LEXIE
Estou beijando Stephan. Estou beijando um cara que não é Evan. Estou beijando e, me dói admitir, mas eu realmente sei o que estou fazendo. E eu quero.
E como quero.
Ele me beija com tanta força e velocidade, eu fico atordoada, porque não sei o que fazer. Não sei como controlar esse desejo insano existente entre nós.
Não sei quem ele é. Não sei nada sobre ele. Mas sei que nossos lábios parecem perfeitos um para o outro. Sei que ele tem um jeito exclusivo de me tocar. Sei que ele sabe que eu quero essa colisão entre nós dois tanto quanto ele.
Mas, então, Evan vem em minha mente. Mamãe e papai. Tudo que eu aprendi. Os ensinamentos que recebi. Quem eu aprendi que devo ser.
Não é esse tipo de pessoa. Não quero ser uma vádia traidora.
Me afasto de Stephan tão rápido quanto me joguei em seus braços. Ele paralisa, confuso, ainda me encarando.
— O que foi?
— O que foi? — eu rebato. Ele realmente me irrita. Digo a ele que estou noiva e ele insiste até me fazer não responder por mim. — Eu beijei você! É isso!
— E daí?
— Você está brincando comigo, não é? — rio com escárnio, ele nega, balançando a cabeça. — Eu estou noiva de um cara e eu beijei você! Eu acabei de trair meu futuro marido e daí, não é?
— Não forcei você a me beijar.
Eu sei. Não me forçou. Com certeza não, tenho que admitir.
Beijei porque quis. Porque provavelmente morreria se não atendesse esse desejo louco.
— O que você quer de mim?
— Quer que eu responda? — ele ri, vai se aproximando e eu sinto que vou explodir. — Quero tudo de você. Quero... você.
— Você não me conhece!
— Eu pretendo.
— Vou casar. — repito. Dessa vez, é mais para mim mesma. Porque o que acabei de ouvir me deixa aérea e me faz perder a sanidade. E eu preciso me lembrar que estou comprometida. Que vou casar com Evan Jones e ele me ama.
— Entendi isso, Lexie. — ele balança a cabeça. — mas você precisa admitir que alguma coisa aconteceu aqui. Aconteceu desde que nos vimos.
— Eu não... não sei do que está falando. Você pode ir embora? Eu estou no meu local de trabalho e...
— Certo.
Ele não insiste e acho que isso é o que mais me irrita nele. Ele não é insistente e eu apenas quero que ela seja um pouco mais. Quero que ele insista, me diga o que eu não quero, mas preciso ouvir.
— Eu vou. Mas não pense que é definitivo.
— Não. Não, por favor. Eu não posso...
Ele se aproxima, me silêcia com o dedo indicador depositado em meus lábios.
Fecho os olhos.
Evan. Evan é meu noivo. Acabei de trair meu noivo.
O que mamãe vai pensar de mim? E papai? Minha família?
— Não pense que vou me contentar apenas com um único beijo seu. Quero mais. Quero vários.
— Eu já disse...
E ele se vai. Me deixa ali, no meio de um pensamento, me sentindo suja em todos os aspectos e, mais suja ainda, por querer que ele não tivesse ido.
Por querer aquele desconhecido aqui. Me beijando. Me puxando para si...
Merda.
Merda.
Merda.
> > >
Entro em casa tentando ser cautelosa. Não quero chamar atenção. Apenas quero subir, ir para meu quarto e pensar na vida. Ando na ponta dos pés, a casa não está movimentada e isso é novidade.
Estou focada em parecer invisível, e, para minha surpresa - e talvez azar - acabo esbarrando em alguém. Arregalo os olhos e tudo que vejo é a imagem de tia Sabrina. Ela franze o cenho assim que coloca os olhos em mim.
— Viu um fantasma? Está mais pálida que o normal...
Ela ri pelo nariz, eu nego, balançando a cabeça.
— A senhora me assustou.
— Não me lembro de ser tão feia a ponto de assustar pessoas, Lexie.
Eu sorrio, sem graça.
— Não é isso, tia. É só que eu esperava não chamar atenção. Estou tão cansada e...
— Não se preocupe. Evan não está aqui e, se caso estivesse, eu o mandaria embora para não te incomodar.
Abro um largo sorriso.
Esta é tia Sabrina. Um ser humano incrível, que me ama e está sempre disposta a ser uma amiga e uma tia para mim.
— Obrigada, tia.
Relaxo os ombros.
— Não é sobre o Evan... é só que... estou cansada. Se ele ao menos parasse de falar, por um segundo, no casamento...
Tia Brina ri.
— Ele está nervoso, não é?
Assinto.
— Sem motivo algum. Eu disse que me casaria, então pronto, vou casar.
Minha tia crispa a testa.
— Querida, posso ser um pouco intrometida...?
Estou pronta para abrir a boca, quando sinto duas mãos repousarem em meu ombro. Giro o pescoço. É papai. Ele lança um olhar reprovador para minha tia.
— Não perde essa sua mania de se intrometer na vida dos outros, Sabrina?
Tia Brina revira os olhos.
— Não acho que isso seja da sua conta.
— Se é algo relacionado a vida da minha filha, então, sim, é da minha conta.
Minha tia solta um suspiro frustado de derrota. Papai ri. Ele adora provocá-la. É assim que funciona a relação entre eles. Sempre um jogando provocação para o outro.
— Lexie, querida, depois conversamos em particular, sem a presença de um certo intruso...
Papai ri. Tia Sabrina faz uma careta e ultrapassa as escadas à nossa frente.
Meu pai desce um degrau e agora pode encarar todo o meu rosto.
— Por que não ligou? Eu ou Evan poderíamos ter ido buscá-la!
— Não queria incomodar vocês. — murmuro fraco.
— Lexie, não nos incomoda nunca. — ele afirma, beija o topo da minha cabeça. — Sou seu pai e Evan, seu noivo. É nosso dever.
Mordo os lábios.
E acabo apenas assentindo.
— Soube que vai fazer a primeira prova do vestido amanhã, certo?
Eu assinto, papai parece entusiasmado.
— Não posso acreditar que minha garotinha vai casar. — ele olha no fundo dos meus olhos. — Só me deu orgulho a vida toda, querida. E me orgulha mais ainda que soube escolher o cara certo para viver a vida.
Engulo seco.
Uma sensação estranha me invade. Em minha mente tudo que vejo é o beijo com Stephan. Seu jeito direto, seu toque firme e enlouquecedor, sua insistência. É tudo que vejo e me perco nisso.
— Tudo bem, Lexie?
Meu pai ergue o cenho. Pisco os olhos atordoada.
— Sim. Obrigada, papai. — ele sorri. — eu tenho muito orgulho de você também. Da nossa família.
Fico na ponta dos pés e abraço com força meu pai. É tudo que eu quero agora. Carinho fraternal. Apoio emocional. Perdão. Desabafar.
Mas esse abraço é o mais perto que chego de desabafo.
Meu pai me olha mais uma vez, acaricia meu rosto e sorri completamente orgulhoso.
— Vou para o escritório. Tenha um bom dia, querida.
Eu sorrio, e assinto.
Corro o resto dos degraus e finalmente vou de encontro ao meu quarto. Me jogo na cama. Fecho os olhos e lá vem de novo aquele rosto. Aquela voz. Aquele beijo.
Por que sinto que estou condenada? Por que me sinto tão suja e, ao mesmo tempo, não consigo me arrepender por completo de ter feito o que fiz?
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Abro os olhos quando percebo o ronco fino da porta se abrindo. É minha mãe. Ela me sorri, ainda apenas com a cabeça na porta entreaberta.
— Posso entrar?
— Claro, mamãe. — sorrio.
Endireito meu corpo, estou pronta para me sentar, mas ela corre em minha direção, senta-se na cama e dá algumas batidinhas em suas coxas, me convidando a repousar minha cabeça em seu colo.
Faço isso.
Ela acaricia meu rosto e depois afaga as mãos em meus cabelos.
— Seu pai disse que tinha chegado. Não me procurou. Achei que estivesse cansada e esperei um pouco para vir aqui. — ela não para de sorrir enquanto fala e olha para mim, tudo ao mesmo tempo. — Interrompi seu sono. Está cansada, não é?
— Um pouco.
— Lexie... Está tudo bem entre você e o Evan?
Ela solta, me pegando de surpresa. Eu me controlo para não acelerar a respiração, nem muito menos transparecer meu nervosismo.
Olho para mamãe, ela para de afagar meus cabelos por alguns segundos. Eu travo. Minha boca fica seca instantaneamente.
— Sim. Por quê?
Ela dá de ombros.
— Não, nada. Só estou perguntando. Fico preocupada. É só isso.
— Está tudo bem entre nós, eu acho. — solto um suspiro fraco, quase imperceptível. — Ele está ansioso para o casamento. Fala nisso todo o tempo em que estamos juntos e eu... eu só fico pensando em como ainda faltam cinco meses. Temos todo o tempo do mundo. Mas para ele é como se o casamento fosse amanhã, entende?
— Não está tão ansiosa quanto ele, não é?
Demoro um pouco para assentir. Mamãe parece me entender completamente.
— Gosto dele, mamãe. Gosto mesmo. Evan é engraçado, esforçado e o mais importante é que ele me ama. Mas...
— Mas?
— Mas casar é algo que me parece tão assustador. E eu sinto que somos tão jovens. — só de falar fico ainda mais assustada. Mamãe me escuta atentamente. — Não estou dizendo que não quero, é só que...
— Gosto do Evan. Vejo nos olhos dele o amor que tem por você e isso é realmente importante para uma mãe. Enxergar o amor nos olhos do homem que terá sua filha. — mamãe abre um sorriso fraco. — Mas se achar que não está pronta, se não quiser ir adiante, então, Lexie, saiba que eu sou sua mãe e meu dever é apoiar sua felicidade.
Meus olhos estão marejados. Me inclino e abraço fortemente mamãe.
Ela nos desgruda só para conseguir ter a visão do meu rosto.
— Escolha fazer aquilo que você acredita que te fará feliz.
Assinto. Ela me abraça e eu sinto que quero chorar mais.
— Obrigada, mamãe. Mas... gosto dele. Gosto mesmo dele. Acho que vou adiante com isso.
Minha mãe analisa minhas palavras.
— Achar não é o suficiente, querida. Precisa ter certeza. — ela me sorri, um sorriso tão sereno. — Hã... Tudo bem, minha querida. Agora vou deixá-la descansar.
— Mãe?
Olho para ela. Ela ergue os olhos.
— Pode ficar aqui até que eu durma?
Seu sorriso cresce nos lábios.
— Faz tanto tempo que não te coloco para dormir. — ela murmura.
Eu assinto.
— É, e eu sinto falta de dormir nos seus braços.
Minha mãe me endireita e eu volto a me sentir um bebê em seus braços. Me aconchego, fecho os olhos e rezo internamente para que nada intervenha meu sono. Que ele seja tranquilo, longe dos problemas, medos e dos fantasmas que me atormentam.
Isso acontece, embora seja após meu pensamento voltar a martelar no meu beijo com Stephan. Penso no beijo, no que aquilo fez surgir em mim e no que aquilo pode ter feito desaparecer de mim. Também penso em Evan. É meio inevitável.
Tudo parece estar em minhas mãos. Posso tentar apagar meus erros e voltar a viver a vida como era antes. Mas posso continuar com isso e, no fim, estaria condenada.
Será que valeria a pena ser condenada?
STEPHANÉ o meu quinto cigarro no dia. Solto a fumaça pela boca e todo o meu rosto é coberto pela nuvem habitual de fumo. Olho pela janela, o sol está se pondo, a noite vem vindo e a sensação de solidão também se aproxima.A porta do meu quarto se abre de repente e eu nem preciso prever quem é. Olho com ódio para Peter pelo seu atrevimento em vir até meu quarto, o espaço que deveria ser apenas meu, minha zona. Meu ambiente.— O que você quer? — pergunto com um descaso evidente.— Está mais calmo? Acha que podemos conversar agora?— Nossas conversas nunca terminam bem, Peter. Eu sempre acabo socando você. — digo com austeridade. — Ainda quer conversar comigo?Ignorando minhas expectativas, Peter entra em meu quarto, respondendo minha pergunta da forma que eu não esperava que respo
LEXIEDurante o percurso de volta para casa, fico em silêncio quase todo o tempo. Mamãe, tia Pamela e tia Brina conversam o caminho todo. Falam sobre como o vestido parece ter sido feito exclusivamente para mim. Eu concordo algumas vezes, dou alguns sorrisos, mas uma única coisa me deixa inquieta e temerosa; o olhar que tia Brina vez ou outra lança para mim. Como se soubesse de alguma coisa e eu precisasse esclarecer a ela.Tia Pam estaciona o carro e ela e mamãe são as primeiras a entrar em casa. Tia Sabrina prefere acompanhar meus passos. Ele deposita a mão em meu ombro me fazendo parar por um instante.— Querida... Acho que nós precisamos conversar.Mordo os lábios.— Sobre o que...?— Não ache que eu não vi. — ela diz de um jeito extremamente direto. Meu coração acelera. — 
STEPHANEla estava esperando por mim. Eu já sabia que estaria. Mas quando a vi, ali, em carne e osso, sentada no banco e esperando por mim, tudo em mim explodiu.Ela estava lá por mim e eu estava ali por ela. Nós estávamos ali um pelo o outro.Lexie agarra fortemente minha cintura quando nos posicionamos na moto. Seus cabelos voam de acordo com o vento. Consigo ver pelo retrovisor. Ela se recosta às minhas costas e nada me parece melhor do que seu abraço indireto.Estamos nós dois, feito adolescentes rebeldes, fugindo de tudo e de todos, apenas para ficarmos juntos.É insano. É excitante. É até mesmo errado. LEXIEEstamos nos beijando, ao mesmo tempo em que Stephan se esforça para conseguir abrir a porta sem desgrudar nossos lábios. Gargalho quando cambaleamos para dentro de sua casa. Ele segura firme minha cintura. Nos separamos pela falta de ar em nossos pulmões.Olho para ele e ele faz o mesmo, me sorrindo de um jeito esquisito.— Meu cabelo deve estar cheio de areia.— Não só o cabelo, se quer saber...Arregalo os olhos e ele ri. Me puxa para seus braços e me beija mais uma vez. Estou tão viciada em seus beijos. Quero nossos lábios unidos todo o tempo. Quero isso mais do qualquer outra coisa. Quero Stephan. Quero para caceteCapítulo 7
STEPHAN— Então está envolvido com aquela garota?Olho Peter por cima dos ombros. Não estou nem um pouco interessado em manter uma conversa com ele, obviamente. Mas o fato de convivermos sob o mesmo teto não facilita as coisas. Peter não consegue distinguir.— É Lexie. Seu nome é Lexie. E envolvido é uma palavra que alguém como você usaria. Não eu.— É uma jovem bonita. — ele me ignora. — Mais bonita que a Julie, se quer saber.Reviro os olhos.Peter e sua terrível mania de ruminar o passado.— Ela lembra muito alguém... e isso não &eacut
LEXIEEntro em casa tão determinada como nunca estive na vida. Sei exatamente o que vou fazer.Melhor, desfazer.Para minha surpresa, Evan está na sala em companhia de meu pai. Sua presença me invade e derruba todas as minhas malditas expectativas. Toda a determinação antes predominante. Assim que coloca seus olhos em mim, caminha em minha direção, beija meus lábios tão rapidamente que só dou conta disso quanto ele se afasta de mim.— Onde esteve, meu amor?— Estava... estava resolvendo coisas. — minha desculpa é tão esfarrapada que nem eu mesma consigo crer no que digo. Coisas. Resolvendo coisas. Não tinha uma desculpa melhor no seu estúpido estoque de mentiras, Lexie?— O que faz aqui?Não sei se isso soa tão rude para Evan q
LEXIE— O que disse, Alexie?Minhas pernas estão bambas. Não as consigo manter firme no chão. Minha boca está seca. Mamãe me encara confusa, mas não me amedronta tanto quanto amedronta quando olho para papai, que está parado, me encarando, os olhos semicerrados, a espera de uma resposta.A resposta que definirá seu ódio por mim.— Alexie, eu fiz uma pergunta e eu estou esperando pela resposta!— Pa...pai...Perco a voz. Ela simplesmente não sai.Sim, eu sou fraca. Sou alguém que não consegue se manter firme. Alguém que não consegue encarar os medos
STEPHANO pai de Lexie me analisa dos pés a cabeça. Quando me olha no rosto, sua expressão muda. Não para melhor, mas para pior. Se é que pode piorar.Lexie vem até mim, seguro sua mão. Não com o intuito de provocar seu pai ou sua família. Longe de mim. Seguro suas mãos porque quero transmitir segurança para ela. Quero mostrar que estamos juntos nessa, que eu jamais a deixarei. Não agora. Nem nunca. Nenhum de nós vai embora.— O que este garoto faz aqui? É algum tipo de brincadeira, Lexie? Está me desafiando, é isso?Derek olha para mim todo o tempo. Se seus olhos fossem uma arma, eu já estaria morto a esta altura do campeonato.— Ela não me chamou, senhor. Estou aqui porque acho que precisamos conversar.