Com as mãos tremulas, Wendy tirou o telefone de ouvido e o encarou por alguns segundos, enquanto aquela mensagem eletrônica se repetia. Sem entender o porquê estava fazendo aquilo, Wendy apertou o número um e colocou o telefone de volta na orelha. — Você me atendeu. — a voz feminina e rouca murmurou. — Já faz muitos anos, cachinhos de ouro. Wendy era apenas uma menina de treze anos, quando ouviu aquele apelido pela última vez. E naquele momento, mesmo sendo uma mulher adulta, aquilo ainda a aterrorizava. — Posso ouvir sua respiração, cachinhos de ouro. Não vai falar com a mamãe? — O... que... você... quer? — Conversar, minha querida. Faz anos que ligo para a mansão e toda vez sou recusada. E na primeira vez que decido ligar para a empresa, você atende. Eu sabia que você um dia tomaria conta desse lugar. Ainda bem que tudo deu certo para uma de nós, depois daquela noite. Mesmo que tenha alisado seus lindos cachos loiros, você continua sendo a cachinhos de ouro da mamãe. As palavr
Londres, 2011. — Mãe, eu gosto dessa blusa! — Mas você não vai levar. Já cansei de dizer que quando for para a casa do seu pai, tem que trazer coisas novas de lá. Wendy bufa e cruza os braços, enquanto sua mãe retira todas as roupas que ela tinha acabado de guardar na mochila surrada. — Aliás, há outra coisa que precisamos conversar, antes de você ir. — Eda se senta, olhando para sua filha adolescente. — O seu aniversário. — O que tem meu aniversário? — Wendy perguntou. Desde que se entendia por gente, todas as suas festas de aniversário eram comemoradas com o aniversário da Vinhos Montenegro. E aquele ano não seria diferente. — Não se faça de boba, cachinhos de ouro. — ela se levanta por poucos segundos, segura a mão da filha e a puxa para se sentar ao seu lado. — Sabe que seu pai dará uma grande festa. E eu quero estar lá. — Mamãe... — Wendy murmura, sentindo-se envergonhada pelo que estava prestes a dizer. — eu já tentei outras vezes... o papai sempre diz que a senhora nã
Com as mãos na cintura, um rosto estarrecido e sua gêmea avoada do lado, Chloe olha alternadamente entre seus outros dois irmãos. — Que merda é essa, Theo? — Olha a boca, Chloe. — Não! — ela exclama e adentra o quarto. — Você acabou de dizer que a Wendy é nossa irmã de sangue. O papai traiu a nossa mãe! — Chloe olha para Wendy, que encarava o chão abobalhada com toda aquela informação. — Agora está explicado por que eu nunca gostei de você. Pior do que ser adotada, é ser uma bastarda. Chloe lançou um olhar de desprezo para Wendy, seu rosto contorcido em desdém. — Uma bastarda, uma filha ilegítima nascida de uma traição nojenta, com aquela mulher pobre! Sempre soube que você não pertencia a esta família de verdade. Wendy sentiu como se tivesse levado um soco no estômago. As palavras de Chloe cortaram fundo, atingindo-a onde mais doía. Ela nunca imaginara que sua própria irmã pudesse ser tão cruel. — Chloe, para com isso! — Theodore interveio, tentando acalmar os ânimos. — Não er
— Mamãe... o que... — Eda... — Oliver murmura, olhando alternadamente entre a maluca da sua ex-amante e sua filha amedrontada. — Abaixe essa faca. Você vai machucá-la. — Oras... essa é a ideia, querido. Wendy sentiu seu coração bater descompassadamente, enquanto estava presa aos braços de sua mãe com a lâmina fria da faca pressionando seu pescoço delicado. Oliver permanecia imóvel com seu olhar fixo em Eda. Ele sabia que qualquer passo em falso poderia desencadear uma tragédia irreparável. — Eda, por favor. — ele implorou, com a voz angustiada. — Não faça isso. Wendy é só uma criança. Ela não tem culpa das escolhas erradas que fizemos. Eda soltou uma risada sinistra, a faca tremendo levemente em sua mão, deixando Wendy cada minuto mais apavorada. — Escolhas erradas? Ter ficado comigo, foi uma escolha errada? — Eda, sabe que nós só nos envolvemos porque eu estava passando por alguns problemas com a minha mulher. — o olhar de Eda fica ainda mais furioso e Oliver tenta melho
Londres, 2023. — Aqui o seu documento, senhor Blackwell. Só aguardar. Logo serão chamados. Após pegar seu documento da mão da recepcionista, Ethan da meia volta e se senta ao lado de Emily outra vez. A garota estava agarrada a uma revista de moda, sem dar muita atenção para aquilo. Ethan a olha de lado por alguns segundos e questiona: — Sua mãe sabe que você está aqui? — Não. — ela dá de ombros. — Provavelmente acha que estou na casa de alguma amiga. Mamãe é orgulhosa demais para me procurar. — Entendi... e onde vocês moram? Eu conheci sua mãe em... — Em um bar antigo nas noites de Liverpool. — Emily murmura, rolando os olhos. — Eu sei. E nós moramos no mesmo prédio velho da quinta avenida. Nada mudou. — Ah, eu... Ethan é interrompido pela menção de seu nome. Uma enfermeira alta e elegante estava diante de um corredor, com alguns papéis em mãos. Ele se levanta e olha para Emily, que parece paralisada na cadeira. — Tudo bem? — Sim. — ela murmura e se levanta, nada confiante da
— Ela não está, senhor Blackwell. — a recepcionista diz, desligando o telefone. — A secretária dela informou que a senhora Wendy saiu antes do almoço e ainda não retornou. Ethan estreita as sobrancelhas. — Liga de novo. A recepcionista supre sua vontade de revirar os olhos e pega o telefone mais uma vez. Ethan estava desconfiado de que Wendy não queria vê-lo, por estar chateada com a probabilidade de ele ter uma filha. Apesar de ela ter encorajado ele, e sido bastante compreensiva, Ethan tinha um certo receio daquilo ser falso e Wendy desistir do relacionamento deles. — Não. — ele diz. — Quer saber? Vou até lá. A mulher apenas o encarou, enquanto ele dava as costas para ela e ia para o elevador. Ethan apertava os botões frenéticamente, quando as portas se abriram, Theo saia olhando para o celular e os dois se trombaram. — Ei! — Theo exclama, olhando para seu cunhado. — Ethan. O que aconteceu? — Estão dizendo que Wendy não está. — E é verdade. — Theodore arqueia uma sobrance
Ethan encarou Wendy por longos segundos, até que falou: — Loira você era maravilhosa, mas morena... — ele fez uma careta brincalhona, tentando aliviar a tensão. — Você está absolutamente deslumbrante. Wendy soltou uma risada trêmula, um som que era ao mesmo tempo de alívio e felicidade. Ethan a puxou para mais perto, encostando sua testa na dela. — Juntos, podemos superar qualquer coisa, Wendy. — ele sussurrou. Deitados na cama, eles permaneceram em silêncio por alguns minutos, ouvindo apenas o som de suas respirações se acalmando. A luz suave do entardecer penetrava pelas cortinas, envolvendo-os em um brilho cálido. O peso das emoções do dia começava a ceder, substituído por uma sensação de paz que só a presença um do outro podia proporcionar. Ethan afagava delicadamente os cabelos molhados de Wendy, sentindo o cheiro da tinta recente. Ela, por sua vez, descansava a cabeça em seu peito, ouvindo as batidas firmes de seu coração. O calor do corpo de Ethan e a segurança de seus bra
Clifton andava de um lado a outro, no camarim improvisado, preocupado com a demora de Ethan. Faltavam dez minutos para a luta começar e ele ainda não havia chegado. O treinador estava prestes a ligar de novo, quando Ethan irrompe pela porta, jogando a bolsa no chão. — Cheguei. — Estou vendo. Ethan olha de lado para o seu treinador, enquanto começa a tirar seu terno e vestir apenas o short de luta. Clifton o observa com olhos estreitados. — Você não pode continuar chegando atrasado assim, Ethan. Isso aqui não é brincadeira. Ethan dá de ombros, sem parar o que está fazendo. — Não ligo para dinheiro, Clifton. Você sabe disso. Clifton se aproxima, o rosto vermelho de raiva. — Eu sei para o que você liga. Você acha que pode vencer o cara que matou sua irmã sem se esforçar, sem se dedicar? Você acha que só aparecer aqui vai ser suficiente? — Ethan o encara. — Lembra da surra que ele te deu, quando você simplesmente resolveu desafiá-lo cego de ódio? Ethan dá de ombros, claramente