Liz discou com dedos trêmulos, o coração disparando como se uma parte dela ainda acreditasse. Mas tudo o que ouviu foi uma voz mecânica e fria: “O número que você chamou está desligado ou fora da área de cobertura.”
Tentou de novo. Mais três vezes. Nada. O mesmo silêncio doloroso. A mesma ausência. A esperança foi dando lugar à humilhação, ao cansaço de confiar. — Eu sou mesmo uma idiota — murmurou, devolvendo o celular a Valéria. — Acreditar em homem de novo... eu sou uma burra. — Ei, não fala assim. Você só é boa demais. E gente boa demais sempre espera o melhor dos outros. Valéria era uma mulher de quarenta anos, enfermeira há décadas, com um coração enorme e um olhar cheio de compaixão. Quando soube que Liz não tinha pra onde ir, ofereceu sua casa. Um pequeno apartamento onde, de tempos em tempos, seu namorado Afonso dormia algumas noites,o que deixou Liz apreensiva ,achando que ia lhe atrapalhar e então ela lhe falou sobre isso. — Ele não fica lá direto, só às vezes. Você pode usar o sofá ou meu colchão reserva. Não é muito, mas é limpo e seguro — disse Valéria. Liz, sem ter outra escolha, aceitou. O que mais podia fazer? Ela não tinha um real no bolso, nem documentos. Sua última esperança havia sumido como poeira. Juntas, foram até a casa dos pais de Liz. O reencontro foi como uma faca atravessando o peito. A mãe, ao vê-la, fez o sinal da cruz. — Você voltou pra nos envergonhar mais ainda? — cuspiu as palavras com desprezo. — Suja. Contaminada pelo pecado. Queimei suas roupas. Não quero nada seu aqui! Liz, em silêncio, lutou para não desmoronar. Só pediu seus documentos. O pai entregou um envelope murcho, sem olhar em seus olhos. — Some daqui. E não volta nunca mais. De volta ao pequeno apartamento de Valéria, Liz tentava se adaptar. Valéria tinha uma filha da mesma idade que Liz ,que morava com o pai e havia deixado algumas roupas para trás — roupas que agora aqueciam Liz. Ela retribuía limpando a casa, cozinhando, tentando ser útil. Nos dias em que terminava cedo, saía pelas ruas em busca de um emprego. Mas a resposta era sempre a mesma: “Sem experiência? Sem estudos ? Sem chance.” E Alexander? Nunca mais deu sinal. Depois de semanas tentando ligar — sempre caixa postal —, Liz desistiu. Rasgou o papel com o número dele e jogou fora com raiva. Mas o golpe final ainda estava por vir. Valéria estava de plantão. Liz já havia jantado, tomado banho, e se trancado no quartinho improvisado. Ouvia música baixinho, tentando distrair a mente. Foi quando Afonso apareceu. Ela ouviu a chave na porta e prendeu a respiração. Ele nunca ia lá quando Valéria não estava. Mas naquela noite, entrou sorrateiro, sem dizer palavra. Liz sentiu o cheiro de álcool antes mesmo de vê-lo. — Tá sozinha, hein? — disse, encostando no batente da porta do quarto. — A Valéria não vai voltar tão cedo, não é?O que você acha de nós divertimos um pouco enquanto ela não chega ? Liz gelou. Se encolheu na cama, o lençol agarrado ao corpo. Ele deu um passo para dentro. — Sai daqui, Afonso. — Ah, qual é, gata... Não vai fazer doce agora. Eu sei que você fica me olhando....Eu sei que vide me quer. Ela gritou. Tentou correr, mas ele a agarrou pelo braço com força. Tentou beijá-la à força. Ela o empurrou, o arranhou, chutou, gritou de novo. Foi quando a porta se abriu com violência. Valéria. Tinha trocado de plantão com uma colega e chegado mais cedo. O que viu foi Liz no cama com Afonso sobre ela tentando lhe beijar apesar dela lutar contra ele como uma leoa ele acabou conseguindo. Quando percebeu a presença de Valéria ele pulou de cima de Liz e fez uma cara de vítima. — Valéria, meu amor ...eu não queria ...ela me provocou! Eu vim buscar um casaco e ela me seduziu me afastando para seu quarto.Tentei sair, ela me agarrou! Liz chorava, em choque, tentando explicar, mas Valéria estava cega, pela raiva ,com certeza acreditando no namorado. —Me traindo ,Liz? Depois de tudo que fiz por você? É assim que me paga ? — Não! Pelo amor de Deus, ele tentou me agarrar! Ele... — Chega! Eu devia ter te deixado você ir para rua de onde veio e de onde vagabundas como você deve ficar ! Some da minha casa agora! E assim, como num pesadelo que se repetia, Liz voltou às ruas. Sem Alexander. Sem Valéria. Sem pai. Sem mãe. Sem ninguém. Valéria só lhe deu tempo de juntar as roupas que lhe deu seus documentos e sair. Ela andou até que as pernas não aguentaram mais. Sentou-se no meio-fio de uma rua escura, encolhida, sentindo o gosto salgado das lágrimas e da vergonha. A madrugada foi cruel. O vento cortava a pele como lâmina fina e invisível. Liz, encolhida entre caixas de papelão em frente a uma loja fechada, não conseguia pregar os olhos. O frio era apenas um dos inimigos. Os verdadeiros perigos estavam à espreita, escondidos nas sombras — homens bêbados, olhares lascivos, ameaças sussurradas nas esquinas. Ela ficou acordada. Sempre alerta. Sempre com medo. O céu começou a clarear, tímido, sobre os prédios de São Paulo, e Liz levantou-se com as pernas trêmulas. Os pés doíam, os olhos ardiam, o estômago roncava de fome. Vagueou pelas calçadas como um fantasma, ignorada pelas pessoas apressadas que desviavam o olhar. Até que, atraída pelo cheiro de pão fresco e café quente, parou em frente a um restaurante elegante. As vitrines exibiam doces cobertos de glacê, croissants dourados, sucos coloridos. Sua barriga estremeceu. Ela não tinha um centavo. — Você está bem, querida? A voz suave a fez se virar. Diante dela, uma senhora impecavelmente vestida, de cabelos loiros presos num coque elegante, usava salto alto e um casaco bege de grife. Seu perfume era doce e caro. — Venha tomar um café comigo. É por minha conta. Liz hesitou, desconfiada. Mas a fome falou mais alto. Sentaram-se à mesa perto da janela. A mulher pediu dois cafés, pães de queijo, bolo e frutas. Liz comeu devagar, com vergonha, tentando manter a dignidade enquanto devorava tudo. A mulher a observava com olhos avaliadores. — Qual é o seu nome? — Liz. — Tem quantos anos? — Dezenove. — Mora onde? — Em lugar nenhum.A mulher assentiu lentamente, como se cada resposta fosse parte de um quebra-cabeça que ela já sabia montar. — E a sua história, Liz? O que houve com você?O que uma jovem tão linda faz morando nas ruas ? Liz hesitou, mas algo na voz da mulher — autoritária, porém gentil — a fez ceder. Contou quase tudo. A briga com os pais, a rejeição, o hospital, a tentativa frustrada de recomeçar, a promessa de ajuda que nunca veio, a noite em que foi quase violada pelo namorado da amiga. O olhar da mulher se estreitou ao ouvir sobre a recusa dos empregos. — A sua beleza me chamou atenção de longe — ela disse, repousando a xícara sobre o pires. — Você não tem ideia de quanto pode se da bem na vida com esse rostinho e esse corpo perfeito. Liz franziu a testa. — Se for fazendo o que eu estou pensando... não. Eu não sou... não farei isso. A mulher sorriu, paciente. — Não precisa se ofender, querida. Só estou sendo realista. Já que sua beleza só lhe trouxe dor, sofrimento e atraiu os homens errad
Ele se virou lentamente, como se aquele nome tivesse o poder de paralisar o tempo. Quando seus olhos encontraram os dela, o mundo inteiro pareceu parar. Nenhum som. Nenhuma respiração. Só aquela conexão intensa e eletrizante que voltava com uma força avassaladora.Ele a devorava com os olhos, como se estivesse tentando entender quem era aquela mulher à sua frente. Liz estava mais bonita do que ele recordava — os traços delicados, os lábios levemente entreabertos, os olhos brilhando com desafio e dor. A transformação era visível. Ela já não era apenas a garota quebrada que ele salvara na rua. Ela era uma mulher. Linda, intensa, com uma sensualidade que parecia natural… e absolutamente proibida.Aquilo o desestabilizou.Havia algo nela que agora o atraía de forma irracional, selvagem. Um ímã poderoso que o puxava para perto, e ele nunca sentiu tanto desejo assim por uma mulher ,nem mesmo por Julia ,a sua falecida esposa .Ele neo sabia porque na segunda vez que via aquele garota ele fic
Liz fechou os olhos, sentindo a dor de ser acusada tão injustamente por Valéria. A lembrança era amarga, mas nada se comparava à intensidade do olhar de Alexander, que a queimava. — Ela disse que você voltou para as ruas, onde, segundo ela, nunca deveria ter saído. E eu fiquei desesperado. Desde aquela noite em que te socorri, algo em mim despertou. Me senti responsável por você, Liz. Como se… como se te conhecesse antes. Como se fosse meu dever te proteger. Por mais estranho que isso possa parecer, eu sinto que já te conhecia… só não lembro de onde. Ele se abaixou levemente, ficando à altura dela, os rostos perigosamente próximos de novo. Liz pôde ver cada detalhe do rosto dele, o calor dos olhos, a tensão no maxilar. A respiração dele roçava sua pele, e tudo em seu corpo clamava por algo que ela mesma não queria admitir. Seus rostos se inclinaram, inconscientemente, como se um beijo fosse inevitável… mas ela se conteve no último instante, respirando fundo. — Posso falar agora? —
Ele lançou um olhar breve para ela antes de voltar os olhos para a rua. — Não é desprezo. — A voz dele saiu baixa, mais pesada. — Muito pelo contrário... Eu já amei mais do que qualquer homem nessa vida .Quanto ela morreu,Julia ,minha falecida esposa , tudo em mim morreu junto. Inclusive a capacidade de sentir esse tipo de amor de novo. Ela o fitou, surpresa com a honestidade. — Você é viúvo...? Ele assentiu. — Sim. E antes que pergunte, se tenho filhos ,sim, tenho uma filha. de seis anos. A razão da minha vida. Liz sentiu o coração apertar. — E mesmo assim vai me levar pra sua casa? Onde a sua filha mora?Ela não vai estranhar isso ? Ele respirou fundo. — Ela não está em casa. Está na casa dos avós. Dormindo lá hoje... contra a minha vontade. — Por quê? — perguntou, curiosa. A expressão dele endureceu. — Os pais da minha esposa.... estão tentando me tirar a guarda dela na justiça. Acham que eu não sou um bom pai por... motivos pessoais. Está sendo uma briga
Com o polegar, ele tocou seus lábios. Ela fechou os olhos, sentindo a eletricidade daquele toque. Esperava pelo beijo. Queria. Desejava. Mas ele se afastou. — Eu te quero, Liz. Como nunca quis mulher alguma. E está mais do que evidente. Ele se acomodou no sofá com a confiança de um predador no controle. Esticou uma das pernas com indolência e, com um leve tapa em sua coxa musculosa, a convidou sem dizer uma palavra. O gesto, simples e carregado de masculinidade, arrepiou cada centímetro do corpo de Liz. Hesitante, sentindo o coração martelar no peito, ela se aproximou. Seus olhos se encontraram por um instante — intensos, carregados de tensão e desejo contido — antes que ela finalmente cedesse e se acomodasse em seu colo. As mãos dele imediatamente deslizaram por sua cintura, firmes, possessivas,como se já fosse dele. A sensação do corpo dela encaixado sobre o dele fez seu maxilar travar. O calor entre os dois era palpável, quase sufocante. O vestido fino de Liz pouco escond
Mas Alexander não havia terminado com ela. Carregou-a no colo, o olhar faminto como o de um homem que havia provado algo viciante e precisava de mais. Entraram no quarto e ela, já mais ousada, o empurrou sobre a cama e montou sobre ele. Seus quadris começaram a se mover lentamente, provocando-o, guiando o ritmo. Alexander segurava seus quadris, os olhos cravados nela como se estivesse diante de uma deusa. — Isso... assim nifetinha gostosa ...me mostra do que é capaz — ele rosnou, sentindo-se à beira da loucura. Ela o cavalgava com um misto de desejo e desafio, os cabelos soltos balançando, os seios se movendo com cada movimento, os gemidos se misturando à respiração pesada dele. O prazer veio novamente, intenso, avassalador. E mesmo depois disso, ainda não tinham terminado. Alexander parecia uma máquina de fazer sexo e ela se igulava ao desejo insaciável dele ,depois que descobriu o prazer em seus braços. Foram para o banheiro. A água quente caía sobre os corpos ainda febris
Liz hesitou por um segundo. Uma pausa curta, mas suficiente para que o silêncio falasse por ela. — Não... por que eu ficaria? — mentiu, sorrindo com os lábios, mas não com os olhos. Alexander a observou em silêncio por um instante. Talvez tenha percebido a mentira, talvez tenha decidido ignorá-la. Seu rosto endureceu levemente, como se precisasse proteger algo dentro dele — ou dentro dela. — Que bom que não ficou — disse, a voz mais fria do que antes. — Porque eu fui claro, Liz. Não espere de mim o que eu não posso te dar. Se cometer o erro de se apaixonar e me cobrar algo... saiba que eu não hesitarei em tirar você da minha vida. Sem hesitar. O coração de Liz se apertou. Não pelas palavras em si, mas pela firmeza com que ele as disse. Ele não estava brincando. Mas, mesmo assim, ela não recuou. Quis desafiá-lo. Ou talvez, só quis entender até onde ele iria. — E se você se apaixonar? O que eu devo fazer? Ele riu. Um som baixo, rouco, sem alegria. — Não se preocupe, Li
Elizabete Vasconcelos — ou simplesmente Liz, como todos a chamavam — vagava pelas ruas de São Paulo como uma alma penada, com o corpo frágil coberto por roupas sujas e os pés descalços e feridos. A fome queimava seu estômago, a sede ressecava sua boca, e o frio da madrugada cortava sua pele como lâminas. Mas nada doía mais do que a rejeição. Nada era mais cruel do que ter sido jogada no mundo por aqueles que deveriam amá-la incondicionalmente.Filha única de uma família rica e tradicional, Liz crescera sob a vigilância implacável de dois carrascos: sua mãe, uma fanática religiosa obcecada pela aparência de santidade, e seu pai, um ex-sargento do exército, severo, inflexível e completamente insensível a qualquer emoção.Seu “pecado”? Ter engravidado aos 19 anos. Uma gravidez que nem sequer foi desejada. Um acidente. Um deslize cometido em um momento de ingenuidade com o homem que jurava amá-la. Lúcio.Eles tinham usado preservativo. Mas estourou. E com ele, estourou também a ilusão de