Capítulo 04

༺ Mia Carrozzini ༻

Acabei adormecendo depois de chorar por um tempo. Algumas horas depois, senti como se houvesse alguém no quarto, uma sombra sobre mim. Eu acordei e percebi que era aquele homem. Meu Deus, só faltava isso, ele veio me estuprar.

Quando ele percebeu que eu acordei e estava observando-o assustada, ele rapidamente tampou minha boca e afirmou para eu não gritar. Eu apenas concordei, pois não sabia o que esse homem era capaz de fazer.

— Vou tirar minha mão da sua boca, mas se você gritar, já sabe o que sou capaz de fazer, certo? — apenas balancei a cabeça concordando e, aos poucos, ele retirou a mão, me deixando livre. Eu apenas continuei em silêncio, observando-o.

Não tive coragem de dizer qualquer coisa para ele, apenas permaneci em silêncio, prestando atenção. Mourett era muito bonito, mas até mesmo um rosto lindo pode esconder maldade. Sempre lembro que Lúcifer era o anjo mais bonito e mesmo assim era mau. Eu não aguentava mais ele me encarando daquela forma e disse:

— O que você veio fazer aqui? Não gosto da maneira como você está me observando!

— Vim dar uma olhada na minha nova mercadoria. Por quê? Quero ver se realmente vale a pena! — ele respondeu de maneira debochada. Como odeio esse homem.

— Eu não sou um objeto ou um animal! Já lhe disse para não me tratar dessa forma. Sou uma pessoa.

— Sei que você é uma pessoa. Até porque um animal não ousaria me responder dessa forma, abaixaria a cabeça e me obedeceria. Você é bastante petulante e já lhe disse que não gosto disso! — esse homem queria que eu lhe obedecesse como se fosse algum animal.

O ódio que eu sentia ele era insuportável, e eu não podia fazer nada. Respondi lembrando dos conselhos de Lupita.

— Já entendi perfeitamente o recado, senhor Mourett!

— Assim está melhor! Manda quem pode e obedece quem tem juízo. Mas voltando ao assunto, seu pai me deve muito dinheiro. Você não vale nem metade do dinheiro que ele me deve. Eu só aceitei ficar com você por um motivo e quero que você me confirme e não se atreva a mentir para mim. Porque se você acabar fazendo isso, contratarei o médico para verificar se é realmente verdade.

Não faço ideia do que meu pai afirmou a esse homem. Só espero que não tenha dito que tinha uma herança secreta, porque isso não era verdade. Ele havia torrado tudo. Se formos algum dia uma família com dinheiro, hoje são apenas sobras do que restou um dia.

— E o que foi que meu pai disse a você? Olha, se tem a ver com dinheiro, eu sinto lhe informar que não existe qualquer herança secreta!

— Não se trata disso! Seu pai apenas me afirmou uma coisa e quero que você confirme se é verdade. — eu não fazia ideia do que era e estava até confusa, principalmente assustada com a maneira que esse homem me encarava com esses seus olhos amarelados. Então, questionei curiosa:

— Bom, então nesse caso, você tem que me dizer, porque eu também não faço ideia do que seja!

— Seu pai me disse que você era virgem. É verdade? Também confirmou que você era uma moça muito inteligente, estudiosa e que nunca teve namorado. Isso tudo que ele está falando, você confirma? — na mesma hora, eu me senti muito envergonhada.

Não acredito que meu pai teve coragem de fazer isso comigo. Como ele conta uma intimidade dessas assim para alguém? Tudo bem que eu nunca fiquei com alguém, mas o fato de dizer que eu era virgem talvez fosse o que interessasse esse homem. Respondi meio sem graça:

— Ele não estava mentindo! Na verdade, eu tentava ter uma vida melhor. Apesar de que a culpa era dele por passarmos por tudo isso por ser um viciado em jogos, eu estudo para tentar melhorar de vida, e isso acabou me fazendo não ter muito tempo para pensar em outra coisa.

— Interessante! E para que você está estudando exatamente?

— Eu planejo ser uma advogada! Não tem sido fácil pagar as parcelas dessa faculdade, porém, eu me esforço muito e junto cada centavo para conseguir esse objetivo. Mas eu não sei se vou continuar, né? Depois de tudo que me aconteceu hoje à noite. — eu tinha que ser sincera nas minhas palavras, pois não fazia ideia do que ia acontecer daqui para frente.

— E por que você acha que vou impedir você de continuar estudando? Se você se comportar bem, poderá continuar estudando. Só não ouse fugir ou me afrontar. Acredito que arrumarei uma forma de você me pagar o que seu pai me deve, mas preciso te dizer que ainda tem mais um detalhe.

Não estava acreditando que esse homem iria me deixar continuar a fazer faculdade. Provavelmente, ele vai me propor alguma coisa para deixar que eu faça isso, e não faço ideia do que seja. Estou bem nervosa, e ele disse seriamente:

— É bom que você fique logo ciente disso! Pretendo me casar com você, espero que você aceite isso por bem.

— Casar? Mas eu nunca pensei em fazer isso na vida, nem sei se estou preparada para isso! — ele se levantou e continuou me observando e respondeu:

— Então comece a se preparar! Porque você será a minha esposa, e o tipo de mulher que venho procurando: virgem, inteligente e mais uma coisa, também terá que me dar herdeiros. Por enquanto, você ficará neste quarto, mas aviso que você passará a dormir comigo quando assinarmos a certidão de casamento e nos casarmos na igreja.

Não acredito que ele estava me forçando a aceitar aquilo. Apenas engolindo em seco, o observei e não sei de onde havia tirado coragem para responder, balançando a cabeça negativamente.

— Mas eu não quero isso! Por que você não me pune de outro jeito? Sei lá, me coloca para pagar a dívida?

— Não tem outro jeito, Mia! Ou você aceita essa minha oferta, se não, eu simplesmente te mando para o harém do meu irmão. E olha, você seria leiloada ainda mais por ser virgem. A escolha é sua. Eu não serei um marido ruim, é só você ser uma boa menina e andar na linha e claro, parar de ser respondona! — pelo que vejo, essa é a sua resposta final, e sinto que estou querendo chorar, mas seguro.

Não posso ficar derramando lágrimas o tempo todo, então apenas balancei a cabeça concordando.

— Tudo bem! Eu não tenho outra escolha mesmo. Uma coisa é certa: eu nunca perdoarei o meu pai pelo que ele me fez.

— Bom, isso já não é problema meu! Agora vou me retirar, preciso tomar um banho e descansar um pouco. Te vejo no café da manhã. Vou deixar você voltar a dormir. — ele pega seu casaco e se retira, andando até a porta e me olhando uma última vez antes de sair.

Não entendo o que um homem ganha me prendendo dessa maneira?

Ele não é feio, é muito bonito. Não é que eu esteja reclamando, porém, não queria estar fadada a casar com um homem que eu não amo, principalmente não conheço.

Respirei fundo e me deitei novamente. A única coisa que restava era aceitar meu novo destino. Pelo menos o tal do senhor Mourett me deixaria voltar a estudar para não enlouquecer de vez dentro dessa mansão. Pelo que me disseram, ele é bastante impiedoso, mas talvez eu siga os conselhos do motorista Jean. Se eu for boazinha, ele me tratará bem. Caso contrário, as consequências serão outras.

Na manhã seguinte, quando acordei, tomei um banho e vesti um daqueles conjuntos de moletom. Era incrível como eles eram exatamente do meu tamanho. Fiquei até assustada como ele sabia quanto eu vestia e, principalmente, o tamanho do meu pé.

Assim que terminei de me arrumar, desci as escadas e fui até a cozinha. Eu já sabia o caminho, pois ontem fui até lá com Lupita e memorizei tudo. Quando entrei na cozinha, vi Mourett sentado, lendo seu jornal enquanto bebia uma xícara de café. Ao me ver, Lupita disse sorrindo:

— Olá, menina! Bom dia. Sente-se para tomar seu café.

— Obrigada, Lupita! Bom dia a todos. — Mourett me dá apenas um bom dia seco e continua lendo seu jornal, enquanto Lupita diz:

— A mesa está posta, menina! Fiz um bolo de milho maravilhoso, acredito que você gostará. Também tem pãezinhos que acabaram de sair do forno! Bom, eu vou até à cozinha pegar a jarra de leite. Com licença. — observo que há bastante fartura na mesa, até bolo.

Na minha casa, faz muito tempo que eu não sei o que é isso. Mal tínhamos pão, isso quando tinha, porque às vezes eu era obrigada a comer aquelas bolachas salgadas com cafezinho.

Já que eu estava aqui, iria aproveitar ao máximo. Tirei uma fatia bem grande de bolo e também coloquei dois pães com requeijão. Peguei alguns bolinhos de queijo e, por último, uma maçã, e coloquei uma xícara de café. Mourett tirou a atenção do seu jornal para observar o meu prato, enquanto eu permanecia da mesma forma, o observando. E ele disse:

— Nossa, para uma mulher pequena, você come muito, hein? Olha o tamanho do seu prato. Você não passará mal?

— Estou com fome! Ontem não jantei. Lupita apenas me serviu um copo de leite com bolo, apenas para saciar a fome. Na casa do meu pai, eu não costumo ter esses mimos e, quando é assim, tenho que aproveitar. — não estava nem aí. Já que eu me encontrava presa, iria aproveitar mesmo.

Quem sabe, dando uma despesa por comer demais, ele resolva me dispensar e me deixar ir embora daqui.

— Bom, se você vai comer por mim, tudo bem! Na minha casa, sempre tem bastante fartura. Realmente, me desculpa te dizer, menina, mas seu pai era um verdadeiro filho da puta! Ostentava com aquelas mulheres, gastava dinheiro que só, bancava o milionário enquanto deixava a própria filha passando fome e necessidades.

— Você está falando de qual pai? Porque, desde que cheguei ontem aqui, esqueci que tenho um. Não posso considerar ele o meu pai, sendo que foi capaz de me vender para pagar suas dívidas. Para mim, ele morreu.

Não quero que Mourett e muito menos ninguém tenha pena de mim devido ao meu pai. Estou possessa de raiva. Um dia, ainda sairei dessa situação e jogarei na cara dele tudo que passei. Mourett não me diz mais nada e continua tomando seu café e lendo jornal, enquanto Lupita volta com a jarra de leite, colocando no meu copo. Agradeço a ela e continuo comendo. Tenho que aproveitar que estou diante de uma bela mesa farta.

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