele está aqui —murmurei para Natasha.

—Quem está aqui, Mikaella? —perguntou enquanto olhava o banco de trás do carro —Não vejo ninguém.

—Troy.

—O que foi? Por que estão me olhando assim? —perguntou Troy confuso.

—Er... o que ele está fazendo? —perguntou Natasha.

—Está perguntando o porquê de estarmos olhando para ele assim.

—Bem, eu não estou olhando nada porque não estou vendo nada.

—Como é? Eu estou aqui, Natasha —respondeu Troy, ficando sério.

—Nat, vai lá para a biblioteca e procura alguns livros, eu vou ficar aqui e ver no que isso leva.

—Tem certeza?

Acenei confirmando com a cabeça e ela saiu.

Ok, meu namorado que morreu a dois anos está sentado no banco de trás do carro sem saber que já morreu. Eu acabei de ouvir um a voz completamente sinistra no rádio falando que irei sangrar por quatro luas e que quem eu achei que havia perdido para sempre iria retornar e essa é a única parte que entendi. Troy aparecer podia significar isso, que ele tinha voltado, não como um ser vivo, entretanto é melhor do que nada. Então, tudo bem, vou fazer isso e não irei surtar, se realmente existe magia, espíritos e qualquer coisa sobrenatural eu posso lidar perfeitamente como isso.

Eu respire fundo e virei meu corpo para trás para poder olhar o Troy e com uma calma que eu não sei de onde tirei, comecei a falar com ele.

—Meu anjo, você sabe a onde está? —perguntei para Troy.

—Estou aqui no carro com você para irmos no cinema. Mikaella, o que está havendo? —perguntou confuso.

—Qual é a última coisa que você se lembra, meu anjo?

—Como assim: qual é a última coisa que me lembro? —disse indignado. —Mikaella, por que você está me fazendo essas perguntas?

Porque você não deveria estar aqui, porque você morreu em um acidente de moto a dois anos e eu sinto tanta a sua falta que dó em meus ossos.

—Troy, tenta lembrar, por favor...por mim — pedi calmamente. —Você não deveria estar aqui, tenta se lembrar o porquê.

Ele ficou me olhando com a testa franzida, com um olhar de quem realmente estava se esforçando para lembrar de algo, mas não conseguia. Até que ele inclinou seu corpo para frente e colocou sua mão em meu rosto, mas ela simplesmente atravessou. Nós dois nos encaramos assustados e logo em seguida olhamos para a sua mão.

—Que merda está acontecendo, Mikaella? O que há de errado comigo que eu não consigo tocá-la? —perguntou apavorado, tentando mais uma vez tocar meu rosto e sua mão apenas atravessando mais uma vez meu rosto.

Meu coração apertou em meu peito, ele estava a centímetros de mim e mesmo assim eu nunca poderia tocá-lo outra vez, era como te rum deslumbre do paraíso pela janela, mas não podendo ver a paisagem inteira, apena isso... um deslumbre.

Quantas vezes orei e desejei poder vê-lo mais uma vez, ver seu sorriso, seus olhos e agora ter tudo isso e não poder tocá-lo, não poder sentir ele e seu toque em meu rosto que eu tanto tenho saudades.

Se havia realmente um Deus, ele tinha um senso de humor muito cruel.

—Troy olha para mim, olha bem para mim —ordenei com uma voz doce e calma. —Olha para o meu rosto e tenta ver algo diferente que possa te fazer lembrar do que houve.

—Tudo bem... —respondeu apreensível enquanto me olhava.

Seu olhar era de quem estava vendo as estrelas e a lua pela primeira vez, seus olhos tinham um brilho que parecia ser uma constelação de estrelas, ele tinha os mais lindos olhos azuis meio esverdeados envolta das pupilas que eu já tinha visto. Enquanto eu lhe dava tempo para me observar e ver que mudei tanto desde a última vez que nós vimos, eu também o observava e revia suas afeições pela qual havia me apaixonado.

Ele continuava com a aparência de dezessete anos, com os cabelos pretos meio longos que ele sempre colocava atrás da orelha porque reclamava que ficava atrapalhando seus olhos, porém nunca queria cortar.

Sua boca avermelhada um pouco carnuda no lábio superior, sua sobrancelha esquerda tinha uma cicatriz de quando caiu tentando aprender a andar de bicicleta quando pequeno. Ele continuava o mesmo e ver tudo isso de novo estava me machucando. Eu queria tanto abraçá-lo, queria tanto sentir seus braços ao redor do meu corpo. Eu o queria tanto que desejei poder ter dezessete anos de novo e então poder tocá-lo.

Até que a expressão do Troy mudou, seu olhar passou de admiração para aquele olhar de choque, como se ele tivesse lembrado do que aconteceu. Eu apostava que devia ter se lembrado de tudo, do acidente, da dor, do medo de estar morrendo sozinho sem ninguém que ele amava estando por perto, o medo de estar perdendo a vida tão jovem.

—Eu lembro... —sussurrou, seu corpo foi para trás e se encostou no banco com um olhar perdido. —Eu estava voltando da cidade vizinha porque estava procurando um presente para o nosso aniversário, então começou a chover e um carro entrou na minha pista e eu... —parou de falar quando já sabíamos o óbvio.

Ele levantou os olhos em minha direção e vi que estavam cheios d’agua, percebi que ele estava se segurando para não chorar igual a mim.

—Quando isso aconteceu? Meus pais, eles estão bem? Minha irmã? —perguntou um pouco em choque e agitado.

Olhei para ele com tanta ternura e dor, porque eu não queria passar por isso, porém sabia que tinha que contar para ele, eu apenas não conseguia falar.

Troy me olhou e viu o que estava aconteceu comigo, a batalha que eu travava comigo mesma e ele então percebeu o que havia de diferente em mim.

—Você parece um pouco mais velha, minha Ella... continua sendo a garota mais linda que eu já vi em toda a minha vida —declarou com um sorriso fraco. —Há quanto isso ocorreu, Ella?

Não aguentando mais... eu senti as lágrimas caírem e rolarem pelo meu rosto. Por que eu tinha que sofrer isso tudo? Por que isso aconteceu conosco? Mesmo depois de todo esse tempo eu ainda não consigo acreditar que tudo isso aconteceu, que perdi o Troy cedo demais.

—Há dois anos. Estamos em julho de 2014, Troy —respondi chorando e triste.

Quando lhe disse, ele começou a chorar junto comigo e mais uma vez tento encostar a mão em meu rosto, porém dessa vez ele deixou alguns milímetros afastado para não atravessar. Nos fazendo fingir que estávamos mesmo sentindo um ao outro, eu coloquei a minha mão por cima da sua, imitando a mesma coisa.

—Ella... —sussurrou, enquanto sumia mais uma vez.

Depois que Troy havia desaparecido, fiquei alguns minutos dentro do carro me recompondo psicologicamente sobre tudo aquilo. Seja lá o que está acontecendo comigo, eu preciso aprender a como lidar. Aquela voz no rádio foi algo bom e ruim, pelo meu ponto de vista: ruim porque alguma coisa horrível poderia acontecer comigo; boa porque não fui a única que ouviu, Natasha estava lá e tinha escutado também, o que significa que não estava ficando louca, havia realmente alguma coisa sobrenatural acontecendo.

Sai do carro e fui para biblioteca encontra Natasha, para fazermos nossas pesquisas. Encontrei ela no terceiro andar da biblioteca,

em uma mesa com mais de trinta livros em volta com metade deles já abertos enquanto ela lia, cheguei perto da mesa e me sentei de frente para ela.

A biblioteca da cidade era um prédio antigo reformado com quatro andares, sua arquitetura era trabalhada com muitas janelas e uma claraboia, dando uma luz natural maravilhosa, com pouca luz elétrica que não havia necessidade. Mesas eram postas enfileiradas no primeiro andar, dividindo com as estantes altas, grossas de carvalho esculpidas com esculturas belíssimas a mão.

—Ei, o que você já achou? —sussurrei para não atrapalhar as outras pessoas.

Natasha levantou os olhos dos livros com um olhar intrigado e preocupado.

—Não achei muita coisa, afinal só li um até agora —falou enquanto levantava o livro que estava lendo.

—Então pra que todos esses livros abertos? —Olhei em volta na mesa pegando um e colocando de frente para mim.

—Achei que devia deixar um leque de possibilidades ué. Sabe, para ficar mais fácil —explicou.

—Entendo, bem vamos começar então —respondi, incentivando nós duas para começarmos a procurar algo naqueles livros.

Começávamos a ler livros na sessão espiritas e depois fomos passando para os livros sobre aparição de fantasmas, indo para os livros sobre significados dos sonhos e até procuramos em livros sobre feitiços, magia e bruxaria que se encontrava na sessão de religiões culturais antigas e quase nada nos ajudou a achar uma resposta para o que estava acontecendo comigo.

Quando decidimos que aquilo não tinha dado em muita coisa já estava quase na hora de irmos para praia ver o jogo dos meninos.

Resolvemos levar alguns livros para casa que poderiam nos ajudar e saímos da biblioteca. Entramos no carro e fomos em direção à praia, não ligamos o rádio com medo de que ele pudesse nos dar outra mensagem sinistra.

—E as coisas com o Troy como é que foram? —perguntou Natasha.

Dei de ombros enquanto dirigia.

—Transamos no banco de trás enquanto você estava lá fora —brinquei.

—Sua vaca, não tem graça —me repreendeu enquanto me dava um tapa na coxa.

—Eu sei, mas você me conhece, faço piadas com tudo, é o meu jeito. Porém, sinceramente eu não sei Natasha. Por alguma razão eu me sinto bem com isso, foi difícil e triste, ver ele de novo e não poder tocar nele e tudo mais, foi algo doloroso, mas eu pude vê-lo de novo, entende? Eu desejei por tanto tempo poder ter ele de volta e ele está aqui, eu não sei o que irá acontecer, o que isso tudo significa, só quero aproveitar essa situação —confessei enquanto estacionava em uma vaga perto da praia.

—Amiga e se algo de ruim acontecer com você nisso tudo? E se o Troy não for exatamente o Troy? Eu não quero que você se machuque Mikaella —respondeu me olhando com ternura. —Tenha cuidado, ok?

—Eu terei, prometo. Eu continuo apavorada com tudo isso, não irei mentir. Só que eu tenho a chance de ter mais um tempo com ele, não quero desperdiçar.

—Tudo bem, apenas tenha cuidado.

Concordei com a cabeça e saímos do carro.

—Já pensou como seria transar com um fantasma? —perguntou de repente.

—O que? Da onde você tira essas ideias?

—Ah sei lá, apenas curiosidade. Será que vocês teriam que usar camisinha? —perguntou rindo. —Sabe, caso você pudesse carregar um bebê fantasminha.

—Vai se ferrar, isso é biologicamente impossível e retardado da sua parte pensar isso —respondi gargalhando.

—Aham, sei. Como se você não tivesse pensado nisso, ainda mais quando ele era vivo e vocês pareciam dois coelhos com energético na veia, que eu sei.

—Não parecíamos não.

Lhe dei um empurrão nos ombros enquanto andávamos.

—Ah eram sim, dois pervertidos —reclamou rindo.

Revirei os olhos com essas palhaçadas que ela dizia enquanto nós duas andávamos em direção à praia. Ficamos fazendo graça e piadas entre nós até acharmos um lugar bom para nos sentarmos durante a partida de vôlei dos meninos.

Nos sentamos de baixo do guarda sol que os meninos haviam montado minutos antes da gente chegar, agora eles estavam conversando com um grupo de meninas que pareciam disputar a atenção deles de um jeito bem exagerado, rindo alto e tocando no cabelo ou qualquer outra parte do corpo que poderia chamar atenção deles. Olhando aquela cena, me fez lembrar de quando eu tinha essa idade e não consegui conter a risada.

—Está rindo do que, sua louca? — perguntou Natasha.

—Dessas pobres garotas atrás dos meninos, olha isso... —apontei para a direção dos rapazes. —O jeito que elas estão tentando chamar a atenção deles, é tão engraçado que chega a ser ridículo.

—Elas são a gente quando tínhamos essa idade.

—Eu sei, por isso estou rindo. É hilário ver que todas nós somos assim quando achamos um rapaz bonito, somos patéticas.

—Eles também são patéticos quando estão pertos de garotas.

—Com certeza não, eles são bem menos óbvios do que nós. Eles agem como idiotas, que é algo que eles fazem estando perto de uma garota bonita ou não. Garotos são idiotas.

—Falou tudo, irmã —respondeu rindo e estendo a mão para fazermos um toque de vitória.

Logo após meia hora, os meninos começaram a jogar e devo dizer... eles não eram ruins.

Já nos início do jogo eles abriram com vantagem de sete pontos e conseguiam defender os ataques do outro time. Natasha e eu gritávamos e torcíamos feito duas líderes de torcida para os nossos irmãos, pulando e batendo palmas para cada lance que eles faziam.

Durante a agitação do jogo, Troy havia aparecido de novo.

—Estamos torcendo para qual time? —perguntou ele de repente, me causando um leve susto.

—Caramba! Você tem que parar de aparecer assim.

—O que? —Natasha perguntou confusa.

—Ah, nada. Estou falando com o Troy.

—Entendi. Oi Troy —respondeu ela e voltando sua atenção para o jogo, já que ela não o via.

—Desculpa, eu não consigo controlar toda essa parada de ser um espírito ainda.

—Eu percebi. A onde você foi afinal? Você fica indo e vindo assim do nada.

—Na verdade eu não sei, eu simplesmente apareço com você. Não fico andando pela cidade assustando pessoas ou espiando garotas peladas em seus banheiros —respondeu brincando.

—Nossa, assim perde toda a graça de ser um fantasma, hein? —brinquei.

—Com certeza, eu achei que poderia descolar umas experiências loucas. Mas pelo o que parece, estou ligado só a você —disse sorrindo e me olhando.

—E isso é ruim? —perguntei insegura.

—Não. É a melhor coisa que eu poderia pedir como fantasma.

—Mesmo?

—Com certeza minha Ella. Eu não desejaria que fosse diferente.

Ele parecia ser sincero quando falava aquilo. Estávamos juntos de novo, de um jeito completamente fora do normal, mas era melhor do que nada.

—Então, você não respondeu a minha pergunta: para qual time estamos torcendo?

—Estamos torcendo para o time da direita, do meu irmão e do Gabe.

—Hum, entendi. O Gabe seria aquele sujeito que não para de te olhar? —observou Troy, apontando para o Gabriel.

—Ele não está olhando para mim, deve estar olhando para a Natasha que é irmã dele ou então alguma outra garota está atrás de nós —respondi, olhando de volta para os meninos jogando.

—Bem, para mim ele está com certeza olhando para você. Eu conheço aquele olhar, eu inventei aquele olhar, Ella —respondeu sério.

—Que olhar? Espera aí, você está com ciúme? —perguntei achando graça naquilo.

—Eu, com ciúme? Eu com ciúme de um pirralho como ele? —respondeu com um tom de deboche.

—O tal pirralho tem a sua idade, dezessete anos. E sim. Com certeza você está com ciúme —provoquei.

—Eu não tenho dezessete anos, como voltei eu tenho dezenove anos igual a você.

—Quem disse isso para você?

—Ninguém, apenas são os fatos da vida.

—Na qual você não está mais nela, esqueceu? —argumentei. Troy deu de ombros e ficou olhando o jogo.

—Isso é apenas um detalhe minúsculo —disse de forma séria.

Então a Natasha nos interrompeu.

—Seja lá qual for o papo de vocês dois, tem como continuarem depois? Estão atrapalhando —reclamou me olhando.

—Desculpa —respondi.

—Como posso estar atrapalhando se ela nem me ouve? —disse Troy emburrado.

—Mas ela me ouve.

—Silêncio —ordenou Natasha.

—Tá bom —retruquei revirando os olhos.

Nós dois então paramos de conversar e ficamos observando o jogo, Troy às vezes gritava junto com a gente, dando apoio para o time mesmo que eles não pudessem vê-lo. Às coisas estavam muito agradáveis e divertidas no jogo, nada poderia estragar.

Até que estragou.

Durante o jogo, o rapaz que eu havia visto na noite anterior reapareceu no meio do local da partida onde os meninos jogavam.

—Que porra aquele homem está fazendo ali? —perguntou Troy.

—Você também consegue ver ele?

—Claro, pôr que? Só você conseguia vê-lo?

—Sim.

—Vai ver ele está morto também.

Nisso o rapaz começou a andar e ir embora. Troy se levantou e começou a ir atrás dele. 

—O que você está fazendo? — perguntei preocupada.

—Vou segui-lo, ele pode saber o pôr que estou aqui afinal.

—Mas você disse que não consegue sair por aí.

—O que vocês estão falando, Mika? —perguntou Natasha.

—Troy quer ir atrás daquele cara que tinha aparecido do nada ontem à noite.

—O que? Pôr que?

—Ele acha que o rapaz pode ter alguma ideia do pôr que ele está aqui.

Enquanto eu explicava às coisas para Natasha, Troy já tinha saído correndo atrás do sujeito e quando percebi isso, os dois haviam sumido da minha vista.

—Droga, os dois sumiram —reclamei chateada.

—E agora? O que você vai fazer?

—Não tem nada que eu possa fazer, eu nem sei o que está acontecendo.

Eu só podia torcer para que Troy ficasse bem e descobrisse alguma coisa. E enquanto eu voltava a prestar atenção no final do jogo, sentia que aonde quer que o Troy estivesse, ele estaria fazendo de tudo para conseguir uma resposta.

No final do jogo, os meninos haviam ganhado por cinco pontos de diferença. Eu ainda estava preocupada com o Troy e o rapaz que havia aparecido, porém afastei essa preocupação quando os meninos vieram ao nosso encontro para comemorar.

Lucca ameaçara me abraçar, mas logo me afastei porquê que estava coberto de suor.

—Fique bem longe de mim com esse rio de suor que está o seu corpo.

—Isso aqui maninha, é o suor da vitória —respondeu orgulhoso.

—Isso é nojento na verdade.

—Tem umas gatas que acham sexy, é só observar —retrucou indo me direção ao grupinho de meninas que estavam olhando e torcendo por ele durante a partida.

Chegando nelas, Lucca as abraçou e até recebera beijo na bochecha de todas elas. Ele olhou em nossa direção e piscou. Ele tinha razão, havia garotas que achava aquele suor todo muito sexy e era algo muito engraçado de se ver. Meu irmão não era mais uma criança, já virara um adolescente que despertava o interesse das garotas, havia virado um bonito rapaz e é claro que ia ter várias garotas atrás dele e ver aquilo tudo só confirmou tal fato.

—Não é que aquele idiota tem razão —falei rindo.

—Claro que ele tem, até eu achei sexy —confessou Natasha, rindo junto comigo.

—Ei, é o meu irmão de que você está falando —adverti brincando, rindo mais ainda.

—Ah, relaxa! É só dar uma olhada para o meu irmão que ficamos quites.

Franzi o cenho para ela, não entendeu porque ela havia comentado aquilo, entretanto continuamos rindo com a piada. Gabe tinha ido se juntar o meu irmão então não havia escutado essa parte da conversa. Me virei de costas para eles e fiquei de frente para a Natasha.

—Por que raios eu ia olhar para o seu irmão e achar ele sexy? Ele tem a mesma idade do Lucca.

—Porque ele fica te olhando quando você não percebe — respondeu tranquilamente, como se fosse normal o irmão dela fazer isso e ela saber.

—O que? É claro que ele não faz isso! Por que acha isso?

—Eu conheço o irmão que tenho, Mika. Agora vamos, estou morta de fome.

E saiu andando em direção aos nossos irmãos. Eu a segui e fiquei pensando no que ela havia comentado, Natasha só podia estar brincando comigo. Não havia motivo para gabe ficar me encarando. Na verdade, até que havia. Eu tinha passado quase todos o jogo falando sozinha e isso teria feito ele me olhar achando que eu tinha enlouquecido. Era isso, simples assim! Ele só ficou me olhando porque eu estava falando com Troy e como ele não podia vê-lo, isso fez parecer que eu estava falando sozinha e ele me achou louca.

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