Capítulo 06

༺ Mia Carrozzini ༻

Após o café da manhã, decidi subir para trocar de roupa, pois Jean, o motorista da casa, me levaria à minha antiga residência para pegar minhas coisas, especialmente meu material de estudo. Abri o closet e notei que havia outras roupas do meu tamanho. Não sabia se eram de outra mulher ou se Oliver deixava essas peças aqui, mas tudo parecia novo.

Escolhi um macacão azul, uma blusinha vermelha e calcei uma sandália rasteira branca. Optei por fazer um coque no cabelo e apliquei apenas um batom clarinho, para não chamar muita atenção. Assim que terminei, desci as escadas rapidamente.

Suspirei ao pensar que teria que encontrar meu pai novamente. Sentia repulsa só de olhar para ele. Não conseguia perdoá-lo. Jamais esqueceria o que ele fez. Minha vida mudou drasticamente por culpa dele! Agora, não sabia se seria para pior ou para melhor, pois Mourett não era um homem fácil de conviver. Percebi que ele gostava que suas mulheres fossem submissas e não questionassem suas decisões, algo que eu não podia aceitar. Teria que me adaptar a tantas coisas ao seu lado.

Encontrei Lupita na sala, que me informou que Jean já estava me esperando, pois havia preparado o carro. Apenas concordei e saí da mansão, indo diretamente até o motorista. Observei a casa do lado de fora e pude apreciar sua beleza, inclusive o belo jardim que possuía. Na noite anterior, a escuridão não permitiu que eu visse esses detalhes. Ao me aproximar do carro, Jean me cumprimentou com um sorriso.

— Bom dia, senhorita! Como foi sua noite? Espero que tenha dormido bem e se adaptado à sua nova residência...

— Ah, a noite anterior não foi fácil, mas estou bem! Pior do que estou não pode ficar. Preciso que você me leve até minha antiga casa. Tenho que pegar algumas coisas lá. Mourett me autorizou a fazer isso. — ele concorda com minhas palavras e responde.

— Sim, claro! Senhor Mourett já tinha me passado o recado! Só me diga exatamente o endereço para colocar no GPS!

— Fica em Santa Mônica. Você só precisa virar no segundo quarteirão e encontrará minha casa, número 944. — ele apenas escuta o que digo.

Então, entro no carro e ele faz o mesmo, assumindo o lugar do motorista.

— Está certo, então vamos! Ainda tenho outras coisas para resolver relacionadas à casa!

— Não se preocupe, não vou demorar! Só preciso pegar algumas coisas mesmo, e é claro que terei que voltar para a faculdade mais tarde... — ele parece surpreso quando revelo isso e me pergunta curioso, olhando para mim pelo espelho do carro.

— Ele deixou você voltar a estudar? Olha, tenho que confessar que, se ele realmente permitiu isso, está sendo até bonzinho com você. Geralmente, seu Mourett não é tão cordial assim.

— Sim, ele deixou, desde que eu me comporte e pare de ser uma pessoa petulante! Ele disse que sou muito arrogante e mal-educada. — Jean não diz nada, apenas concorda com minhas palavras.

Então seguimos em silêncio até minha antiga casa. Depois de alguns minutos, finalmente chegamos ao bairro. Assim que desço do carro, percebo que minha vizinha me olha com certa curiosidade, mas não dou importância. Essa mulher é uma fofoqueira. Às vezes, até penso que será bom passar um tempo longe daqui. Essa vizinhança é terrível. Vivem falando mal de todo mundo.

Assim que entrei, percebo que a casa está uma bagunça, como sempre, com garrafas de bebida espalhadas por todo lado. Respirei fundo e pensei: "Isso não é mais problema meu. Fiz o que pude para ajudá-lo, mas meu pai não tem jeito." Lembrando que ele me vendeu, ele não merece compaixão da minha parte. Tenho que parar de carregá-lo nas minhas costas!

Era obrigada, mentalmente, a me lembrar do que meu pai havia me feito. Segui até o meu quarto e rapidamente peguei algumas coisas, entregando-as a Jean para que as levasse para o carro por último. Decidi pegar roupas, pijamas e peças íntimas. Estou terminando de organizar meus últimos objetos quando vejo meu pai na porta do meu quarto. Ele me observa com os olhos chorosos e vermelhos, mas não acredito em nada que sai da boca dele. Para mim, ele realmente morreu, foi um covarde, e isso não muda os fatos.

— Filha, ele decidiu te liberar? Graças a Deus, me perdoa, Mia? Eu não deveria ter feito essa besteira. Acabei fazendo isso em um momento de desespero.

— Ele não me liberou, apenas me deixou vir pegar as coisas que preciso! Você me vendeu a ele e já deixou claro que não vai me devolver a você, muito menos me dar liberdade. Obrigada por mais uma vez ser um pai de merda e arruinar minha vida. Sempre passei uma borracha nas besteiras que você costuma fazer, porém, dessa vez, não irei te perdoar. Quero que carregue o remorso de ter vendido sua própria filha para pagar seus vícios. Esse será o seu castigo... — não me importava em jogar a culpa nas costas dele.

Sempre me lembrava que, a vida toda, ele me culpava pelo abandono da minha mãe, mas agora era hora do troco. Então ele se ajoelha, ainda com lágrimas nos olhos, mas não consigo acreditar em nada que sai da boca dele.

— Me perdoa, Mia? Sua mãe tinha razão, sou um fracassado que só pensa em gastar. Agora reconheço que estou doente! Não faça isso comigo, não me abandone também. Só tenho você na vida.

— Disse bem, tinha! É tarde demais para você reconhecer seus erros. Já cometeu a pior besteira. Como teve coragem de me vender? Sou seu sangue, a única que cuidou de você todos esses anos, quando eu poderia ter ido embora e te abandonado também. — observo-o seriamente, pois quero ouvir as palavras saindo da boca dele.

Quantas mentiras mais ele vai contar? Se acredita que sou alguma tola?

— Sei que não deveria ter feito isso! Foi na hora do desespero, fiquei sem saber o que fazer. Me perdoa, não tive escolha. Mourett ia mandar me matar.

— Aí você resolveu me vender como mercadoria para pagar suas dívidas e sua vida? O dinheiro que você pegava para gastar com aquelas vagabundas, enquanto tudo faltava aqui em casa, e eu tinha que te sustentar e trabalhar feito uma lacaia. Agora quero ver como é que você vai se virar sem mim. Talvez tome vergonha na sua cara e procure trabalhar. — meu pai me encara desesperado e então se aproxima mais, sussurrando no meu ouvido.

— Filha, se você quiser, podemos fugir? É só sei lá, dar um jeito nesse cara. Aí colocamos nossas coisas no carro e vamos embora, para outro lugar, recomeçar do zero. Prometo que mudarei dessa vez.

— Acredito que você realmente ficou louco de vez! Pensa mesmo que pode fugir de Mourett? Metade de tudo que possui nesse país ele faz parte. Ele nos capturaria e faria os dois prisioneiros de fuga. Eu não vou a lugar nenhum. Apenas aceitei minha sentença. Talvez viver ao lado dele seja melhor do que com você e esse bando de vagabundas que você coloca dentro dessa casa.

Eu estava muito indignada com ele, que não queria ouvir nada que viesse da boca dele, porque tudo que saía de lá era mentira. Nunca mudará. Não consigo mais dar nenhuma chance para ele de verdade. Preciso seguir minha vida sem me sentir culpada por carregá-lo nas minhas costas. Não adianta tentar mudar o que não tem mais conserto.

— Filha, por favor! Eu te prometo que dessa vez, mudarei minha vida! Apenas me dê mais uma chance. Vou te provar que serei um pai melhor para você...

— É tarde demais, pai! Você não pode fazer mais nada. Assinou um contrato, ou melhor, um documento que dava a Mourett completamente o direito de me ter para ele. Eu te odeio, lembre-se bem disso. Nunca vou te perdoar pelo que você me fez. Agora saia da minha frente, eu preciso ir.

Ele implora para que eu fique e simplesmente não vá. Ao perceber que ele não me larga, Jean acaba chamando os outros seguranças que vinham nos seguindo no outro carro. Então, ele é praticamente puxado de cima de mim. Rapidamente, entro no carro enquanto ele grita correndo até mim.

— Minha filha, por favor! Me perdoa. Eu juro que darei um jeito de reverter esse documento. Vou te provar que você poderá confiar de novo em mim, filha. Eu sinto muito de verdade. Sou um desgraçado.

Não falo qualquer coisa para ele. Simplesmente viro o rosto para o outro lado. Jean segue com o carro. Só quero sair da presença dele o quanto antes. Foi ruim para mim fazer isso, mas eu precisava me libertar de uma vez da dependência do meu pai. Como Mourett mesmo me disse, agora eu precisava aceitar minha nova vida. Sem querer, acabo deixando algumas lágrimas caírem. Jean comenta me observando pelo espelho do carro.

— Acredite, senhorita! Sei que ele é seu pai, mas tem certas coisas que são livramentos. Chega de carregá-lo nas suas costas...

— Sei disso perfeitamente, Jean! Eu me sinto mais leve depois dessa conversa com ele. Deveria tê-lo abandonado muito antes, porque ele não me merece. Minha mãe fez a mesma coisa. Eu tinha que ter feito também quando tive a chance, mas agora é tarde. — o motorista apenas concorda com minhas palavras e segue viagem enquanto continuo com os pensamentos perdidos.

Estava novamente de volta à mansão. Agora essa era minha nova realidade: eu seria a mulher de um homem completamente desconhecido para mim. Respirei fundo e pensei: "Agora a vida segue adiante. Que Deus me ajude nessa nova jornada!"

Enquanto seguia para dentro da mansão, após subir todos os degraus, pude perceber uma discussão. Parece ser entre Oliver e uma mulher. Assim que entrei pela porta, notei que se tratava de uma ruiva muito bonita, por sinal. Ela parecia furiosa com ele. Acabei presenciando um pouco da discussão entre os dois.

— Você realmente vai conduzir isso comigo, Oliver? Passei anos ao seu lado como uma de suas amantes. Esperava mais consideração da sua parte! Agora arruma uma completa desconhecida e decide se casar com ela. Eu esperava ser eu a sua esposa. Dediquei todo esse tempo somente a você...

— Eu nunca te prometi nada, Luane! Você se iludiu porque quis. Sempre fui sincero em minhas palavras. Você não é o tipo de mulher que quero para me casar. Não tem as qualidades necessárias... — a mulher parecia indignada com sua resposta.

Os dois ainda não haviam notado minha presença na sala, e ela respondeu com sarcasmo.

— Fiz tudo o que estava ao meu alcance para ser a mulher ideal para você, Oliver! Entrei para esse maldito curso de etiqueta, fiz aulas de boas maneiras, aprendi alguns idiomas. Tenho frequentado esses chás chatos com essas senhoras e tudo mais que seja para estar ao seu alcance. E você nunca deu valor a isso.

— Eu nunca te pedi nada, Luane! Se você decidiu fazer essas coisas, foi por livre e espontânea vontade. Veja pelo lado bom, pelo menos agora você sabe como se comportar como uma verdadeira dama. — ela então dá um tapa na cara dele, comentando furiosa.

— Vai se foder... O pior castigo que pode existir é alguém se apaixonar por você, Oliver! Você é um tipo de monstro que destrói toda mulher que se envolve com você. Mas você deve estar acostumado, não é? Não sou a primeira e nem serei a última.

Não tive nenhuma reação, apenas observei tudo em silêncio. Quando os dois se viraram e me olharam, percebi que a confusão estava feita. Eu não conseguia entender nem metade do que estava acontecendo. Ela então se aproximou, me observando de cima a baixo, querendo saber quem eu era.

— Então é você a vagabunda pela qual ele me trocou? Eu sou melhor do que esse estrupício. Você realmente é patético! O que cogita fazer? Moldá-la para ser sua boneca perfeita?

— Não desconte nela a sua frustração de não poder ficar comigo, Luane. Vai embora da minha casa. Eu não vou pedir de novo... — apenas engoli em seco, observando toda a confusão que estava sendo gerada.

Eu não sabia como reagir. Oliver e Luane se encaravam completamente furiosos. Meu Deus, onde é que o meu pai me meteu?

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