Capítulo 05

༺ Oliver Mourett ༻

Pela forma como a garota se alimentava com tanta necessidade e apetite, acredito que ela já tenha passado por muitas dificuldades, economizando ao máximo para não passar fome. Mia comia com vontade todas as coisas que possuía na mesa, e até fiquei preocupado que ela pudesse passar mal. Quando comentei sobre o tamanho do prato dela, ela ainda foi sarcástica, me dizendo: "já que estava aqui, iria aproveitar tudo o que pudesse!"

Homens como o pai dela me dão nojo. Eles sempre estão rodeados de belas mulheres, gastando dinheiro dentro de casa e sustentando vagabundas na rua. Mia disse com bastante frieza que ele não era mais seu pai. Como pode ser assim, já que ele era seu único parente? Talvez a mágoa por ter sido vendida não acabe tão cedo. Eu também não gostaria de ver meu pai novamente se ele fizesse algo assim comigo. Provavelmente, eu o mataria.

Enquanto a observo discretamente comendo, ela mesma limpa a boca com o guardanapo e se pronuncia me observando seriamente. Tenho que admitir que ela era muito bonita, tanto de rosto quanto de corpo. Eu teria uma bela mulher ao meu lado.

— Senhor Mourett, eu preciso retornar à minha antiga casa! Tenho que pegar algumas coisas da faculdade, meus livros e, claro, minhas roupas.

— Os livros eu até deixo você trazer, e tudo que for relacionado à faculdade para te ajudar! Mas não há necessidade de você pegar suas roupas velhas. Inclusive, estou mandando um dos melhores fornecedores trazer várias marcas de roupas para você escolher... — ela parece incrédula com minha resposta e coça a cabeça um pouco sem jeito, e responde:

— Mas gosto das minhas coisas! Não vou me sentir bem usando essas roupas que não são minhas.

— Olha, Mia, presta bem atenção no que vou te falar! Você passará a ser minha mulher daqui a alguns dias, e eu não quero uma mulher toda desarrumada e deselegante ao meu lado. Me entendeu? — ela concorda com minhas palavras, balançando a cabeça, enquanto apenas a observo seriamente.

— Sim, eu entendi! Mas queria trazer algumas coisas que são especiais para mim, espero que você não se importe?

— Desde que não seja essas roupas velhas que você usa por mim, tudo bem! Tenho certeza de que você quer pegar seu notebook, os livros que usa na faculdade e, claro, todo o seu material de estudo. — ela leva uma garfada de bolo à boca e responde novamente.

— Na verdade, são apenas meus livros e meu caderno! Eu não tenho os materiais que costumam usar na faculdade, pois meu pai vendeu meu notebook para usar o dinheiro…

Realmente, o pai dela era um cretino que não apoiava nem a própria filha nos estudos. Eu não sei como ela aguentou viver ao lado desse homem. Cada vez que ouvia algo da boca dessa menina, mais revoltado eu ficava. Então perguntei para saber como ela se virava.

— E como você fazia seus trabalhos? Claro que precisa de internet para isso, e ter um notebook. Como é que você se virava?

— Eu arrumava uma maneira de ir até à biblioteca da cidade ou usava uma lan house, se precisasse fazer alguns trabalhos impressos! Eu não tenho vergonha de dizer como minha vida é difícil ou como era quando morava com meu pai. — ela revela aquilo de maneira tão tranquila. Apesar de ser uma mulher com um olhar triste, não se importa de dizer o que já passou na vida. Respondi, não escondendo minha revolta.

— Às vezes, tenho nojo do seu pai. Ele não merece uma filha como você, sabe? Por que nunca o abandonou, já que ele só prestava para te dar trabalho e arrumar contas?

— Porque eu queria acreditar que ele iria mudar algum dia e reconhecer que tudo o que faz é errado, mas depois que ele teve coragem de me vender, eu não espero mais nada de bom vindo dele. Foi por isso que minha mãe o deixou anos atrás e me deixou com ele. — estou até surpreso com sua história e me pergunto por que o pai dela me disse que era viúvo. Perguntei ainda mais curioso:

— Então sua mãe ainda está viva? Por que ela não levou você com ela? Não entendo como uma mãe pode abandonar o próprio filho à sorte ao lado de alguém como ele.

— Não sei dizer se ela está viva ou não. Mas eu não me importo. Lembro muito bem das palavras que minha mãe me disse quando me deixou com meu pai. Ela disse que não me levaria, pois só atrapalharia a vida dela e arruinaria tudo, assim como meu pai fez. Naquele dia, chorei muito, mas depois de um tempo me conformei e fui crescendo. Entendi que ela não me amava o suficiente para se importar e me deixar para trás. Então segui em frente com a vida.

Mia realmente tem uma história comovente de vida. Apesar de tudo o que passou, ela não se abala. Parece ser uma mulher muito forte. Então perguntei novamente, curioso. Queria entender por que toda aquela desgraça rodeia sua vida.

— Mas havia algum motivo para ela não querer levar você, não é Mia? Tenho certeza de que se ela tivesse tomado essa decisão, evitaria tanto sofrimento para você. Mas ela não te deu uma chance.

— Não sei dizer, mas acredito que ela acabou conhecendo outro homem e se envolveu. Provavelmente, o homem não queria um filho do antigo relacionamento. Isso acontece muito. Bom, vou me levantar e ir para o meu quarto pegar uma roupa para buscar meu material de estudo, pois tenho muitas atividades acumuladas. — apenas concordei com suas palavras e a observei levantar.

Então olhei para o prato e ela não havia deixado uma migalha sequer. Meu Deus, como uma mulher tão magra e pequena consegue colocar tanta comida no estômago?

Continuei lendo as notícias da cidade no jornal! Era algo que eu gostava de fazer muito quando estava em casa. Depois de algum tempo, Lupita veio desarrumar a mesa e cantarolava alegremente. Parece que a chegada de Mia havia feito bem a ela. Essa casa andava tão deserta e triste. Então comentei sorrindo, Lupita era uma das poucas pessoas que me via dessa maneira, pois eu sempre estava sério.

— Você parece feliz com a chegada de Mia nessa casa? Realmente gostou dela, Lupita?

— Ela é uma boa moça, menino! Parece que já sofreu muito na vida, mas sempre carrega um sorriso doce nos lábios. Espero que o senhor sempre a trate bem. — Lupita me revelou aquilo preocupada, pois ela conhecia bem o meu temperamento. E apenas respondi de maneira séria.

— Isso vai depender dela! Se ela for uma boa menina, não tenho porque tratá-la mal. Agora, se ela resolver bater de frente comigo e ser petulante, as consequências vão chegar para a própria. Mas não se preocupe, já tive uma conversa com Mia e ela afirmou que será uma boa menina.

— Isso é ótimo, senhor! Assim fico menos preocupada. Mia é uma menina de ouro, tenho certeza disso. Mas me responda outra coisa, então o senhor pretende mesmo se casar com ela? — minha nona me encarava curiosa. E apenas sorri lhe respondendo.

— Sim, Lupita! Vou me casar com ela! Já deixei isso bem claro para ela ontem. Logo você terá alguns pirralhos correndo por aqui para alegrar a casa…

Ao perceber que eu cogitava ter filhos com Mia, ela deu um sorriso satisfeito. Lupita nunca pôde ter filhos. Ela sempre gostou de crianças e sei muito bem que ela cuidaria dos meus filhos como se fossem dela. Da mesma maneira que minha mãe tinha confiança nela, seria comigo. Acredito que Mia e ela seriam grandes amigas no futuro.

— Ah, senhor, eu não vejo a hora! Uma criança sempre alegra a casa, principalmente essa daqui que é enorme, tem espaços para eles correrem para tudo que é lado. Nossa, até imagino a cena…

— Imagino que sim! Você será uma grande vovó para eles, porque sabe que eu te considero assim e que, se dependesse de mim, você não estaria mais usando esse uniforme de governanta, porém você é teimosa e continua insistindo em trabalhar. — Lupita revira os olhos, pegando os últimos pratos que estão em cima da mesa e responde.

— Meu filho, eu gosto de ser útil, principalmente amo meu trabalho. Pare de querer me aposentar cedo, eu não tenho ninguém na minha vida para me esperar, a não ser uma sobrinha ingrata que, depois que paguei a faculdade dela, sumiu e nunca mais veio me ver.

— Não acredito que a Lúcia não te faça nenhuma ligação, Lupita. É muita ingratidão da parte dela! — sabia o quanto ela se esforçou para que a sobrinha tivesse a melhor educação e achava mesmo ingratidão da parte de Lucia.

Lupita nunca soube, mas eu havia me envolvido no passado com ela. Talvez soubesse, mas fingisse não lembrar.

— Ah, desculpa dela é que está muito ocupada com o novo escritório de advocacia! Mas quando precisou de mim para pagar o curso, só vivia na minha casa. É assim mesmo, meu filho. Nem todo mundo reconhece o que a gente faz, porém eu te digo que se ela aparecer novamente, torno ajudar, porque tenho um coração bom.

Apenas concordei com as palavras de Lupita, que afirmou que levaria as louças para a empregada lavar. Então, continuei sozinho, pedindo ao meu assistente que providenciasse um notebook e o entregasse em casa. Pedi a Lupita que, assim que a entrega chegasse, ela entregasse para Mia, pois seria um presente para que ela pudesse usar em seus trabalhos da faculdade.

Subi novamente para o meu quarto e tomei um banho. Me arrumei para ir à empresa. Além do cassino, eu também tinha uma empresa no ramo alimentício e tinha que estar a par de tudo. Minha vida era muito corrida, porém sempre tentava deixar tudo organizado para não acabar me atrapalhando.

Assim que entrei na empresa, minha secretária Tamara informou-me das últimas novidades e das reuniões que teria durante todo o dia. Apenas a ouvi calmamente até chegar ao meu escritório, onde meu sócio já estava presente. Ele se levantou de maneira sorridente e comentou:

— Veja só quem é vivo sempre aparece! Quase uma semana sem dar as caras na empresa!

— Você deveria deixar de ser mais cretino, Greg. Sabe muito bem que tenho outros negócios que preciso administrar, mas nem por isso deixo de trabalhar em casa. Mas quero que você me diga como está saindo aquela negociação com os árabes. Conseguimos chegar a um preço favorável? — pude notar que, no mesmo instante, seu semblante mudou e ele respondeu sério.

— Na verdade, não. Hassan não quer nenhum tipo de negociação conosco. Pelo que os outros funcionários me disseram, ele não gosta muito de fechar negócios com americanos.

— Ele realmente é um estúpido! Não quer vender o petróleo dele? Então, não faça mais nenhuma oferta. Procure o concorrente que ele mais odeia. Tenho certeza de que ele acabará mudando de ideia. — Greg me deu um sorriso malicioso e respondeu:

— Você está querendo causar uma guerra entre os dois, não é? Pois se ele souber que o seu inimigo está vendendo algo que ele recusou, provavelmente alavancará a sua fúria.

— E daí? Não é problema meu. Nós fizemos a oferta. Se ele não quis, que vá para a concorrência. Ofereça um preço um pouco maior ao seu concorrente, porque Hassan não pode fazer nada contra mim. Estou muito bem protegido pelo meu país. — Greg riu da maneira como me expresso e respondeu, batendo no meu ombro:

— Olha, meu amigo, quero continuar até o fim da minha vida sendo seu amigo! Hassan puxará os cabelos de tanta raiva que sofrerá, porém, você teve uma boa ideia.

— Eu sempre tenho, meu caro! Você é que não sabe negociar, porque se fosse comigo, já teria mandado esse Árabe tomar no rabo dele. Mas vamos mudar de assunto. Por que tenho uma videoconferência, você vai participar ao meu lado? — fui retirando os documentos da minha pasta, abrindo o meu notebook, e Greg sentou-se na outra cadeira, comentando:

— Acredito que vou ficar para saber do que se trata! Não quero você reclamando que eu nunca participo das videoconferências e depois ficar perguntando as coisas.

— Ótimo! Nosso executivo vai entrar daqui a três minutos. Vamos discutir essa pauta porque é preciso! — ele concordou com as minhas palavras e, então, nosso executivo entrou na sala de b**e-papo para iniciar a reunião.

Começamos a discutir diversos assuntos, e ele foi nos contando o que achou do país. Também falou sobre o maior investimento da região. Greg pareceu bem atencioso, enquanto eu analisava as últimas observações. Essa reunião vai demorar, então passarei o restante do dia ocupado.

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