STEPHAN
É cedo quando estaciono minha moto nas proximidades da casa de Lexie. A mansão ainda é a mesma, sem tirar ou por. Fico encolhido, na espera e na esperança de que ela saia pelo portão a qualquer momento. Precisamos conversar. Precisamos de um único momento a sós.Depois de algum tempo, vejo quando o portão elétrico se abre e Lexie sai dirigindo um carro. Para minha surpresa, ela não está sozinha. Há uma garotinha no banco de trás e ambas estão conversando uma com a outra, felizes.
Lexie não nota minha presença. Apenas acelera seu carro e eu não tenho outra alternativa a não ser segui-la.
O percurso que ela faz não é longo. É apenas questão de alguns poucos minuto
LEXIE— O que eu te disse sobre não falar com estranhos, Soph? — Estou extremamente séria, não que Sophia ache uma brecha e acredito que estou brincando no que digo.A garotinha se encolhe no banco do carro e faz uma careta. Continuo olhando-a séria.— Mas você também fala que eu devo fazer novos amigos. E pra eu fazer novos amigos tenho que conhecer novas pessoas, mamãe! — ela rebate, a resposta sempre na ponta da língua afiada.Rolo os olhos.— É diferente, Soph... é totalmente diferente porque... — me perco com as palavras. É realmente difícil entrar em conflito com uma garota de quase oito que parece ser mais esperta do que alguém de quase trinta e dois.&nb
STEPHAN— Ela tem uma filha.Digo, abatido. Vincent para de digitar no celular e rola seus olhos para mim.— Como assim ela tem uma... isso quer dizer que...— Ela teve uma filha. Ela se envolveu com alguém. Ela seguiu, entende? Eu devia saber... O pior? O pior é que a garotinha é incrível, Vincent. Ela é inteligente, engraçada... ela poderia ser nossa filha, sabe?— Cara... eu... como sabe? — ele arqueia o cenho. — Quer dizer, como sabe que ela seguiu? O que te garante que ela não é sua...— Está tudo bem. — forço um sorriso. — Acho que a vida está me dando um outro sinal. Que eu devo parar onde estou.
LEXIEÉ impossível não me dissolver em lágrimas quando viro de costas para Stephan e saio correndo. Ser extremamente dura é algo necessário, não quer dizer que é exatamente o que sinto.Meus sentimentos estão mesclados e tão difíceis de serem compreendidos. Vê-lo reativou alguma coisa que eu ainda não sei o que é, mas que, desde já, apressei em afastar do meu ser. Seja lá o que ressurgiu em mim, isso precisa desvanecer de uma vez por todas. Não podemos retornar e simplesmente viver o passado. Não podemos. Tudo mudou. Em oito anos tudo mudou. Inclusive, quen nós somos.A noite nunca pareceu tão longa. Demoro a pegar no sono. Muito provavelmente porque um certo alguém insiste em se fazer presente em meu pensamento, de modo que me desestrutura e me causa insônia. Depois de muito tentar, de me revirar na cama, adormeço.Acordo quando sinto duas mãozinhas pequenas mexendo suavemente e
STEPHANA campainha toca duas vezes seguidas. Faço uma careta. Levanto-me do sofá preguiçosamente. Abro a porta, e lá está ela.E aqui está meu coração pulsando fortemente e desconforme.— Lexie... o que...?— Posso entrar? — a sua voz ressoa baixinho, como se estivesse envergonhada.Eu abro mais a porta, cedendo espaço para que ela entre. Estou nervoso e surpreso com sua presença. Pensei que ela não quisesse mais me ver. Pensei que... Pensei em tantas coisas.Lexie rola os olhos e tudo aquilo parece tão embaraçoso.Fecho a porta atrás de mim e me v
LEXIEDizer a verdade nunca pareceu tão difícil.Fui até Stephan apenas para dizer a verdade de uma vez por todas. Era esse o plano, me libertar desse segredo, dessa culpa, dessa dor.Fazer amor com ele não fazia parte dos planos. Beijá-lo como se não houvesse amanhã, também não.Acontece que planos não superestimados.Abro a porta de casa e mamãe está sentada no sofá, feito uma assombração. Assim que me vê, ela caminha em minha direção depressa, parece aflita.— Onde estava? Tem noção do quanto estava preocupada? A Soph se recusava a dormir
STEPHAN— Pare de tentar resistir, Stephan! Vai tomar uma ducha fria, sim! Anda, vem...Vincent me arrasta da cama para o banheiro. Tento relutar, empurro ele com a força que ainda me resta, seguro nos móveis, mas nada consegue ser maior que Vincent naquele instante. Ele me arrasta com toda a sua força, que àquela altura, parece ser invencível.Ainda de roupa, meu amigo - ou nem tanto - me joga embaixo do chuveiro. Sem dó nem piedade, ele simplesmente me lança e me segura, tentando fazer com que eu não fuja. A água fria bate contra meu corpo e a sensação é de ser atingido por várias pedras que perfuram dolorosamente.Vincent continua me forçando em direção ao chuveiro. Fecho os olhos, já estou todo molhado, não há para onde correr.<
AMANDA— Está trancada. — Hector adverte quando me aproximo do quarto de Lexie.Meu sobrinho está sentado no chão, próximo da porta do quarto de minha menina.Solto um longo suspiro.— Ela está profundamente magoada e aborrecida, tia Mandy. Acho que... acho que ela precisa desse momento consigo próprio.— Penso o mesmo, Hector... Mas, sou mãe. E meu coração de mãe se parte em não poder fazer nada para ajudá-la.Hector se levanta, é bem mais alto que eu. Meu sobrinho se tornara um homem excepcional, educado e muito prestativo. A amizade tão grandiosa e verdadeira com Lexie ultrapassa os anos
STEPHAN— Tem certeza que ainda sabe fazer isso?Vincent provoca quando chegamos na pista de pouso e decolagem. Faço uma careta para meu amigo.— Está falando com o melhor piloto de avião que conhece. Tem sorte de esse grande piloto também ser seu melhor amigo.Vince ri.— Nós dois sabemos que entre você e eu... — ele me analisa. — Cara, está bonito. O que fez? Cirurgia plástica?Gargalho.— Idiota. — ralho. — Só fiz a barba e cortei os cabelos. Nada demais.— Ihhh, não sei, não. Você se preocupando com a aparência. Está mesmo apaixonado.