Antoni Armand
Fico parado diante da porta, atordoado. Meu olhar ainda está fixo no espaço vazio por onde aquela… tempestade passou. Uma bailarina em miniatura, mal maior que um tremor, berrando na minha cara como se fosse minha mãe. E eu? Eu, Antoni Armand, CEO da Armand’s Company, acostumado a enfrentar acionistas hostis, repórteres sensacionalistas e concorrentes de sangue frio… fiquei sentado, sem conseguir abrir a boca. O eco das palavras dela ainda reverbera na minha mente, junto com a imagem de seus olhos faiscando de fúria. Quem diabos era aquela mulher? Melhor ainda… quem ela pensa que é para entrar no meu escritório, me desafiar e sair como se tivesse vencido? Me recosto na cadeira, esfregando a mão no rosto, tentando absorver o que acabou de acontecer. Mas antes que eu possa colocar meus pensamentos em ordem, um par de passinhos ecoa pelo chão de mármore. Kira surge na minha frente, completamente alheia à guerra que aconteceu aqui dentro. Seu sorriso doce contrasta absurdamente com a energia caótica que aquela mulher deixou para trás. Ela se aproxima, seus olhos brilhando como se eu fosse seu herói — um título que, no momento, não sinto que mereço. — Titio, eu estou com fome. A simplicidade da frase me puxa de volta ao presente. Respiro fundo, tentando reorganizar a bagunça na minha cabeça. Ela não se importa com discussões inflamadas, egos feridos ou reputações manchadas. Kira só quer um jantar. Solto um suspiro, pego minha pasta, jogo a mochila dela sobre um ombro e a pego pela mão. — Vamos para casa, pequena. Mas uma coisa é certa: essa história não acabou Ela está quieta, e isso me incomoda. Kira geralmente fala pelos cotovelos, como minha irmã, e ainda tem uma língua afiada que às vezes me faz questionar se já nasceu adulta. Mas agora, sentada ao meu lado no banco traseiro do carro, ela apenas olha pela janela, os pezinhos balançando no ar. Lanço um olhar discreto para ela, tentando captar qualquer sinal de incômodo. Será que aquele furacão de tule rosa a assustou? Porque, honestamente, eu ainda estou processando o que aconteceu. — Tá tudo bem? Aquela garota fez algo com você? — pergunto, sem conseguir esconder a preocupação. A última coisa que quero é que alguém trate minha sobrinha de forma errada. E, convenhamos, a bailarina furiosa estava bastante alterada. Kira vira o rosto para mim e pisca, como se minha pergunta fosse a coisa mais absurda do mundo. — Está tudo bem, titio. A tia Isa é boazinha — diz ela, um sorrisinho travesso brincando nos lábios. Eu paro. Boazinha? Deixo escapar uma gargalhada genuína. — A coisinha raivosa, boazinha? Eu duvido muito, mocinha. Kira solta uma risada alta e contagiante, e por um momento, a tensão que aquela mulher deixou para trás se dissolve no ar. Mas, no fundo da minha mente, uma pergunta fica martelando. Tia Isa, hein? Esse nome ainda vai me dar dor de cabeça. Eu sinto. Quando finalmente chegamos ao meu apartamento, Kira pula do carro com a energia que só uma criança tem, mesmo depois de um dia inteiro de balé. Assim que entramos, ela se j**a no sofá, pegando o controle remoto com a propriedade de quem já conhece o lugar melhor do que eu. — Posso assistir desenho, titio? — Desde que não seja aquele com músicas repetitivas que grudam na cabeça. Ela ri e escolhe alguma animação colorida, enquanto eu sigo para o banheiro. Preciso de um banho. Preciso de silêncio. Preciso processar o dia. A água quente escorre pelos meus ombros, levando embora a tensão acumulada — pelo menos a física, porque a mental ainda está martelando. Isa. O furacão de tule que invadiu meu escritório, gritando, desafiando e jogando na minha cara que talvez, só talvez, eu não seja tão impecável quanto gosto de acreditar. Saio do banho e visto uma camiseta confortável. Quando volto para a sala, Kira já tomou banho também e veste seu pijama macio, os cabelos ainda úmidos e desgrenhados. Ela se aconchega na cama ao meu lado, a expressão tranquila. Cansada. Feliz. Buscando conforto. E eu percebo que, apesar de toda a minha vida de CEO playboy, das festas, dos negócios, das manchetes e polêmicas, há algo que realmente importa. Algo que preciso dar mais valor. As pessoas ao meu redor. Kira boceja baixinho e se aninha melhor. Eu solto um longo suspiro e apago a luz.Isabella Cavalieri Acordo com um sono péssimo. Ontem, ao chegar em casa mais tarde do que de costume, acabei me atrasando para tudo. Meu corpo, acostumado à rotina, parece que não sabe funcionar sem ela, e, como resultado, acordo completamente perdida. Me levanto, passo um pouco de água fria no rosto para tentar espantar o cansaço e me recompor. Coloco a roupa de balé, jogo tudo na mochila e desço para tomar café. Na mesa, encaro minha mãe com uma expressão de quem não está nada bem. Não sei se já mencionei isso antes, mas mamãe é… controladora, para dizer o mínimo. Ela está me observando com atenção, como se estivesse esperando algo de mim. O olhar de minha mãe é afiado como uma lâmina quando me sento à mesa. Sei exatamente o que está por vir antes mesmo de ela abrir a boca. — Onde esteve ontem, que chegou mais tarde que o usual? — A pergunta vem seca, sem rodeios, carregada de julgamento. Eu seguro um suspiro, mantendo a expressão neutra. Não adianta demonstrar irritação, iss
Isabella Cavalieri Estava no final do meu alongamento quando uma voz doce me tirou dos pensamentos. — Titia, cheguei! — Kira anunciou com sua mochila rosa balançando nas costas enquanto corria até mim. Sorrio, encantada com a energia que ela sempre trazia ao estúdio. — Oi, pequena! Vem cá, a titia vai te arrumar para a aula. — Estendi os braços, chamando-a, e ela veio correndo, um sorriso enorme no rosto. Kira é uma criança encantadora, com cabelos longos e escuros que sempre me lembram a mãe dela. Seus olhos levemente puxados lhe dão uma doçura especial, e seu entusiasmo pela dança ilumina qualquer ambiente. Ajudei-a a trocar de roupa, colocando seu collant preto e, por cima, uma sainha leve que balançava conforme ela se mexia. Como estava calor, optamos por não usar meia-calça. Nem eu estava usando naquele dia, já que o sol parecia derreter o asfalto lá fora. — Pronto, agora vamos para a parte mais importante — digo, pegando a escova de cabelo e me sentando no chão. Puxe
Isabella Cavalieri Era sexta-feira, e o cansaço me dominava como um manto pesado. Depois de uma semana exaustiva de ensaios, enfim havia um raro momento de respiro. Da beira da sala, observava as meninas na barra — seus movimentos precisos, a sincronia quase hipnótica, as expressões concentradas que denunciavam a disciplina de cada uma.Mas foi impossível não notar Kira.A pequena bailarina tinha algo diferente no olhar — um brilho sempre presente, mas hoje misturado ao opaco das lágrimas silenciosas que deslizavam por seu rosto. Ainda assim, ela seguia, impecável, executando seus pliés com uma delicadeza que partia o coração.Engoli em seco. Era impossível não lembrar de mim mesma, na mesma idade. Quantas vezes dancei sufocando dores físicas e emocionais, repetindo os passos como minha mãe exigia, porque, segundo ela, a excelência não dava espaço ao conforto.Aproximei-me de Kira e me abaixei ao seu lado, suavizando o tom da voz.— Ei, está tudo bem, querida?Ela balançou a cabeça d
Antoni Armand O médico apareceu pouco antes da meia-noite e confirmou que Kira estava com uma infecção estomacal. Ela precisava passar a noite em observação. Assim que ele terminou de falar, Kira desabou em lágrimas. Ela tinha um pavor visceral de hospitais e só se acalmou quando Isabella subiu na cama estreita e a envolveu em um abraço apertado. Eu nunca tinha visto minha sobrinha confiar tão rápido em alguém. Bella era um porto seguro para Kira, e algo nela a fazia sentir-se protegida. Talvez fosse o jeito carinhoso, a paciência infinita, ou até mesmo aquela doçura que parecia contagiar qualquer um que cruzasse seu caminho. Passei a noite sentado na poltrona do quarto, observando as duas dormirem juntas. Bella mantinha os braços firmes em volta da pequena, como se dissesse que nada no mundo a machucaria enquanto ela estivesse ali. Suas palavras mais cedo continuavam ecoando na minha mente: “Você está criando uma criança, Antoni.” E ela estava certa. Olha onde estávamos. Quand
Isabella Cavalieri Hoje quando cheguei do hospital eu e minha mãe tivemos uma briga feia, ela simplesmente não se importou por eu ter ajudado Kira, ela simplesmente achou o cúmulo eu não cumpri a minha carga horária de trabalho e não ter dormido bem, o que na verdade foi mentira por que eu dormi a noite toda. Isso me deixa incomodada, parece que pra ela só serve se eu tiver fazendo algo ligado ao balé, e eu tô cansada, eu queria ter amigas, sair, beber, poder sei lá fazer uma faculdade, ter um namorado, mas eu não vejo como me livrar de tudo isso, eu amo minha mãe e não quero magoá-la. Chego do restaurante depois do almoço e minha mãe me encara com a cara fechada. — você saiu quando eu mandei você ficar no estúdio ensaiando até a hora que eu mandasse parar – ela diz — mãe eu fiz isso, mas precisava parar pra almoçar, eu tinha sido convidado pelos Armands pra comer e eu fui – me explica — eu quero que se afaste dessa menina, você está saindo da sua rotina por conta dela,
Antoni Armandi Encaro a pequena garota descendo as escadas, os pés descalços tocando suavemente cada degrau, o tecido da minha camisa batendo no meio de suas coxas, larga demais para ela, o que só reforçava o contraste delicado daquela cena. Por mais estranho que parecesse, algo dentro de mim se aquecia ao vê-la ali — não apenas pela presença dela em minha casa, mas pela naturalidade com que ela se encaixava naquele espaço.— Ela dormiu? — perguntei, assim que se sentou ao meu lado no sofá, com a mesma leveza de quem já fazia parte daquela sala.— Dormiu sim — respondeu com um tom calmo e baixo, quase cúmplice. — Deixei tudo organizado lá em cima e deixei um abajur aceso pra ela não acordar no escuro.Assenti, observando a tranquilidade com que ela falava, como se cuidar de Kira fosse algo natural, instintivo.— Quer um chá? Camomila? — ofereci, meio sem pensar. Talvez quisesse apenas uma desculpa para prolongar sua presença por ali, mais alguns minutos, quem sabe horas.Ela riu com
Antoni Armand Acordo cedo, e acordo a Kira pra ela ir tomar banho, aproveito pra ir tomar o meu também, essa noite foi difícil, eu não consegui tirar aquela pequena bailarina dos meus pensamentos, parece que eu ainda conseguia sentir seu cheiro doce e a sua pele macia nas minhas mãos. Depois do banho me arrumo rapidinho, passo no quarto da Kira bato na porta e ela aparece já vestida, e com a escova de cabelos nas mãos — titio você pode pentear por favor ? — claro pequena – pego a escova da sua mão entro no seu quarto sentando em sua cama e deixando ela em pé na minha frente e começo a pentear com cuidado. Uau em uma semana eu fui de libertino pra padrinho exemplar, ou quase, Isabella me vez ver que eu preciso dar atenção a Kira, ela é minha sobrinha e afilhada, e depois do susto que foi esse fim de semana preciso cuidar da alimentação dela também, eu posso não demonstrar mais eu a amo, assim como amo minha irmã e meu pai. — pronto pequena, já escovou os dentes? – perg
Isabella Cavalieri Eu tinha acabado de dar minha última aula do dia, pensando em ir pra casa, quando uma pequena garotinha de cabelos escuros entra correndo no estúdio. — titia Isa – ela diz animada me olhando — oi pequena, não era pra mocinha estar em casa essa hora ?! – brinco — é que o titio vai me levar pra tomar sorvetinho, está calor hoje, quer ir com a gente? — oh meu amor a titia está muito cansada hoje, podemos marcar outro dia – digo e ela faz uma carinha triste. — não seja malvada bella mia, é só um sorvete – a voz grossa me faz encarar a porta vendo Armand encostado ali, imediatamente eu lembro da noite de ontem fazendo com que minhas bochechas adquiram um tom rosado — vamos titia, vai ser rapidinho – ela diz e eu sorrio — tudo bem, vamos então – digo animada sorrindo Eu já tinha trocado de roupa, então pego minha pequena mala que sempre trago, e saio trancando a sala e passando pra deixar a chave com a Milena. — vai sair junto com o cretino b