Capítulo 02

༺ Mia Carrozzini ༻

Eu não tive escolha senão acompanhar aquele homem. Percebi que o Senhor Mourett não brincava em serviço quando o segurança me advertiu para não provocar sua fúria. Não conseguia acreditar que isso estava acontecendo comigo. Tudo o que eu queria era terminar meus estudos, começar uma nova vida e me formar, mas mais uma vez meu pai destruiu meus sonhos e minha vida.

Enquanto era levada por um dos homens do Senhor Mourett, eu chorava. Agora, ficaria trancafiada em uma mansão contra minha vontade. Meus sonhos seriam interrompidos e eu não tinha ideia de quanto meu pai devia a esse homem, mas provavelmente era uma grande quantia. Isso faria com que eu vivesse como escrava dele pelo resto da vida.

Às vezes, me perguntava por que minha mãe me deixou com meu pai. Se ela tivesse me levado, talvez eu fosse poupada de ser vendida como uma mercadoria. Observava as casas rapidamente enquanto era levada para esse lugar maldito e não conseguia parar de chorar. O motorista do carro me olhou seriamente pelo espelho e comentou:

— Se me permite dar um conselho, é melhor parar de chorar. O Senhor Mourett não gosta de mulheres choronas, isso o irrita. E, outra coisa, não ouse responder a ele. Achei que ele foi até bonzinho com você, mas se você fizer isso de novo, ele vai te punir.

— Não é surpreendente que ele aja dessa maneira. Ele é um bandido! Ainda não consigo acreditar que meu pai fez isso comigo. Foi muita crueldade da parte dele me vender para um desconhecido. — por um momento, percebi que o motorista me olhou com compaixão.

Talvez ele estivesse apenas cumprindo ordens, mas fazia parte da corja desse homem maligno.

— Sinto muito por você. Mas o que estou dizendo é um conselho. Agora, você decide se quer segui-lo ou não. Seu Mourett não suporta que mulheres o desafiem. Se ele te bater, não reclame depois. Ele é sempre cruel e frio e não costuma ter bondade com ninguém! A única pessoa que ele trata bem é a governanta, Lupita, que o criou desde criança.

— Entendi perfeitamente! Você não precisa me dizer duas vezes. Mas não consigo aceitar ser tratada como uma prostituta e ser obrigada a ser escrava sexual dele também. — O motorista continuou me observando pelo espelho e não respondeu.

— Não reclame muito! Seu Mourett é ainda mais tolerante do que os irmãos. Não sei o que ele fará com você, pois geralmente eles mandam mulheres como você para um harém. Porém, ele decidiu levá-la para a mansão. Se me perguntar o motivo, não sei dizer, mas deve haver alguma intenção por trás.

— Se você não sabe, imagine eu, que estava em casa dormindo e acabei acordando com uma ligação desesperada do meu pai, pedindo que eu fugisse, pois homens estavam indo invadir minha casa para me levar a um lugar desconhecido. — o homem ouve calmamente o que digo, talvez já esteja acostumado com esse tipo de situação.

— Como eu disse antes, sinto muito! Mas aqui, eu sou apenas um motorista que segue ordens!

— Tudo bem, entendi! No final, não tenho muita escolha a não ser aceitar meu novo destino…

Quem diria que, aos meus 19 anos, eu estaria sendo vendida para um desconhecido com muito dinheiro, que, segundo o motorista, deve ter irmãos tão poderosos quanto ele. Certamente, ele deve fazer parte de uma grande quadrilha criminosa. Eu nem gosto de imaginar.

Meu pai se envolve com todo tipo de gente ruim. Tinha que se envolver com um bandido. Às vezes, penso que minha mãe o deixou por medo de morrer devido a esses jogos sujos dele. Queria saber onde ela está agora. Nem sei por que estou pensando nela. É melhor esquecê-la, pois ela já partiu há muito tempo. Nunca entenderei uma mãe que é capaz de abandonar um filho.

Minha cabeça está fervilhando com várias perguntas sobre o que será da minha vida daqui para frente. Não sei o que esperar desse homem, pois percebi através daqueles olhos amarelados que ele não é alguém carinhoso ou educado. Talvez ele seja quando é preciso, mas parece ser bem mal, principalmente com a maneira que se pronunciou para mim, não gostando do meu comportamento.

Saio dos meus devaneios ao perceber que o carro parou e engulo em seco, pois não sei o que me espera dentro dessa mansão. Não posso imaginar o que acontecerá comigo lá dentro, só espero que esse homem não seja algum tipo de maníaco. O motorista, comenta sorrindo, talvez tentando ser um bom anfitrião:

— Senhorita, pode descer! Dona Lupita já está aguardando por você. Antes que eu esqueça, meu nome é Jean.

— Obrigada, Jean! Você foi muito gentil comigo desde que entrei no carro. — ele acena concordando com as minhas palavras e responde seriamente.

— Se precisar de algo, pode me dizer! A Lupita está esperando por você na varanda da mansão, pode ir...

Apenas aceno concordando e me afasto indo em direção àquela enorme mansão. Meu Deus, o que será da minha vida agora? Assim que chego mais perto, percebo uma senhora com uma roupa toda preta, provavelmente a governanta da casa. Ela tem um olhar sério e também é ruiva. Ela me observa por alguns segundos e dá um sorriso acolhedor. Acredito que ela seja gentil.

— Você deve ser a Mia? Mourett já me avisou sobre você. Até preparei um quarto e roupas para você, porque pelo que percebo, não trouxe nada.

— Bom, eu não tive muito tempo. Fui arrancada e trazida à força. Ainda estou inclusive com a roupa de dormir! Estou tentando assimilar tudo o que aconteceu comigo, sabe? — a senhora parece triste ao saber disso responde entendendo a minha angústia e principalmente o meu desespero.

— Oh, menina, eu entendo! Mas aqui você será tratada bem. Prometo. Só não afronte seu Mourett, pois ele me falou no telefone que você é muito abusada e petulante. Isso o deixa irritadíssimo. Evite que ele a coloque de castigo.

— Me desculpe, eu vou tentar me manter na linha! Porém, eu não queria estar passando por nada disso! Ainda é difícil acreditar que meu pai teve coragem de me vender para pagar sua dívida. — mais uma vez, a senhora parece comovida com a minha confissão e respondeu.

— Novamente, sinto muito, minha querida! Mas Mourett trouxe você aqui por algum motivo especial, você deve ter algo de valor, nem todas as garotas têm a mesma sorte. Ainda não entendi por que ele decidiu mandá-la para a mansão. Geralmente, quando um pai troca uma filha assim, ele a envia diretamente para o harém dos irmãos. Você não é a primeira a passar por isso, acredite.

— Só tenho medo do que vai acontecer comigo daqui para frente, dona Lupita! Não consigo aceitar essa nova realidade...

Não consegui me controlar e acabei chorando, porque não queria ficar naquele lugar. Só queria voltar para casa e esquecer que tudo aquilo não passava de um pesadelo, mas não era possível, pois era real. Não podia acordar e dizer: "Nossa, foi apenas um sonho ruim". Aquilo era a realidade nua e crua. Lupita então me abraçou e me consolou.

— Sei que está assustada, Mia! Mas Mourett não é uma pessoa tão ruim, só quando ele quer. Tem um temperamento forte, porém, se for uma garota boa, ele a tratará bem. Eu também estarei aqui para cuidar de você, não se preocupe. Agora, vamos subir? Vou levá-la para o seu quarto. Quer comer alguma coisa antes de se deitar?

— Obrigada, a senhora parece uma pessoa muito gentil! Será bom ter ao menos a sua companhia, já que agora sou a nova moradora da casa.

Acompanhei Lupita para dentro da mansão e não deixei de notar o quão luxuosa era por dentro. Tudo era muito moderno e, ao mesmo tempo, chique. Realmente, esse cara tinha muito dinheiro. Não entendia por que ele pegava mulheres como pagamento de seus devedores. Mas também não ia perguntar isso para Lupita. Era cedo para encher-lhe de perguntas.

Como me deitei cedo, acabei não jantando. Então, Lupita fez questão de me oferecer um bolo com um copo de leite e, claro, aceitei de imediato, pois meu estômago estava roncando. Assim que terminei, ela me levou até meu quarto e me disse que tudo estava preparado. Havia separado algumas roupas e disse que Mourett mandaria um de seus fornecedores para trazer roupas novas, tudo o que eu precisasse, incluindo sapatos. Concordei e decidi me deitar naquela imensa cama. Nem parecia minha cama apertada do quartinho.

Soltei um suspiro tentando controlar as lágrimas, por que meu pai tinha que fazer isso comigo? Ele deveria ter oferecido a casa, ou sei lá, o seu carro, mas escolheu a mim, que sempre o ajudei. Não entendo isso. Acredito que nunca vou perdoá-lo pelo que acabou fazendo comigo. Antes de fechar os olhos e dormir pela exaustão, pensei:

"Que vida cruel fui fadada a carregar? Abandonada pela minha mãe e vendida na vida adulta pelo meu próprio pai... Por que tanto sofrimento? Será que algum dia serei feliz de verdade?"

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