Fico nem sei quantas horas refazendo aqueles documentos, meus olhos já estavam ardendo, e minhas costas também de tanto que fiquei sentado com a bunda colada na cadeira, e meu irmão me ajudou, ainda bem, senão não ia terminar hoje, a Val tava certa eu tenho de ter cópias disso tudo, senão toda vez que precisar eu me lasco.Quando saio já está escurecendo, vou andando até a sede e estranho o silêncio, entro pela porta da cozinha que está apenas encostada, e me deparo com uma cena bem estranha, bom estranha é pouco.A Val com um vestidinho curto, e um avental, o cabelo amarrado e uma frigideira na mão.Ela sabia cozinhar?Encostei ali e fiquei bem de olho, com os braços cruzados observando aquela cena bonita, até que ela se vira e me vê, e com o susto acaba gritando._ PESTE DOS INFERNOS O QUE TÁ FAZENDO AQUI. — não consegui evitar o sorriso quando ela me chamou assim, eu sentia tanta falta._ Vim trazer os documentos que a patroa pediu._ Deixa na mesa e pode ir embora. — ela vira colo
* Valentina *.Minha respiração está acelerada, meu peito parece que vai sair pela boca.Aí que ódio desse capataz.Porque eu não consigo me mexer quando ele se aproxima, porque fico igual uma idiota esperando cada movimento dele, eu odeio ele, odeio.E o pior que gostei do beijo, e estou com raiva de mim mesma por causa disso, não posso gostar, tenho de odiar.Gosto de ficar sozinha anoite, gosto do silêncio, por isso mandei todos para casa depois das quatro da tarde, assim posso tomar meu banho, relaxar e fazer qualquer coisa para comer, mas agora eu não estava nada relaxada, estava nervosa e a culpa disso é nele, eu estava na minha, bem quieta sem procurar confusão e ele veio atrás.O problema é que quase eu cedi, foi por quase mesmo, e eu tenho raiva do meu corpo que no primeiro toque do dele, já se acendeu todo feito uma lamparina, meu próprio corpo arma contra mim, e por esse motivo tenho de me manter com a cabeça no lugar, e focada para não fazer merda e me arrepender depois.
Visto uma calça jeans, uma camisa de mangas longas azul, em meu pé minha bota de cano longo e meu chapéu de palha.Desço devagar, sem pressa nenhuma vendo Emanuel sentado à mesa tomando café e às duas moças que trabalham na casa de olho nele.Me aproximo e beijo sua bochecha e sussurro em seu ouvido._ Sua mulher sabe que aqui, tem duas sirigaitas de olho em você? — ele sorri fraco e abaixa a cabeça._ E você acha que sou louco de olhar, só tenho olhos para a Morena da minha vida. — concordo e me sento, pegando um pedaço de bolo. _ Ele está te chamando._ Não estou com pressa._ Antes quando ele chamava você ia correndo._ Isso era antes.Continuo tomando meu café quando Daniel aparece na porta da cozinha._ Licença, posso entrar. — ele pergunta me olhando com um sorriso e eu sei o motivo. Peste._ Claro Daniel, você sempre foi bem vindo. Vem tomar café. — Emanuel fala e eu mordo a língua para me controlar._ Obrigado patrão._ Não precisa mais me chamar de patrão._ É costume. — ele
* Daniel *.Demorei um tempão para conseguir dormir, eu pensava no gosto delicioso da boca dela, do beijo que eu tanto resisti a aceitar que era o que eu queria desde o começo, mas demorei também porque minha cabeça tava doendo pra caramba, latejando e tive de tomar dois comprimidos para conseguir dormir, e mesmo assim acordei com a minha cabeça doendo de novo, mas claro tinha um galo ali maior que, moeda de um real.Quando eu olhei no espelho nem acreditei naquilo, na minha cabeça, dava pra ver sem o chapéu, já que foi perto da testa.Arrependido?Claro que não, roubei um beijo dela, e até roubaria mais. Só que tenho amor a minha vida, e se eu morrer como vou conquistar a minha jaguatirica?Com a Val tem de ir de mansinho, comendo pelas beiradas, eu conheço aquela jaguatirica melhor do que ela mesma e sei o que fazer, para quando chegar a hora ela não me recusar, e eu tô doido pra esse dia, tô até sonhando com ele, e agora digamos que o sonho melhorou, pois quando dormi sonhei com a
* Valentina *.Eu quero paz, só isso é pedir muito?Não, o que eu tinha na cabeça de entrar em um lugar desse com aquela peste, eu sabia que ele tava aprontando, aquele sorrisinho deslavado me mostrou.E eu mesmo assim, confiei nele.E agora como estou?Sem ar, sem pernas, sem dignidade nenhuma, pois ainda não acredito que só dele falar no meu ouvido fez um estrago na minha calcinha.Nem o César com toda a sua habilidade, conseguiu me deixar desse jeito, já essa peste com algumas palavras acabou comigo.Não, não posso baixar minha guarda com o Daniel.Ainda com as pernas moles, saio andando na frente, pego meu celular e ilumino a saída, nem consegui ver o lugar direito e já fui agarrada.Que ódio!Monto na Rainha e saio trotando na frente, nem quero ver a cara dele, deve estar rindo de mim, e eu estou com muita raiva de mim mesma, meu corpo é meu maior inimigo.Como pode isso?Minha cabeça grita que não, mas meu corpo não obedece, tenho medo de acabar fazendo uma loucura que posso me
* Daniel *.Não consigo evitar o sorriso no rosto, foi por pouco, muito pouco mesmo, que não tenho ela de volta.A Val tem todo esse jeitinho bravo, mas é só encurralar, pressionar que é igual rosca, ela espana facilzinho, facilzinho.Se não fosse pelo meu irmão, hoje eu ia ter ela pedindo pra ser minha de novo, e eu faria com todo gosto porque eu tô louco pra isso.Visto a roupa mais que depressa, e quando saio Davi está no sofá olhando para o teto._ Tinha de chega justo agora? — digo me aproximando e ele se levanta._ Então. Fizeram as pazes?_ Não._ Oxi, então o que estavam fazendo?_ Eu estava tentando domar a minha jaguatirica, e estava quase conseguindo até você chegar._ Ata, e você acredita que algum dia vai conseguir domar a Val? Tá maluco é ali não tem jeito não, é sangue ruim mesmo._ Só não vou te matar, porque tô com pressa. Vamos logo que tenho de continuar rondando meu terreiro antes que outro pegue o que é meu.Digo isso pelo safado no Marco, ele tá de olho no meu e
* Valentina *.Estou feliz em ter minha família aqui comigo, mesmo que eles vão embora anoite, sim, eles vão e eu já estou triste com isso.Mas não posso pedir para eles ficar, eles têm seus compromissos assim como eu tenho os meus agora, e eu entendo isso e já fico muito feliz de todos tirarem um tempinho para passar o dia todo comigo.Não vejo a hora dos meus primos chegarem e eu não me sentir tão sozinha, não gosto de me sentir assim e acabo descontando a tristeza em ações erradas.César sempre cuidava de mim, para não fazer essas coisas. Davi chegou já de noite aqui na fazenda, no carro da tia Manuela que fica com eles, para fazer algumas coisas na cidade quando precisa, e pensar nisso também tenho de comprar um carro, eu sei dirigir mais não tenho um, está na hora de mudar isso.Teve de dar duas viagens para levar todo mundo, fora que as crianças foram no colo.Assim que cheguei na fazenda da tia Manuela, dona Dulce mãe do Daniel veio me abraçar, eu tinha chegado em Rio verde f
* Daniel *.Não foi difícil perceber que a Val não estava bem, seus olhinhos não tinham brilho e sim uma névoa estranha.Entendi o motivo quando falei com ela, e ficar longe de todos é difícil mesmo, ainda mais pra ela que é tão acostumada com a família, eu mesmo não sei como seria sem a minha perto de mim.Eu tinha pensado muitas coisas para fazer com ela hoje, e a deixar com a guarda baixa, mas não podia, ela estava triste e isso não era o certo.Mas cantar com ela eu podia, e no começo era só para a deixar mais feliz, espantar aquela cara de tristeza, e claro ela não conseguiu resistir e cantou comigo. Que falta fazia isso pra mim, a sua voz junto com a minha, uma combinação perfeita, assim como eu e ela.Cantamos umas cinco modas juntos, e depois cantei mais duas pra ela, sim, pra ela, e ela sabe disso, pois não tirou os olhos de mim e eu não tirei meus olhos do dela.No final eu já via um sorriso bonito em seus lábios, e fiquei mais seguro que estava indo pelo caminho certo.Eu