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5 - O dia que enfrentei o cretino

Isabella Cavalieri

Os dias se arrastam como um balé exaustivo, e o cansaço tornou-se minha sombra mais fiel. Acordo antes do sol para ensinar pliés e piruetas, corrigir posturas e incentivar pequenos passos que, um dia, se tornarão grandes voos. À tarde, a rotina continua, e minha energia se dissolve a cada movimento repetido. À noite, as meninas mais velhas se juntam a mim para o ensaio extra de O Lago dos Cisnes—e, mesmo apaixonada pelo que faço, meu corpo suplica por descanso.

Meus pés estão sempre doloridos, latejando sob o peso de tantas horas na ponta. Quando as luzes da academia finalmente se apagam e posso ir para casa, meu maior desejo é simples: uma ducha quente que lave o cansaço e me devolva ao mundo dos vivos. Só então, envolta no aconchego dos lençóis, me permito uma última indulgência—um romance clichê onde, em apenas 90 minutos, tudo encontra seu final feliz.

Saio da sala de balé, tranco a porta com cuidado e caminho até a recepção para entregar a chave à Milena. Mas, ao dobrar o corredor, a cena que me espera me faz parar no mesmo instante.

Kira está encolhida no banco da recepção, as pernas dobradas contra o peito, tremendo dentro da roupa fina de ensaio. Meu coração aperta. Onde está a pessoa que deveria buscá-la?

— Kira, cadê quem ia te pegar? — pergunto, mantendo a voz calma, mesmo que a frustração já comece a ferver dentro de mim. Não é culpa dela, mas a irresponsabilidade dos outros me preocupa.

Ela dá de ombros, os olhos piscando de sono.

— Acho que o titio atrasou. Ele trabalha muito.

Suspiro fundo. Não sou mãe, mas a ideia de deixá-la ali sozinha é impensável. Sei que a mãe dela está viajando e que deixou alguém encarregado, mas, com a quantidade de coisas que carrego na cabeça, não consigo lembrar quem.

— Você sabe onde ele mora? Posso te levar até lá?

Kira balança a cabeça negativamente.

— Não sei, mas ele trabalha naquele prédio grandão no centro. É todo preto, tia.

Um leve arrepio me percorre a espinha.

— Como é seu sobrenome mesmo, Kira? A tia esqueceu.

— Armand. Kira Armand.

E, nesse instante, a ficha cai.

Armand. O sobrenome que estampa manchetes e circula pelos noticiários de negócios. O poderoso CEO da Armand’s Company, um homem mais conhecido por polêmicas do que por suas conquistas.

Engulo em seco. Sem mais palavras, tiro o moletom da mochila e o visto cuidadosamente em Kira antes de pegar minha bolsa.

Se é ele quem deveria buscá-la, então teremos uma conversa.

Meu carro desliza pelas ruas até parar diante do imponente edifício Armand. O brilho das luzes refletindo no vidro negro da construção me lembra exatamente com quem estou lidando: um homem poderoso, acostumado a ter o mundo girando ao seu redor. Mas hoje, ele vai ter que lidar comigo.

Estaciono na vaga de visitantes e desligo o motor, soltando um suspiro pesado. Já tenho trabalho suficiente administrando a academia, ensinando e me desgastando todos os dias. Agora, além disso, preciso lidar com a irresponsabilidade de um homem que deveria, no mínimo, cuidar da própria família? Inaceitável.

Saio do carro e seguro firme a mãozinha de Kira. Conforme entramos no prédio, os olhares ao redor deixam claro que não pertencemos ali. Meu visual descomplicado, os cabelos presos de qualquer jeito e o moletom dois números maior destoam completamente do ambiente de luxo e formalidade. Mas, sinceramente? Não dou a mínima.

A recepcionista lança um olhar confuso, mas não tento me explicar. Apenas aperto o botão do elevador e espero. Assim que as portas se abrem no último andar, seguimos pelo hall silencioso. Meu estômago se revira de irritação quando noto a ausência da secretária. Ótimo. Mais uma prova da total falta de organização desse homem.

Não penso duas vezes. Seguro Kira com uma mão, e com a outra, abro as portas do escritório sem cerimônia.

Entro como um vendaval.

E lá está ele. Sentado em sua luxuosa cadeira de CEO, o poderoso Armand, me encarando com um sorriso que eu reconheço de imediato—um daqueles que dizem tudo, menos algo bom.

Bato as duas mãos sobre a mesa dele, inclinando-me levemente para frente.

— Você é um irresponsável!

Minha voz corta o silêncio do escritório como um chicote, mas ele nem pisca. Apenas me observa com um sorriso torto e irritantemente despreocupado, como se eu fosse algum tipo de entretenimento da noite.

— Querida, se te magoei de alguma forma, vou compensar. Flores, bombons… e quando eu tiver um tempinho, um jantar — diz ele, a voz carregada de charme ensaiado, como se estivesse lidando com uma fã histérica, e não com uma mulher furiosa.

Solto uma risada curta e sem humor, cruzando os braços.

— Você é um perfeito idiota. Já olhou no relógio, senhor conquistador?

O sarcasmo pinga de cada sílaba. Ele finalmente abaixa os olhos para o relógio e solta um palavrão baixo, como se só agora a realidade tivesse batido na porta.

— Pois é. Se você não consegue cumprir um simples horário para buscar sua sobrinha, como é que essa empresa ainda não desabou? Ou será que seus funcionários passam o dia inteiro cobrindo sua incompetência?

Ele estreita os olhos, visivelmente irritado. Ótimo.

— Eu estava ocupado.

Reviro os olhos tão forte que quase vejo meu cérebro.

— Ah, claro! Ocupado! O termo mais vago e conveniente do mundo. O que foi desta vez? Uma reunião importantíssima que, coincidentemente, aconteceu em um restaurante badalado? Ou um evento beneficente para arrecadar fundos para as suas amantes?

Ele aperta os lábios, mas o brilho travesso nos olhos sugere que ele está se divertindo mais do que deveria.

— Interessante o quanto você parece saber da minha vida, querida — ele provoca, apoiando os cotovelos sobre a mesa. — Está me perseguindo? Isso seria um pouco assustador… e ao mesmo tempo lisonjeiro.

Dou um passo à frente, apoiando as mãos no encosto da cadeira dele, diminuindo ainda mais a distância.

— Escuta bem, querido — minha voz sai doce, mas cada palavra tem a nitidez de uma lâmina. — Você pode bancar o CEO irresistível para as colunistas sociais, mas pra mim, você não passa de um babaca que esqueceu uma criança esperando no frio. Então, por favor, economize seu charme barato e vá resolver o que realmente importa.

Ele me encara por um longo momento, como se estivesse decidindo entre me xingar ou me aplaudir. No fim, apenas solta um suspiro frustrado e passa a mão pelo cabelo.

— Eu me distraí — ele admite, a voz mais baixa, quase genuína.

— E eu me irritei. Acho que estamos quites.

Sem esperar resposta, viro nos calcanhares e caminho até a porta.

Kira me espera do lado de fora, balançando os pés no banco da recepção, completamente alheia à tensão que acabara de ferver naquela sala.

— tchau querida, a titia já vai

Jogo um “tchau” por cima do ombro, sem sequer olhar para trás.

Ele não merece nem mais uma palavra minha.

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