EmmaO ateliê está silencioso e escuro quando entro. Não acendo as luzes, preferindo a penumbra que combina com meu estado de espírito. Maria tentou me ligar várias vezes, mas não consigo falar com ninguém agora.Peter também não para de ligar. Quinze chamadas perdidas. Trinta e duas mensagens não lidas.Me afundo no sofá, o mesmo onde ele me beijou pela primeira vez aqui. Onde seus olhos brilhavam de admiração ao ver meu trabalho. Onde pensei que finalmente tínhamos encontrado algo real.— Emma! — sua voz ecoa pelo ateliê vazio. Claro que ele me encontraria aqui.— Vai embora — minha voz sai embargada.— Não sem antes me ouvir — ele se aproxima, e mesmo na escuridão posso ver seu rosto transtornado. — Aquela noite no hotel... eu não dormi com ela.Rio sem humor.— Então ela engravidou por obra do Espírito Santo?— Emma, por favor — ele se ajoelha na minha frente, ignorando minha tentativa de me afastar. — Você me viu bêbado aquela noite. Mal conseguia ficar em pé.— Vi você com ela n
PeterO relatório financeiro do último trimestre está aberto em minha tela, mas as palavras se misturam enquanto minha mente vagueia pela milésima vez nesta manhã. Como diretor de operações do Grupo Blackwood, deveria estar focado na execução das estratégias definidas por meu pai, analisando números, supervisionando as operações diárias. Em vez disso, não consigo parar de pensar em como Emma ficou linda esta manhã, com aquele roupão de seda azul e os cabelos ainda despenteados.Emma. Minha esposa. A mulher que quebrou meu cartão black em dois pedaços sem piscar, declarando que tinha sua própria loja.Pressiono o interfone.— Sarah, pode vir aqui um momento?Minha secretária, eficiente como sempre, aparece em segundos.— Preciso que levante todas as informações possíveis sobre a loja da minha esposa.Sarah ergue uma sobrancelha, mas mantém o profissionalismo.— Claro, senhor Blackwood. Qual o nome da loja?Sinto meu rosto esquentar. Como não sei nem mesmo isso?— Eu... — limpo a gargant
Emma— Me encontrou com Jessica? — repito a pergunta, observando atentamente sua reação.Peter ajusta a gravata, um gesto que já aprendi a reconhecer como nervosismo.— Não a vejo há semanas — ele responde, evitando meu olhar. — Por quê?A mentira dói mais que a própria traição. Respiro fundo, tentando controlar a tremedeira em minhas mãos.— Por nada — forço um sorriso. — Só curiosidade.Às 14:45, estaciono meu carro a uma distância segura da entrada do Grupo Blackwood. O tornozelo ainda dói dentro da bota ortopédica, mas a dor física é insignificante comparada à que corrói meu peito.Quinze minutos depois, vejo Peter saindo do prédio. Está magnífico em seu terno preto, os cabelos levemente bagunçados pelo vento. Meu coração dispara ao vê-lo, traidor que é.Mantenho distância enquanto o sigo pelas ruas do centro. Ele dirige até um café elegante, daqueles com mesinhas na calçada protegidas por toldos listrados.Jessica já está lá, é claro. Linda em seu vestido vermelho, cabelos perfei
PeterO escritório de Jessica está silencioso quando entro, ignorando os protestos de sua secretária. Ela ergue os olhos de sua mesa, um sorriso satisfeito brincando em seus lábios vermelhos.— Sabia que viria — ela diz, recostando-se em sua cadeira.— Chega de jogos — atravesso a sala em três passadas. — O que está tentando fazer?— Tentando? — ela acaricia a barriga ainda lisa. — Estou apenas lidando com as consequências dos nossos atos.— Que atos? Nada aconteceu naquela noite!Jessica se levanta lentamente, contornando a mesa.— Oh, Peter — sua voz é quase piedosa. — Você estava tão bêbado. É natural que não se lembre.Algo gelado desce por minha espinha.— Do que está falando?— Daquela noite no hotel — ela se aproxima. — Depois que tentou se consolar comigo no corredor. Você voltou, lembra? Depois de todas aquelas doses de uísque...— Não — balanço a cabeça. — Eu voltei para o quarto.— Primeiro veio ao meu — ela toca meu braço e me afasto como se queimasse. — Estava tão perdido
EmmaO salão do Metropolitan está deslumbrante, como sempre acontece no baile anual de caridade. Cristais cintilam, vestidos de grife rodopiam, taças de champanhe tilintam em brindes superficiais.E aqui estou eu, de braço dado com meu marido, sorrindo como se meu mundo não estivesse desmoronando.— Você está linda — Peter sussurra, e odeio como meu corpo ainda reage à sua voz.Estou usando uma de minhas próprias criações, um vestido azul meia-noite que demorei semanas para desenhar e fazer. Antes de tudo desabar, planejava que esta noite fosse especial. Nossa primeira aparição oficial como um casal realmente apaixonado.Que ironia.— Não precisa fingir quando não tem ninguém por perto — murmuro de volta, mantendo o sorriso social.— Não estou fingindo.Antes que possa responder, minha mãe se aproxima, arrastando alguma socialite que precisa conhecer "o casal do momento".— Emma, querida! — a mulher exclama, me analisando dos pés à cabeça. — Que vestido magnífico! É um Valentino?— É
Emma ParkerA música suave tocada pelo quarteto de cordas ecoa pelas paredes de pedra da catedral, reverberando nos bancos e altas colunas. Caminho lentamente pelo corredor central, meu braço entrelaçado ao do meu pai, Albert. O vestido branco que visto parece pesar toneladas, não tanto pelo tecido, mas pelo fardo que ele carrega: hoje, estou prestes a me casar com Peter Blackwood, um homem que não escolhi. A cada passo, sinto o olhar atento dos convidados, todos aguardando o momento em que direi “sim” e selarei o acordo que minhas famílias teceram.Meu coração está apertado, minha respiração, instável. Eu não quero esse casamento. Nunca quis. Vi Peter poucas vezes, e, embora ele seja um homem muito bonito, nunca houve nenhuma afinidade real entre nós. Ele sempre traz um sorriso debochado e arrogante nos lábios. E sei que faz sucesso entre as mulheres, mas eu não sou uma dessas. Eu acredito no amor genuíno e relacionamentos monogâmicos. Antiquado? Talvez. Mas sou assim. No entanto, pa
EmmaA atmosfera no salão da catedral é de celebração contida. Os convidados agora se movimentam, preparados para seguir até o local da recepção, onde fotos, discursos e brindes os aguardam. Estou parada perto de uma coluna, tentando digerir o que acabei de testemunhar. Peter beijando outra logo após nos casarmos. Uma traição escancarada, consumada segundos após a cerimônia. Meu marido. Minha amiga de longa data, ou ao menos alguém que eu considerava próxima. Quanta ironia.Eu me mantenho imóvel, o buquê ainda entre os dedos, a respiração curta. Minha mãe passa por mim, disfarçando, e sussurra em tom baixo:— Não faça um escândalo agora, Emma. Lembre-se do que está em jogo.Ela segue adiante, cumprimentando alguém. Estou sozinha com minha raiva e minha humilhação. Deveria confrontá-los? Deveria gritar? As palavras do meu pai ainda ecoam na minha cabeça: não estrague tudo, ou perderemos o que temos. Maldita chantagem emocional.Então vejo Peter se aproximar. Vem da direção do corredor
Peter Não acredito em casamentos arranjados. Na verdade, passo minha vida desprezando a ideia de me unir a alguém por mera conveniência. Cresci como o filho de James Blackwood, herdeiro de uma fortuna e de uma empresa colossal, mas também entendo cedo que esse tipo de vida exige sacrifícios, e geralmente não são os meus desejos pessoais que importam. Ainda assim, quando meu pai me comunica, meses atrás, que devo me casar com Emma Parker para garantir a fusão entre nossas famílias, eu resisto com toda a minha energia. Argumento, discuto, nego. No fim, percebo que não tenho escolha: ou aceito esse “acordo” ou perco meu lugar na empresa, além de todo o apoio financeiro que mantém meu estilo de vida.Minha fama de playboy talvez faça as pessoas pensarem que encaro este casamento sem problemas. Afinal, sou Peter Blackwood, o típico herdeiro que poderia exibir uma esposa perfeita em público, enquanto me divirto por aí. Mas não consigo me sentir bem com isso. Nunca fui santo, claro, mas tam