A mulher assentiu lentamente, como se cada resposta fosse parte de um quebra-cabeça que ela já sabia montar.
— E a sua história, Liz? O que houve com você?O que uma jovem tão linda faz morando nas ruas ? Liz hesitou, mas algo na voz da mulher — autoritária, porém gentil — a fez ceder. Contou quase tudo. A briga com os pais, a rejeição, o hospital, a tentativa frustrada de recomeçar, a promessa de ajuda que nunca veio, a noite em que foi quase violada pelo namorado da amiga. O olhar da mulher se estreitou ao ouvir sobre a recusa dos empregos. — A sua beleza me chamou atenção de longe — ela disse, repousando a xícara sobre o pires. — Você não tem ideia de quanto pode se da bem na vida com esse rostinho e esse corpo perfeito. Liz franziu a testa. — Se for fazendo o que eu estou pensando... não. Eu não sou... não farei isso. A mulher sorriu, paciente. — Não precisa se ofender, querida. Só estou sendo realista. Já que sua beleza só lhe trouxe dor, sofrimento e atraiu os homens errados, por que não usá-la para tirar dinheiro deles? — Isso não é certo...quer dizer eu nunca fiz sexo com alguém por dinheiro e isso é exatamente o que está me propondo. — Certo é passar fome? Dormir na rua? Ser tocada por quem você não quer, sem nem ganhar nada com isso? Com um único programa, você pode pagar uma pousada, ter um banho quente, comida de verdade, uma cama. Com uma produção, roupas de luxo, perfumes, cabelo feito... você pode valer muito, Liz e tanto eu quanto você ganharemos muito com isso. — Eu... — ela abaixou os olhos. — Eu viu tente arrumar um trabalho e... — Não se iluda, menina,, Sem um endereço, sem documentos, sem referências, não conseguira emprego em lugar nenhum . Só conseguirá algo na vida usando o que têm ao seu favor : O seu corpo. A sua beleza. E, querida... isso é ouro. Um tesouro que pode mudar sua vida. .Liz sentiu um nó no estômago. Queria dizer não. Queria ser forte. Mas estava fraca demais, machucada demais, cansada demais. E, no fundo, queria ter onde ficar . Pelo menos por um tempo. Só até ter forças novamente. — Só um... — ela disse quase num sussurro. — Só um programa. Só para conseguir um dinheiro para pelo menos ter onde ficar por um tempo. A mulher sorriu, satisfeita. — Perfeito. Sou dona de uma agência de acompanhantes de luxo. Mas não gosto desse nome... prefiro dizer que ofereço experiências únicas. E você será minha jóia mais rara. Ela se apresentou como Senhora Fernandes. Ligou para seu motorista e mandou que preparassem tudo. Liz foi levada até um apartamento de alto padrão onde, ao longo do dia, foi transformada por uma equipe de especialistas. Cabeleireiros, maquiadores, esteticistas, manicures. Roupas foram ajustadas sob medida, perfumes selecionados, até a lingerie foi escolhida com cuidado. À noite, Liz estava irreconhecível. Seus cabelos escuros caiam em ondas brilhantes, os olhos marcados em tons sedutores, os lábios vermelhos como vinho. Vestia um vestido preto justo, que revelava suas curvas, e por baixo, uma lingerie vermelha, provocante e luxuosa. — Você está deslumbrante — disse Senhora Fernandes. — E o seu cliente... ah, querida, ele é especial. Chegou há poucos meses em São Paulo. Bilionário. Misterioso e disse que paga o que eu pedir por você quando viu sua foto ficou muito interessado até porque eu disse que você era nova no ramo e ele seria seu primeiro cliente. O motorista abriu a porta do carro. Ela entrou sem dizer uma palavra. O caminho até o hotel foi silencioso, tenso. O coração martelava no peito. As mãos estavam geladas. “Só uma vez. Só pra sair da rua. Só pra não morrer de fome " O hotel era de luxo. Suíte presidencial. Tudo no lugar gritava poder, dinheiro, status. O motorista parou diante da entrada e entregou-lhe um envelope com o número do quarto. — Boa sorte. Liz engoliu em seco. Liz entrou. O elevador parecia uma gaiola dourada. As portas se abriram no último andar. Ela sabia que não deveria estar ali. Sabia que cada passo rumo àquele hotel de luxo era um passo contra seus princípios, contra a esperança que ainda teimava em sobreviver dentro dela. Mas o mundo real não dava trégua. Era fome ou dignidade. Frio ou orgulho. Sobrevivência ou sonho. O vestido colado ao corpo parecia uma prisão feita de cetim. O salto alto machucava seus pés feridos de tanto vagar pelas ruas. E o batom vermelho não escondia o seu medo do desconhecido. Liz entrou na suíte a mando da senhora Fernandes com o coração acelerado, o estômago revirando e o corpo tenso. Pensava que enfrentaria um estranho, aquele que seria deu primeiro e único cliente ,pois não contiuaria com aquilo,depois daquela noite. Quando a porta se fechou atrás dela com um leve estalo, Liz mal teve tempo de respirar. O perfume amadeirado que flutuava no ar era inebriante, sofisticado — familiar. Seu coração já batia acelerado pela situação, mas naquele instante... ele quase parou. Seus olhos se ergueram devagar, como se temessem encarar o inevitável. E então ela o viu. De pé, diante da ampla janela da suíte, com a cidade de São Paulo brilhando atrás dele como um mar de luzes, estava Alexander. Imponente. Inesquecível. O ar pareceu ser sugado do ambiente. Os joelhos de Liz fraquejaram, e um frio cortante percorreu sua espinha. — Alexander? — o nome escapou de seus lábios num sussurro que mal conseguiu formar, trêmulo, incrédulo.Ele se virou lentamente, como se aquele nome tivesse o poder de paralisar o tempo. Quando seus olhos encontraram os dela, o mundo inteiro pareceu parar. Nenhum som. Nenhuma respiração. Só aquela conexão intensa e eletrizante que voltava com uma força avassaladora.Ele a devorava com os olhos, como se estivesse tentando entender quem era aquela mulher à sua frente. Liz estava mais bonita do que ele recordava — os traços delicados, os lábios levemente entreabertos, os olhos brilhando com desafio e dor. A transformação era visível. Ela já não era apenas a garota quebrada que ele salvara na rua. Ela era uma mulher. Linda, intensa, com uma sensualidade que parecia natural… e absolutamente proibida.Aquilo o desestabilizou.Havia algo nela que agora o atraía de forma irracional, selvagem. Um ímã poderoso que o puxava para perto, e ele nunca sentiu tanto desejo assim por uma mulher ,nem mesmo por Julia ,a sua falecida esposa .Ele neo sabia porque na segunda vez que via aquele garota ele fic
Liz fechou os olhos, sentindo a dor de ser acusada tão injustamente por Valéria. A lembrança era amarga, mas nada se comparava à intensidade do olhar de Alexander, que a queimava. — Ela disse que você voltou para as ruas, onde, segundo ela, nunca deveria ter saído. E eu fiquei desesperado. Desde aquela noite em que te socorri, algo em mim despertou. Me senti responsável por você, Liz. Como se… como se te conhecesse antes. Como se fosse meu dever te proteger. Por mais estranho que isso possa parecer, eu sinto que já te conhecia… só não lembro de onde. Ele se abaixou levemente, ficando à altura dela, os rostos perigosamente próximos de novo. Liz pôde ver cada detalhe do rosto dele, o calor dos olhos, a tensão no maxilar. A respiração dele roçava sua pele, e tudo em seu corpo clamava por algo que ela mesma não queria admitir. Seus rostos se inclinaram, inconscientemente, como se um beijo fosse inevitável… mas ela se conteve no último instante, respirando fundo. — Posso falar agora? —
Ele lançou um olhar breve para ela antes de voltar os olhos para a rua. — Não é desprezo. — A voz dele saiu baixa, mais pesada. — Muito pelo contrário... Eu já amei mais do que qualquer homem nessa vida .Quanto ela morreu,Julia ,minha falecida esposa , tudo em mim morreu junto. Inclusive a capacidade de sentir esse tipo de amor de novo. Ela o fitou, surpresa com a honestidade. — Você é viúvo...? Ele assentiu. — Sim. E antes que pergunte, se tenho filhos ,sim, tenho uma filha. de seis anos. A razão da minha vida. Liz sentiu o coração apertar. — E mesmo assim vai me levar pra sua casa? Onde a sua filha mora?Ela não vai estranhar isso ? Ele respirou fundo. — Ela não está em casa. Está na casa dos avós. Dormindo lá hoje... contra a minha vontade. — Por quê? — perguntou, curiosa. A expressão dele endureceu. — Os pais da minha esposa.... estão tentando me tirar a guarda dela na justiça. Acham que eu não sou um bom pai por... motivos pessoais. Está sendo uma briga
Com o polegar, ele tocou seus lábios. Ela fechou os olhos, sentindo a eletricidade daquele toque. Esperava pelo beijo. Queria. Desejava. Mas ele se afastou. — Eu te quero, Liz. Como nunca quis mulher alguma. E está mais do que evidente. Ele se acomodou no sofá com a confiança de um predador no controle. Esticou uma das pernas com indolência e, com um leve tapa em sua coxa musculosa, a convidou sem dizer uma palavra. O gesto, simples e carregado de masculinidade, arrepiou cada centímetro do corpo de Liz. Hesitante, sentindo o coração martelar no peito, ela se aproximou. Seus olhos se encontraram por um instante — intensos, carregados de tensão e desejo contido — antes que ela finalmente cedesse e se acomodasse em seu colo. As mãos dele imediatamente deslizaram por sua cintura, firmes, possessivas,como se já fosse dele. A sensação do corpo dela encaixado sobre o dele fez seu maxilar travar. O calor entre os dois era palpável, quase sufocante. O vestido fino de Liz pouco escond
Mas Alexander não havia terminado com ela. Carregou-a no colo, o olhar faminto como o de um homem que havia provado algo viciante e precisava de mais. Entraram no quarto e ela, já mais ousada, o empurrou sobre a cama e montou sobre ele. Seus quadris começaram a se mover lentamente, provocando-o, guiando o ritmo. Alexander segurava seus quadris, os olhos cravados nela como se estivesse diante de uma deusa. — Isso... assim nifetinha gostosa ...me mostra do que é capaz — ele rosnou, sentindo-se à beira da loucura. Ela o cavalgava com um misto de desejo e desafio, os cabelos soltos balançando, os seios se movendo com cada movimento, os gemidos se misturando à respiração pesada dele. O prazer veio novamente, intenso, avassalador. E mesmo depois disso, ainda não tinham terminado. Alexander parecia uma máquina de fazer sexo e ela se igulava ao desejo insaciável dele ,depois que descobriu o prazer em seus braços. Foram para o banheiro. A água quente caía sobre os corpos ainda febris
Liz hesitou por um segundo. Uma pausa curta, mas suficiente para que o silêncio falasse por ela. — Não... por que eu ficaria? — mentiu, sorrindo com os lábios, mas não com os olhos. Alexander a observou em silêncio por um instante. Talvez tenha percebido a mentira, talvez tenha decidido ignorá-la. Seu rosto endureceu levemente, como se precisasse proteger algo dentro dele — ou dentro dela. — Que bom que não ficou — disse, a voz mais fria do que antes. — Porque eu fui claro, Liz. Não espere de mim o que eu não posso te dar. Se cometer o erro de se apaixonar e me cobrar algo... saiba que eu não hesitarei em tirar você da minha vida. Sem hesitar. O coração de Liz se apertou. Não pelas palavras em si, mas pela firmeza com que ele as disse. Ele não estava brincando. Mas, mesmo assim, ela não recuou. Quis desafiá-lo. Ou talvez, só quis entender até onde ele iria. — E se você se apaixonar? O que eu devo fazer? Ele riu. Um som baixo, rouco, sem alegria. — Não se preocupe, Li
Elizabete Vasconcelos — ou simplesmente Liz, como todos a chamavam — vagava pelas ruas de São Paulo como uma alma penada, com o corpo frágil coberto por roupas sujas e os pés descalços e feridos. A fome queimava seu estômago, a sede ressecava sua boca, e o frio da madrugada cortava sua pele como lâminas. Mas nada doía mais do que a rejeição. Nada era mais cruel do que ter sido jogada no mundo por aqueles que deveriam amá-la incondicionalmente.Filha única de uma família rica e tradicional, Liz crescera sob a vigilância implacável de dois carrascos: sua mãe, uma fanática religiosa obcecada pela aparência de santidade, e seu pai, um ex-sargento do exército, severo, inflexível e completamente insensível a qualquer emoção.Seu “pecado”? Ter engravidado aos 19 anos. Uma gravidez que nem sequer foi desejada. Um acidente. Um deslize cometido em um momento de ingenuidade com o homem que jurava amá-la. Lúcio.Eles tinham usado preservativo. Mas estourou. E com ele, estourou também a ilusão de
Ela cambaleava como um fantasma à deriva, um vulto perdido entre buzinas, luzes de farol e vitrines iluminadas que contrastavam cruelmente com sua escuridão. A cidade estava viva. Mas ela… estava morrendo.Tinha perdido tudo.O amor. A dignidade. O respeito. E agora… seu bebê.— Por favor… alguém… — murmurava, a voz arrastada, sumida pelo vento. — Me ajuda…Mas ninguém parava.Até que, ao tentar atravessar uma avenida movimentada, suas pernas falharam de vez. O som de pneus cantando no asfalto, o grito de um motorista, uma buzina estridente.E então, escuridão.Mas antes de desmaiar, seus olhos ainda conseguiram captar um único detalhe.O rosto dele.Tão irreal que por um instante achou que fosse a própria morte em forma de anjo.Olhos intensos, azul profundo como o céu antes da tempestade. Cabelos escuros, molhados pela chuva, grudando na testa. Maxilar marcado. Sobrancelhas contraídas em preocupação. Ele era o homem mais lindo que Liz já vira — e o último que imaginou que veria naqu