Dimitri
— O que quer dizer? Quem me traiu? — Qualquer um que tenha feito uma merda dessas tem que ser morto.
Como se atreve a deixar o seu lado para ajudar pessoas de fora? Não consegue segurar a sua covardia tanto assim ao ponto de baixar a cabeça para eles? Essa briga nem mesmo começou e já está havendo deserção?
— Como fez uma bagunça que precisou de cuidados por parte da polícia, queria ter certeza de que não haveria implicações que perseguiriam qualquer um de nós mais tarde. — Entendo o que quer dizer, dado que alguns dos homens usados foram mandados direto do seu pessoal, se o rosto deles fosse identificado poderia ser um grande problema. — Me surpreendi quando olhei a filmagem das câmeras de segurança.
Joga um pendrive que pousa em cima de mim sem cuidado.
Dá um sorriso de
DimitriNão queria que provas tão concretas estivessem na frente dos meus olhos, mas ao chegar em seu quarto, tudo que pude ver foi a grande mochila com várias roupas socadas descuidadamente dentro.“Não estava apenas me traindo como decidiu que deixaria essa casa”, pondero, tendo certeza de que mandar pegá-lo foi o melhor a ser feito.Se eu deixasse um traidor escapar, falariam da minha fraqueza por dias.Diriam que o meu coração mole seria a causa de um desastre.— Senhor, o que devemos fazer com ele? — Me pergunta o sujeito que foi um dos responsáveis por o pegar. Não quis ver a sua cara, se o visse, poderia acabar agindo antes de haver uma resposta concreta para o que houve e depois do que fez, não pode se recusar a me contar nada.— Deixe-o sem comida, deem apenas água para não morrer antes que poss
Tasya— Tenho certeza de que não permiti nenhum encontrinho no meu quarto hoje — digo após vê-lo parado na porta. Egor verifica todo o local como se quisesse ter certeza de que não há nada de ruim para acontecer de novo.Aquela pequena discussão sobre as minhas ações não fizeram com que se sentisse melhor, ficou um pouco menos estressado depois saber que eu não corria risco de vida, mas jamais será um plano que aprova.A questão aqui é que sabe que eu não preciso de sua aprovação. Independentemente de como nos envolvermos, daquilo que nos unir no futuro, não serei a pessoa que deixa de agir do modo que lhe convém devido aos temores de outra.Se não pode caminhar comigo em um caminho esburacado, não pode desejar o jardim florido.Egor não ponderou sobre todos os momentos em que
AntesEgorO silêncio entre nós é um daqueles confortáveis, o tipo que só se encontra entre irmãos. Estou sentado em uma cadeira, uma cerveja na mão, enquanto ele mexe em algo na cozinha. A TV está ligada, mas nenhum de nós presta atenção no que está passando.— Você tá estranho, sabia? — Nikolai comenta de repente, sem me olhar.— Obrigado, sempre bom ouvir isso — resmungo, tomando um gole da cerveja.— Não, sério. — Ele aparece no batente da cozinha, com uma sobrancelha arqueada. —Desde quando você, o homem que praticamente faz fila de mulheres no telefone, está... quieto? — Essa não parece uma questão vinda de lugar nenhum.— Estou cansado — digo, levantando os ombros em um gesto despreocupado.— Cansado? Você? — Ele ri alto, como se a ideia fosse absurda. — Quem é você e o que fez com meu irmão?— Não começa, Nik.Ele cruza os braços, apoiando-se na parede. O sorriso brincalhão ainda está lá, mas há algo mais nos olhos dele: curiosidade. Como se ele estivesse tentando juntar as pe
AtualmenteEgorO quarto de brinquedos está em um estado controlado de caos. Bonecas espalhadas no chão, carrinhos estacionados de qualquer jeito em uma pista de corrida improvisada, e risadas infantis enchendo o ambiente.Todo mundo quer contribuir com algo, então há muito aqui.Estou encostado no batente da porta, observando-a no meio da confusão.Ela está sentada no tapete felpudo, a pequena irmã dela aninhada em seu colo enquanto um dos meus sobrinhos insiste para que ela veja seu "voador incrível" — um avião de brinquedo que ele lança no ar com toda a força de seus braços minúsculos.— Uau! Esse foi alto! — ela exclama, sua voz cheia de entusiasmo.O garoto sorri, orgulhoso, e corre para pegar o avião.O jeito como ela lida com as crianças me prende. É uma faceta dela que eu não vi antes, no meio de toda bagunça. Ela é tão diferente da mulher que sempre parece pronta para me afastar, me matar... Aqui, Tasya é suave, paciente, quase maternal. É impossível não se impressionar.Ela
Tasya— Você pode parar e me ouvir por um segundo? — Gostaria de o odiar tanto quanto eu quero, mas aqui estou eu, parando para escutar o que tem a dizer, mesmo que não devesse. Não percebe que o que criou entre nós não pode continuar existindo?— Egor, creio que já deixei claro que não, não posso, você também não quer o que tenho — digo e segura em meu braço, me mantém próximo a ele. Não aperta, apenas quer ter alguma segurança quanto a me ter no lugar onde poderei ouvir tudo que diz. — Porque está insistindo tanto nisso, nós transamos algumas vezes e você ficou todo emocionado.— Temos transado por vários meses, Tasya e eu acredito que você não saiu, por aí procurando outra pessoa com quem foder, assim como eu não pude. — Rio, de verdade, pois me parece inocente demais proferindo palavras como essa, mas são as máscaras mais grossas que escondem os piores monstros, sei bem disso.E pode ser que ele não seja um deles, na verdade, as chances são muito baixas, mas não quero me arriscar
AntesTasya— Seu pai continua sendo um babaca? — pergunta minha colega após ver o homem trôpego saindo de perto de mim. Não bastasse o inferno que é estar na mesma casa que ele, não tenho alívio nem mesmo no meu trabalho.— Trabalho como uma cachorra e ele continua criando mais dívidas que no final acabam no meu nome — respondo e ela bate em meu ombro, sentindo pena de mim por ter que viver com um sujeito como ele.Mas, considerando o quanto tenho que gastar durante o mês só para pagar a todos os agiotas a quem deve, não tenho como me mudar para um lugar onde não vá me encontrar nunca mais.— Você vai conseguir sair dessa — fala, mas é apenas uma esperança perdida por bons longos anos.Já estou quase nos vinte e quatro, mas desde os quinze venho vivendo para pagar tudo que criou de rombos com o seu vício alcoólico e em jogos de azar.— Pense que pelo menos a casa vai ser sua quando terminar de pagar e que, se o expulsar, não terá ninguém te criticando.— Duvido que esse seja um ponto
TasyaEmpurro a porta estranhando o fato dela estar entre aberta. Tenho certeza de que a deixei fechada. Além disso, meu pai certamente está em algum bar qualquer enchendo a cara com o dinheiro que conseguiu com o seu trabalho ontem.É tudo que ele pode fazer quando ninguém confiaria em uma pessoa como ele em um serviço melhor. Faz bicos aqui e ali que não pagam muito, mas são os únicos trabalhos que pode fazer, ainda que feda como um gambá bêbado.— Pai, você está em casa? — berro, esperando que, se não for ele, que o indivíduo que arrombou a casa dê o seu jeito de correr antes que eu entre.Olho para os cantos, mas não há literalmente nada. Os poucos móveis de valor, meu pai fez questão de vender na intenção de conseguir algum dinheiro.Se conseguiu, eu não vi a cor do dinheiro. Tudo que como tem que ser comprado no dia e, com o passar dos anos, aprendi que não poderia deixar o dinheiro em casa, pois ele a reviraria até encontrar, depois o gastaria sem pensar em como me mato diariam
Tasya— Uau, sempre fico com medo quando você me diz essas coisas — fala, agarrando o seu avental com mais força.Se diz que está com medo, o que devo sentir quando sou a pessoa devendo dinheiro a eles? É bem claro que é com o que se importam e só, mas e se deixarem de pensar como empreendedores e me foderem?— Enquanto eu estiver pagando-os, eles não podem me ferrar — digo e ela concorda, mas não é simples assim.Não estamos falando de uma dívida em um banco. Estou falando de agiotas que não se importam com a vida alheia, apenas querem dinheiro.Se um dia acordarem com o rabo coçando, podem apenas desistir de receber por parcelas e me obrigar a pagar tudo que devo de uma vez, sendo que não acredito que quitaria o que devo nem mesmo vendendo alguns órgãos, isso é quão fodida eu estou.— Você não falou com alguém dentro da lei ou sei lá? Não deveria ser responsável por todas as merdas que o seu pai faz — profere, mas parece não perceber que eu já tentei correr para todos os lados e de