Capítulo 10

༺ Mia Carrozzini ༻

Foi estranho estar daquele jeito com Mourett. Jamais pensei que ele tivesse um lado carinhoso e tão atencioso. Ele fazia questão de me ensinar tudo com bastante atenção. Ah, sei lá, eu não sei nem o que pensar desse homem. Conheço-o há tão pouco tempo, provavelmente ele esteja me tratando bem para que eu faça o mesmo.

Confesso que fiquei muito surpresa com sua revelação. Então, não era intenção dele me humilhar na frente de todos daquele cassino? Eu realmente me deixei levar pela fúria, sem falar na vergonha que meu pai me fez passar diante das pessoas.

Isso ficará marcado por um bom tempo. Ainda bem que Mourett respeitou minha decisão de não querer ir àquele lugar novamente. Agradeço mentalmente. Não esperava isso da parte dele. Fechei os olhos por um momento, pois precisava dormir e descansar um pouco. O dia na faculdade havia sido muito exaustivo!

Quando despertei, eram por volta das quatro da tarde. Fui até a cozinha procurar algo para comer e senti um cheiro gostoso de bolo. Ao me ver, Lupita comentou sorridente. Era incrível estar ao lado dessa mulher. Eu me sentia como se tivesse uma mãe. Ela transmitia esse carinho através de seus gestos gentis, coisa que nunca tive desde que minha mãe foi embora. Para falar a verdade, não faço ideia se ela ainda está viva, pois sumiu anos atrás.

— Oi, menina, boa tarde? Pelo jeito, teve alguém que caiu no sono! Percebi que seu Mourett ficou um bom tempo com você no seu quarto. Ele não tentou te forçar a nada, né? Porque se fez isso, pode ter certeza que vou puxar a orelha dele. — quando ela falou dessa maneira, senti meu rosto esquentar.

Não gosto nem de pensar na possibilidade disso acontecer e a tranquilizei.

— Não se preocupe com isso! Ele foi muito respeitador e até mesmo carinhoso! Se bem que achei estranho vindo da parte dele...

— Nossa, pelo jeito, ele está evoluindo como homem e deixando de ser um ogro. Provavelmente é você que está causando essa mudança nele. — ela sorriu, me revelando isso.

Mas não acredito que em tão pouco tempo ele esteja mudando por minha causa. Provavelmente é apenas uma máscara. Tenho apenas dois dias dentro dessa casa.

— Eu não sei, Lupita! Mourett é um homem muito misterioso e, para falar a verdade, seu humor varia. Você sabe se ele está em casa?

— Ah, sim, ele se encontra no escritório resolvendo algumas coisas do trabalho. Geralmente, ele só vai para o cassino à noite. O restante do dia, ele fica em casa, quando não vai para a empresa! — olhei para ela curiosa. Não sabia que ele tinha uma empresa e perguntei.

— Nossa, mas ele tem uma empresa e sobre o quê? Quer dizer, em que ramo? Industrial, imobiliário ou algo relacionado à tecnologia? São tantas possibilidades.

— Ele tem uma empresa no ramo alimentício, uma fábrica que produz todo tipo de alimento, como biscoitos e cereais. Essa marca é bastante conhecida. Aliás, aqui tem uma caixa deles, os biscoitos Mourett. São deliciosos...

Peguei a caixa, analisando os biscoitos. Sempre vi essa marca no mercado, mas eram um pouco caros para o meu orçamento. Uma vez, um rapaz que trabalhava como repositor na loja me disse que eram os mais vendidos, ele sempre comprava para sua namorada, porém eram caríssimos.

Abri a caixa empolgada e peguei um biscoito para provar. Veremos se realmente eram saborosos. Quando dei uma mordida, senti ele desmanchando na boca. Nossa, foi maravilhoso! Então era por isso que eles eram tão caros, são praticamente divinos. Lupita observou minha expressão e comentou.

— Veja só? Pelo jeito você amou os biscoitos. Eles realmente são um pouco caros no mercado.

— Ah, mas eu te falo com sinceridade que se eu ganhasse bem, também comprava, Lupita. Nossa, são muito saborosos e deliciosos, divinos! — ela deu uma gargalhada enquanto continuei comendo os biscoitos.

De repente, ela ficou séria e me observou, então senti as mãos de Mourett sobre meus ombros. Ele se aproximou, deu um beijo no meu pescoço e sorriu comentando:

— Fico feliz que você tenha gostado dos biscoitos, pois é uma receita de família! Produzida pela minha bisavó...

— Sério? Tá explicado por que eles são tão maravilhosos e macios! Nossa, quando dou uma mordida, não sei explicar a sensação que traz. É como se você retornasse à infância. — não me importei em revelar isso, era a pura verdade.

Viajava de volta à infância, relembrando os dias felizes que tive. Mourett respondeu, sentando ao meu lado e pegando um dos biscoitos para comer.

— É exatamente isso que eles acabam causando! Essa receita está no livro da minha bisavó. Decidi que ela precisava ser lembrada para sempre. Mas sou o único que possui o segredo original. Ninguém tem acesso a ele. Mesmo que tentem fazer o último ingrediente, faço questão de comprar e retirar o rótulo do frasco, justamente para evitar que a concorrência tente roubar minha receita.

— Não acredito que existam concorrentes que façam uma coisa dessas! — no entanto, Mourett afirmou seriamente, não escondendo a verdade.

— Lógico que existe, pequena. O mundo dos negócios é um lugar bastante concorrido, e se você for fraco, infelizmente sofrerá muitos golpes. Você precisa ser mais esperto e selecionar bem as pessoas que trabalham para você, pois sempre haverá traidores dispostos a vender seu segredo para o concorrente.

— Ah, sim, estou entendendo como tudo funciona! De qualquer forma, foi uma boa ideia que você teve! — ele concorda com minhas palavras e pega outro biscoito, saboreando junto comigo.

De repente, ouvimos gritos do lado de fora e um estrondo na porta da sala. Assustada, levo a mão ao peito e comento:

— Meu Deus! O que está acontecendo? Que escândalo é esse?

Pelo que posso ouvir, parece ser aquela pessoa louca novamente invadindo a casa de Mourett. Ele se levanta sem paciência alguma, enquanto ela continua gritando. Decido ir até a sala para ver o que está acontecendo. Assim que chego lá, percebo que ela está enfurecida e gritando muito, mas também está muito machucada.

— Mourett, seu desgraçado! Por que você mandou fazer isso comigo? Como teve coragem? Não pensei que depois de tudo o que tivemos, faria isso comigo...

— Isso foi uma lição para você aprender a deixar minha vida em paz! Mas pelo jeito, você não seguiu meu aviso e nem aprendeu. Continua me perturbando. Realmente, você anda querendo morrer, não é, Luane? — quando ele revela aquilo, me sinto mal.

Ele teve coragem de mandar fazer isso com ela. Posso perceber que está muito machucada. Um lado do seu olho está inchado e roxo. Ela me observa e comenta.

— Está vendo o que você fez, garota? E é por sua culpa que ele mandou me bater! Veja o que esse filho da puta fez comigo...

— Eu não tenho culpa pelo que ele te fez! Não mandei que ele fizesse isso, e não vou carregar esse peso nas minhas costas... — respondo, sentindo-me mal.

Não consigo acreditar que Mourett tenha feito uma maldade dessas. Eu achava que esse homem era bom, mas estava completamente enganada. Ele mostrou quem realmente é quando se aproximou de Luane e lhe deu um tapa, jogando-a no chão, e comentando.

— Isso é para você aprender a respeitar o nome da minha mãe! Está pensando que ela era alguma vagabunda como você, que saiu de um prostíbulo imundo? Eu avisei você, mas não me ouviu. No entanto você aprenderá. Já falei com meu irmão e disse para ele ir te buscar. Ele adoraria ter você de volta...

— Não, Mourett... você não fez isso comigo. Por que vai me mandar de volta para aquele lugar? É muita maldade da sua parte, depois de tudo que vivemos! — ela começa a chorar, enquanto ele apenas dá uma gargalhada e responde friamente.

— Sabe qual é a pior coisa que existe? Fazer uma mulher se apaixonar pelo seu pau. Você realmente acha que eu levei a sério tudo o que vivemos? Eu apenas transei algumas vezes com você, e pronto, já julgou ser amor e completamente enlouqueceu.

— Seu desgraçado... como você tem coragem de fazer isso comigo? Eu queria ver se fosse sua filha, se gostaria que a tratasse da mesma maneira! — ele novamente a pegou pelo pescoço e apertou, comentando.

— Se algum dia eu tiver uma filha, ela nunca será uma vadia como você! Minha filha será muito bem-educada para não ficar rastejando atrás de qualquer homem. Agora saia da minha casa, você realmente está um lixo.

Estou me sentindo tão mal com tudo o que presencio que me afasto para trás e subo rapidamente as escadas. Não quero mais presenciar isso. Mourett apenas me observa por alguns segundos. Meu Deus, eu pensava que esse homem era bom, mas ele só prova o quão mal e maléfico ele é.

Se ele foi capaz de fazer isso com essa mulher que se envolveu com ele por muito tempo, fico me perguntando o que ele não seria capaz de fazer comigo. Se eu continuar desafiando-o, vou até à frente do espelho e digo enquanto me observo:

— Não se iluda com esse homem, Mia. Ele não gosta de ninguém! Ele apenas manipula todos para que pensem que ele é bonzinho. Eu não vou me apaixonar por Mourett, isso eu prometo a mim mesma. Seria uma loucura conduzir isso.

Provavelmente, se isso acontecer, vou sofrer muito nas mãos dele. Às vezes, eu não consigo aceitar o destino que meu pai arrumou para mim. Eu só queria sair daqui. Agora, não me engano mais com ele. Após testemunhar essa maldade, não acredito mais em nada que sai de sua boca. Ele é mau, e uma pessoa como ele não muda por ninguém.

Não tive mais clima para sair do quarto. Simplesmente tomei um banho e decidi dormir. Foi monstruoso, o que presenciei lá embaixo. Jamais pensei que ele pudesse ser capaz de fazer algo assim, mesmo que não quisesse nada com a moça. Foi terrível demais.

Estou lendo um livro quando alguém b**e na porta do meu quarto. Vou até a mesma e a abro, deparando-me com Mourett me observando sério. Não digo nada, apenas continuo encarando-o da mesma forma, e ele comenta.

— Você não vai descer para jantar? Lupita só está te esperando para colocar a mesa!

— Não estou com fome! Eu não quero jantar... — desvio os olhos, pois não consigo encará-lo por muito tempo.

Ainda estou assustada com tudo o que presenciei lá embaixo. Ele responde levantando meu queixo com a mão, fazendo-me olhar para ele.

— Por acaso você está me evitando, Mia? Foi por causa do que aconteceu mais cedo lá embaixo?

— Não estou te evitando, apenas disse que não quero jantar. Não estou com fome! — tento convencê-lo do contrário, mas ele continua me observando sério e responde analisando minha expressão.

— Sei quando alguém está mentindo para mim, Mia. Trabalhei muito tempo como militar, se não sabe. Essa era uma das minhas funções. Descobri a verdade! Olha, não ligue para o que aconteceu entre mim e aquela louca lá embaixo. Tive meus motivos para mandar fazer isso, mas sei que você pensou que eu talvez chegasse a fazer o mesmo com você no futuro. Porém para mim chegar a tal ponto, tenho que ficar muito irritado. Agora, vista uma roupa, desça para jantar. Eu te aguardo lá embaixo.

Apenas engoli em seco e balancei a cabeça. Eu não tinha muita escolha além de dizer sim. Não quero ser a próxima a ficar com o rosto marcado. Acabo descobrindo mais uma coisa: ele era militar. Está explicado esse jeito ríspido e frio que ele possui.

Fui até o closet, peguei um conjunto de moletom rosa e o vesti. Acredito que esteja adequado para o jantar. Assim que desci as escadas, Mourett está sentado em sua cadeira. Decidi me sentar a três cadeiras de distância, mas ele puxa a cadeira ao seu lado e comenta sério.

— Ah não, eu quero que você se sente aqui perto de mim! Não há motivo para você ficar tão longe do seu futuro esposo, minha querida! — ele me observa de maneira desafiadora para ver se vou falar alguma coisa.

Apenas respirei fundo e me levantei, indo sentar perto dele. Sou afrontosa, mas não sou tola ao ponto de querer procurar minha própria morte.

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