6 - Furacão de tule

Antoni Armand

Fico parado diante da porta, atordoado. Meu olhar ainda está fixo no espaço vazio por onde aquela… tempestade passou. Uma bailarina em miniatura, mal maior que um tremor, berrando na minha cara como se fosse minha mãe. E eu? Eu, Antoni Armand, CEO da Armand’s Company, acostumado a enfrentar acionistas hostis, repórteres sensacionalistas e concorrentes de sangue frio… fiquei sentado, sem conseguir abrir a boca.

O eco das palavras dela ainda reverbera na minha mente, junto com a imagem de seus olhos faiscando de fúria. Quem diabos era aquela mulher? Melhor ainda… quem ela pensa que é para entrar no meu escritório, me desafiar e sair como se tivesse vencido?

Me recosto na cadeira, esfregando a mão no rosto, tentando absorver o que acabou de acontecer. Mas antes que eu possa colocar meus pensamentos em ordem, um par de passinhos ecoa pelo chão de mármore.

Kira surge na minha frente, completamente alheia à guerra que aconteceu aqui dentro. Seu sorriso doce contrasta absurdamente com a energia caótica que aquela mulher deixou para trás. Ela se aproxima, seus olhos brilhando como se eu fosse seu herói — um título que, no momento, não sinto que mereço.

— Titio, eu estou com fome.

A simplicidade da frase me puxa de volta ao presente. Respiro fundo, tentando reorganizar a bagunça na minha cabeça. Ela não se importa com discussões inflamadas, egos feridos ou reputações manchadas. Kira só quer um jantar.

Solto um suspiro, pego minha pasta, jogo a mochila dela sobre um ombro e a pego pela mão.

— Vamos para casa, pequena.

Mas uma coisa é certa: essa história não acabou

Ela está quieta, e isso me incomoda. Kira geralmente fala pelos cotovelos, como minha irmã, e ainda tem uma língua afiada que às vezes me faz questionar se já nasceu adulta. Mas agora, sentada ao meu lado no banco traseiro do carro, ela apenas olha pela janela, os pezinhos balançando no ar.

Lanço um olhar discreto para ela, tentando captar qualquer sinal de incômodo. Será que aquele furacão de tule rosa a assustou? Porque, honestamente, eu ainda estou processando o que aconteceu.

— Tá tudo bem? Aquela garota fez algo com você? — pergunto, sem conseguir esconder a preocupação. A última coisa que quero é que alguém trate minha sobrinha de forma errada. E, convenhamos, a bailarina furiosa estava bastante alterada.

Kira vira o rosto para mim e pisca, como se minha pergunta fosse a coisa mais absurda do mundo.

— Está tudo bem, titio. A tia Isa é boazinha — diz ela, um sorrisinho travesso brincando nos lábios.

Eu paro. Boazinha?

Deixo escapar uma gargalhada genuína.

— A coisinha raivosa, boazinha? Eu duvido muito, mocinha.

Kira solta uma risada alta e contagiante, e por um momento, a tensão que aquela mulher deixou para trás se dissolve no ar.

Mas, no fundo da minha mente, uma pergunta fica martelando.

Tia Isa, hein?

Esse nome ainda vai me dar dor de cabeça. Eu sinto.

Quando finalmente chegamos ao meu apartamento, Kira pula do carro com a energia que só uma criança tem, mesmo depois de um dia inteiro de balé. Assim que entramos, ela se j**a no sofá, pegando o controle remoto com a propriedade de quem já conhece o lugar melhor do que eu.

— Posso assistir desenho, titio?

— Desde que não seja aquele com músicas repetitivas que grudam na cabeça.

Ela ri e escolhe alguma animação colorida, enquanto eu sigo para o banheiro. Preciso de um banho. Preciso de silêncio. Preciso processar o dia.

A água quente escorre pelos meus ombros, levando embora a tensão acumulada — pelo menos a física, porque a mental ainda está martelando. Isa. O furacão de tule que invadiu meu escritório, gritando, desafiando e jogando na minha cara que talvez, só talvez, eu não seja tão impecável quanto gosto de acreditar.

Saio do banho e visto uma camiseta confortável. Quando volto para a sala, Kira já tomou banho também e veste seu pijama macio, os cabelos ainda úmidos e desgrenhados. Ela se aconchega na cama ao meu lado, a expressão tranquila. Cansada. Feliz. Buscando conforto.

E eu percebo que, apesar de toda a minha vida de CEO playboy, das festas, dos negócios, das manchetes e polêmicas, há algo que realmente importa. Algo que preciso dar mais valor.

As pessoas ao meu redor.

Kira boceja baixinho e se aninha melhor.

Eu solto um longo suspiro e apago a luz.

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