LEXIE
— Mamãe, onde vai assim tão lindinha?
Termino de colocar um brinco dourado pequeno e discreto na orelha direita. Desvio minha atenção para Sophia.
— Lembra do cara de gato?
Ela balança a cabeça em afirmação.
— Vou jantar com ele. Acha que estou...
— Está bem bonita, mamãe. Tem sorte de ser tão parecida comigo. Todo mundo diz que você é minha cara!
Não contenho uma alta gargalhada. Sophia é minha alegria constante, é tanto amor que sinto por ela que chega a não acomodar-se no peito.
— Ah, eu tenho muita sorte sim. Porque você é muito linda, querida!
STEPHANDepois que ela se vai, eu ainda permaneço petrificado pela surpresa. Era ela. Tão linda. Os olhos tão azuis, os lábios avermelhados, o corpo perfeito. Era ela em toda sua venustidade. Era elaQuando consigo, enfim, me mover, desloco-me até o sofá. Respiro profundamente, sentindo o peito e os olhos arderem. Vê-la e não tocá-la foi o que mais doeu em mim. Estávamos tão perto, ao mesmo tempo em que parecíamos tão longe.Era minha Lexie, mas algo estava diferente. Ela estava diferente. Algo em seu olhar refletia dor, tristeza, medo. Raiva. Algo em seu olhar refletia ódio. De mim.Lexie me odeia.Lexie, meu grande amor, me odeia.Meus olho
LEXIE— Você está triste, mamãe?A voz de Sophia ressoa, fazendo com que eu desperte de meus devaneios. Pisco os olhos algumas vezes, tentando fazer com que os resquícios de lágrimas desvaneçam. Forço um sorriso.— Triste? — ela afirma, parece preocupada. — É claro que não, meu amor. Estou ótima. Por que estaria triste?Liberto um riso tão falso que nem mesmo chega a me convencer. Sophia revira os olhos e dá de ombros.— O encontro com o cara de gato de não foi legal?Forço um sorriso ainda mais inautêntico. Soph não tem que compartir minhas dores. Elas são minhas. Nunca dela. So
STEPHANÉ cedo quando estaciono minha moto nas proximidades da casa de Lexie. A mansão ainda é a mesma, sem tirar ou por. Fico encolhido, na espera e na esperança de que ela saia pelo portão a qualquer momento. Precisamos conversar. Precisamos de um único momento a sós.Depois de algum tempo, vejo quando o portão elétrico se abre e Lexie sai dirigindo um carro. Para minha surpresa, ela não está sozinha. Há uma garotinha no banco de trás e ambas estão conversando uma com a outra, felizes.Lexie não nota minha presença. Apenas acelera seu carro e eu não tenho outra alternativa a não ser segui-la.O percurso que ela faz não é longo. É apenas questão de alguns poucos minuto
LEXIE— O que eu te disse sobre não falar com estranhos, Soph? — Estou extremamente séria, não que Sophia ache uma brecha e acredito que estou brincando no que digo.A garotinha se encolhe no banco do carro e faz uma careta. Continuo olhando-a séria.— Mas você também fala que eu devo fazer novos amigos. E pra eu fazer novos amigos tenho que conhecer novas pessoas, mamãe! — ela rebate, a resposta sempre na ponta da língua afiada.Rolo os olhos.— É diferente, Soph... é totalmente diferente porque... — me perco com as palavras. É realmente difícil entrar em conflito com uma garota de quase oito que parece ser mais esperta do que alguém de quase trinta e dois.&nb
STEPHAN— Ela tem uma filha.Digo, abatido. Vincent para de digitar no celular e rola seus olhos para mim.— Como assim ela tem uma... isso quer dizer que...— Ela teve uma filha. Ela se envolveu com alguém. Ela seguiu, entende? Eu devia saber... O pior? O pior é que a garotinha é incrível, Vincent. Ela é inteligente, engraçada... ela poderia ser nossa filha, sabe?— Cara... eu... como sabe? — ele arqueia o cenho. — Quer dizer, como sabe que ela seguiu? O que te garante que ela não é sua...— Está tudo bem. — forço um sorriso. — Acho que a vida está me dando um outro sinal. Que eu devo parar onde estou.
LEXIEÉ impossível não me dissolver em lágrimas quando viro de costas para Stephan e saio correndo. Ser extremamente dura é algo necessário, não quer dizer que é exatamente o que sinto.Meus sentimentos estão mesclados e tão difíceis de serem compreendidos. Vê-lo reativou alguma coisa que eu ainda não sei o que é, mas que, desde já, apressei em afastar do meu ser. Seja lá o que ressurgiu em mim, isso precisa desvanecer de uma vez por todas. Não podemos retornar e simplesmente viver o passado. Não podemos. Tudo mudou. Em oito anos tudo mudou. Inclusive, quen nós somos.A noite nunca pareceu tão longa. Demoro a pegar no sono. Muito provavelmente porque um certo alguém insiste em se fazer presente em meu pensamento, de modo que me desestrutura e me causa insônia. Depois de muito tentar, de me revirar na cama, adormeço.Acordo quando sinto duas mãozinhas pequenas mexendo suavemente e
STEPHANA campainha toca duas vezes seguidas. Faço uma careta. Levanto-me do sofá preguiçosamente. Abro a porta, e lá está ela.E aqui está meu coração pulsando fortemente e desconforme.— Lexie... o que...?— Posso entrar? — a sua voz ressoa baixinho, como se estivesse envergonhada.Eu abro mais a porta, cedendo espaço para que ela entre. Estou nervoso e surpreso com sua presença. Pensei que ela não quisesse mais me ver. Pensei que... Pensei em tantas coisas.Lexie rola os olhos e tudo aquilo parece tão embaraçoso.Fecho a porta atrás de mim e me v
LEXIEDizer a verdade nunca pareceu tão difícil.Fui até Stephan apenas para dizer a verdade de uma vez por todas. Era esse o plano, me libertar desse segredo, dessa culpa, dessa dor.Fazer amor com ele não fazia parte dos planos. Beijá-lo como se não houvesse amanhã, também não.Acontece que planos não superestimados.Abro a porta de casa e mamãe está sentada no sofá, feito uma assombração. Assim que me vê, ela caminha em minha direção depressa, parece aflita.— Onde estava? Tem noção do quanto estava preocupada? A Soph se recusava a dormir