Tasya
— Será que posso falar sobre — começa Valentina com um sorriso no canto da boca, se prepara para disparar um monte de absurdos, tenho certeza, por esse motivo deixo que as palavras passem por meus ouvidos. — como vi que Egor saiu de fininho do seu quarto?
— Não está falando? — pergunto e sorri sem se conter agora.
Me observa quando continuo olhando para o meu aparelho, ainda que esteja preparando uma refeição para nós. Jasmine continua dormindo. Depois do que houve fiquei um pouco receosa de a mandar para a escola e todos concordaram que talvez fosse melhor dar um tempo.
Uma vez que também foi a primeira vez que vivenciou uma situação tão perigosa, por sorte estava acompanhada de boas pessoas. Quem sabe ter um amigo por perto a ajudou, pois Niki disse que em nenhum momento minha irmã mostrou estar desesperada pelo medo d
Dimitri— Menos de um dia e você já parece com um pedaço de merda — digo com a cadeira parada em frente do corpo erguido pelas correntes que se movem lentamente a cada vez que Aleksei se sacoleja.Logo não terá forças para continuar agindo desse jeito.Seus gritos por socorro farão companhia no escuro em breve.Quando a fome passar a atormentá-lo, o levando próximo à loucura será no momento em que começará a pagar pelo erro de ter ficado do lado oposto ao da sua família.— Ainda parecerei melhor do que você na frente do espelho — me responde sem se interessar pelo respeito.Cansei de dizer a Clarissa que não o corrigir o colocaria em um caminho complicado, veja onde está agora, eu estava certo. Se não tivesse deixado que crescesse desse modo, não teria que perder um filho.
Tasya— Agora, você já pensou em tudo que te avisei? — questiono com a mulher completamente descabelada.Me olha como se estivesse prestes a arrancar minha cabeça, se tivesse força ou habilidade para isso poderia ser uma boa pedida para diversão do dia.— Quer um pouquinho de água? — pergunto, por só deixar que sons estranhos saiam por sua garganta. Acha que terei medo se continuar agindo como um animal enjaulado?Não sei se tem muito mais que pode nos dizer, mas gosto de pensar que uma pessoa sempre pode deixar que mais informações escapem se você cavar mais fundo. Não seria divertido ver que um tesouro pode ser encontrado com um pouco mais de esforço?— Você tem sido tão adorável, por que não continua sendo uma boa garota? As possibilidades de que não morra gritando de dor se tor
TasyaOutro grupo surgir do subsolo para vir atrás de uma vingança seria ainda mais estranho. Acredito que eles viram uma oportunidade no desespero dos Frolov. Notaram que os Frolov não conseguiriam o que queriam sozinhos e se adiantaram para fornecer as armas que eles necessitariam em sua briga.Não estão entrando em uma luta pequena, enfrentariam cachorros grandes demais que poderiam comê-los em uma abocanhada.— Se fala desse jeito, posso pensar que acredita que somos burros — digo e começa a sorrir compulsivamente. — A Scorpio disse que daria tudo o que quisessem? Prometeram que teriam um lugar no reinado deles?Jogue o que tem em mãos e, quando essa coisa voltar, pode ter muito mais a usar. Não é disso que se trata o nosso mundo? Seu semblante não pode conter a sua surpresa.Quem sabe Clarissa acreditasse que não
AntesEgorO silêncio entre nós é um daqueles confortáveis, o tipo que só se encontra entre irmãos. Estou sentado em uma cadeira, uma cerveja na mão, enquanto ele mexe em algo na cozinha. A TV está ligada, mas nenhum de nós presta atenção no que está passando.— Você tá estranho, sabia? — Nikolai comenta de repente, sem me olhar.— Obrigado, sempre bom ouvir isso — resmungo, tomando um gole da cerveja.— Não, sério. — Ele aparece no batente da cozinha, com uma sobrancelha arqueada. —Desde quando você, o homem que praticamente faz fila de mulheres no telefone, está... quieto? — Essa não parece uma questão vinda de lugar nenhum.— Estou cansado — digo, levantando os ombros em um gesto despreocupado.— Cansado? Você? — Ele ri alto, como se a ideia fosse absurda. — Quem é você e o que fez com meu irmão?— Não começa, Nik.Ele cruza os braços, apoiando-se na parede. O sorriso brincalhão ainda está lá, mas há algo mais nos olhos dele: curiosidade. Como se ele estivesse tentando juntar as pe
AtualmenteEgorO quarto de brinquedos está em um estado controlado de caos. Bonecas espalhadas no chão, carrinhos estacionados de qualquer jeito em uma pista de corrida improvisada, e risadas infantis enchendo o ambiente.Todo mundo quer contribuir com algo, então há muito aqui.Estou encostado no batente da porta, observando-a no meio da confusão.Ela está sentada no tapete felpudo, a pequena irmã dela aninhada em seu colo enquanto um dos meus sobrinhos insiste para que ela veja seu "voador incrível" — um avião de brinquedo que ele lança no ar com toda a força de seus braços minúsculos.— Uau! Esse foi alto! — ela exclama, sua voz cheia de entusiasmo.O garoto sorri, orgulhoso, e corre para pegar o avião.O jeito como ela lida com as crianças me prende. É uma faceta dela que eu não vi antes, no meio de toda bagunça. Ela é tão diferente da mulher que sempre parece pronta para me afastar, me matar... Aqui, Tasya é suave, paciente, quase maternal. É impossível não se impressionar.Ela
Tasya— Você pode parar e me ouvir por um segundo? — Gostaria de o odiar tanto quanto eu quero, mas aqui estou eu, parando para escutar o que tem a dizer, mesmo que não devesse. Não percebe que o que criou entre nós não pode continuar existindo?— Egor, creio que já deixei claro que não, não posso, você também não quer o que tenho — digo e segura em meu braço, me mantém próximo a ele. Não aperta, apenas quer ter alguma segurança quanto a me ter no lugar onde poderei ouvir tudo que diz. — Porque está insistindo tanto nisso, nós transamos algumas vezes e você ficou todo emocionado.— Temos transado por vários meses, Tasya e eu acredito que você não saiu, por aí procurando outra pessoa com quem foder, assim como eu não pude. — Rio, de verdade, pois me parece inocente demais proferindo palavras como essa, mas são as máscaras mais grossas que escondem os piores monstros, sei bem disso.E pode ser que ele não seja um deles, na verdade, as chances são muito baixas, mas não quero me arriscar
AntesTasya— Seu pai continua sendo um babaca? — pergunta minha colega após ver o homem trôpego saindo de perto de mim. Não bastasse o inferno que é estar na mesma casa que ele, não tenho alívio nem mesmo no meu trabalho.— Trabalho como uma cachorra e ele continua criando mais dívidas que no final acabam no meu nome — respondo e ela bate em meu ombro, sentindo pena de mim por ter que viver com um sujeito como ele.Mas, considerando o quanto tenho que gastar durante o mês só para pagar a todos os agiotas a quem deve, não tenho como me mudar para um lugar onde não vá me encontrar nunca mais.— Você vai conseguir sair dessa — fala, mas é apenas uma esperança perdida por bons longos anos.Já estou quase nos vinte e quatro, mas desde os quinze venho vivendo para pagar tudo que criou de rombos com o seu vício alcoólico e em jogos de azar.— Pense que pelo menos a casa vai ser sua quando terminar de pagar e que, se o expulsar, não terá ninguém te criticando.— Duvido que esse seja um ponto
TasyaEmpurro a porta estranhando o fato dela estar entre aberta. Tenho certeza de que a deixei fechada. Além disso, meu pai certamente está em algum bar qualquer enchendo a cara com o dinheiro que conseguiu com o seu trabalho ontem.É tudo que ele pode fazer quando ninguém confiaria em uma pessoa como ele em um serviço melhor. Faz bicos aqui e ali que não pagam muito, mas são os únicos trabalhos que pode fazer, ainda que feda como um gambá bêbado.— Pai, você está em casa? — berro, esperando que, se não for ele, que o indivíduo que arrombou a casa dê o seu jeito de correr antes que eu entre.Olho para os cantos, mas não há literalmente nada. Os poucos móveis de valor, meu pai fez questão de vender na intenção de conseguir algum dinheiro.Se conseguiu, eu não vi a cor do dinheiro. Tudo que como tem que ser comprado no dia e, com o passar dos anos, aprendi que não poderia deixar o dinheiro em casa, pois ele a reviraria até encontrar, depois o gastaria sem pensar em como me mato diariam