4 - Tomando um rumo, ou quase !

Antoni Armand

A chamada telefônica me puxa de volta à realidade, interrompendo o turbilhão de pensamentos que me consome. Com o celular na mão, respiro fundo antes de atender, sabendo que o peso da conversa será inevitável.

— Pai, eu vou dar um jeito nessa situação, ok? — tento controlar minha voz, tentando parecer mais calmo do que realmente me sinto, já antecipando o tom pesado que virá do outro lado da linha.

— Antoni, eu confiei a empresa nas suas mãos. Você me prometeu que ia cuidar de tudo. — A voz dele é grave, saturada de frustração e preocupação. Sinto o peso das palavras, como se cada uma delas fosse um açoite. — Sua irresponsabilidade está colocando tudo o que construímos em risco. Estamos perdendo contratos importantes e, o pior, estamos minando a credibilidade de clientes fiéis que confiaram na gente por anos.

Ouço o suspiro pesado do meu pai, como se cada palavra tivesse sido um esforço físico. A tensão que ele carrega na voz é palpável, e consigo sentir a dor de cada decisão que tomamos. Ele construiu tudo isso do zero, dedicando sua vida a essa empresa, e agora sou eu quem está colocando tudo em risco.

— Eu sei, pai. Eu sei. — Minha voz sai mais baixa, mais rouca. Tento controlar a frustração, tentando não transparecer o medo que começa a tomar conta de mim. — Me dá mais esse voto de confiança, por favor. Eu vou arrumar isso. Vou tomar as rédeas e fazer as coisas acontecerem de novo.

— Eu não quero mais ver nenhum escândalo seu nas mídias, Antoni. Este vai ser o último voto de confiança que eu te dou. — A voz dele fica mais fria, mais distante, e sinto o peso de suas palavras esmagando minhas esperanças. Ele está no limite da paciência, e eu sei que qualquer deslize agora pode ser o fim de tudo.

Fico em silêncio por um momento, absorvendo a gravidade da situação. Ele está certo. Cada erro meu agora tem consequências irreversíveis. A empresa não é apenas um negócio. É o legado do meu pai, é a essência da nossa história.

— Eu prometo, pai. Não vou te decepcionar. — Tento ser firme, mas a tensão na minha voz é evidente. Eu sei o que está em jogo, e a última coisa que quero é fracassar.

A chamada termina, e a escuridão do silêncio toma conta do ambiente. Fico ali, parado, tentando processar o peso que acabo de carregar. Não posso mais ser o filho rebelde e irresponsável. A empresa, a família, tudo depende de mim agora. A responsabilidade nunca foi tão pesada, e eu sei que estou em uma linha tênue, onde qualquer erro pode fazer tudo desmoronar.

De repente, o som suave de dois toques na porta interrompe meus pensamentos. Antes que eu possa dar permissão para entrar, a figura conhecida da minha irmã surge na porta. Ela está com aquele sorriso de quem sabe que está me empurrando para uma responsabilidade a mais, e eu não consigo evitar o suspiro que escapa dos meus lábios.

— Irmãozão, vim me despedir e trazer as coisas da Kira. Já organizei tudo para ela. — Ela entra, com um ar de quem já planejou tudo, como sempre. Seu sorriso é misto de afeto e uma leve pitada de ironia. Ela sabe exatamente o que está me forçando a fazer.

Eu olho para ela, sem poder esconder o sorriso irônico que surge no meu rosto.

— Tudo bem. Vou pedir para os seguranças colocarem as malas no porta-malas e a cadeirinha no banco. — Respondo, já sabendo que isso vai me consumir um bom tempo a mais do que eu gostaria. Mas, o que posso fazer? É minha irmã, e se eu não fizer, vou ser crucificado.

Ela me observa, o olhar dela, como sempre, sério e observador. Mas, ao contrário do que ela imagina, não consigo evitar o riso diante de sua expressão.

— Eu sei que você não gosta de nada disso, Antoni, mas eu só tenho você. Depois que a mamãe se foi, sempre fomos um pelo outro. Não posso simplesmente deixar minha joia nas mãos de qualquer um. — Ela diz, com um tom que mistura preocupação e determinação, e uma pontada de carinho que, por mais que eu tente, não consigo ignorar.

Eu suspiro, tocado pela forma como ela se dedica à Kira, mas também pela culpa que ela não diz, mas sempre carrega. Não é fácil para ela confiar alguém com a filha, especialmente depois de tudo o que aconteceu.

— Eu sei disso, e não teria coragem de deixar a Kira com qualquer um. — Respondo com convicção, sentindo o peso da responsabilidade, mas também o orgulho de saber que ela confia em mim.

Ela me observa por um momento, seu olhar muda. Agora, ela está mais séria, mais rígida. Como se estivesse me dando uma última chance para provar que eu sou capaz de fazer as coisas do jeito certo.

— Antoni, Kira tem uma alimentação saudável, nada de doces ou lanches em excesso. E, por favor, nada de bagunça no cabelo dela. Eu não quero chegar e encontrar minha filha com um coque torto ou, pior, com a meia-calça errada. — Ela fala com uma autoridade que não se pode ignorar, e eu a escuto atentamente, ciente de que ela não está brincando.

Eu faço uma careta exagerada, como se fosse o maior sacrifício do mundo, tentando aliviar a tensão que se forma no ar.

— Certo, sargenta. Pode deixar. — Brinco, mas, por dentro, estou absorvendo cada palavra, porque sei que ela está falando sério.

Ela me dá um beijo no ar, um gesto rápido, mas cheio de carinho, antes de se virar e sair. Eu fico ali, no silêncio da sala, pensando no que vem pela frente.

Agora, a realidade b**e de vez. Eu tenho esses próximos dias para provar a mim mesmo, e ao meu pai, que posso assumir as rédeas da minha vida e não deixar que tudo se desfaça. Sem festas, sem escândalos, sem nada que me coloque de novo nos holofotes. Só eu, minha sobrinha e minha rotina de CEO. E, quem sabe, um pouco de sexo casual com a Cíntia, só para manter as coisas “sob controle”. Mas, por agora, o objetivo é claro: manter minha imagem limpa e, mais importante, não ser o alvo das revistas de fofoca.

Eu sei que, se seguir as regras, tudo vai se ajeitar. Pelo menos, é o que espero.

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