Capítulo 2

Ela cambaleava como um fantasma à deriva, um vulto perdido entre buzinas, luzes de farol e vitrines iluminadas que contrastavam cruelmente com sua escuridão. A cidade estava viva. Mas ela… estava morrendo.

Tinha perdido tudo.

O amor. A dignidade. O respeito. E agora… seu bebê.

— Por favor… alguém… — murmurava, a voz arrastada, sumida pelo vento. — Me ajuda…

Mas ninguém parava.

Até que, ao tentar atravessar uma avenida movimentada, suas pernas falharam de vez. O som de pneus cantando no asfalto, o grito de um motorista, uma buzina estridente.

E então, escuridão.

Mas antes de desmaiar, seus olhos ainda conseguiram captar um único detalhe.

O rosto dele.

Tão irreal que por um instante achou que fosse a própria morte em forma de anjo.

Olhos intensos, azul profundo como o céu antes da tempestade. Cabelos escuros, molhados pela chuva, grudando na testa. Maxilar marcado. Sobrancelhas contraídas em preocupação. Ele era o homem mais lindo que Liz já vira — e o último que imaginou que veria naquele momento.

Ela desmaiou em seus braços.

Ao ver a jovem necessitando de socorro Alexander não pensou duas vezes. Correu até ela, ignorando o motorista ainda dentro do carro, paralisado.

— Ei! — Ele se ajoelhou ao lado dela, tocando seu rosto com cuidado.

— Moça... moça, escuta, vai ficar tudo bem. Eu tô aqui.

Ela não respondeu. Os olhos estavam entreabertos, os lábios entre tremores e sangue.

Sem perder tempo, Alexander a ergueu com toda delicadeza nos braços. O corpo dela estava leve, frágil como um pássaro ferido. Ele a acomodou cuidadosamente no banco do passageiro, ajustando o cinto com precisão.

Mas antes de entrar no carro, girou nos calcanhares e foi direto até o motorista que quase a atropelou.

— Olha aqui, seu imbecil! — rosnou Alexander, com a mandíbula tensa e os olhos faiscando.

— Você quase matou essa garota e nem sequer teve a decência de prestar socorro!

O homem, um sujeito de terno amarrotado e olhar arrogante, desceu do carro resmungando.

— Eu tenho mais o que fazer do que me preocupar com uma mendiga imunda que não olha por onde anda, e é...

O soco veio antes que ele terminasse. Um golpe seco, certeiro, que fez o homem girar e cair de joelhos na calçada molhada.

— Só não te parto a cara inteira agora pela tua falta de humanidade... porque ela precisa de mim. E eu vou levá-la ao hospital. Mas se eu te ver de novo... reza pra polícia chegar antes de mim.

Alexander voltou ao carro sem olhar para trás, os sapatos encharcados e a camisa colada ao peito. Ligou o motor com urgência e disparou pelas ruas, acelerando com habilidade, como se a estrada se abrisse à sua frente.

Ao chegar ao hospital, não perdeu tempo. Desceu com Liz nos braços e entrou diretamente pela ala de emergência. Era um dos hospitais mais luxuosos da cidade, com convênio exclusivo e protocolos rigorosos. Os funcionários na recepção o olharam com desconfiança — até reconhecê-lo.

Alexander Ferraz.

O bilionário. O homem que tinha metade da cidade sob sua influência.

— Ela precisa de atendimento urgente! — disse com firmeza.

— Eu acredito que esteja grávida e perdendo muito sangue. Façam o possível para salvar o bebê. Por favor.

Diante da autoridade em sua voz, os olhares mudaram. Rapidamente chamaram a equipe médica, que levou Liz em uma maca, sumindo por trás das portas brancas do pronto-socorro.

Alexander ficou parado por um instante, observando as portas se fecharem. A camisa dele agora estava manchada com o sangue dela. Sentou-se na recepção, o rosto sério, o olhar distante. Como sempre, chamou a atenção. As mulheres ali o observavam com admiração — era impossível não notar sua presença marcante, os traços fortes e a aura de poder natural.

Mas Alexander não se importava.

Pegou o celular e fez uma ligação para cunhada que estava cuidando de sua filha.

— Tamara ,é o Alex.Terá que ficar mais um pouco com pra mim hoje... eu vou demorar. Diz a ela que tive que resolver umas coisas importantes, tá bem?

Assim que desligou, apoiou os cotovelos nos joelhos e fitou o chão, em silêncio. Sua mente voltou à imagem da jovem desacordada. Mesmo machucada, havia algo nela que o tocava de um jeito estranho. O rosto delicado, angelical... e ainda assim tão marcado pela dor.

Quem era ela?

E por que, mesmo sem conhecê-la, ele sentia que não podia simplesmente ir embora?

Aquilo o intrigava e ao mesmo tempo o assustava ,nunca havia agido assim por uma desconhecida antes.

Depois de um longo tempo de espera ,ele estava ficando cada vez mais impaciente ,caminhava lentamente pelos corredores silenciosos do hospital, o som de seus sapatos ecoando sobre o chão de mármore encerado.

Nos braços, ainda sentia o leve peso da jovem desconhecida que havia resgatado minutos antes. Agora, enquanto esperava por notícias sobre seu estado, estava sozinho, mergulhado nos próprios pensamentos.

Havia acabado de retornar do exterior, após meses dedicando-se à aquisição de uma startup promissora de inteligência artificial. Era mais uma conquista do seu império tecnológico — uma empresa que agora se tornaria a nova sede do seu conglomerado em São Paulo. E ironicamente, essa cidade que lhe prometia expansão e lucro também acabara de se tornar palco de um encontro inesperado que começava a mexer com sua estrutura.

Mas a quietude do hospital e o cheiro forte de desinfetante não lhe traziam boas lembranças. Muito pelo contrário. O ambiente o sufocava. O fazia voltar ao pior dia de sua vida.

Foi em um lugar como aquele que ele perdeu tudo.

Seus olhos vagaram pelas paredes pálidas e pelas pessoas apressadas vestindo branco. E, de repente, a lembrança voltou com força brutal: o acidente, o volante girando fora de controle, o som de metal se partindo, o sangue, os gritos abafados e o rosto pálido de Julia, sua esposa, que segurava a barriga de oito meses como se implorasse para o tempo parar.

Ela havia escondido dele que a gravidez era de risco. Sabia que, por causa de uma doença rara, engravidar poderia ser fatal. Mas decidiu levar adiante mesmo assim, porque queria lhe dar aquilo que ele sonhava desde a juventude: uma família tão feliz quanto a que ele cresceu.

Alexander nunca se perdoou por isso. Se ele tivesse falado mais. Se tivesse percebido. Se tivesse insistido para que ela fizesse todos os exames. Talvez Julia estivesse viva. Talvez estivesse agora ao lado dele, rindo das travessuras da pequena Adélia, que nasceu naquele mesmo dia, entre gritos e lágrimas, mas nunca conheceu a mãe.

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